segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

A Grande declaração de Amor

Natal é declaração de amor que Deus faz a toda humanidade.
Ele viu nosso fracasso estampado nas atitudes comezinhas do nosso dia a dia.
Viu nossas mãos vazias e todas as torres de Babel que construímos.
Viu o massacre que a violência humana gerava,
Nas pessoas indefesas, sem nome, sem identidade, sem reconhecimento humano.
Nos Carandirús e Candelárias sem fim.
No abuso do poder e na falta de vergonha dos que escrevem a história e mentem contra seus filhos, contra seu país, contra Deus.
Por isto resolveu presentear a humanidade vindo ele mesmo para estar conosco.
Para nos ensinar o que é viver e como viver.
Testemunhou os fracassos acumulados dos seres humanos na história dos homens.
E resolveu escrever uma página nova, repleta de boas novas.
Na linguagem de um poeta:
"Deus viu o homem desfigurar-se. Deixar de ser.
Perder a imagem divina nos escombros gerados
pelas guerras das garras e lanças e flechas
e balas e gases e chamas, granadas e bombas atômicas...
Deus viu os zoológicos humanos.
E fez de seu pranto-compaixão o ato dinâmico
De uma declaração de amor a toda humanidade:
Decretou o Natal!"
Este natal vai acontecer no meio de gente de vida monótona e sem grandes sonhos, como os pastores.
Vai se realizar na história de gente periférica e simples, como Maria e José.
Vai se revelar naqueles que oraram tanto e tinham a impressão de que Deus se silenciara diante de seu clamor como Zacarias, Isabel e Simeão.
Vai se dar num curral, numa manjedoura, nome bonito dado a um pedaço de pau no qual os animais vinham comer.
No povo que sofre,
Nos magos espiritualizados e utópicos,
Na cidade de Belém, pequena demais para figurar na lista das cidades relevantes de uma região insignificante como Judá.
Ali Deus resolve se revelar. O inteiramente outro se faz inteiramente nosso irmão. Deus se fez carne.
Natal é um evento sobrenatural em sua essência. A eternidade invadiu a história. A supra-história se torna factual, história humana. O Deus todo poderoso se fez gente, no meio dos homens.
Gerando esperança, criando amor, desvendando o caminho, rompendo os grilhões, transformando a opressão do povo que sofre.
Natal é declaração de amor de um Deus tão apaixonado pela humanidade que resolveu habitar entre ela.
Natal não é apenas um evento do passado, mas uma experiência existencial que se dá no coração daqueles que ainda hoje se deixam impactar por esta grande declaração de amor que Deus fez à humanidade através de seu Filho Jesus.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

A Surpresa do Natal

André tinha apenas 9 anos, era um garoto que freqüentava uma pequena igreja do interior do país, seguindo os mesmos passos de seus pais, que também faziam parte daquela comunidade. Era uma criança agradável, apesar de não ser dos mais inteligentes, tinha uma boa compleição física, apesar de não ser dos mais elegantes, e gozava de um bom relacionamento com seus colegas de rua e da escola.
O Departamento Infantil daquela igreja resolveu fazer uma pequena encenação do nascimento de Jesus, e todo o cenário foi montado para representar os hábitos e vestiários dos tempos de Jesus. Não tinham muito dinheiro, mas um pouco de criatividade ajuda bastante nestas situações. Convidaram André para ser o dono da estalagem por onde José e Maria passariam procurando um lugar para se abrigar.
O tradicional público se reuniu na pequena igreja para o drama que contaria o nascimento de Jesus, normalmente este dia atraia mais pessoas do que costumeiramente e todos estavam muito empolgados vendo tanta gente nova se aproximando. Havia uma inquietação nas salas onde todos estavam se preparando para a apresentação. Estava difícil para as professoras controlarem a emoção das crianças.
A narrativa foi se desenrolando conforme o combinado. José apareceu guiando Maria com ternura. Um travesseiro pequeno havia sido amarrado por debaixo da roupa dando a impressão de gravidez em Maria, que andava devagar. José bateu com força na porta de madeira montada no palco e conforme o ensaio, André estava esperando este momento.
"O que o Senhor deseja?" falou André de forma segura.
"Estamos procurando um lugar para ficar. Maria está grávida e precisa descansar".
"Aqui não", respondeu firmemente André. "Não temos lugar para vocês porque nossa pensão está lotada".
"Senhor, temos procurado por toda parte, mas infelizmente não temos conseguido um quarto sequer".
"Infelizmente não temos lugar para vocês". André respondeu de forma conclusiva.

Diante da negativa, José e Maria foram lentamente saindo do palco, então, algo inusitado e não planejado aconteceu. Quebrando todo esquema, todo ensaio, André gritou com a voz embargada e os olhos marejados de lagrimas: "Voltem aqui, não vão embora".

Houve uma certa perplexidade e um espanto geral dos bastidores. Ninguém se entendia. Alguns acharam engraçado o que estava acontecendo, mas a tensão estampada no rosto de André não permitia muitos gracejos. "Vocês vão ficar em minha casa! Não tem lugar para vocês na hospedaria, mas vocês vão para minha casa".
De repente, o natal tornou-se diferente para todos. As pessoas estavam entendendo de uma forma completamente estranha, o significado do Natal. Não havia sentido celebrá-lo sem que houvesse lugar para Jesus. Afinal, não há sentido falar de festa de aniversário se o aniversariante não se encontra presente. A atitude de André tornou aquele evento no mais significativo de todos os dramas de natal anteriormente representados.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

A ESCOLHA DO PRESENTE

Você acha que o Natal chegou rápido demais neste ano? Isto é, parece que o tempo andou mais depressa do que normalmente anda? Tenho más notícias para você. Isto é sintoma de quem está envelhecendo. Pergunte a uma criança ou a um adolescente e eles lhe dirão que o Natal, na verdade, demorou muito para chegar. É tudo uma questão de perspectiva.
O mês de Dezembro é tradicionalmente um mês de muita correria: Balanço da empresa, final de semestre para os que ainda continuam estudando e os nossos filhos na escola, aumento dos compromissos sociais, jantares de confraternização, avaliação e, compra de presentes...
Como escolher presentes? O que devemos dar? O que comprar? Como equacionar desejos e orçamento? Necessidades e possibilidades? Significado e finanças? A escolha do presente em si mesma, já pode ser um dado que provoca ansiedade em nós.
Para alguns isto pode significar um final de ano estressante, com muita correria, frustração e gastança desmesurada. Muitos farão despesas para o ano inteiro com coisas que não necessariamente vão trazer sentido, aliás, alguém já afirmou que na maioria das vezes compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não gostamos. Eis algumas sugestões práticas para a escolha apropriada dos presentes no final deste ano:

1. Considere seu orçamento – Gastar mais do que necessário pode representar uma enorme dor de cabeça para o ano que vem. Quem ama você vai apreciar o que recebe, mesmo com singeleza, mas não pense que as pessoas que não te apreciam vão passar a te valorizar por aquilo que recebem. Não faça mais do que você pode. Isto pode representar um alívio imenso para você. As demandas dos filhos, se não avaliadas dentro de suas possibilidades, podem ultrapassá-las e trazer no seu bojo culpa, ansiedade e dívidas.

2. Dê presentes apropriados – Considere a idade de seus filhos. Lembro-me de um amigo meu que para compensar sua infância pobre resolveu dar uma pequena motocicleta para seu filho, mas quando cheguei à sua casa vi que o menino estava curtindo a grande caixa que empacotara o caro presente. Ele transformou aquela caixa em um esconderijo para ele e sua irmã. Deus nos deu o presente certo: Seu Filho Jesus. Fique atento às dicas de sua esposa e filhos, eles podem já ter expressado o desejo de terem determinadas coisas que estão dentro do seu orçamento e poderão trazer grande alegria quando recebidos.

3. Dê com alegria, estimulando tanto quem dá como quem recebe. Um presente pode ter um significado muito maior do que você imagina.

4. Considere pessoas que não poderão retribuir seu presente – Este é o significado maior do Natal. Deus nos entregou seu Filho, não porque fossemos pessoas especiais, mas por causa de sua graça. Dar um bônus a um empregado, considerar o 13o. da sua diarista ou de funcionários que sempre prestam serviço a você, ajudar orfanatos e entidades sociais pode ser extremamente significativo, ainda mais se seus filhos puderem participar. Passe a idéia da generosidade adiante. O Natal nos convida a esta reflexão, já que consideramos a entrega que Deus fez do seu amado Filho à humanidade.

Estou Natal

Eu vi Jesus nascer lá em Belém.
Com os olhos da fé vi meu Senhor.
Eu sei que ele nasceu para o meu bem
e para ser também meu Salvador.

Eu vi Ele nasceu na gruta, sem
qualquer conforto e sem qualquer valor.
Pois não havia, em casa de ninguém,
lugar pra recebê-lo com amor.

Eu vi Jesus nascer em minha vida,
E se tornar figura tão querida,
Onde conserva posição central.

Eu achei o menino da lapinha.
E esta experiência é toda minha:
Em mim Jesus já fez o seu Natal!


Thiago R. Rocha

terça-feira, 8 de novembro de 2005

CENA POR DETRÁS DO BEIJO

Segundo uma notícia veiculada nos principais jornais do país. Glória Perez, dramaturga e novelista de América, teria ficado muito chateada porque o beijo homossexual anunciado para o horário nobre da Televisão brasileira não aconteceu.
O problema para mim nunca foi a questão do beijo em si, mas o que esta cena representa: Existe um forte desejo de se transformar o certo no errado e o errado no certo, ou de se acabar com o conceito de certo e errado, portanto, antes de ser uma questão ético/moral, que foca nos comportamentos sociais e culturais, o problema é filosófico, isto é, tem a ver com a essência da vida.
C. S. Lewis, conhecido escritor inglês, professor de literatura medieval em Oxford, no seu último livro da série Nárnia, “A Batalha Final”, cria um episódio no qual os bichos da floresta aguardam a anunciada chegada de Aslam, o grande e respeitado leão, que representa a figura divina, mas como este demora, um macaco (símbolo do mal), pede ao jumento (Tacha), que se cubra de uma velha pele de leão e faça uma imitação barata de Aslam. O Jumento de início reluta, fica temoroso das consequências desta atitude, mas resolve seguir as instruções do macaco. O princípio filosófico era: “Daqui para frente vamos acabar com esta idéia de antítese: Não existe nem Tacha, nem Aslam, apenas o “Tachaslam”.
Uma sociedade que destrói seus fundamentos morais corre sério risco. E é isto que me assusta. Fico temoroso dos produtores que se encontram nos bastidores. A moral você vê, julga, interpreta, avalia, mas a filosofia por detrás da cena, nem sempre é perceptivel.
O salmista afirma: “Ora, destruidos os fundamentos que poderá fazer o justo?” (Sl 11.3). Este tipo de atitude enfraquece o alicerce no qual uma sociedade é construída. Por ser um problema de filosofia, quebra-se a espinha dorsal da ética, já que esta decorre daquela. Sem parâmetros a sociedade tenta reinventar-se tomando decisões e posições que custam caro aos indivíduos, à familia, às igrejas. Desfazendo os pilares morais, não deveríamos estar muito impressionados com a facilidade com que a mentira e a corrupção tem assumido forma de pandemia e endemia em nossa sociedade política.
Por isto o profeta Isaias afirma: “Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem mal: que fazem da escuridade luz, e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce por amargo!” (Is 5.20) Quem pode afirmar que determinada coisa é doce ou amarga, se os fundamentos e valores foram todos anarquizados?
Quando morava em New Jersey, EUA, um fato acontecido perto de nossa cidade chocou-nos bem como a toda opinião pública. Um garoto do Ensino Médio engravidou sua namoradinha da escola, uma cena relativamente comum e corriqueira. Mas eles decidiram ocultar a gravidez e matar a criança tão logo nascesse. E foi o que fizeram...
Um psiquiatra, com muita perspicácia e acidez, analisando esta brutalidade, e vendo aqueles meninos de classe média, gente pacata, com comportamento tão bizarro afirmou que eles reproduziram o que criam: Matar uma criança através do aborto tem sido sempre defendido nas escolas e mídia americanas, qual era a diferença para aqueles garotos, se a morte era de um feto ou de uma criança recém-nascida?
Filosofia antecede ética. A questão não é o beijo, mas qual é a cena por detrás do beijo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2005

