sábado, 18 de dezembro de 2021

Fatos & Narrativas

  



 

Vivemos dias de grande confusão quando o assunto é a verdade. Mais do que nunca, nós nos perguntamos se existe alguma verdade e se ela pode ser conhecida. Se existe, então porque não é dita? Basta compararmos as informações da Jovem Pan com as da Rede Globo quando se trata de atividades políticas. De um lado, dispensa-se a crítica ao governo. Do outro, rejeita-se as virtudes do Planalto.

 

Ouvintes e telespectadores ficam então perguntando: existe verdade? Porque ela não é simplesmente dita? Certos fatos são omitidos e ignorados intencionalmente. Sabemos que há muito dinheiro e poder em jogo e, ao ouvirmos as diferentes opiniões, indagamos: "Quem está dizendo a verdade?

 

O que ouvimos são fatos ou narrativas?"

 

Essa dúvida pode nos levar ao ceticismo e cinismo. No primeiro, dizemos que não cremos em nada; no segundo, tornamo-nos ácidos e irônicos com tudo o que ouvimos. Isso se torna ainda mais complexo quando consideramos suspeitas não só as narrativas políticas, mas generalizamos o ceticismo e passamos a não crer em mais nada.

 

O problema se torna exponencial quando ouvimos falar de coisas espirituais e passamos a ver tudo com suspeita e incredulidade. Considere, por exemplo, o Natal. O relato sobre o nascimento de Cristo é uma narrativa ou um fato? Se for uma narrativa inverídica estamos falando da vinda do Messias apenas porque achamos bonito e interessante. Então, valendo a hipótese de não ser um fato, o evento seria uma grande mentira que deve ser rejeitada.

 

Agora, se for um fato, precisamos considerar

 

também suas implicações: algo maravilhoso e profundo aconteceu. Deus decidiu tornar-se homem e habitar entre nós. Neste menino que nasceu, o próprio Deus assumiu forma humana. Fato ou narrativa?

 

Uma das coisas que precisamos entender é que Jesus não é mitológico, pois sua historicidade pode ser averiguada. Estudiosos e pesquisadores têm se debruçado para averiguar a veracidade dos relatos bíblicos e há mais evidências históricas e arqueológicas sobre Jesus que acerca de Aristóteles ou Homero. Por isso a fé cristã é fatual.

 

Lucas, o terceiro evangelista, era médico e historiador. Ao começar a história de Cristo, escrita a pedido de uma autoridade pública de seus dias, ele afirma: “Várias pessoas se deram ao trabalho de relatar por escrito os fatos extraordinários que se passaram entre nós, que eram, ao mesmo tempo, o

 

cumprimento de profecias das Escrituras. Elas basearam seus relatos em testemunhas oculares que dedicaram a própria vida à Palavra. Investiguei cuidadosamente esses relatos, inteirando-me da história desde o princípio e decidi escrever tudo ao senhor, honrado Teófilo, para que não haja dúvida a respeito da confiabilidade de tudo que lhe foi ensinado.” (Lc 1.1-4)

 

Lucas não estava interessado em criar uma narrativa, mas em relatar os fatos, como deve ser o papel de todo jornalista e historiador sério. Jesus não é uma narrativa: Jesus é real. Sua vida pode passar pelo crivo da história e ser averiguável. Ele é digno de confiança. Nisto repousa todo o pensamento cristão. Feliz Natal!

domingo, 12 de dezembro de 2021

O Sucesso do Fracasso

 


O grande inventor Charles Kettering sugeriu que nós precisamos aprender a fracassar inteligentemente. Ele disse "Quando você fracassar, analise o problema e descubra a causa, porque cada fracasso é um passo a mais para o sucesso. A única vez que você não deseja falhar é na última vez que você tentar.

Na vida temos grande possibilidade de fracassar. Um plano mal executado, um negócio enganoso, um relacionamento quebrado, a saúde pode falhar, a variação da bolsa, um empreendimento infeliz ou mal sucedido... se formos olhar as possibilidades de cometer erros, provavelmente ficaremos paralisados. Os japoneses tem um ditado muito interessante: “O medo de perder não deixa a gente ganhar!”

Um dos maiores nomes da ciência é Albert Einstein. Aos quatro anos de idade ele ainda não falava. Seus professores diziam que ele tinha problemas mentais e jamais seria grande coisa. Como aluno foi um desastre, sendo reprovado duas vezes em matemática. Após sua graduação passou dois anos procurando emprego até trabalhar num escritório de patentes onde começou seu caminho de sucesso. Ler a história de Einstein nos dá esperança. Grandes homens da história falharam.

Kettering deu algumas sugestões para transformar os fracassos em sucesso: primeiro, enfrente a derrota honestamente, nunca falsifique um sucesso. Segundo, explore o fracasso, não o desperdice, aprenda tudo o que você pode dele. Terceiro: Nunca use o fracasso com uma desculpa para não tentar outra vez.

Derrotas podem ser apenas um caminho de aprendizagem, para nos ensinar humildade, dependência de Deus, e nos tornar resilientes e perseverantes. Muitas derrotas são temporais. José do Egito teve fracassos sucessivos antes de se tornar governador. Ele foi injustiçado e traído pelos irmãos, foi enganado pela sua patroa na casa de Potifar, esquecido pelo padeiro e copeiro na prisão. Mas cada vez que ele tinha um fracasso, ele estava chegando mais perto do sucesso e do poder. “Nossos fracassos são, às vezes, mais frutíferos que nossos êxitos.” (Henry Ford)

Aprender com os fracassos é a chave para o crescimento espiritual. Não podemos nos abater diante dos embates. Considere isto como um exercício para fortalecer a musculatura.  Se sua experiência ultimamente tem sido de derrota, não despreze esta vivência, nem a menospreze, mas aprenda com ela.  

Rudyard Kipling afirmou: “O fracasso e o sucesso são impostores. Ninguém fracassa tanto quanto imagina. Ninguém tem tanto sucesso como imagina.”

A Metanarrativa do Natal

 


A filosofia secular define a metanarrativa como uma grande narrativa, de nível superior, acima de todas as demais narrativas, capaz de explicar todo o conhecimento existente ou de representar uma verdade absoluta sobre o universo. A pós-modernidade tem procurado desconstruir o conceito da metanarrativa, afirmando que é necessário descrer de todas as teorias totalizantes, como afirmou Jean-François Lyotard (1984). Ele tenta substituir as narrativas mestras por narrativas menores, fragmentadas e múltiplas que não buscam (nem obtém) qualquer estabilização ou legitimação.

A rejeição à metanarrativa tem se tornado bastante popular. A mídia moderna e a cultura popular tentam rejeitar qualquer conceito de verdade, sentido da vida e moralidade. Karl Popper, um dos seus principais teóricos, rejeita a ideia de uma verdade absoluta e afirma que história não tem qualquer significado.