SOBRE A MORTE E O MORRER

Nem todas as culturas lidam com a morte como tabu, para algumas o processo de transição é muito menos complicado que o nosso. Alguns povos chegam a fazer festa quando alguém falece, principalmente se se trata de uma pessoa cuja vida foi profícua, e que viveu longos dias. Na nossa cultura, porém, um dos grandes medos nossos é a morte. Algumas pessoas vivem prisioneiras e ameaçadas por esta idéia.
Roberto Pompeu de Toledo num desafiador artigo publicado pela Veja no dia 29 de Abril de 1998. afirmou que muitas vezes a morte age por atacado, na forma de um arrastão, mostrando um fôlego de corredor de maratona, "lembrando-nos que não relaxou sua vigilância, a nós que tantas vezes pretendemos negá-la, e na vida de cada dia temos como fim último nos distrair de sua existência. Nessas horas em que age por atacado, ela chega com a exuberância de uma virtuose de seu ofício, a fúria de um touro ao entrar na arena, a fome de gols de um centroavante dopado. Feita sua obra, deixa-nos embasbacados como diante de um acróbata do impossível que, depois de um salto sobre o abismo, nos dissesse: "Viram do que sou capaz?".
Pascal ao abordar este assunto afirma que "Os homens, não tendo podido curar a morte, decidiram, para serem felizes, não pensar nela. Foi tudo o que puderam inventar para se consolarem”. Em O problema da vida, pg. 15, F. Lellote
A morte revela nossas limitações, zomba de nossos valores frágeis, denuncia nossos limites, manifesta a vulnerabilidade humana, critica nosso tolo materialismo apontando para o fato de que bem pouca coisa que fazemos de fato tem valor eterno. Por isto Jesus perguntou certa vez: "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"
Todos os caminhos levam à cova, esta é a horrível realidade desta vida. O primeiro dia de nosso nascimento encaminha-nos a morrer com a viver como afirmou Montaigne. Por isto “angustiados, por sentirmos que tudo passa, que também nós passamos, que passa o que é nosso, que passa tudo que nos cerca” (Unamuno). “transit gloria mundi”.
Não há solução para o problema da morte, “a angústia básica de todo ser humano” “a grande neurose das civilizações” “a mais fria anti-utopia” (Block). A Bíblia afirma que “ninguém tem poder sobre o dia de sua morte” (Ec 8.8). Nos revela ainda a forma como Jesus lidou com a morte, e isto deveria ser um enorme consolo para nossas vidas. Ele a enfrentou serenamente, não com pavor que tantos sentem diante desta realidade humana. Jesus “acabou com o poder da morte” (NTLH), “venceu a morte” (EP), “quebrou o poder da morte” (BV) ou “destruiu a morte” (EPC, CNBB e TEB). Noutro texto nos é dito que Jesus destruiu “aquele que tinha o poder da morte, a saber, o Diabo” para “libertar aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte” (Hb 2.14-15). A rica experiência que Jesus teve no seu viver e a forma como ele lidou e venceu a morte, tornam-se a base de nossa confiança. Porque ele vive, podemos crer no amanhã, porque ainda que não saibamos o que nos espera no amanhã, podemos saber que Jesus já se encontra neste amanhã. E as promessas de vida eterna são todas extremamente significativas.
A verdade é que não devemos nos impressionar com a morte, mas com o morrer. Ray Charles afirmou, "É muito importante viver cada dia como se fosse o último, porque um dia, você estará certo" (Esquire).

domingo, 23 de outubro de 2005

Por que existimos?

Talvez a pergunta mais importante da vida seja a que se relaciona a existência da raça humana. Para o fenomenólogo Max Scheler "todos os problemas fundamentais da filosofia podem reconduzir-se à seguinte questão: que é o homem e que lugar e posição metafísica ele ocupa dentro da totalidade do ser, do mundo, de Deus?". Artur Schopenhauer, conhecido filósofo existencialista certa feita encontrava-se na beira do Rio Teingarten em Frankfurt quando foi indagado por um limpador de rua: "quem é você?", e ele responde: "Deus sabe que isto é o que eu mais gostaria de saber".
Pensadores se dividem na questão da origem do hommem. Alguns o vêem imbuído de um sentido e propósito maior. Outros, apenas como sequência química e biológica de DNAs e átomos conectados.
Nas narrativas das Escrituras Sagradas, o homem ocupa um espaço fundamental na relação com Deus: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra” (NVI, Sl 8.3-6).
Alguns pensadores, contudo, possuem uma perspectiva completamente diferente: “O homem é produto de causas que não tiveram previsão do fim que estão atingindo (...) sua origem, seu crescimento, suas esperanças e temores, seus amores e suas crenças são apenas o resultado de colocações acidentais de átomos (...) nenhum fogo, nenhum heroísmo, nenhuma intensidade de pensamento e sentimento pode preservar uma vida individual além da sepultura (...) e todo o templo das realizações humanas tem de ser inevitavelmente sepultado embaixo dos escombros de um universo em ruínas”. (Bertrand Russel)
Uns percebem grandeza e significado, outros vazio e desorientação da existência humana. Uma visão gera esperança, outra angústia, já que não pode dar perspectiva individual além da sepultura.
Por que é importante discutir a origem da raça humana? De forma simplificada podemos dizer que a origem aponta também para o destino. A visão que construímos do homem vai definir nosso relacionamento com ele. Hitler acreditava que o homem era importante, desde que fosse ariano. Garotos atearam fogo no corpo de um índio em Brasília, porque achavam que ele era mendigo. Em outras palavras, se soubessem que era um índio não o queimariam, mas o mendigo podia ser executado, pela sua condição humana. Ideologias, no fundo, são antropologias. Se acharmos que não há um Deus que tenha criado o homem, e que não há uma Causa Primária, perdemos a capacidade de ver a grandeza inerente no homem por ter sido ele criado à imagem e semelhança de Deus.
O homem possui sentido por causa de sua origem sagrada. Perry London, psicoterapeuta americano, defendeu a visão do modelo mecânico da natureza humana. O homem seria um autômato, um amontoado de peças e enzimas aglutinadas, ou, como definiu Russel, “apenas o resultado de colocações acidentais de átomos”. No entanto, a criatividade, racionalidade, emotividade e espiritualidade humana apontam para uma dimensão metafísica. Afinal, foi exatamente isto que a Trindade declarou no seu projeto embrionário do ser humano: ”façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. Nossa origem aponta para divindade. Nossa humanidade para a eternidade.

segunda-feira, 10 de outubro de 2005

REFERENDO SOBRE ARMAMENTO

A questão que orienta este referendo é: "Podemos ou não podemos comercializar armas?". Vote sim ou vote não!

Na minha concepção a discussão deveria ser menos superficial, e a questão mais aprofundada. Eis uma pergunta que ninguém quer fazer: Quais são os fatores que tem gerado tanta violência em nosso país? Sabemos que cerca de 39 mil de pessoas foram assassinadas com armas de fogo no último ano, mas ninguém pergunta a razão da violência estar tão acentuada.

Um dos princípios fundamentais do Bill of rights dos Estados Unidos, que se constitui na segunda emenda da constituição daquele país é que o cidadão tem o direito de portar armas. A violência dos Estados Unidos, com todo este direito individual do uso das armas é muito inferior a do Brasil. Obviamente existem outras razões naquela cultura que tem gerado estranhas formas de violência e que não tem nada a ver com o direito de ter ou não ter armas, adquiri-las ou não.

Para que você compre uma arma naquele país, você é cadastrado e não pode adquiri-la no mesmo dia em que se propõe a fazê-lo. Seu cadastro é avaliado por peritos, você se expõe, mas ainda assim, este é um direito individual adquirido. A violência da indiferença, de um povo rico e sem sentido, de culturas marginalizadas tem sido muito mais preocupantes do que ter ou não ter armas.

A violência de um povo de índole reconhecidamente pacifica como o Brasil é resultante do descaso da liderança política, da incompetência do governo brasileiro, do crime de colarinho branco, do mau uso dos recursos públicos, da falta de investimento em educação, do desamparo com a saúde pública, da falta de preocupação com os pobres, da injustiça com o trabalhador. Não é a arma o agente do crime, antes uma estrutura sistêmica, endêmica e pandêmica que promove a exploração e tira lucros da miséria de um povo abandonado e esquecido. A Violência não vai diminuir porque não se comercializa armas. Ladrões e criminosos saberão onde encontrá-las. A violência tem a ver com o coração. A grande violência de hoje não é feita com armas de fogo, mas com canetas em escritórios de gente inescrupulosa, eleita para defender o direito do povo, mas que não consegue legislar a favor do órfão e da viúva.
Guerras não são apenas acontecimentos circunstanciais, possuem etiologias e raízes bem mais profundas do que parecem à primeira vista (Tiago 4.1). Este texto aponta a origem da conflitividade humana como alguma coisa mais interior. Paz não é mera supressão de armas, tem a ver com a natureza mais intrínseca da natureza. Violência é subproduto da alma em conflito, do desejo de sucesso a qualquer preço, da tentativa desesperada de resolução de uma luta maior que se abriga na alma. “A violência é a expressão da onipotência". (Hanna Arendt, 1906-1975, escritora alemã).

INFANCIA E SAÚDE EMOCIONAL

Dia 12 de Outubro. Dia das crianças! Prenúncio de parques lotados, de pais agitados em comprar um presentinho, de não deixar sem uma pequena lembrança o filho ou a filha, heranças benditas de Deus!
Assusta-me nosso quadro infantil: Estatísticas de abusos sexuais e emocionais escandalizam pessoas de bom senso, o trabalho escravo, a violência dentro e fora de casa, a falta de oportunidade, os riscos de centenas de pequenas e preciosas vidas. A pobreza de muitos que os leva à promiscuidade, ao trabalho infantil, à prostituição infantil ou de tantos outros que são empregados para servir contrabandistas.
Bem, talvez estas realidades estejam distanciadas dos meus leitores. Gente que lê jornal já é alguém que possui um diferencial intelectual em relação à maioria...
Consideremos, porém, um quadro mais preocupante que atinge a classe média:
85% dos abusos sexuais acontecem dentro da casa, e são cometidos por pessoas próximas da família como amigos, tios, e gente de "confiança" da casa;
A maioria dos pais não consegue fixar limites saudáveis, girando sempre em torno do superprotecionismo ou de seu extremo, que é o descaso. Somos uma geração confusa tentando estabelecer limites que nem mesmo nós sabemos quais são, à próxima geração.
O índice de depressão infantil tem aumentado consideravelmente, parte disto é resultante do que os psicólogos têm chamado de "luto existencial", isto é, crianças que apesar de terem pai e mãe por perto, não possuem laços significativos de afeto e tem dificuldade para construir relações de intimidade;
O suicídio de pré-adolescentes e adolescentes constitui-se também num grande desafio. Numa das fases mais bonitas da vida, crianças não tem mais encontrado sentido nem razão de viver.
Com o aumento de divórcio, aumenta também a dificuldade dos pais em administrar seus conflitos pessoais, os novos desafios que surgem, e as demandas do filho que requer mais e mais a presença e atenção.

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Esperança e Vida

O filme "enemy at the Gates", retrata a dura tensão vivida pelo povo russo diante da invasão alemã. Um jovem e talentoso atirador, qualidade esta herdada de seu avô é posto praticamente sem arma, diante de um inimigo impiedoso. Por suas habilidades com o rifle, tornou-se herói diante de seu povo, saindo assim do anonimato. As armas que ele usou durante este tempo encontram-se num museu em Leningrado.

Quando seu superior visita os soldados, encontra uma tropa desanimada diante das perdas. Ao perguntar o que estava faltando para que os mesmos fossem encorajados, um deles responde, de forma conclusiva e direta: Falta esperança!

Mais do que qualquer coisa que eu tema diante de tantos escândalos resultantes deste mar de lamas em que se meteu nossos políticos, estou temeroso do "ripley effect" que isto possa trazer à outra geração que se seguirá à nossa. Temo que deixemos um legado de cinismo, falta de crítica, ausência de sonhos e perda da esperança. Este seria o maior mal que poderíamos deixar em nossa herança histórica. Trabalhar com um povo sem esperança e sem sonhos é algo muito nocivo. Esperança é uma palavra chave na essência de todo ser humano. Viver sem sonhar, sem crer, sem esperar é passar pela vida e não viver.

Converse com os jovens dos colégios da periferia ou mesmo das escolas mais caras das cidades: Como estão seus sonhos? Qual são suas expectativas e em que confiam? O que eles esperam do futuro? Analisem por exemplo, uma estatística citada recentemente de uma universidade do Rio de Janeiro na qual 44% dos estudantes responderam que acham que a melhor forma de governo para o Brasil é a ditadura. Perderam a fé na democracia, na capacidade embutida no peito de cada um de nós de sermos agentes de transformação histórica. Roubaram a esperança desta geração e isto é uma crueldade sem precedente de nossas lideranças políticas e empresariais. Nada pode ser pior para um povo que retirar-lhe a capacidade de sonhar. Mesmo porque um povo impotente tende a se tornar violento, criando uma espécie de "violência reativa", segundo a definição dos sociólogos.

"O homem não pode, contudo, sobreviver sem esperança, é a esperança que nos dá autoconsistência" (Rubem Alves, O enigma da religião, pg. 124). Uma das coisas mais impressionantes na mensagem de Cristo era sua capacidade de gerar esperança a pessoas que haviam perdido sua referência antropológica e existencial. Olha para uma mulher enlutada e diz: "não chores". Encontra-se com um pai desesperançado que lhe pergunta se existe alguma coisa que possa ser feito e ele afirma: "tudo é possível ao que crê". Conversa com Marta e Maria e gera esperança na alma ao afirmar que se elas cressem "veriam a glória de Deus!". Na verdade, A atmosfera de grande expectativa é o forte solo para grandes milagres.

O que falta a esta geração? Esperança! Porque só ela pode mobilizar nossos significados, dar sentido à alma, fazer gente prostrada erguer novamente a cabeça, gerar sonhos e expectativas. Precisamos de esperança histórica, existencial, filosófica, mas acima de tudo, precisamos também de esperança em Deus, sentido final de nossa existência.

Esperança e Vida

O filme "enemy at the Gates", retrata a dura tensão vivida pelo povo russo diante da invasão alemã. Um jovem e talentoso atirador, qualidade esta herdada de seu avô é posto praticamente sem arma, diante de um inimigo impiedoso. Por suas habilidades com o rifle, tornou-se herói diante de seu povo, saindo assim do anonimato. As armas que ele usou durante este tempo encontram-se num museu em Leningrado.

Quando seu superior visita os soldados, encontra uma tropa desanimada diante das perdas. Ao perguntar o que estava faltando para que os mesmos fossem encorajados, um deles responde, de forma conclusiva e direta: Falta esperança!

Mais do que qualquer coisa que eu tema diante de tantos escândalos resultantes deste mar de lamas em que se meteu nossos políticos, estou temeroso do "ripley effect" que isto possa trazer à outra geração que se seguirá à nossa. Temo que deixemos um legado de cinismo, falta de crítica, ausência de sonhos e perda da esperança. Este seria o maior mal que poderíamos deixar em nossa herança histórica. Trabalhar com um povo sem esperança e sem sonhos é algo muito nocivo. Esperança é uma palavra chave na essência de todo ser humano. Viver sem sonhar, sem crer, sem esperar é passar pela vida e não viver.

Converse com os jovens dos colégios da periferia ou mesmo das escolas mais caras das cidades: Como estão seus sonhos? Qual são suas expectativas e em que confiam? O que eles esperam do futuro? Analisem por exemplo, uma estatística citada recentemente de uma universidade do Rio de Janeiro na qual 44% dos estudantes responderam que acham que a melhor forma de governo para o Brasil é a ditadura. Perderam a fé na democracia, na capacidade embutida no peito de cada um de nós de sermos agentes de transformação histórica. Roubaram a esperança desta geração e isto é uma crueldade sem precedente de nossas lideranças políticas e empresariais. Nada pode ser pior para um povo que retirar-lhe a capacidade de sonhar. Mesmo porque um povo impotente tende a se tornar violento, criando uma espécie de "violência reativa", segundo a definição dos sociólogos.

"O homem não pode, contudo, sobreviver sem esperança, é a esperança que nos dá autoconsistência" (Rubem Alves, O enigma da religião, pg. 124). Uma das coisas mais impressionantes na mensagem de Cristo era sua capacidade de gerar esperança a pessoas que haviam perdido sua referência antropológica e existencial. Olha para uma mulher enlutada e diz: "não chores". Encontra-se com um pai desesperançado que lhe pergunta se existe alguma coisa que possa ser feito e ele afirma: "tudo é possível ao que crê". Conversa com Marta e Maria e gera esperança na alma ao afirmar que se elas cressem "veriam a glória de Deus!". Na verdade, A atmosfera de grande expectativa é o forte solo para grandes milagres.

O que falta a esta geração? Esperança! Porque só ela pode mobilizar nossos significados, dar sentido à alma, fazer gente prostrada erguer novamente a cabeça, gerar sonhos e expectativas. Precisamos de esperança histórica, existencial, filosófica, mas acima de tudo, precisamos também de esperança em Deus, sentido final de nossa existência.

quarta-feira, 21 de setembro de 2005

Os limites do Materialismo

O economista Robert Fogel, Prêmio Nobel em Economia, escreveu interessante livro chamado The Fourth Great Awakening & The Future of Egalitarianism, (383 pp. University of Chicago Press), mostrando que economia e mudanças tecnológicas na história sempre colidiram com valores morais e produziram crises espirituais.
Um dos aspectos mais interessantes desta crise foi cognominada pelo terapeuta Stephen Goldbart de "síndrome imediata da riqueza", que é caracterizada pela "culpa excessiva" e "confusão de identidades".
Segundo Fogel, em nossa era, grandes tensões são paradoxalmente resultantes da abundância. Pessoas com maior poder de ganho tem se tornado acuadas, culpadas, ansiosas e menos capazes de desfrutar as riquezas que conseguiram gerar. O enriquecimento material, segundo ele, não necessariamente implica em plenitude de vida interior, nem cura de males sociais. Para Fogel "as grandes controvérsias de hoje são mais espirituais que econômicas".
Não é difícil ouvir isto de um pregador, de um padre ou de um idealista, mas é interessante lembrar que quem denuncia estes rumos e fala destas tensões é um economista respeitado no mundo inteiro por suas idéias.
Materialismo, curiosamente, pode ser fator de grandes contradições na alma humana. "É a preocupação com a posse, mais do que qualquer outra coisa, que impede o homem de viver livre e nobremente" (Bertrand Russel). Andrew Carnegie chegou a exclamar de forma extremamente pessimista: "morrer rico é uma desgraça". Não nos parece estranho que um homem tão rico despreze tanto aquilo que para nós parece ser uma grande fonte de alegria que são bens materiais?
Uma pessoa certa vez afirmou "Na maior parte de nossa vida é gasta comprando coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para agradar pessoas que gostamos menos ainda".
Karl Meninger conta o caso de um paciente que, sufocado por suas grandes posses procurou terapia porque sua vida já não parecia ter mais alegria nem interesse. Ele afirmou em desespero que não tinha a menor idéia do que fazer com todo o seu dinheiro. "Não preciso dele, mas não consigo suportar a idéia de dá-lo". Diante disto, Meninger o questionou: "De modo que decidiu matar-se a fim de fugir dele?" Na terapia, chegaram a conclusão de que se ele pelo menos soubesse dar parte de seus bens, boa parte de sua crise seria sanada, mas acabou não o fazendo. E Meninger concluiu: "Não fez nada. Viveu por mais alguns anos e depois morreu prematuramente, para a satisfação de seus herdeiros e sócios que ainda não tinham atingido seu estado, embora sofressem do mesmo mal". (Meninger, Karl – O pecado de nossa época, pg 146).
Abundância pode gerar ansiedade. Nós somos incrivelmente liberados para sermos autênticos conosco mesmo, mas isto pode desembocar em auto-indulgência destrutiva. O limite do materialismo esbarra naquele ponto no qual, já não conseguimos mais ser livres para viver, mas escravos do ter.

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

Investir em Gente

Um dos conceitos mais importantes para o mundo da liderança é entender o valor do ser humano e a importância de se investir em vidas.
Não tenho dificuldade nenhuma em pensar em Jesus como grande líder, não apenas pelo fato de ser cristão, mas por perceber a extensão e profundidade que sua liderança produziu no caráter e mente de milhares de pessoas, atualmente cerca de 2 milhões de pessoas no mundo consideram-se cristãs. Hunter no seu interessante livro "O monge e o executivo", faz questão de frisar estes aspectos fortes da liderança na vida de Jesus ressaltando alguns pontos na abordagem de Jesus que ele chama de "A essência da liderança".
Qual foi a ênfase de Jesus no seu estilo de liderança? Investimento em gente!
Durante 3 anos de seu ministério investiu o seu tempo, de forma maciça e intencional, no treinamento de 12 homens. Foram três anos de caminhada com aquelas pessoas, algumas delas extremamente rudes no trato, arrogantes em suas pretensões, infantis nos seus projetos e equivocadas quanto ao propósito de Jesus. Mas Jesus realmente investiu nelas.
Durante este tempo, Jesus não construiu uma estrutura, não fez construção, não levantou nenhuma parede. Não teve sede, nem escritório de planejamento mas investiu neste capital humano e aquele grupo, com toda sua fragilidade, tornou-se a base e a estrutura para a solidificação da maior religião que atualmente existe no planeta. Sua preocupação básica sempre foi com pessoas, ele queria mudar vidas e investiu na educação do caráter, incutindo naqueles homens simples uma idéia de grandeza e os encharcou de sonhos e visões aparentemente utópicos, mas aqueles homens entenderam a mensagem.
Investir em gente nem sempre é fácil, como afirma George Keller: "A idéia de se investir em capital humano é difícil de apreender, difícil de ser medida com exatidão e radical em suas implicações (...) os lucros do investimento em uma pessoa produzem-se lentamente e não com rapidez, como os dividendos de uma ação".
Temos que entender que a grandeza de uma nação não está na obras faraônicas que produz, mas no investimento que faz nas pessoas. Alguns anos atrás uma campanha populista foi desencadeada pelo governo de Goiás que fazia propaganda por terem construído 1000 salas em um ano, mas enquanto se gastava recursos neste projeto, os professores continuavam esquecidos, mal treinados, com salário de fome e tendo que dar o melhor de si, com salários atrasados e situação de miséria.
Temos que descobrir esta grande verdade: A chave do desenvolvimento social está diretamente ligada ao investimento que fazemos na vida das futuras gerações. Se tivermos ousadia para gastar em vidas, o retorno estará garantido. Construções e monumentos não geram vidas, apenas vidas têm o poder de gerar vidas.
Obras são necessárias, mas não prioritárias. Nada pode substituir o investimento de fazer das pessoas nosso principal valor. Alfred Marshal, grande economista inglês do final do século XIX afirmou que "o mais valioso capital é o investido em seres humanos". Será que algum dia vamos descobrir o significado desta grande verdade?
Pagamos mal, assalariamos mal, compramos máquinas que custam milhões de dólares para serem rodadas por pessoas que ganham míseros reais. Nos esquecemos que nenhuma obra funciona sem obreiros, e que nenhuma sala de aula funciona por si só. Podemos ter obreiros sem obra e professores sem salas de aula, mas jamais esta situação poderá ser invertida!

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

Ame o Brasil!

Um dos maiores problemas nas relações familiares se dá quando o filho já não mais respeita seus pais. A falta de respeito pode surgir por várias razões, desde o excesso de autoritarismo, contradições na educação, incoerência familiar, excessiva liberalidade até a falta de autoridade moral. Quando isto acontece, em geral, seus afetos foram atingidos e sofreram fragmentação.
Patriotismo é algo também relacional, tem a ver com os afetos. Fico assustado quando percebo que amor à pátria se parece retrógrado ou fora de moda, algo que deixou de ter valor e significado. Precisamos também entender porque as gerações atuais não conseguem mais respeitar suas lideranças políticas, e perderam a vontade de lutar pela sua pátria e não amam mais os símbolos de sua própria nação.
Estive muito próximo do fatídico incidente do dia 11 de Setembro de 2001 no World Trade Center. Morava na América e vi a dor e a solidariedade de uma nação que ficou de luto diante daquela agressão. Uma das coisas que mais me emocionou foi ver o amor daquele povo pela sua bandeira. Numa rua apenas, minha esposa contou mais de cem bandeiras. Algumas casas foram literalmente enfeitadas pelas cores da América. Fiquei feliz em ver tamanha manifestação de patriotismo e triste por ver que nosso país não tem despertado nos seus filhos paixão semelhante.
Nossa nação merece coisa melhor de seus filhos. Este desrespeito não nasce num vácuo histórico, antes possui etiologia, raízes na forma cínica como a liderança e burguesia tem tratado seus filhos. Falta dignidade, falta brio, falta amor. O resultado tem sido o surgimento de uma geração com dificuldade de lutar por ideais, sonhos, porque falta esperança de que algo realmente digno venha a acontecer diante de tantos desmandos.
Precisamos amar nosso país. Isto deve começar com o desejo de ver uma geração melhor educada, gente pobre tendo direito a saúde e educação, os interesses privados subordinados a um bom maior que é o da nação. Podem ser gestos simples como a porta da casa limpa e a calçada da casa sem lixos e entulhos. Começa com o desejo de ver minha rua mais bonita, de não querer jogar lixo na rua, nem latas de refrigerantes e lixos para fora do carro emporcalhando a cidade. De não se evadir, de não fugir da luta, de usar nossa bandeira com orgulho e amar a terra em que nascemos.
Que grande prejuízo uma liderança política, cínica e cruel, tem causado às gerações futuras. Como isto tem sido prejudicial ao espírito patriótico de nossos estudantes e filhos. Como temos retirado o valor e a dignidade do peito de nossos estudantes...
Ame o seu país com fé e orgulho! Tal amor consegue retirar de nossas entranhas a hipocrisia e a irresponsabilidade com os pobres. Um amigo meu considerou que se ele vendesse sua empresa e fizesse uma aplicação financeira no mercado de capitais seu lucro seria maior. No entanto, afirma, fazendo isto eu colocaria mais pessoas desempregadas na praça e na sua visão, isto não seria bom para aquelas famílias e nem para o Brasil. Com pequenos gestos assim, se constrói uma nação de valor.
Daria tudo para entender a estupidez de lideranças políticas jovens, bem remuneradas e de empresários abonados, que poderiam prestar um enorme serviço à sua nação mas resolvem usurpá-la pela corrupção e venda da consciência em troca de privilégios financeiros. De funcionários públicos que pelo seu trabalho poderiam transformar sua cidade, seu bairro ou sua escola, mas preferem a mediocridade e são incapazes de pensar no legado que estão deixando para seus filhos e netos.
Ame o Brasil!