A visão cristã, pelo contrário, compreende a verdade como algo estabelecida por Deus e revelada nas Escrituras. A verdade é eterna, imutável e universal. A Bíblia traça a grandiosa metanarrativa da redenção. A história começa com a criação do Deus soberano e onipotente, esse é o começo de toda a história, e termina com a nova criação, o final da história cósmica. Ela descreve uma história abrangente do mundo, que dá sentido a tudo, que conecta tudo, e dá significado e propósito. 

O centro da metanarartiva cristã é Cristo. Sua vida revela  o significado maior da história, Cristo está no centro, e dá o sentido da vida humana. Por esta razão, o Natal ocupa este lugar central em toda compreensão da Bíblia.  A vinda de Jesus, cujo nascimento se deu historicamente em Belém, foi o ponto central da relação de Deus com todo ser humano. 

A Bíblia assim se refere a Cristo: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele tudo subsiste” (Col 1.15-16

Jesus é o sentido maior que dá sentido a todos os outros sentidos. Sua história dá sentido a minha e a sua história. Por esta razão, o Natal é algo tão importante na cristandade. Não é apenas uma festa popular, com encontro de amigos e familiares, com comida e troca de presente, mas é algo muito mais profundo, transcendental. Natal nos fala de um Deus que invade a história humana, se torna gente, caminha entre nós, e nos ama. Natal é a central e maior narrativa de todo pensamento cristão.

O Poder da gratidão


 

Dois irmãos estavam fazendo terapia a pedido de sua mãe. Ela estava preocupada porque um era extremamente negativista e outro demasiadamente otimista. O psicólogo isolou cada garoto em uma sala diferente por doze horas. Na sala do garoto negativista havia centenas de brinquedos e tudo o mais que chamasse a atenção de uma criança de sua idade. O garoto, cujo atitude era extremamente positiva, ficou num lugar parecido cum um estábulo e muito escuro.

Depois de doze horas, abriram a primeira sala, revelando o garoto negativista chorando à porta, quando perguntaram porque ele não estava brincando, ele reclamou entre lágrimas: ”Eu fiquei com medo de me machucar com aqueles brinquedos”. A seguir, o psicólogo se dirigiu a outra sala e quando abriu a porta encontrou o garoto otimista cavando o monte de palha, rindo e empolgado. Eles perguntaram o que estava acontecendo e ele disse: “Eu sei que tem um pônei por aqui, em algum lugar, e eu o encontrarei”. 

A questão essencial não é o que a vida faz conosco, mas o que fazemos com a vida. Nem sempre a vida nos é favorável. Enfrentamos incompreensões, injustiças, abusos e a interpretação que damos ao que nos acontece dependerá das lentes que usamos e da ótica que adotamos. Tempos maus são solos perfeitos para o fortalecimento interior. Ao invés de deixar que tempos ruins nos derrubem, precisamos aprender a continuar andando e olhando para as coisas boas que estão escondidas em algum lugar.

Bill Bunting afirma: “A vida é pródiga em recompensar a pessoa que aprendeu a ser grata em toda e qualquer situação”. Norman Vincent Peale disse algo semelhante: “Ser agradecido faz todas as coisas melhores”. 

Já viram como pessoas mau humoradas são infelizes? Eles se sentem inferiorizadas e estigmatizadas todo tempo e olham a vida com a ótica do zangado da fábula dos sete anões. Tudo é analisado pela ótica da bronca e da raiva. Por isto, O contrário da gratidão é a murmuração e a amargura. 

Pesquisas revelam que pessoas diariamente agradecidas tem um nível mais alto de percepção, mais entusiasmo, determinação, atenção e energia” (Robert A. Emmons, professor de Psicologia da Universidade da Califórnia). Não é sem razão que as Escrituras Sagradas afirmem: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus”. Ser agradecido faz todas as coisas melhores. Um coração grato consegue celebrar a vida, ao invés de ficar reclamando de tudo e todos. Gratidão é uma força poderosa.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Como as Distrações Estão Controlando seu Dia?

 


 


 

No livro Indistractable: How to Control Your Attention and Choose Your Life (Como Dominar sua Atenção e Assumir o Controle de sua Vida), o autor israelense Nir Eyal afirma que “ser produtivo não é ter uma lista de atividades para cumprir, mas ter o completo domínio de suas atenções.” Vale lembrar que o termo indistractable não tem tradução para o português e dá a ideia de alguém que possui foco nas tarefas e não se perde em distrações e entretenimento.

Na verdade, não é fácil ter foco e atenção dirigidos. Muitas pessoas trabalham muito e produzem pouco pela dificuldade de concentrar seu tempo e energia no que realmente importa. Em meio a tantas mídias, vídeos, informações e ideias é fácil se desviar do que é importante e ser consumido pelas distrações.

 O escritor israelense formado em Stanford diz que sua situação tornou-se tão angustiante que decidiu dedicar cinco anos de sua vida para refletir de forma mais intencional sobre o que precisava fazer e não conseguia. Exemplo: perder peso, comer de forma mais saudável e estar presente em sua família.

 Para Nir Eyal, os telefones se tornaram os principais vilões, principalmente na pandemia. As pessoas checavam notícias mais frequentemente e gastavam horas no Instagram, mas ele enfatiza que não basta culpar os meios de comunicação porque o problema seria mais profundo. O uso excessivo dos telefones estaria ligado a algo emocional, que funciona como um gatilho para escapar do desconforto quando há tédio, solidão, ansiedade ou estresse.

Se distração é toda ação que nos impede de fazer o que é necessário, a tração é o ato reverso e deve estar alinhada aos valores que professamos. Todos nós nos distrairemos em algum momento, mas podemos criar estratégias para não esquecer as tarefas e prioridades. Quando organizamos a agenda, por exemplo, nossa performance melhora porque não deixamos que os outros programem nossas vidas.

Se durante o dia ouvimos, assistimos ou lemos notícias pensando em diminuir a ansiedade, acontece exatamente o oposto: ficamos cada vez mais tensos. Tendo como base as notícias que acompanhamos, as empresas que controlam o sistema midiático enviam mais e mais informações para que continuemos presos. O tipo de notícia e a frequência do envio são calculados por algoritmos, massivamente presentes em nosso dia a dia ao lado das mais variadas tecnologias.

Os anúncios que aparecem enquanto navegamos na internet ou redes sociais não estão ali por acaso: eles têm ligação com alguma pesquisa ou acesso feito por você anteriormente. A cada clique do mouse você é "visto" pelos algoritmos, que identificam seu histórico de navegação para oferecer mais produtos, mais informações e mais serviços. É uma roda que não para de girar e estamos todos engendrados. Portanto, fique alerta.

Precisamos controlar os gatilhos internos, que são as sensações desconfortáveis que controlam nosso emocional. O que dispara nossos medos, ansiedades e impulsos? Precisamos encontrar essa resposta para tentar nos livrar dos gatilhos que nos conduzem às distrações e, consequentemente, à ausência de foco. Assim poderemos controlar nosso temperamento, mantendo as tarefas e nosso foco no que é essencial. Não podemos permitir que as tarefas urgentes dominem o que é prioritário. Lembrando o que Sérgio Cortella já afirmou: “prioridade não tem S”.

sábado, 13 de novembro de 2021

A morte é um chiste!




Ao se deparar com a morte de um colega de trabalho, Pedro Bial escreveu o seguinte artigo:

“Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta ideia: morrer. A troco? Você passou mais de dez anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente. De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinquente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste. (...)”

A palavra “chiste”,  vem do espanhol e pode ser traduzida por “piada”, ou “brincadeira”. Talvez este seja o sentimento que o povo brasileiro teve diante da morte da goiana Marilia Mendonça, de forma tão abrupta, no auge do sucesso, aos 26 anos. Muitas pessoas morrem com esta idade, e não somos informados ou não ficamos tão chocados, mas quando se trata de uma personalidade pública isto abre um grande espaço de reflexão, porque nos identificamos com a dor dos amigos, dos familiares, com a dimensão da perda. 

Chiste é uma palavra que vem da língua espanhola e é muito usada em psicanálise. Trata-se do máximo de sentido na menor declaração, gerando grandes efeitos. Quando uma pessoa é capaz de fazer brincadeira diante da angústia, ou piada inteligente com a tragédia, ou rir da sua própria dor, isto pode ser chamado de chiste. A brevidade é uma das principais marcas linguísticas do humor. O chiste é breve, e é nele que reside, por assim dizer, a graça. E pode ajudar a descarregar uma agressividade que tem de ser reprimida. 

A Bíblia afirma que “a morte é a último inimigo a ser destruído” (1 Co 15.26). Enquanto isto, temos que lidar com sobressaltos, a dor, o luto, o sentimento de impotência. Nossa humanidade está destinada à transitoriedade, à temporariedade, A vida é como um conto ligeiro, como um breve pensamento, como a erva do campo que nasce de madrugada e à tarde, murcha e seca. 

Para o nihilismo a morte é o ponto final, desespero e vácuo; para aqueles que creem, transição e expectativa. Jesus sempre encharcou seus discípulos com esperança. “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu pai ha muitas moradas. Se isto não fosse verdade, eu jamais diria isto. Pois vou preparar-vos lugar”.

Faça a Pergunta Certa




David Sturt e Todd Nordstrom descrevem como, há 50 anos, uma pergunta mudou fundamentalmente a maneira como nos comunicamos todos os dias. Ao ver que todos os telefones estavam presos a uma parede por um fio curto e ondulado, o jovem engenheiro da Motorola, Marty Cooper, indagou: “Por que é que quando queremos ligar e conversar com uma pessoa temos de ligar para um lugar?” Esta pergunta levou a companhia a se empenhar e criar o DynaTAC 8000X, o primeiro telefone celular. 


Muitas pessoas afirmam que a origem de quase todas as inovações brilhantes está na pergunta certa. Quando fazemos perguntas erradas ou irrelevantes não somos provocados nem inquietados e, por conseguinte, novos insights não são gerados nem somos conduzidos à excelência. 


O cientista Albert Einstein afirmou: “Se eu tivesse uma hora para resolver um problema e minha vida dependesse disso, usaria os primeiros 55 minutos para determinar a pergunta apropriada a ser feita, pois uma vez que eu saiba a pergunta apropriada, poderei resolver o problema em menos de cinco minutos.” 


Obviamente, nenhum de nós é um gênio, mas precisamos começar a perguntar: por que as coisas são como são e por que precisamos agir desta forma? Não haveria outro meio de fazermos as coisas ou temos que repetir sempre os métodos empregados? 


Uma pergunta correta pode revolucionar e abrir novas possiblidades em uma infinidade de situações. Uma pergunta certa pode levar empresas a descortinarem novas oportunidades de mercado, a usarem apropriadamente seus recursos, a potencializarem sua forma de operar. Assim, essas empresas ajudam indivíduos a usarem melhor as oportunidades, além de investirem seu tempo e talento de forma adequada. 


Por outro lado, fazer perguntas erradas produz respostas irrelevantes. Quando fazemos perguntas certas e, eventualmente, difíceis, isso nos ajuda a avaliar honestamente onde estamos, a perceber os desvios e atalhos prejudiciais que usamos, além de nos ajudar a quebrar os padrões inconsistentes.


No livro Leading With Questions (Liderando com Perguntas), Michael Marquardt escreveu: “Bons líderes fazem muitas perguntas. Grandes líderes fazem as grandes perguntas e grandes perguntas podem ajudá-los a se tornarem grandes líderes” A verdade é que a melhor pergunta direciona a melhores alvos.


Se estivermos interessados, a pergunta certa pode nos ajudar a refletir. No encontro com Jesus, Pilatos fez cerca de sete perguntas. Algumas, profundamente relevantes. Entre elas estão: "O que é a verdade?”, “O que farei, então, de Jesus chamado Cristo?” (Jo 18.22). Infelizmente, suas perguntas certas não resultaram em benção para sua vida porque ele não estava aberto a prestar atenção a nenhuma de suas respostas.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Síndrome do pensamento acelerado




Dr. Augusto Cury é um aclamado escritor na área da auto ajuda, tem mais 30 milhões de livros vendidos, e é o autor mais lido da última década no Brasil. Ele é idealizador da Teoria da Inteligência Multifocal, que analisa o processo de construção dos pensamentos e desenvolveu estudos sobre uma enfermidade que afeta milhões de pessoas no mundo inteiro que ele chama de “Síndrome do pensamento acelerado” (SPA).

Para ele o mal deste século é a ansiedade decorrente do fato dos seres humanos estarem constantemente preocupados com as exigências do mercado e com os desafios que  vida impõe, fazendo com que a mente viva numa constante agitação, e não encontre descanso. O estresse é sempre decorrente de exigências excessivas que o organismo humano e os impulsos sensoriais não conseguem administrar nem elaborar, e isto tem atingido milhões de pessoas. 

Os sintomas do SPA são: Acordar cansado, dores de cabeça, dores musculares, irritabilidade, incapacidade de relaxar, descansar, dificuldade de lidar com pessoas lentas, sofrimento por antecipação e déficit de esquecimento ou déficit de memória. O pensamento acelerado faz com que as pessoas, mesmo em tempos de férias, continuem agitadas e inquietas. A mente, as emoções, a alma não entra em repouso.

O excesso de informação seria uma das causas. No passado, o número de informações dobrava a cada duzentos anos, hoje dobra a cada ano. O excesso de atividade e de trabalho intelectual aliado ao excesso de preocupação tem gerado esta síndrome. Muitas equivocadamente estão pensando que a vida é uma corrida de 100 metros rasos, quando na verdade trata-se de uma maratona. Não faz sentido correr demais na largada, se não conseguiremos cumprir a jornada. 