terça-feira, 23 de agosto de 2005

Asas de Socorro

Muitos desconhecem um trabalho extremamente significativo cuja sede é aqui em Anápolis: As Missões Asas de Socorro.
Esta Missão é Cristã, com propósitos sociais e sem fins lucrativos, e está comemorando nesta semana 50 anos, razão pela qual faço questão de marcar este importante evento.
Centenas de pessoas do mundo inteiro chegam aqui para receber treinamento de primeiros socorros, fazer curso de aviação, receber treinamento e tudo isto voltado para socorrer pessoas que vivem em regiões extremamente carentes. Todos os anos, Asas de Socorro organiza viagens para tais regiões, alguns destes lugares sem nenhum acesso de carro, leva profissionais da área de saúde, monta um pequeno laboratório dentário, médicos, assistentes sociais, dá palestras, distribui remédios e cuida das pessoas enfermas destas regiões inóspitas.
Esta Missão teve início no Brasil 50 anos atrás, e escolheram Anápolis por ser uma região mais central, com o propósito de socorrer aqueles que precisavam de um socorro urgente e não tinham recursos. Aviões se deslocam aqui de Anápolis, e os pilotos pousam em pistas difíceis, regiões desérticas, apanham mulheres com complicações na gravidez, missionários com gente enferma, e os leva para cidades onde existem hospitais, isto tudo é feito sem nenhum custo para tais pessoas, já que o sustento é dado por pessoas voluntárias do mundo inteiro.
Neste final de semana, estamos recebendo aqui muitos destes homens e mulheres que deram parte de sua vida para esta organização, e serviram pessoas nestas situações descritas acima. Alguns são de outros países, alguns já se encontram aposentados, mas neste final de semana, como parte desta data tão importante, será realizada uma programação no dia 28, com portões abertos incluindo vôos panorâmicos, pára-quedismo, acrobacias aéreas e balonismo, exposição de aviões e stands, apresentações culturais, praça de alimentação, e, como não poderia deixar de acontecer, haverá um mutirão da cidadania com atendimento médico e odontológico, no Aeroporto Civil de Anápolis.
Jim Elliot foi um homem que consagrou sua vida aos Índios do Equador, e morreu numa emboscada quando tentava se aproximar de um povo ainda não alcançado. Ele era ainda muito jovem quando morreu, mas deixou um legado tremendo de sacrifício e dedicação. Trago na mesa de meu escritório, uma frase sua proferida numa conferência e ela traduz bem o pensamento de Asas de Socorro: "Não é tolo aquele que dá o que não pode reter, para ganhar aquilo que não pode perder".
O lema de Asas de Socorro é: "Dando asas àqueles que tem dado a vida por Deus". Esta marcante liberalidade não poderia deixar de ser registrada por este jornal, uma vez que por 50 anos temos sido abençoados com a vida, missão e propósito desta entidade aqui em nossa cidade.
Parabéns Asas de Socorro!

terça-feira, 9 de agosto de 2005

A Mentira como linguagem universal

Todos estamos espantados com a quantidade de lixo que tem vindo à tona nestes últimos dias com o depoimento dos suspeitos nas CPIs. Apesar de todas as reincidências de corruptos e corruptores no Brasil, isto sempre entristece, porque a corrupção enfraquece a nação, zomba do caráter do homem honesto, ridiculariza as instituições e faz-nos crer que a esperteza e a malandragem compensam. Lamentavelmente a corrupção no Brasil tem uma tonalidade endêmica, sistêmica, pandêmica, estrutural e oficializada, e este sonho de termos uma nação liderada com seriedade deve ser acalentada em nossa alma, não apenas de expectadores de um mundo mais justo, mas de agentes para que esta justiça deixe de ser utópica e se torne uma realidade.

A corrupção, contudo, não vem sozinha, já que a miséria detesta solidão, ou como dizem os ingleses: "misery loves company". Mas o que nos assusta é que, aliada à mentira. Zuenir Ventura no seu excelente artigo O festival de mentiras, afirma o seguinte: "Uma das maiores descobertas da CPI dos Correios é a de que não só a corrupção é endêmica; a mentira também. Ela e a omissão têm sido usadas com tanta freqüência, a hipocrisia está tão vulgarizada e o cinismo tão banalizado que, se alguém resolver falar a verdade, vai fazer o maior sucesso".

A habilidade das pessoas mentirem sem o menor decoro, sem que o rosto se core, sem que se revele a falsidade e o engodo é algo admirável, e isto me assusta mais do que o crime em si. O crime pode ser cometido por alguma fraqueza de caráter, ou por achar que o crime compensa, ou porque se crê na impunidade ou na ineficiência do judiciário brasileiro, mas mentir de forma natural revela um aspecto incrustado no caráter que nos faz tremer estruturalmente. Esta deformação de caráter com tanta eficácia, é algo assustador...

Pessoas aprenderam a mentir. Mentir já não pode ser pego pelo detector de mentiras. Aprendeu-se a fraudar descaradamente, a mentir para sobreviver. Aliás, sempre me assustou um lado do José Dirceu, que pode viver por 10 anos com sua mulher, ter um filho com ela sem nunca revelar sua identidade e seu lado oculto de guerrilheiro. Entendo que existe um lado todo de proteção, medo e ameaça, mas um ocultamento tão eficiente com a pessoa que se ama, com quem se dorme, e com quem se gera um filho por tanto tempo me faz tremer.

"Pessoas Karina, Marcos Valério, Delúbio, Silvio, Simone foram capazes de passar dez horas dizendo “não sei”, “não me lembro” com a mais tranqüila cara-de-pau, mesmo quando as negativas tinham contra si todas as evidências". Fica-se com a impressão de que a mentira triunfa, desde que as respostas sejam bem ensaiadas com os advogados, e a contradição evitada pela habilidade jurídica.

O problema é que a mentira vai se revelada, desmascarada. A verdade clama por si só. Mais cedo ou mais tarde a mentira, como uma mancha de óleo de um submarino atingido vai revelar que alguma coisa encontra-se por ali. Nosso Mestre já nos advertiu dizendo: "não há nada oculto que não venha a ser revelado". O problema é esta sensação de impunidade, que nos leva a crer, ainda que por breve tempo que a mentira triunfa, e que quando bem articulada ela poderá funcionar.

Zuenir Ventura afirma: "Tido como leninista, Dirceu perdeu a chance de aplicar a lição de Lenin de que a verdade é que é revolucionária, não a mentira". Se virmos no ângulo cristão, a severidade é ainda maior: "o diabo jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8.44).

terça-feira, 14 de junho de 2005

Quando todos ganham

Um dos conceitos macro econômicos que começam a ser discutidos e a tomar corpo dentro de grandes e respeitáveis instituições de ensino no mundo empresarial de hoje é o chamado "O pensamento de abundância", uma tese defendida inicialmente na Índia e que sustenta que a economia só vai bem quando todos ganham.

Parece estranho veicular tal idéia no nosso contexto encharcado pelo pensamento capitalista que tem como regra número 1 de sua cartilha o conceito de lucratividade. “Ter lucros” é o pensamento central do sistema. No entanto, tem-se trabalhado, o pensamento da abundância em contraposição ao da miséria. Nesta visão, tenta-se ganhar o máximo, a despeito das questões éticas relacionadas ao processo e das conseqüências sociais advindas desta lógica, no segundo, valoriza-se a grande questão: “O que fazer para todos ganharem?”

Os políticos brasileiros, que vivem sob a perversa lógica do capitalismo selvagem, trariam grande benefício humano à nossa nação se conseguissem pensar em categorias diferentes. Infelizmente acreditam que se as contas públicas “vão bem”, não interessa como andam os empresários e os trabalhadores. Então, para se manter as exigências palacianas, aumenta-se a carga tributária, aperta-se o trabalhador, cria-se um orçamento baseado nas despesas e não nas receitas, e se as despesas aumentarem, basta aumentar o gatilho de um novo imposto sem terem que passar pelo sofrimento de corte de despesas. Ora, tal raciocínio é falho porque não leva em conta o todo. As conseqüências são danosas. Por causa disto, os empresários contratam menos (o que gera menos impostos), a mercadoria deixa de ser produzida (o que representa pobreza para o mercado), e menos pessoas vão comprar (já que não existe trabalho e os recursos desaparecem). Na tentativa de se proteger, o governo vai, numa cadeia lamentável de comandos, limitando os ganhos dos outros e os seus próprios. Quando o empresário não contrata sua mercadoria também não vende, e assim, esta cadeia nada ecológica, que é a economia, é quebrada.

Empresários, em contrapartida, trabalham com a mesma lógica lamentável. Se a economia não vai bem, contrata-se menos, corta-se o salário, demite-se. O resultado é que o empobrecimento da população significa menos mercado consumidor. Gente que não trabalha, consome apenas o básico dos básicos. Falta alguém que possa consumir o produto. Quando alguém empobrece, todos os demais empobrecemos.

Algum tempo atrás ouvi interessante ilustração sobre o inferno e o céu: Certa pessoa chegou ao hades e percebeu que, apesar de haver comida suficiente, as pessoas eram esquálidas e magérrimas porque passavam fome. Por que estavam nesta situação se havia comida suficiente? Porque os braços eram voltados para trás, precisavam de alguém para alimentá-las, mas como no inferno não existe conceito de fraternidade e todos estavam demasiadamente preocupados consigo mesmo, todos sofriam. Quando chegou ao céu, esta pessoa viu que também ali, todos tinham seus braços voltados para trás, mas estavam bem alimentados e felizes. Ali havia fraternidade e solidariedade.

O pensamento de abundância defende que sempre há meios de todos terem bons resultados. Verdadeiros líderes pensam com estas categorias. O Empresário deve pensar em melhorar a qualidade de vida de seus funcionários, não pode ter os olhos apenas para lucros, mas lutar pelo bem estar geral de sua empresa e dos seres humanos. Está provado que um funcionário com uma melhor remuneração produz mais, adoece menos, melhora sua auto estima e criatividade. Bônus inesperados concedidos aos empregadores podem gerar efeitos altamente benéficos para os assalariados. Infelizmente empresários tem pensado apenas no ganho pessoal, tornando-se individualistas e hábeis em dividir prejuízos, mas nunca se mostram prontos em dividir o lucro. Dividem perdas, mas não dividem ganhos.

A empresa que pensa apenas no lucro de capital não é uma boa empresa a longo prazo. Deveria também considerar o lucro do pessoal, pensar de forma mais abrangente, ter uma visão mais ampla do que significa lucro.

Com fazer para todos ganharem? O governo vai ganhar mais se pensar de forma mais ampla, se houver mais recursos disponibilizados para os gastos pessoais. O desejo de aumentar a arrecadação de impostos deve surgir não com o aumento das alíquotas, mas com aumento de produção. Ganha-se mais não com o aumento de taxas, mas com a circulação de mais mercadoria, mais contratação de empregados, isto é, ganha-se mais quando todos ganham.

Empresários ganhariam mais se tivessem funcionários mais satisfeitos, mais realizados como seres humanos, se não tivessem que viver com tanta pressão orçamentária. Assim suas empresas tornar-se-iam mais competitivas e teriam melhores resultados. Todos ganhariam.