Esta síndrome não permite que as pessoas se coloquem no lugar do outro nem considerem a importância de terem qualidade de vida. Os mais aclamados profissionais e executivos, com melhores salários estão desenvolvendo esta síndrome cada vez mais cedo. Eles são ótimos para empresas e sistemas, mas são carrascos de si mesmos. 

Cury propõe duas abordagens simples:

A. Contemplar o belo, fazer das pequenas coisas um espetáculo aos olhos;

B. Não trair o essencial. Não trair sua cama, seu final de semana, o tempo com as pessoas mais caras e nem trair o tempo consigo mesmo.

Gostaria de sugerir outras coisas para desacelerar: 

-Fazer caminhadas ao ar livre

-Encontrar amigos

-Sair de férias

-Ter tempo para aprofundar sua fé e espiritualidade, são pontos essenciais. 

Quando Jesus viu seus discípulos estressados com a súbita morte de João Batista, ele os convidou para algum bem simples: “Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto” (Mc 6.31). 

O convite de Jesus é extremamente válido para nossos tempos agitados.

Eu Não Sei do que Você Está Falando


 


Meu pai está com 88 anos e, apesar de estar fisicamente muito saudável, nem sempre suas percepções estão ajustadas. Na maioria das vezes demonstra lucidez e é capaz de conversar sobre alguns assuntos. Em outros momentos, faz comentários completamente fora do senso comum. 

Muitas vezes minha mãe afirma que ele está com “mamparra”, termo usual no interior de Minas Gerais e que significa fingimento, corpo mole ou preguiça. Fazer mamparra ou estar com mamparra é fingir-se doente para fugir do trabalho ou obrigação que demande esforço físico. Então, por não querer ter trabalho, ele estaria fazendo-se passar por doente e dependente. Sabemos, obviamente, que isso não acontece sempre, mas ele está usando cada vez mais desse artificio para a sobrevivência.

Uma das frases que ele começou a usar agora é própria desse mecanismo. Quando minha mãe o critica ou alguém fala algo de que ele não gosta ou ainda quando se trata de uma conversa da qual ele não quer  participar ele diz: “Eu não sei do que você está falando.” Ponto. Discussão encerrada. Afinal, para que discutir com alguém que desconhece o conteúdo do assunto abordado?

Certamente este artifício (e ninguém saberá se o que ele diz é a realidade ou não) o tem livrado de muitas discussões e mal-estar. Ele não quer e não precisa participar mais das decisões que envolvem sua família e envolvem-no. 

É quando fico pensando na sabedoria de ter “ouvidos moucos”, que diz respeito àquele que não ouve muito bem. Na verdade, há certas situações nas quais o melhor a fazer é não dar atenção ao que é dito, ouvindo apenas o que interessa, fazendo ouvidos de mercador. É a prática de se fazer de surdo, estratégia usada pelos antigos comerciantes para evitar barganhas excessivas por parte dos clientes que pechinchavam e pediam descontos.

Não ouvir ou não dar ouvidos pode ser sabedoria. A Bíblia relata que quando Saul assumiu o reinado e tornou-se o primeiro rei em Israel, logo surgiram oponentes questionando sua competência e liderança. Então, a atitude dele foi a seguinte: “Porém Saul se fez de surdo” (1 Sm 10:27).


John Kennedy, o carismático presidente americano assassinado em Dallas, disse, certa vez: “Sempre se ouvirão vozes em discordância expressando oposição sem alternativa, descobrindo o errado e nunca o certo, encontrando escuridão em toda parte e procurando exercer influência sem aceitar responsabilidade.” 


Ter “ouvidos moucos” pode ser estratégico. Não dê atenção demais às criticas e questionamentos, não vale a pena se consumir com gente eternamente crítica e insatisfeita. Certamente o meu pai, mais uma vez, tem agido corretamente. De vez em quando precisamos afirmar: “Eu não sei do que você está falando...”

domingo, 10 de outubro de 2021

O Segundo tempo


Os torcedores de futebol conhecem bem esta expressão. O jogo de futebol é dividido em duas etapas, e muitas vezes, o resultado do primeiro tempo é um desastre, mas subitamente, surge um fato novo, um gol inesperado, a expulsão de um jogador do time adversário, ou a mudança no ânimo dos jogadores, e o segundo tempo torna-se surpreendente.

Bob Buford, um bilionário texano, dono de uma grande rede de telecomunicações americana, escreveu o livro “A arte de virar o jogo no segundo tempo da vida”. Para ele, a vida de um ser humano divide-se em duas etapas. Na primeira, a prioridade é a formação acadêmica, a luta pelo emprego, para se encaixar no mercado de trabalho, casar, criar filhos, e se firmar responsavelmente e com solidez na vida.

Nesta fase, ele luta para alcançar o sucesso, a realização profissional e o sustento de sua família. As pessoas são resistentes, agressivas nas suas ambições, aguerridas e quase incansáveis. As oportunidades estão diante dele que as agarra com tenacidade.

No segundo tempo da vida, ele descobre que suas conquistas pessoais, sucesso, não são suficientes para dar sentido, nem trazer plenitude à vida. Ser bem sucedido e encontrar significado são duas coisas completamente diferentes. A existência sem sentido gera frustração, angústia e vazio. 

Quase sempre nos vemos em um ou outro destes momentos da vida. Relutante ou corajosamente enfrentamos desafios. Muitas vezes entramos para o “vestiário” antes do segundo tempo, com um senso enorme de fracasso e derrota, mas podemos ser surpreendidos pelo desenrolar do novo tempo. 

Uma famosa loja de casacos de Londres fez uma afirmação magistral: “Estamos há 127 anos no mercado, já vimos de tudo. Tivemos períodos de grande sucesso, mal conseguindo atender os produtos que oferecemos, ganhamos muito dinheiro, expandimos a fábrica, fizemos muitas contratações. Também já passamos por duas guerras mundiais, nossa loja foi incendiada, fomos assaltados duas vezes, passamos pela Grande Depressão, já decretamos falência mas ainda assim continuamos no mercado. Você deve estar perguntando porquê? A razão é simples: Não queremos perder o próximo capítulo.”

O conhecido pensador cristãos G.K. Chesterton afirma: “Fé é aquilo capaz de sobreviver a um estado de ânimo.” Então, quando estiver desencorajado considere o seguinte: Ainda temos todo um segundo tempo de jogo, não é hora de desanimar.

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Troque a dor por lembranças

 


No dia 12 de Agosto de 2021, faleceu de Covid-19, o ícone da teledramaturgia brasileira Tarcísio Meira trazendo comoção pública e familiar. Mocita Fagundes, sua nora, fez uma belíssima declaração publicada em muitos jornais: “O luto dói, o luto exaure a gente. Mas o luto também “te exige” um… recomeçar.  O exercício é trocar a dor pelas lembranças lindas.”

Que gigantesco desafio é este para pessoas que passam por grandes perdas. O problema é que, nem sempre a dor é facilmente elaborada, e assim transformamos a dor em mera dor. Ela não traz reflexão nem maturidade, e nos leva a um movimento fetal de introversão, não permitindo que saiamos do seu macabro ciclo. Quando a dor se torna tão onipotente, é impossível superá-la, e isto nos leva a uma paralisia pessoal. A dor prevalece e se torna senhora...dominando todas as áreas da vida.

Muitos conseguem transformar a dor em lembranças lindas. A saudade profunda se torna algo encorajador, levando a um aprofundamento e trazendo vida, generosidade, solidariedade, nos deixando mais humanos. Em alguns casos, um senso de enorme gratidão por ter sido abençoado de participar de uma vida que deixou tantas lembranças e se foi, na maioria das vezes, bem mais cedo que queríamos...

Sempre me surpreendi com as palavras de Cristo na hora em que ele distribuía o pão e vinho aos seus discípulos. “Tomando o pão, deu graças e repartiu dizendo: “Este é o meu corpo que é dado por vós, fazei isto em memória de mim”. Espantoso! Como dar graças a Deus por algo que aponta para seu sofrimento, para seu martírio e para a cruz? Aliás, Em essência, a palavra “Eucaristia” significa “ação de graças”, não é isto surpreendente?

O grande segredo é que Jesus não olhava a dor como mera dor. Ele via a dor como algo mais profundo. Sua dor apontava para uma oferenda de si mesmo, para algo redentivo. Sua morte trouxe vida. 

Tenho muito medo de fazer reflexão em cima da dor do outro, mas ao mesmo tempo, não posso me privar da possibilidade de ajudar aqueles que sofrem com uma reflexão que encoraje e ajude a dura caminhada no luto e nas doloridas perdas. Se pudermos transformar a dor em boas lembranças, o luto em algo produtivo, certamente isto será muito produtivo e cresceremos espiritualmente.

“Não é só pela morte que temos que sofrer. É pela vida. Pelas perdas. Pelas mudanças. Quando dói tanto que não se pode respirar, é assim que você sobrevive. O luto vem em seu próprio tempo para todos. À sua própria maneira. O melhor que podemos fazer é tentar nos permitir senti-lo, quando ele vem. E deixar pra lá quando podemos.” (Grey’s Anatomy)

Câmara de Ecos

 


 

Certamente você deve ter percebido que no seu grupo de amigos nas mídias sociais todos seus amigos, ou pelo menos grande maioria, pensa ideologicamente como você e parece que não há ninguém pensando de forma diferente. Cuidado! Provavelmente você está numa bolha, que leva todos a pensarem a mesma coisa e afirmarem apenas o que você concorda. 

 

A enciclopédia livre Wikipédia, afirma que “nos meios de comunicação, o termo câmara de eco é análogo a uma câmara de eco acústica, onde os sons reverberam em um invólucro oco. Uma câmara de eco, também conhecida como câmara de eco ideológica, é uma descrição metafórica de uma situação em que informações, ideias ou crenças são amplificadas ou reforçadas pela comunicação e repetição dentro de um sistema definido. As fontes dominantes muitas vezes são inquestionáveis e opiniões diferentes são censuradas ou desautorizadas. A maioria dos ambientes de câmara de eco dependem de doutrinação e propaganda, a fim de disseminar informação, sutil ou não, de modo a evitar que tenham habilidades de pensamento cético necessárias para desacreditar a desinformação óbvia.”

 

No filme Guerra Mundial Z , estrelado por Brad Pitt em 2013, uma pandemia de zumbis infectados ameaça destruir a humanidade. Apenas Israel conseguiu se proteger graças a um grupo de inteligência que convence Israel a construir um muro de proteção. No filme é feito menção à figura do “décimo homem” como sendo aquele que tem a obrigação de contestar o senso comum de um colegiado decisório e explorar piores cenários. Ele é aquele que decide ser contra todos, apresentando outros fatos e possibilidades. De fato, na inteligência de Israel, há um departamento que tenta olhar os fatos não na perspectiva comum, mas explora os piores cenários para impedir potenciais danos.

 

Este é o mesmo princípio milenar da Igreja Católica, que nomeia alguém para ser o “advogado do diabo” quando uma pessoa é indicada para ser canonizada. Sua função é tentar descredenciar a pessoa indicada ao título de santo. No mundo empresarial há uma terminologia nova, o compliance officer, que tem a função de estar atento a situações nunca vistas e antecipar a perda da competividade, alertar sobre futuros riscos e oportunidades, com uma visão que saia do senso comum.

 

As câmaras de ecos, ao contrário, levam as pessoas a procurarem  informações conforme suas opiniões, formando uma bolha na qual se amplia a segregação de ideias. Os sistemas de busca já sabem como fazer isto, fornecendo conteúdos de acordo com aquilo que você quer ver ou concorda. Por esta razão, grupos fechados em redes sociais são sujeitas a ver ideias iguais sendo repetidas várias vezes por outros membros, reforçando aquilo que acreditam, limitando-os a ter acesso a outras informações diferentes e relevantes sobre certos eventos, e as pessoas são expostas apenas a informações que reforçam suas crenças causando polarização. As câmaras de ecos não nos permitem ver um conjunto diversificado de opiniões.

 

Portanto, fique atento às informações que você está recebendo. Elas podem impedir que você tenha acesso a outros pontos de vista e obstruir sua capacidade de uma leitura crítica da realidade e dos acontecimentos que podem transformar a história.

 

 

 

domingo, 19 de setembro de 2021

O Negócio é ser pequeno!

 



E. F. Schumacher é um economista londrino, que na década de 70 escreveu o provocativo livro “Small is beautiful” que numa tradução mais direta seria “pequeno é belo”, mas que os editores o traduziram no Brasil como “o negócio é ser pequeno”. 

A força do seu pensamento está na habilidade em questionar de forma elegante e inteligente, os meios de produção e de riqueza, e as hipóteses adotadas pela economia moderna. O texto se torna ainda mais inquietante considerando que sua análise não foi baseada no ativismo social, e nem nas teses de ambientalistas.

Ele advoga tecnologias suficientemente baratas que estejam ao alcance de todos, adequadas para aplicação em pequena escala e compatíveis com a necessidade humana de criatividade. Por isto ele defende uma filosofia que valorize o homem mais do que a produção e o trabalho mais do que o produto. Ele denuncia a “idolatria do gigantismo” na economia moderna. 