A Lei Mosaica, inscrita no Pentateuco, os cinco livros primeiros livros da Lei na tradição judaica, faz importante consideração sobre isto: “Não atarás a boca ao boi que debulha” (Dt 25.4). Posteriormente o apóstolo Paulo amplia este conceito dizendo: “Acaso é de bois que Deus se preocupa?” (1 Co 9.9). Nenhuma pessoa, em sã consciência deixaria de dar boa ração, se possível balanceada, para o animal que tivesse gerando lucro. Mas o princípio deve ir além da visão mercantilista e de produção. Não beneficiar nem valorizar o trabalhador é insano e imoral. A ambição não pode ser dissociada da ética. Uma ética trabalhista deve agir a partir da lógica da abundância e não do pensamento da miséria.

quarta-feira, 8 de junho de 2005

A Tirania do Ódio

O ódio é um mau conselheiro. Ai daqueles que se tornam presas deste vilão hediondo. Não raramente tenho encontrado pessoas "amargas, penduradas no passado", sendo orientadas pela angustiante tirania deste sentimento. Conheci um homem que esteve preso durante 29 anos pelo sentimento de vingança, até que um dia ele a satisfez, matando o outro que o ferira. Mas o seu coração não resolveu a dor através do assassinato: Ele continua amargo e até onde sei experimenta o fel da raiva e da amargura mesmo depois de ter "satisfeito sua ira".

Alguém afirmou que odiar é tomar um copo de veneno, pensando em matar o outro. Outra comparação que me vem à memória é a da pessoa que, consumida pelo ódio, faz uma tentativa de aprisionar o ofensor no peito para mantê-lo encarcerado, no entanto, o outro está livre, o dono da gaiola é que está preso.

Normalmente as pessoas não admitem que odeiam. Ódio é uma palavra forte e é politicamente errado admitir tal sentimento. Por isto o ódio vai assumindo outras roupagens em nós: Descaso, desprezo, depreciação, andam de mãos dadas neste processo dolorido de nossa alma. Indiferença é uma das suas linguagens mais sofisticadas.

O ódio surge por causa da dor que pessoas ou circunstâncias nos causaram. Quando não encontramos uma figura objetiva em quem jogar a culpa, passamos a odiar a nós mesmos, nossa família, nosso destino e até mesmo a Deus. Muitas pessoas têm raiva de si mesmas, e outras tantas de Deus.

Só existem dois caminhos para o ódio: Uma vida de inferno, marcada pelo ressentimento, culpa, tristeza ou o perdão. O problema é que no perdão, a pessoa que resolve libertar o outro de seu peito, precisa entender que "perdoar é ficar no prejuízo", e nós não gostamos de perdas, em nenhum sentido.

No entanto, perder para ganhar é uma grande estratégia. A vida muitas vezes é assim. Nem todas as perdas são de fato perdas, e nem toda vitória realmente nos faz vencedor. Perdoar, colocar na conta passiva, esquecer a ofensa é realmente algo maravilhoso para quem dá, já que perdão, também é uma benção para quem o oferece.

Muitas vezes temos dificuldade para perdoar. Outras tantas, gostaríamos de perdoar e não queremos perdoar. Alguém já me disse certa vez que não sentia vontade de perdoar, uma vez que a ofensa fora tão forte. Então sugeri a esta pessoa que orasse a Deus nos seguintes termos: "Deus, tu sabes que eu não quero perdoar, mas gostaria tanto de querer". Neste caso, não ora para perdoar ainda, mas ora para que o coração e a vontade se liberte para o perdão. Quem vence o ódio, liberta sua vida para recomeçar, para construir um novo momento, para poder sonhar. Quem não consegue fazê-lo, certamente continuará escravizado pela tirania dor ressentimento que dele advém.

quinta-feira, 26 de maio de 2005

A Tirania do Consumo

Centenas de pessoas vivem angustiadas e aflitas por já terem ido muito longe nos seus débitos. Há uma boa probabilidade de que você já tenha caído na armadilha do débito pelo menos uma vez na vida, ou que sua casa esteja passando por sérios problemas por causa disto.

Um débito financeiro desorganiza a estrutura familiar, gera enorme frustração e eventualmente grandes conflitos. Se você está com débito isto significa que tem uma tarefa dupla pela frente: 1. Você não conseguia se organizar quando as contas estavam zeradas, e isto provavelmente significa que enfrentava sérios problemas entre receita e despesa; 2. Você vai ter que correr agora contra o prejuízo e ainda equilibrar as contas domésticas, que você anteriormente não estava conseguindo.

Pessoas podem se desequilibrar financeiramente por causa de uma tragédia, acidente ou um infortúnio. Mas muitos são desequilibrados porque estão presos numa armadilha, que eu chamo A Tirania do Consumo. Alguém já afirmou que "a maioria dos nossos recursos é gasto com coisas que a gente não precisa, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não gostamos".

A estratégia das empresas de marketing é criar necessidades. Elas são peritas em fazerem você se achar inadequado se não usa uma roupa de determinada marca, se não come em determinado restaurante e se não tem determinado carro. Quanto menos resolvido for o seu coração, mais terá a tendência de acreditar que o seu sentido será adquirido quando tiver coisas que ainda não conseguiu comprar, e colocar seu valor e significado em objetos e fantasias que estão fora de sua vida. Assim, compra-se para encontrar significado para a alma, mas existem necessidades existenciais da vida que nenhum dinheiro pode comprar e que não pode saciar a alma.

Almas vazias não conseguem viver sem gastar, por isto buscam não apenas o necessário, mas o supérfluo, na tentativa de que lhes dê sentido para preencherem o coração. Na verdade não precisam de tais coisas para viver, aliás, poucas coisas que realmente precisamos são encontradas em shoppings.

Gostaria de dar algumas dicas práticas para pessoas que vivem nesta sujeição tirânica:

1. Não superestime o valor da prosperidade. Dinheiro não resolverá seus problemas, nem trará felicidade, comprará amigos ou ainda lhe fará importante.
2. Evite a gratificação instantânea - A habilidade de adiar o prazer. Aprenda disciplina O desejo por gratificação instantânea leva a compulsão por comprar.
3. Não gaste além de seus recursos - Viva dentro do seu orçamento. Não se afogue na armadilha do cartão de crédito para gastar mais do que você pode. Simplifique sua vida a ponto de viver confortavelmente dentro de suas posses.
4. Desenvolva um plano - Você não pode continuar vivendo a mesma vida e esperar resultados diferentes do que já obteve até agora. Escreva um plano melhor de vida para você.
Comece imediatamente - Uma vez que você tenha resolvido consertar seu problema e tenha traçado um plano, não espere para colocá-lo em prática.

segunda-feira, 23 de maio de 2005

A Tirania do Sucesso

Poucos homens estudaram tanto o comportamento humano quanto B. F. Skinner. Ele é um dos pais e mentores da Psicologia do comportamento, ou, do behaviorismo, se adotarmos o termo na língua inglesa. Num intrigante livro sobre o ser humano chamado O mito da Liberdade (Rio de Janeiro, Bloch Editores S.A, 1973), expressa profundo desencanto com esta questão da liberdade humana. Ele conclui seu livro dizendo: "Uma análise experimental transfere a determinação do comportamento do homem autônomo para o ambiente – um ambiente responsável pela evolução da espécie como pelo repertório adquirido por cada membro... Ele está realmente controlado pelo ambiente". (op.cit.pg 167-168).
Embora ele acentue que este ambiente é construído em grande parte pelo próprio homem não deixa de expressar em todo conteúdo do livro, forças humanas que condicionam o homem, levando-o a fazer opções que não necessariamente são julgadas em todas as suas complexidades.
Esta é uma das razões pelas quais temos falado de forças tirânicas que agem sobre nós e interagem conosco. Uma das que tem sido mais enfáticas, tem sido o conceito de sucesso. Somos uma sociedade ambiciosa e desesperada por reconhecimento público.

Imagine que você pergunte ao seu filho pré adolescente ou adolescente, e sugiro que não o faça, o que ele pensa que seria a sua expectativa sobre ele lhe dando três opções: ser um homem rico, um homem bom, ou um homem de sucesso, o que você acha que ele iria responder?

Muito provavelmente a resposta seria sucesso. O excesso de atividades, tarefas e obrigações que criamos para nossos filhos revelam a nossa ansiedade para que eles sejam bem sucedidos. A agenda de muitos meninos e meninas tem sido agenda de executivos, eles perderam a capacidade do lúdico, do prazer e do brinquedo. Tornam-se sérios demais numa época em que deveriam brincar. Por que o estatuto dos menores não discute esta questão? Muitos lares têm impedido os filhos de viverem pelo desejo incontrolável de que sejam pessoas de sucesso na vida.

Homens e mulheres também vivem no afã do sucesso. Partem vorazmente para o mercado de trabalho, fazem cursos cada vez mais rigorosos, afinal, dizem eles, precisam de um lugar ao sol. Os dois saem em busca do sucesso, reconhecimento, notoriedade. Esquecem-se uns dos outros, abandonam afetivamente os filhos e neste desespero pós-moderno, perdem a alma e o prazer de ser gente, de brincar, de rir. Ambos providenciam bens e riquezas para casa, mas ninguém está providenciando recursos para a alma, para os afetos.

O que poucos estão discutindo é o real conceito de sucesso. O que é ser bem sucedido? O que transforma uma pessoa em alguém vitorioso? Um diploma a mais? um carro mais novo? uma viagem a mais à Europa? Gente com tanto e com tão pouco, vazia de afeto, vazia de alma, vazia de sentido? É isto que chamamos de sucesso? Filhos estressados, individualistas, egoístas, burgueses, sem razão para viver, sem prazer de viver, sem sentido para viver? Pessoas ensimesmadas, yuppies sem desejo de ser gente, sem capacidade de amar?

A Bíblia nos faz uma exortação muito séria sobre isto: "Tal é a sorte de todo ganancioso; e este espírito de ganância tira a vida de quem o possui" (Pv 1.19)

domingo, 8 de maio de 2005

A Tirania do Mal

A presença do mal no mundo cria questões filosóficas angustiantes e perturbadoras. C. S. Lewis, conhecido escritor e professor em Oxford, falecido em 1963 afirma que existem duas abordagens complicadoras quando tratamos deste tema: A Primeira é negarmos o mal. A segunda, ficarmos obcecados pelo mal. Tanto a negação quanto a obsessão são complicadoras porque na primeira, nega-se a discussão e faz-se de conta que o mal não existe. Na segunda, cria-se uma neurose que tenta analisar a vida apenas pela perspectiva do sobrenatural, retirando das pessoas a compreensão mais ampla da responsabilidade moral. O diabo torna-se culpado de todas as fraquezas, contradições, ambigüidades e malandragens.

Para aqueles que professam os credos judaico-cristãos, é importante notar que ele aparece reiteradas vezes nos escritos do Velho e do Novo Testamento. Satã é tido como responsável por uma infinidade de doenças humanas, enviando aflições e perturbações à humanidade, trazendo distúrbios mentais e surge sempre como um espírito oposto a Deus, distanciando o homem de Deus e de seus propósitos. Uma boa referência bibliográfica para este tema é o livro, O Mal, o lado sombrio da realidade, de John A. Sanford, publicado pela edicões Paulinas.

Tanto na perspectiva das Escrituras quanto na experiência cotidiana, o Mal tem sido sempre uma força tirânica. Muitos têm sido presos de forma inconsciente desta força simbólica e/ou real, e vivem sufocados por um não sei quê de angústias e medos. Para alguns já não se trata mais de uma impressão, mas de fato de uma opressão. O mal tem sido experimentado de forma aguda no viver diário. Estes fatos não nos são desconhecidos.

Scott Peck, no livro O Povo da Mentira, afirma que o mal é o oposto da vida, e chama a atenção para o fato de que na língua inglesa, curiosamente, evil (mal), é oposto de live (to live: viver). Evil é vida escrita de trás para a frente, vista pelo inverso. O mal é oposto à vida. Ele confronta e esvazia a capacidade de viver, e isto está de acordo com o pensamento de Jesus que diz que "o diabo veio para matar, roubar e destruir, mas eu vim para que tenham vida, e vida em abundância".

Muitos têm sido escravizados por conceitos e pela realidade do mal. São forças espirituais e simbólicas que vão além do cotidiano. Fui procurado por médicos de um hospital psiquiatra que pediam para que eu desse parte do meu tempo para lidar com pessoas que precisavam de um tipo especifico de tratamento que ia além da análise, terapia e remédios que eram aplicados. Queriam alguém que lidasse com pessoas pelo ângulo espiritual. Peck, psiquiatra citado acima, admitia que ele mesmo buscou grupos de exorcistas para lidar com coisas que iam para além do cotidiano e do ordinário.
Não viver demonizando o comportamento humano, nem viver ignorando os fenômenos torna-se sabedoria para nossas vidas. Ainda mais importante, porém, é buscarmos solução integrada para que não mais estejamos escravizados de forças e conceitos que podem nos impedir de sermos menos do que aquilo que Deus queria para nós. Jesus lidou algumas vezes com endominhados, mas não via demônios em toda parte. Também não fazia de conta que não existiam. João, seu apóstolo, definiu o ministério de Jesus de duas formas: Primeiro afirmou que Deus é amor (1 Jo 4.16), e depois disse: "Para isto se manifestou o Filho de Deus: Para destruir as obras do diabo" (1 Jo 3.8). Podemos concluir que o amor de Jesus e a compreensão de sua aceitação incondicional por nós, e seu ministério que confronta o mal, são elementos altamente libertadores para aqueles que ainda vivem sob a tirania do Mal.

quarta-feira, 4 de maio de 2005

Homenagem às mães

O dia das mães é sempre uma data excepcional. Existe um provérbio indiano que diz: “Um mestre supera em dignidade a dez preceptores; um pai a cem mestres, porém uma mãe a mil pais”.
Neste domingo gostaria de fazer algumas observações sobre a mãe:
Mãe não é objeto de consumo - as propagandas do dia das mães, costumam esvaziar seu sentido, e transformá-la em algo negociável, resultado de marketing. Dar presentes é bom, mas melhor ainda é ser um presente. O Livro de Provérbios afirma que "O filho sábio alegra a seu pai, mas o filho insensato é a tristeza de sua mãe" (Pv 10.1).
Mãe é única – Não existe a possibilidade de alguém ser gerado a partir de dois úteros. Útero traz a idéia de partilhar das vísceras, das entranhas da natureza humana. Por esta razão, os judeus só reconhecem seus filhos a partir do útero judaico. Para você ser judeu precisa nascer de uma mãe judia. Esta singularidade precisa ser valorizada.
Mãe é amor que não pode ser adiado – Toda demonstração de amor que puder ser feita à sua mãe faça antes de sua morte. Muitos ficam desesperados em gastar muito dinheiro em funerais e lápides, mas se quiser um conselho, gaste-o em flores hoje, não amanhã. Na maioria das vezes ao fazermos assim somos motivados pela culpa, para resolvermos inconscientemente nossa sensação de ter feito menos do que deveríamos ter feito.
Mãe não é empregada doméstica – Nossas relações são muitas vezes utilitaristas. Podemos achar que a comida de nossa mãe é a melhor do mundo, mas não precisamos transformá-la numa escrava de nossos caprichos de menino (a) que demorou a crescer. Nossos mimos não podem ser motivos de uma postura de tirania.
Mães precisam ser honradas Miguel Couto, ao receber honrosos prêmios por suas pesquisas afirmou: “toda honra dêem à minha mãe" e, após tal afirmação, trouxe-a à frente do auditório, para receber os aplausos.
Mães precisam ser reconhecidas - Thomas A. Édson, conhecido cientista fez a seguinte afirmação: “Minha mãe fez o que eu sou”.
Recebi uma interessante mensagem sobre as mães, e gostaria de compartilhar com os leitores:
No dia em que Deus criou as mães (e já vinha virando dia e noite há seis dias), um anjo apareceu-lhe e disse:
- Por que esta criação está lhe deixando tão inquieto senhor?
E o Senhor Deus respondeu-lhe:
- Você já leu as especificações desta encomenda? Ela tem que ser totalmente lavável, mas não pode ser de plástico. Deve ter 180 partes móveis e substituíveis, funcionar a base de café e sobras de comida. Ter um colo macio que sirva de travesseiro para as crianças. Um beijo que tenha o dom de curar qualquer coisa, desde um ferimento até as dores de uma paixão, e ainda ter seis pares de mãos.
O anjo balançou lentamente a cabeça e disse-lhe:
- Seis pares de mãos Senhor? Parece impossível!?!
Mas o problema não é esse, falou o Senhor Deus - e os três pares de olhos que essa criatura tem que ter?
O anjo, num sobressalto, perguntou-lhe:
- E tem isso no modelo padrão?
O Senhor Deus assentiu:
- Um par de olhos para ver através de portas fechadas, para quando se perguntar o que as crianças estão fazendo lá dentro (embora ela já saiba); outro par na parte posterior da cabeça, para ver o que não deveria, mas precisa saber, e naturalmente os olhos normais, capazes de consolar uma criança em prantos, dizendo-lhe: 'Eu te compreendo e te amo!' - sem dizer uma palavra.
E o anjo mais uma vez comenta-lhe:
- Senhor...já é hora de dormir. Amanhã é outro dia.
Mas o Senhor Deus explicou-lhe:
- Não posso, já está quase pronta. Já tenho um modelo que se cura sozinho quando adoece, que consegue alimentar uma família de seis pessoas com meio quilo de carne moída e consegue convencer uma criança de 9 anos a tomar banho...
O anjo rodeou vagarosamente o modelo e falou:
- É muito delicada Senhor!...
Mas o Senhor Deus disse entusiasmado:
- Mas é muito resistente! Você não imagina o que esta pessoa pode fazer ou suportar!
O anjo, analisando melhor a criação, observa:
- Há um vazamento ali Senhor...
- Não é um simples vazamento, é uma lágrima! E esta serve para expressar alegrias, tristezas, dores, solidão, orgulho e outros sentimentos.
- Vós sois um gênio, Senhor! - disse o anjo entusiasmado com a criação.
- Mas isso não fui eu que coloquei. Apareceu assim...

sexta-feira, 22 de abril de 2005

Dia do Índio

No nosso calendário brasileiro, O dia 19 de Abril é dedicado à causa dos índios que coincide com o dia do descobrimento do Brasil que é o dia 22 de Abril. Estas datas na verdade se tocam profundamente já que não se pode falar daquele dia sem entender realmente o que aconteceu quando os navegantes aqui chegaram.

Uma redefinição talvez se faça necessário destas referidas datas: O dia 22 foi o dia em que os portugueses colocaram os pés em terras brasileiras, e naquele dia, descobriu-se o Brasil. O problema é que antes deles descobrirem o Brasil, milhares de pessoas já moravam aqui. A nação conquistadora, Portugal, tinha 1.5 milhão de habitantes, e os povos indígenas que aqui habitavam somavam cerca de 6 milhões de pessoas. Quem descobriu quem?

Na verdade não se pode falar mais em descobrimento do Brasil. Semântica e politicamente esta análise é incorreta. Tem-se a impressão de que os nativos brasileiros estavam perdidos e agora foram achados pelos descobridores. Esta descoberta nada mais foi que um encontro de civilizações. Lamentavelmente o poderoso sempre escreve a história, e o que aprendemos nos livros escolares traz uma visão colonialista da triste realidade que até hoje nos assedia que é a mentalidade de província, de dependência dos centros de poder. Mudou-se a geografia do poder, mas não se mudou a mentalidade. Mudou-se a forma de poder, de colonialismo para neo colonialismo, mas a opressão e dominação continuam.

Naqueles dias, porém, todo dia era dia de Índio...

A Palavra "índio" aponta para algo nativo, que brota da terra, e que se identifica com a natureza, que, ao contrário que alguns pensam, não é mãe, mas filha, uma vez que ela é não é progenitora, mas criatura. Quando se fala de mãe natureza, tende-se a criar uma espécie de panteísmo filosófico. Índio é algo relacionado a adamã (palavra hebraica para terra, daí a raiz da palavra para Adam, o primeiro homem, protótipo da natureza humana).

Deve-se comemorar o dia do Índio, como uma espécie de celebração da vida e da humanidade. Sua existência nos inspira em três dimensões:
1. A rever equivocados conceitos históricos eventualmente veiculados nos livros escolares, nos convidando a uma análise mais crítica de nosso papel como nação que se relaciona com outras nações e à reflexão sobre o nosso papel como povo neste encontro com a aldeia global que é a terra.

2. Sua existência também nos desafia a considerarmos a ética da natureza, o papel da terra, das árvores, dos rios, do ecossistema. Convida-nos a refletir sobre a necessidade de nos relacionarmos com a terra não numa estrutura de dominação e conquista, mas num relacionamento de graça e interação. A questionarmos a ambição desmedida pela riqueza natural que gera um problema ambiental com graves e prolongadas seqüelas sobre as futuras gerações.

3. Acima de tudo, somos convidados também a celebrar o Planeta terra, e, ainda mais importante, somos convidados a Celebrar Deus no Planeta terra, uma vez que se torna difícil desvincular o conceito da criatura de sua relação com Deus o Criador. O Dia do Índio nos aponta para o Deus que o criou à sua imagem e semelhança, como imago Dei, e por isto, o Índio possui uma dignidade inerente nele mesmo, como gente, como pessoa, criatura na relação com aquele que o criou. O índio não é menos, nem é mais, acima de tudo é. E como ser humano deve ser considerado na sua mais fina e particular peculiaridade, como criação exuberante do Deus que o criou para ser objeto de seu amor.

segunda-feira, 18 de abril de 2005

A Tirania da Culpa

Gabriel Garcia Marques no seu famoso livro "Cem anos de solidão" conta a história de José Arcadio Buendia, um dos personagens centrais do romance, que depois de uma briga numa rinha com Prudêncio Aguilar o mata com uma lança. Um dia, sua mulher saiu para beber água no quintal e retornou lívida afirmando ter visto Prudêncio junto à tina, com uma expressão triste, tentando tapar com uma atadura o buraco da garganta. Voltou ao quarto, contou ao esposo o que tinha visto, mas ele não ligou e respondeu: “Os mortos não saem, o que acontece é que não agüentamos com o peso da consciência”. Somos uma sociedade que experimenta dois sentimentos absolutamente ambíguos em relação à culpa: Negamos a existência do pecado e ao mesmo tempo vivemos culpados.

Ora, se pecado é algo puramente cultural não faz sentido viver culpado. Pecado, que é um termo absolutamente religioso, implica que existe uma lei absoluta passível de ser quebrada e que existe o ofensor e o ofendido. Se pecado não existe, a culpa, por conseguinte, não deveria existir. No entanto, quando mais se tenta negar a culpa, mais se percebe uma geração culpada. Obviamente, nem toda culpa é ruim, “Sentir-se culpado de alguma coisa que não é má é desnecessário e doentio. Não se sentir culpado de algo que é mal, é também doença”. Scott Peck, The people of the lie.

Obviamente existe sentimento de culpa sem culpa, resultante de um processo neurótico e repressor de uma sociedade doentia, mas também é certo pensar que existe culpa sem sentimento de culpa, em situações nas quais a pessoa não é capaz de perceber limites, nem o senso comum. Quando tal culpa não é percebida, há uma neurotização da alma que desemboca na psicopatia e na sociopatia. Nestes casos, mesmo quando o crime mais hediondo é praticado, a consciência da pessoa parece não ser incomodada nem afligida. Em tais situações, a liberdade que foi dada para a vida, torna-se um instrumento banal da morte, como no recente caso do serial killer conhecido como Corumbá.

A culpa penetra costumeiramente a alma humana e se torna tirânica quando escraviza aquele que deveria estar livre, mantém culpado quem já foi absolvido. Muitos vivem prisioneiros de seus fantasmas e são comumente detidos atrás de grades invisíveis. São pessoas acorrentadas ao passado. Muitas doenças são decorrentes de uma alma culpada, que paralisa e imobiliza as pessoas, como relata Shakespeare em Lady MacBeth, cujo personagem tem suas mãos ensangüentadas e vive gritando num interminável processo de dor sem saber onde suas mãos poderão ser lavadas.

O problema é que a culpa é traiçoeira, como um poço sem fundo: Quanto mais você tira terra mais profundo vai ficando. Ela escraviza, paralisa o potencial, enfraquece a energia e rouba todo entusiasmo das pessoas. A Bíblia afirma que a alma culpada correrá até a morte e ninguém poderá detê-la (Pv 28.17). Em quase todos estes processos de culpa percebe-se que a incapacidade da pessoa de se sentir perdoada.

Mas como se pode perdoar o “pecado” que não se reconhece? Como ser absolvido de um mal que não foi praticado? Se não existe pecado real, como se pode perdoar uma culpa real?