Procura ainda desmascarar o culto obsessivo do crescimento econômico ilimitado e do desenvolvimento econômico forçado pela industrialização. Para se contrapor ao materialismo ganancioso ele defende algumas teses:

1. Criar indústrias onde as pessoas já estão vivendo, evitando assim a explosão populacional dos grandes centros. 2. As indústrias devem ser baratas para que possam se reproduzir sem importação de capitais. 3. Os métodos de produção devem ser relativamente simples. 4. A produção deve ser, sobretudo, dependente de bens materiais locais e destinada ao consumo local.

Muito de sua visão adequa-se aos valores cristãos, que defende a tese de que devemos desenvolver os recursos para o bem comum. É inadmissível que ainda hoje, apesar de toda tecnologia e meios de produção, 800 milhões de pessoas passem fome diariamente, de acordo com relatório da ONU. Ainda mais se considerarmos que grãos podem ser produzidos em larga escala, e que a produção atual seria suficiente para alimentar o dobro da população mundial. 

Dois fatores estão relacionados a esta tragédia.

Primeiro, a concentração excessiva da riqueza. Alguns ganham demais enquanto outros ganham muito pouco. Segundo, a falta de transferência de tecnologia para países pobres. Quem atualmente detém o saber e a informação tem o poder do controle. 

As teses de Schumacher desafiam o modelo competitivo, baseado em acúmulos de bens e grandes fortunas. Seu livro pode não trazer grandes e imediatas soluções, mas aponta direções para as quais precisamos ser mais sensíveis e atentos.

sábado, 11 de setembro de 2021

Geração Z: Uma Geração de Zumbis

 



 

O título deste artigo não é minha opinião pessoal, mas sim uma tese recentemente defendida por Jeremy Adams, reconhecido como “O professor do Ano” nos Estados Unidos. Ele é também autor de um livro em que faz um alerta sobre a Geração Z - o primeiro grupo de pessoas que nasceu digital, conectado e que nunca viu o mundo sem internet (nascidos entre 1995/2015).

 

Para Adams, a geração Z é uma geração de zumbis. São menos educados, mais deprimidos e sem valores, pois teriam perdido os valores e a esperança que, tradicionalmente, formaram a base ética da sociedade. É a geração que adotou um estilo de vida solitário, hiperconectado tecnologicamente, mas distanciado de seus familiares, igrejas e comunidades.

 

 

As estatísticas são alarmantes: a depressão aumentou 63% nos adolescentes e o suicídio 56% entre 2007 e 2017. Tragicamente, neste período, o suicídio tornou-se a segunda causa de morte entre os jovens. Para Jeremy Adams, a dissolução familiar e o grande aumento do divórcio foram os responsáveis.

 

Famílias que fazem pelo menos uma refeição com todos juntos têm número menor de jovens fumantes, de jovens que usam álcool e drogas. O mesmo vale para as desordens alimentares e atividade sexual precoce, mal orientada. Para ele, os adolescentes que jantam sozinhos, colocam seu foco não na família, mas no celular. “A negligência da vida familiar é a maior responsável por trazer a sensação de vazio não somente aos estudantes, mas também à vida do povo americano em geral.”

 

Adams ainda analisa que um dos grandes problemas também tem sido a falta de vida

 

espiritual. Em 1984, apenas 2% dos americanos se identificavam como ateus, mas em 2020, o número saltou para 22%. A religião foi substituída por uma “massiva cultura de banalidade, conformidade e auto-indulgência.”

 

Outro fator presente é a obsessão tecnológica. Em 1970, mais de 50% dos estudantes do ensino médio tinham relacionamento diário com seus amigos, mas, em 2020, este numero caiu para 33%. Atividades sociais como um jogo de futebol e demais esportes coletivos foram substituídos pelos “streamings”.

 

Estudantes modernos constantemente digitam durantes as aulas e, na pandemia, assistiam a programações paralelas ao invés de prestarem atenção nos professores, criando o que os psiquiatras chamam de “atenção parcial contínua” - uma incapacidade de criar foco. Em geral, usam

 

cinco dispositivos eletrônicos ao mesmo tempo, o que resulta em notas baixas e falta de êxito acadêmico.

 

O autor americano prediz que a atual juventude está despreparada para o futuro. A quantidade de pessoas dispostas a sacrifícios e ao serviço sofre um rápido declínio, já que 71% dos jovens têm forte tendência à obesidade, envolvimento em pequenos delitos, doença mental e problemas relacionados ao uso de drogas. “Enquanto 70% dos americanos com mais de 60 anos srriam aprovados em um teste de cidadania, entre os jovens essa taxa ficaria em torno de 20%. A geração de hoje revela pouco interesse e parece importar-se pouco com o que acontece. Eu nunca ouvi um jovem afirmando seu amor pelo seu país”.

 

Ao refletir sobre todas essas considerações, eu me indaguei: seria a nossa realidade diferente? Professores, profissionais, religiosos e pais precisam estar atentos a

 

tais variações para ajudarmos esta geração no processo de sua formação intelectual e moral.




sexta-feira, 3 de setembro de 2021

A Falência dos relacionamentos

 



Como relacionamentos são difíceis...


Um dia a filha adolescente chegou em casa muito zangada da escola. Sua mãe procurou conversar com ela, mas ela estava tão irritada que entrou no seu quarto e não quis abrir a porta. Quando o pai chegou, e soube do fato, ele, prudentemente, bateu na porta do quarto pedindo para entrar, mas ela disse: - “Vai embora”. Ele insistiu: - “Filha, o que aconteceu. Abra a porta pra conversarmos. O que foi que fizemos?”. Ela respondeu: “-Vai embora porque você é gente e eu odeio gente”. 


Paul Tripp no seu livro “Relacionamentos” afirma: “Somos pecadores capazes de causar grandes danos a nós mesmos e aos nossos relacionamentos. Necessitamos da graça de Deus para nos salvar de nós mesmos. Mas também somos filhos de Deus, providos de grande esperança e potencial. Relacionamentos serão sempre forjados no fogo da batalha.” 


Apesar das lutas que podemos ter é importante lembrar que as portas sempre se abrem por meio de relacionamentos. É por meio de relacionamentos que temos os melhores momentos de nossa história, damos risadas, crescemos em maturidade e somos protegidos e cuidados. Infelizmente também, a maioria das dores, traumas, conflitos, decepções, neuroses, distúrbios psiquiátricos se dão por relacionamentos disfuncionais, traição e injustiça.


Certa vez conversei com alguém que me relatou o seguinte: “Eu não sei mais o que fazer com meu irmão. Ele é desequilibrado e parece que a cabeça dele tem uma rotação fora do eixo, e uma forma de pensar que não faz sentido. Não tenho conseguido sequer ficar no mesmo ambiente onde ele está. Eu não vou a casa minha mãe no horário que ele está. Eu me sinto mal com isto, mas é o único jeito de não me ferir mais”. 