Creio que seria mais fácil se admitíssemos nossa culpa, porque assim poderíamos ser absolvido de forma real de nossa escravidão. Negação da doença nunca ajudou no processo da cura do enfermo. Parece que esta foi a leitura que Jesus fez da vida. Diante da mulher que estava para ser apedrejada ele diz: “Nem eu te condeno, vá e não peques mais”. Ele não nega seu erro nem o ignora, mas a absolve sabendo exatamente o que a culpava, e ela é assim restaurada. Para Jesus, pecado era algo muito real, mas a culpa também tinha remédio, cuja cura foi providenciada por ele mesmo, que no seu processo vicário de nos substituir na cruz assumiu a culpa em nosso lugar, como o Cordeiro bendito que tira o pecado do mundo.

terça-feira, 5 de abril de 2005

A tirania da estética

Jean Jacques Rousseau inicia seu livro, O Contrato Social, afirmando o seguinte: "O homem é livre, mas por toda parte encontra-se a ferros". Forças tirânicas tendem a subjugar a natureza humana e a torná-la menos do que aquilo que de fato é. A tirania veste muitas roupagens e máscaras poderosas: Somos escravizados por forças psicológicas, sociais, religiosas e até mesmo sobrenaturais. Hoje gostaria de me reportar a um destes elementos tirânicos denominado por Jum Nakao de "a efemeridade da estética" em seu livro, "A Costura do Invisível" (Senac; 150 reais).
Uma pesquisa encomendada pela Unilever no campo da estética e realizada em dez países, coordenada pelas professoras Suzy Orbach, da London School of Economics, e Nancy Etcoff, de Harvard, trouxe alguns resultados que revelam a obsessão pela aparência. No Brasil, o peso e a beleza do corpo influem mais na auto-estima que sucesso na profissão, fé religiosa ou número de amigos. Apenas 7% das mulheres se consideram bonitas e, por conta disso, 54% se dizem dispostas a fazer cirurgias plásticas.
Na verdade não são apenas as mulheres que se encontram nesta armadilha. Homens também estão dispostos a ir cada vez mais longe na busca do corpo escultural e do rosto perfeito, muitas vezes em detrimento de sua própria saúde. Isso é uma tirania. Tratamentos cada vez mais complexos são feitos mesmo quando são avisados de que não são indicados para seu caso. E quem tenta melhorar o que não precisa pode ter um resultado pior que o inicial, muito de nossa obsessão é não apenas desnecessária, mas também inútil.

A psicanalista Susie Orbach, que atendeu Lady Di quando a princesa sofria por se achar gorda, afirma que existe uma pressão comercial muito forte obrigando-nos a seguir um certo padrão de beleza e que enquanto a cultura não assimilar outros modelos estéticos, a maioria continuará vulnerável às armadilhas da vaidade. Por causa desta ação tirânica que se transformou em modismo, nada menos do que 58% das brasileiras afirmam que, caso a cirurgia plástica fosse gratuita, recorreriam imediatamente ao bisturi. "Considero esse dado chocante. A preocupação com a aparência é tão importante para as brasileiras que a cirurgia plástica virou parte do cotidiano", diz Susie Orbach.

Excesso de preocupação com a forma provoca efeitos colaterais incômodos para as pessoas. Elas perseguem um ideal estético perfeito, que é irreal, e por isso tornam-se insatisfeitas. Passam a viver queixosas em relação a auto imagem e são as que mais se enxergam "gordinhas" e "pouco sexy", entre as mulheres nos dez países observados.

Poucos param para considerar quão ideológica é a beleza. Beleza não apenas é imposta, mas varia de cultura para cultura. O padrão de beleza que hoje nos é apresentado é o das modelos que desfilam nas passarelas: magricelas de quadris estreitos, seios quase inexistentes, cabelo esticado e pele impecável. Sete de cada dez meninas declaram fazer algum tipo de dieta para emagrecer, mesmo não tendo nenhum problema objetivo com a balança. Mas este padrão estético não é o mesmo em outras culturas orientais e africanas. O fato é que as adolescentes de hoje são atraídas cedo pelas armadilhas da vaidade. A frustração feminina com a própria imagem e a conseqüente busca por uma aparência mais próxima dos padrões inculcados pela mídia alimentam uma indústria poderosa. Só no ano passado as brasileiras gastaram 17 bilhões de reais na compra de produtos cosméticos e de perfumaria. Não é fácil – e é bem caro – ser uma mulher moderna.
Apesar deste padrão estético ser requerido, muitas vezes em nome da saúde física, A bulimia (doença que leva a pessoa a vomitar tudo que ingere), e a anorexia (incapacidade de se alimentar), são doenças que se tornaram comuns, em nome da tirania da estética. Existem pessoas entrando em choque hipoglicêmico (queda acentuada na produção de açúcar no sangue) e parando nas UTIs em razão das dietas piradas que tem sido criadas para produzir beleza. As sociedades médicas alertam para os riscos e absoluta falta de necessidade de muitos dos tratamentos. Alguns pensam em recorrer às cirurgias de redução do estômago apenas para controlar o peso, quando a cirurgia bariátrica trata uma doença e não tem propósitos estéticos. De acordo com Marco Antonio de Tommaso, psicólogo de várias agências de modelos, 92% das suas clientes têm problemas alimentares. ''Elogios, trabalhos, nada satisfaz a vaidade dessas moças. Querem estar cada vez mais magras, achando que isso fará com que sejam mais bem aceitas''.
É bom lembrar que não existe cirurgia da felicidade. Ela só é encontrada quando o coração encontra sentido em viver, e se volta para o propósito para o qual foi criado.

A tirania da estética

Jean Jacques Rousseau inicia seu livro, O Contrato Social, afirmando o seguinte: "O homem é livre, mas por toda parte encontra-se a ferros". Forças tirânicas tendem a subjugar a natureza humana e a torná-la menos do que aquilo que de fato é. A tirania veste muitas roupagens e máscaras poderosas: Somos escravizados por forças psicológicas, sociais, religiosas e até mesmo sobrenaturais. Hoje gostaria de me reportar a um destes elementos tirânicos denominado por Jum Nakao de "a efemeridade da estética" em seu livro, "A Costura do Invisível" (Senac; 150 reais).
Uma pesquisa encomendada pela Unilever no campo da estética e realizada em dez países, coordenada pelas professoras Suzy Orbach, da London School of Economics, e Nancy Etcoff, de Harvard, trouxe alguns resultados que revelam a obsessão pela aparência. No Brasil, o peso e a beleza do corpo influem mais na auto-estima que sucesso na profissão, fé religiosa ou número de amigos. Apenas 7% das mulheres se consideram bonitas e, por conta disso, 54% se dizem dispostas a fazer cirurgias plásticas.
Na verdade não são apenas as mulheres que se encontram nesta armadilha. Homens também estão dispostos a ir cada vez mais longe na busca do corpo escultural e do rosto perfeito, muitas vezes em detrimento de sua própria saúde. Isso é uma tirania. Tratamentos cada vez mais complexos são feitos mesmo quando são avisados de que não são indicados para seu caso. E quem tenta melhorar o que não precisa pode ter um resultado pior que o inicial, muito de nossa obsessão é não apenas desnecessária, mas também inútil.

A psicanalista Susie Orbach, que atendeu Lady Di quando a princesa sofria por se achar gorda, afirma que existe uma pressão comercial muito forte obrigando-nos a seguir um certo padrão de beleza e que enquanto a cultura não assimilar outros modelos estéticos, a maioria continuará vulnerável às armadilhas da vaidade. Por causa desta ação tirânica que se transformou em modismo, nada menos do que 58% das brasileiras afirmam que, caso a cirurgia plástica fosse gratuita, recorreriam imediatamente ao bisturi. "Considero esse dado chocante. A preocupação com a aparência é tão importante para as brasileiras que a cirurgia plástica virou parte do cotidiano", diz Susie Orbach.

Excesso de preocupação com a forma provoca efeitos colaterais incômodos para as pessoas. Elas perseguem um ideal estético perfeito, que é irreal, e por isso tornam-se insatisfeitas. Passam a viver queixosas em relação a auto imagem e são as que mais se enxergam "gordinhas" e "pouco sexy", entre as mulheres nos dez países observados.

Poucos param para considerar quão ideológica é a beleza. Beleza não apenas é imposta, mas varia de cultura para cultura. O padrão de beleza que hoje nos é apresentado é o das modelos que desfilam nas passarelas: magricelas de quadris estreitos, seios quase inexistentes, cabelo esticado e pele impecável. Sete de cada dez meninas declaram fazer algum tipo de dieta para emagrecer, mesmo não tendo nenhum problema objetivo com a balança. Mas este padrão estético não é o mesmo em outras culturas orientais e africanas. O fato é que as adolescentes de hoje são atraídas cedo pelas armadilhas da vaidade. A frustração feminina com a própria imagem e a conseqüente busca por uma aparência mais próxima dos padrões inculcados pela mídia alimentam uma indústria poderosa. Só no ano passado as brasileiras gastaram 17 bilhões de reais na compra de produtos cosméticos e de perfumaria. Não é fácil – e é bem caro – ser uma mulher moderna.
Apesar deste padrão estético ser requerido, muitas vezes em nome da saúde física, A bulimia (doença que leva a pessoa a vomitar tudo que ingere), e a anorexia (incapacidade de se alimentar), são doenças que se tornaram comuns, em nome da tirania da estética. Existem pessoas entrando em choque hipoglicêmico (queda acentuada na produção de açúcar no sangue) e parando nas UTIs em razão das dietas piradas que tem sido criadas para produzir beleza. As sociedades médicas alertam para os riscos e absoluta falta de necessidade de muitos dos tratamentos. Alguns pensam em recorrer às cirurgias de redução do estômago apenas para controlar o peso, quando a cirurgia bariátrica trata uma doença e não tem propósitos estéticos. De acordo com Marco Antonio de Tommaso, psicólogo de várias agências de modelos, 92% das suas clientes têm problemas alimentares. ''Elogios, trabalhos, nada satisfaz a vaidade dessas moças. Querem estar cada vez mais magras, achando que isso fará com que sejam mais bem aceitas''.
É bom lembrar que não existe cirurgia da felicidade. Ela só é encontrada quando o coração encontra sentido em viver, e se volta para o propósito para o qual foi criado.

Como resistir às compras?

Uma das grandes tentações do homem moderno é o consumismo. Lamentavelmente compramos coisas que não precisamos, para agradarmos pessoas que gostamos menos ainda. Os vendedores sabem jogar com nossos desejos e criar necessidades, e se somos compulsivos para comprar o resultado é que estaremos sempre usando nosso cartão de crédito ou pagando exorbitantes juros especiais de cheques. Fabricantes tentam vender um estilo de vida mais do que um produto, e querem associar sua imagem ao produto que eles estão vendendo. Você se torna uma mercadoria ao lado de outra mercadoria.

Para obter vitórias sobre compras desnecessárias alguns hábitos podem ser salutares:
Estabeleça prioridades – Você pode querer gastar com coisas urgentes, ou que lhe dão prazer, mas se você tem prioridades isto não vão acontecer.
Faça uma lista de coisas que você precisa, e a siga rigorosamente. As prateleiras de supermercado são colocadas numa ordem tal que você normalmente encontra os produtos supérfluos na altura de seus olhos, enquanto os essenciais estão em lugares mais difíceis.
Observe quão acurada são as propagandas. Quando dizem: "veja quanto você economizará", focalize no quanto gastará. Quando dizem: "Nós oferecemos crédito", lembre-se que eles estão oferecendo débito. O cartão de crédito na verdade é um cartão de débito. O limite do cheque especial não é um dinheiro seu, mas do banco, oferecido a juros abusivos. É difícil quebrar o ciclo da dependência de juros.
Considere se de fato sua compra é necessária . "Realmente estou precisando ou estou racionalizando para comprar agora aquilo que desejo?" Se ficar em dúvida, gaste um tempo um pouco maior pensando ao invés de comprar impulsivamente.
Nunca gaste além do seu orçamento – Dívidas roubam o sono da gente e tiram a tranqüilidade de nosso coração.

quarta-feira, 23 de março de 2005

Retraduzindo a Páscoa

Uma das boas heranças que a igreja Católica nos legou foi a da obra expiatória de Cristo. Repetidas vezes durante a liturgia era necessário afirmar: "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, tende piedade de nós". Esta frase traduz a essência da Páscoa!

A Páscoa, contudo, como todas as mensagens cristãs, tem perdido seu significado. O comércio voraz, faminto de dinheiro, trocou o cordeiro pelo coelho. Aliás, um coelho muito versátil, quase milagroso, que põe ovos de chocolate de todos os tamanhos e para todos os gostos. Para o consumismo insaciável, a essência da páscoa não tem a menor importância. O que importa é vender, vender muito, ainda que na mente das pessoas a verdade seja sacrificada, e o cordeiro fique esquecido. Para uma sociedade materialista, secularizada e consumista cujo deus é o ventre, o importante é empanturrar o estômago de chocolate, ainda que se sacrifique no altar do comércio esfaimado, a essência da verdade.

Páscoa significa originalmente “passagem”, vem do hebraico pesah, e é associada com o verbo pasah, que significa “saltar” ou “passar por cima”. Foi usada originalmente para expressar o fatídico dia em que o povo de Deus estava saindo do Egito e o anjo da morte "passou" sobre o povo judeu, sem que nenhum mal pudesse atingir aqueles lares que foram marcados pelo sangue do cordeiro que estava pintado nos umbrais das portas. Esta é uma história central do Antigo Testamento. Naquela noite o povo de Deus foi salvo da tragédia da morte dos primogênitos, porque um cordeiro tinha sido sacrificado e o seu sangue havia sido aplicado sobre as vergas das portas. Esta é a história épica da libertação do povo de Deus do cativeiro, com mão forte e poderosa. (Livro de Êxodo, cap 12).

No Novo Testamento, aprendemos que Jesus é o cordeiro pascal, O cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Foi ele quem foi imolado na cruz por nós. Ele sofreu o castigo que nos traz a paz. Deus lançou sobre Ele a iniqüidade de todos nós. Ele, como ovelha muda, foi para o matadouro, carregando os nossos pecados. Ele se fez maldição por nós. Ele morreu derramando seu sangue, adquirindo para nós eterna redenção. Esta é a história da nossa libertação. Não podemos deixar que ela seja distorcida e diluída em chocolate. Não podemos permitir que o maior de todos os sacrifícios, vivido na hora mais amarga do Filho de Deus, bebendo sozinho o cálice da ira divina, seja reduzido a um festival de gastronomia.

Coelho ou cordeiro?
O coelho é um intruso que nada tem a ver com a festa da páscoa. Esta festa é a festa do cordeiro, do Cordeiro de Deus. Ele sim, deve ser o centro, o conteúdo, a atração e a razão de ser desta festividade. Que a nossa família possa estar reunida não em torno do ovo de chocolate, mas em torno de Jesus, o Cordeiro que foi morto, mas vive pelos séculos dos séculos, tendo a certeza que estamos debaixo do abrigo de seu sangue.
Não é crime compartilhar fraternalmente um ovo de Páscoa. Mas é grave esquecer que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

quarta-feira, 16 de março de 2005

Espelho, espelho meu...

Assisti atenciosamente o quadro de televisão que tem o nome acima. A idéia é curiosa: A direção do programa recebe várias cartas de pessoas aflitas que desejam uma transformação na sua imagem e que não gostam de si mesmas. A equipe vai atrás de profissionais de primeira linha para dar uma "guaribada" em uma destas pessoas que eles escolhem, e ela passa por uma série de tratamentos incluindo cirurgias plásticas, cuidado com a pele, checagem nos dentes e corte de cabelo. A pessoa é restaurada na perspectiva estética e os profissionais tentam fazer o melhor possível para que ela seja transformada. O trabalho em geral, fica muito bom. Os responsáveis pela metamorfose fazem um excelente trabalho.

A maioria das pessoas tem problema com a auto-imagem. Os mais gordinhos gostariam de emagrecer um pouco, os magros se sentem inadequados e gostariam de ser mais cheinhos, os altos acham exagerado o tamanho, os baixinhos gostariam de ter um centímetro a mais. Todos nós temos uma certa insatisfação com nosso espelho. Quando olhamos as fotografias, narcisistas como somos, procuramos nossa imagem para nos enamorarmos um pouco de nós mesmos, mas sempre culpamos a fotografia por ela mostrar o que vemos. "Esta foto não saiu muito boa". Ao dizermos isto, estamos reconhecendo que temos uma imagem mental que não concorda com a imagem real.

O grave problema do espelho é que temos imagens construídas dentro de nós mesmos. Nunca vamos nos ver como de fato somos. Quem afirma isto de forma categórica é o Dr. Maxwell Maltz, famoso cirurgião plástico que escreveu um best-seller intitulado "New Faces, New Futures", uma coletânea de história de pessoas que haviam passado pela cirurgia plástica e o relato de como se comportavam depois do tratamento. Em algumas, ocorreram transformáveis notáveis de personalidade, mas em muitas, a cirurgia não fazia a mínima diferença, pois continuavam se "sentindo" feias. Tinham um novo rosto, mas o coração ainda era o mesmo. Então, o Dr Maltz afirma que "cada personalidade possui um rosto", este rosto emocional, que só poderá ser mudado com uma transformação mais radical na alma.

A Bíblia afirma que "como o homem imagina em sua alma, assim ele é" (Pv 23.7). Auto-estima tem a ver com a forma como sentimos a nosso respeito. Se o coração não mudar, as emoções conceituais a nosso respeito continuarão sendo danosas porque elas se constituem no âmago de nossa personalidade. A questão fundamental não é como eu sou, mas como eu penso que sou.

Pessoas de beleza mediana podem ser bem resolvidas, ter um alto grau de aceitação de si mesmas, enquanto outras, muito bonitas, podem se sentir péssimas acerca de seu corpo e da sua imagem. Tenho percebido que muitos em processo de bulimia ou anorexia nervosa possuem uma beleza acima da média e no entanto estão no processo de auto destruição e suicídio inconsciente.

O fato é que não se pode viver bem, se não se percebe bem. Não se pode acreditar na verdade enquanto se acredita em um erro. Auto imagem negativa é uma arma mortífera e altamente destrutiva, porque rouba a criatividade, a espontaneidade e a alegria de ser gente. A personalidade, a sexualidade e os relacionamentos todos são afetados pela nossa auto-percepção. A pessoa que tem uma visão positiva de si mesma é mais saudável em todos os sentidos. Mas a transformação só pode acontecer, se o coração for mudado. O Dr George Herbert Mead, usa o conceito do "eu do espelho". As imagens e conceitos que temos acerca de nós mesmos, têm muito a ver com as imagens e sentimentos que vemos refletidos naqueles que estiveram ao nosso redor e criaram o conceito daquilo que somos agora.

A Bíblia afirma que Deus nos fez para sermos um "poema" dele (Ef 2.10), e este poema tem verso, rima e trova. Cada um de nós possui o seu próprio eidos, usando aqui uma expressão da fenomenologia de Heidegger. Deus nos fez diferente de todos os demais. Padrões de beleza são culturais e transitórios, mudando de acordo com a conveniência de um artista ou da mídia que criam a moda. Por isto, nosso paradigma precisa ser sobrenatural. Trazer esta verdade para nosso coração pode ser altamente libertador.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

PAIXÃO PELA VIDA

Sempre nos chocamos quando somos confrontados com cenas de violência. Conheço pessoas que sentem dificuldade em pegar no sono quando tomam conhecimento de tais acontecimentos. Por mais incrível e paradoxal que pareça, guarde este sentimento, ainda que doloroso, como algo valioso em você. Sofrer, amar e se indignar é algo profundamente positiva. O maior problema é quando vemos as cenas mais brutais na televisão e na vida e começamos a banalizá-la e a achar tudo isto normal. Quando achamos que a morte, a dor e a agressão devem ser vistas como coisas normais, porque a apatia tem o poder de tirar nossa alma.

O problema é que quando a violência se torna corriqueira, tendemos a banalizar a vida, e esquecermos que ela é o maior valor que temos. Esquecemos nossa relação com o criador e o alto valor que ele deu ao seres humanos ao afirmar que foram feitos à sua imagem e semelhança. O conceito da Imago Dei tende a se perder quando a vida é menosprezada, valores são saqueados e arromba-se a dignidade de nossa alma.

Jurgen Moltmann, no livro "A paixão pela vida", afirma que o grave problema com a indiferença, é que ela consegue roubar nossa vida. A insensibilidade tende a se aninhar em nós. Vemos o mal e não mais nos assustamos com ele. Experimentamos violência e somos violentados, sem que isto gere em nós tristeza. Acostumamos com a morte. O extraordinário passa a se tornar o comum, e o trágico corriqueiro.

Alguns anos atrás uma socióloga carioca resolveu mergulhar no submundo da mendicância num gueto de catadores de lixos, miseráveis e desvalidos no Rio de Janeiro. Na medida em que se aproxima do grupo, sentiu enorme rejeição. Os mendigos não permitiam que ela pudesse estudar a situação deles, ameaçaram-na e a hostilizaram. Como precisava fazer pesquisa de campo, esta pesquisadora tomou uma decisão radical: resolveu se tornar uma mendiga para entender como funcionava aquela sociedade. No seu excelente e dramático trabalho de doutorado, ela conta quanta violência presenciou entre eles. Policiais extorquiam dinheiro e agrediam pessoas, abusos sexuais eram freqüentes, o conceito de família assumia um significado totalmente diferente que trazemos. Um relato que me atraiu foi o de que o mau cheiro do local onde ela passou a dormir tornou-se o maior incomodo a enfrentar. Era quase impossível respirar ao lado daquele esgoto. Mas ela afirma que, com o passar do tempo, ela se acostumou ao cheiro.

Podemos nos acostumar com o cheiro da desgraça, da desumanização, da agressão e da dor. Quando isto acontece, perdemos a capacidade de nos indignar com a violência, que assume muitas facetas: doméstica, pública, social, sexual, religiosa. Com a miséria, com a exploração da pobreza, com as indústrias e feudos da domesticação de seres humanos. Podemos nos acostumar com a agressão que praticamos e com a que geramos, achando que tudo está correto. O teólogo alemão, Henry Niemüller, foi um dos homens que teve um lugar nas alamedas dos justos por proteger o povo judeu. Próximo ao Museu do Holocausto em Jerusalém, tive o privilégio de ler pessoalmente uma célebre afirmação sua gravada em bronze:
"Primeiro vieram buscar os anarquistas,
mas como eu não sou anarquista, não me preocupei.
Depois vieram buscar os comunistas,
mas como eu não sou comunista, não me importei.
Depois vieram buscar os judeus,
mas como eu não sou judeu, também não me importei".

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

Viva o divórcio

"Os filhos do divórcio" foi o tema do artigo de capa da revista época, edição 349, de 24.01.2005. Obviamente o assunto é de extrema relevância para nossos dias, já que o divórcio tem assumido proporções estatísticas surpreendentes. Em algumas regiões do Brasil, o divórcio já chega a 50%. Isto significa que, de cada 100 casais que hoje assumem o compromisso do casamento, 50% deles divorciarão num futuro breve. Obviamente devemos ser menos preconceituosos e mais preparados para lidar com a questão, já que vidas estão envolvidas neste doloroso processo.
O que me assustou, nesta reportagem, contudo, foi a apologia do divórcio. Ao chegar ao final da reportagem, tive a impressão de que deveria divorciar porque este era o caminho mais saudável, e psicologicamente mais prático para a minha vida e para a vida de meus filhos. Nada pode ser mais enganoso que esta idéia.
Se é certo que devemos cuidar desta geração que cresce sem ambos os pais, e que é nossa responsabilidade ajudar na restauração daqueles que sofrem um desencanto e passam por um processo de divórcio, também é certo que não devemos olhar com romantismo esta situação. Divórcio é um processo extremamente dolorido. Enganam-se aqueles que acreditam que é um processo simples como trocar de carro, ou mudar-se de uma casa para outra.
Estima-se que são necessários cerca de 5 anos, em média, para que os reajustes resultantes do divórcio sejam feitos. Existe o reajuste financeiro, familiar, emocional, espiritual e até mesmo do circulo de amizades. No financeiro, são as contas que precisam ser divididas, dívidas que precisam ser assumidas por uma ou outra parte, a dolorosa partilha de bens. No campo emocional, o processo de ruptura e de-cisão (separo intencionalmente este termo para que se saiba tratar-se de uma cisão). São fotografias que precisam ser desprezadas, histórias que devem ser esquecidas, isto não considerando ainda o fato de que uma das partes ainda esteja apaixonada e não gostaria de ver um desfecho tão dramático deste sonho de uma noite de verão.
O círculo de amizades também é reavaliado. Determinados amigos não conseguem manter relacionamento com os dois, toma-se partido, estabelece-se julgamentos. Além do fato de que programa de família e de casais, via de regra, é diferente de programa de solteiros e descasados.
Existe ainda o problema espiritual: culpas, acusações, a posição da igreja que se participa. Divórcio é um processo criticado pela maioria das religiões e na visão católica assume ainda uma dimensão sacramental. O homem e a mulher de fé precisam lidar com estas realidades.
Apesar da gravidade de todas estas coisas, existe o drama dos filhos. E não me venham dizer, como insinuou a revista época, que filhos de divorciados crescem emocionalmente mais estáveis e seguros que um filho de um lar onde pai e mãe exercem suas funções. Obviamente se se toma exemplos mais drásticos, de lares disfuncionais, neuróticos e psicóticos, obviamente você pode chegar a esta conclusão, mas a maioria dos lares possui espaço para aceitação e crescimento emocional dos filhos. A exceção não pode se tornar a regra.
Apesar de tudo, de ter uma opinião bem crítica quanto ao divórcio, gostaria de concluir com uma palavra de esperança e de misericórdia aos que passaram por esta experiência. Divórcio não é um pecado sem perdão. Existe restauração e cura para situações dramáticas e doloridas. Não olhe o divórcio como ponto final para sua vida e a dos seus filhos. Deus dispôs a natureza com uma maravilhosa capacidade de se refazer e restaurar. Olhe o cerrado que temos à nossa volta: com o fogo torna-se seco e tórrido, mas as primeiras chuvas de verão são capazes de trazer verdor e de nos fazer crer que um novo tempo se aproxima.