Nem sempre é possível se relacionar com todas as pessoas, até mesmo a Bíblia que é um livro de relacionamentos, reconhece esta verdade ao afirmar: “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”. É importante investir nos relacionamentos, o quanto for possível, mas nem sempre é possível ter paz, porque simplesmente existem pessoas absolutamente psicopatas, manipulativas, querem sempre tirar proveito, explorar, mentir, enganar e chegam a um ponto em que não se pode mais confiar.


Mas não deixe de preservar e lutar por seus relacionamentos. Muitas vezes encontramos obstáculos, ficamos cansados e irritados, mas ainda assim, a única forma de sermos tratados, é por meio de pessoas que nos ajudam e se tornam nossos referenciais. E Deus sempre coloca pessoas assim na nossa história.

sábado, 28 de agosto de 2021

A Infantilização da cultura Ocidental

 


 

Estudiosos tem alertado para um fenômeno estranho e sutil muito presente nas gerações contemporâneas: Sua infantilização.

 

Recentemente Simon Gottschalk, Professor of Sociology, na Universidade de  Nevada, Las Vegas, comentou este fato. Para ele os sintomas de tendências infantis começaram bem antes do smartphone e da mídia social, mas está em processo de aceleração e tem se tornado cada vez mais presente nas interações atuais.

 

O dicionário define infantilização como uma tendência de agir como criança e rejeitar os caminhos e experiências que ajudam no processo de maturidade. A recusa à maturidade acontece quando alguém se fixa em um determinada fase da vida por causa de um trauma ou forte estresse. O problema é que algumas culturas ocidentais atualmente estão dificultando a maturidade numa larga escala da população.

 

O anseio em proteger os filhos de frustrações e sofrimentos, os pais superprotetivos, podem impedir que os filhos desenvolvam sua autonomia, restringindo sua liberdade e limitando o acesso ao mercado de trabalho e da necessária busca da autonomia. Os filhos se tornam cada vez mais exigentes, ansiosos por auto gratificações imediatas, sem pagar qualquer preço. A dificuldade de lidar com frustrações e fracassos, em tais casos, se torna excessivamente presente.

 

Outro aspecto, é a enorme oferta de entretenimento, uma espécie de “disneyficação”, com excessos de indulgências que fortalecem a fantasia juvenil em pessoas adultas. É a síndrome de “Peter Pan”, a recusa em assumir compromissos. Um dos fenômenos mais conhecidos é o surgimento da “geração nem-nem”. Nem estuda, nem trabalha. Trata-se de uma ética infantil, e sedutora em tempos de crises sociais e medo.

 

Uma sociedade madura exige debate, divergência, demanda compromissos e envolve pensamento crítico. É fundamental aprender a dialogar, considerar diferentes pontos de vista, ser capaz de analisar as alternativas em relação ao futuro da humanidade. Exige paciência, empatia e solidariedade para um projeto social maior que ambições pessoais. Tais qualidades são tradicionalmente essenciais para uma vida adulta saudável e para o apropriado desenvolvimento da democracia.

 

O fácil acesso a bens de consumo e o aumento da riqueza ocidental levaram-nos a tratar adultos como “vulneráveis, fracos e frágeis”, que assumem um estilo de vida com permanente ausência de sentido moral.

 

Um conhecido provérbio oriental afirma: “Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes.”

 

Precisamos ajudar os filhos a amadurecer. Sair do útero é dolorido. Deixar os filhos saírem de casa para estudar é um processo complicado. Vê-los na faculdade enfrentando ansiedade com professores exigentes e em empresas com chefes durões não é fácil para nenhum pai (especialmente as mães), mas trata-se do processo de amadurecimento e crescimento.

 

Seleção Artificial



 

Uma série recente da Netflix levanta uma questão contemporânea muito sensível, que tem se tornado objeto de muita discussão no meio científico. Pesquisadores desenvolveram uma técnica que não apenas permite “cortar” o DNA de um organismo, mas, também, escolher com precisão o trecho a ser cortado. 

 

Dessa forma é possível realizar modificações genéticas precisas e específicas nas cadeias de DNA ou mesmo gerar rearranjos genômicos. Certamente, algo revolucionário no campo da agricultura e da pecuária, bem como no tratamento de algumas doenças. A cura de alguns tipos de câncer e até mesmo da cegueira demonstra resultados promissores com a técnica.

 

 

"Editando a Vida” é o título do primeiro episódio da série e esta parece ser mesmo a proposta. Por meio da alteração da sequência de DNA será possível eliminar determinadas doenças e até mesmo escolher a cor dos olhos dos nossos filhos. As pessoas poderão ter mais massa muscular, apresentar melhor performance esportiva e eliminar determinadas enfermidades. Mutações gênicas poderão ser "consertadas".Nesta perspectiva, se uma criança nascer com um gene defeituoso, basta trocá-lo por uma cópia normal. Tudo isso parece muito atraente no primeiro momento. 

 

Em 2018, o cientista chinês He Jiankui apresentou o resultado de um experimento que gerou os primeiros bebês geneticamente modificados do mundo. O pesquisador foi fortemente criticado pela comunidade científica ao assumir os riscos de fazer uma modificação genética em embriões sem 

 

cuidado científico e análise prévia de trabalhos. Diante da complexidade biológica e moral, os cientistas propuseram uma moratória para experimentos até que se saiba os reais efeitos desses métodos para toda a humanidade.

 

As implicações éticas e biológicas são tremendas. Uma pessoa com o gene alterado reproduzirá, para sempre, este DNA. Aberrações genéticas poderão ser criadas para uso militar ou mesmo para competições esportivas. A técnica é considerada relativamente simples e biohackers insistem em acessá-la, assustando a comunidade científica. 

 

O que pode acontecer com as mutações genéticas em seres humanos e animais? É correto tentar construir alguém biônico, cujo DNA foi, para sempre, alterado? É ético “brincar de Deus”, consstruindo uma nova estrutura biológica para o ser humano? Do 

 

ponto de vista teológico, isso me parece uma Torre de Babel. Naqueles dias, conforme a narrativa bíblica, os homens disseram: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo topo chegue até aos céus e tornemos célebres o nosso nome.”

 

O resultado já sabemos: confusão e caos.  A raça humana, inescrupulosa e ambiciosa, não tem limites para seus propósitos malignos. A técnica científica de manipulação do DNA pode ser muito positiva e ajudar muitas pessoas, mas seu uso indevido pode ser uma tragédia!

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Amor Mal Orientado



 

A famosa banda inglesa “The Beatles” popularizou a frase: “All that I need is love” (tudo o que eu preciso é amor). Apesar de bonita, esta frase pode ser um engodo. Um dos grandes desafios que temos na vida não é amar. Somos seres de afetos que amam, mas, infelizmente, nosso amor pode estar orientado para o “objeto” errado. A forma como amamos pode ser altamente tóxica e o que amamos também.

 

Como seres humanos somos, sim, capazes de amar, mas os anseios inconscientes do coração podem ter uma bússola amorosa defeituosa. Dessa forma, “matamos” ou “morremos por amor”. Assim, o amor, essencialmente bom, desvia-se, torna-se venenoso e prejudicial. 

 

 

No dia 4 de fevereiro de 2001, o vocalista da banda Paralamas do Sucesso, Herbert Viana, junto com sua mulher Lucy, sofreu um grave acidente em Mangaratiba/RJ. Ela morreu no impacto e ele ficou paraplégico. Herbert pilotava seu ultraleve quando o aparelho se chocou violentamente contra o mar. A imagem depois comprovou que Viana "perdeu a noção de profundidade e entrou voando dentro d'água." É como se ele imaginasse estar a 50 metros da água, quando talvez estivesse a apenas 20 metros. O tempo nublado e a água espelhada contribuíram para que Viana perdesse a noção de profundidade.

 

Falsas impressões e amores equivocados levam-nos a abusos, violência, taras, suicídio, intoxicações afetivas e a muitas outras distorções similares. Tudo isso revela a capacidade do ser humano de distorcer até mesmo o amor. 

 

Ora, o coração precisa estar calibrado e ajustado pelo polo magnético que é Deus. É necessário praticar a pedagogia do desejo e, eventualmente, pedir ajuda para reorganizar a forma de interpretar os eventos. Somos aquilo que amamos e os amores direcionam práticas, rituais, recursos e tempo. Quando o amor é mal direcionado, os afetos se embaçam e as paixões se tornam incontroláveis e destrutivas. 

 

Amores são sedutores, projeções afetivas. Quando desordenados e mau orientados, desembocam em grandes tragédias. A dificuldade encontra-se no fato de que é complexo julgar sem distorção quando sentimentos estão adoecidos. A percepção entra em pânico!

 

Amor é fundamental para o ser humano, mas precisa ser bem direcionado. Isso, no tempo certo e para o objeto certo, com a intensidade correta.

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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

A Jornada é Mais Importante que o Destino



 

Não sei se concordo totalmente com esta expressão extraída dos livros de autoajuda. Ela se tornou muito comum no mundo empresarial e nos textos motivacionais. O que se tenta ensinar é que a felicidade está na jornada e não no destino e que passar a vida inteira infeliz para alcançar um objetivo é deixar de viver a jornada da vida.

 

Concordo plenamente com o fato de que o futuro não é um lugar para onde estamos indo, mas o lugar que estamos construindo. Entendo que Jesus não preparava os discípulos apenas para o céu, mas os preparava também para a vida. Não era apenas uma questão da eternidade, mas também da humanidade. Ele não apenas os ensinou a morrer, mas deu-lhes sentido para viver.   

 

Por outro lado, apesar da meta não ser a única coisa importante, ela também é importante já que não dá para viver sem metas e objetivos. 

  

Precisamos aprender a desfrutar a estrada em que andamos, pois a felicidade não está somente no alcance da meta, mas também à medida em que caminhamos em direção a ela. Fundamental é aprender a desfrutar a beleza da paisagem e as flores que encontramos no caminho.

 

Minha esposa me ajudou a entender um pouco disso. Todas as vezes que íamos viajar, eu ficava ansioso com o horário de sair e, mais ainda, com a meta que havia estabelecido de chegar em determinada hora no destino. Isso gerava ansiedade em mim e estresse para a família toda que não podia se atrasar. Certo dia ela me falou: “Amor, quando saímos de viagem já estamos de férias. Precisamos aprender a desfrutar o caminho e não apenas o destino.”

 

Não sei se tenho sido um bom aprendiz a ponto de me gabar, mas, certamente, estou convencido de que é mesmo necessário considerar o caminho em si. Desfrutar a jornada. Aproveitar a viagem, que mesmo curta pode ser muito prazeirosa.

 

Desta forma, “concentre-se na viagem, não no destino. A alegria não está em concluir uma atividade, mas em fazê-la”, já dizia Greg Anderson. Na mesma linha de pensamento, John C. Maxwell afirma: “Sucesso é uma coisa diária, não uma coisa do destino… o sucesso é uma viagem, não um destino”. Isso significa que não nos tornamos pessoas de sucesso no dia em que obtemos nossos diplomas. Eles são o reconhecimento para o trabalho duro executado durante o trajeto.

 

É necessário comemorar ao longo do caminho, desfrutar do processo, aproveitar a viagem. É fundamental aproveitar a jornada da vida, não somente o destino final onde se deseja chegar. Não importa o que alcançarmos, há sempre lindas viagens, estradas repletas de flores. Precisamos apreciar o percurso.

sábado, 31 de julho de 2021

Tristeza!



 

A tristeza é um dos sentimentos mais humanos que há e podemos nos entristecer com motivos reais ou imaginários. Ela pode surgir sem nos avisar ou pode ser crônica. Muitas vezes, diagnosticamos sua origem e procedência, mas, em outras ocasiões, não fazemos a mínima ideia do que está acontecendo conosco. Santo Agostinho afirmou que “a mente pode controlar o corpo; mas a mente não pode controlar a mente.”

 

A tristeza pode ser confundida com depressão, mas existem muitas diferenças entre as duas, apesar de serem correlatas. A depressão pode ser marcada pelo desequilíbrio hormonal (componente físico), mas também pode ser uma variação de humor (componente emocional) ligada a perdas significativas, a abusos sexuais/emocionais ou mesmo à ausência significativa dos pais e traumas.

 

Há ainda a tristeza chamada de “depressão reativa”, que surge quando atravessamos um período de muitas perdas emocionais, traição ou falência. Como o nome diz, ela é uma resposta física ou emocional, involuntária ou não, a um evento causador de dor profunda. Muitos se dizem deprimidos quando, na verdade, estão profundamente entristecidos. Mais cedo ou mais tarde, a dor vai desaparecer e a cura virá.

 

Jesus enfrentou tristeza intensa no Getsêmani quando disse: “Minha alma está entristecida até a morte.” Embora o diabo cause tristeza e depressão, Jesus não atribui toda sua tristeza ao diabo. A dor que Ele sentia estava relacionada ao seu projeto maior de ter que enfrentar o martírio da cruz.

 

Apesar de toda a dor envolvendo os quadros de tristeza, não se trata de tê-la ou não, mas sim de ficarmos atentos quanto à intensidade da dor que se sente - se ela é mórbida e paralisante - e com sua duração - se é persistente e constante. Nos quadros mais graves é preciso buscar ajuda profissional na forma de aconselhamento e terapia. Em casos mais agudos, geralmente são necessários remédios, atendimento psiquiátrico e terapias alternativas.

 

A pandemia isolou as pessoas, especialmente adolescentes e idosos, e por isso muito tem se discutido a “depressão social”. Uma boa conversa, o retorno prudente às atividades sociais, a volta à igreja e à escola, aliados à prática de atividades físicas ao ar livre e momentos de lazer são boas alternativas para minimizá-la.

 

A tristeza não é boa companhia e vale lembrar que a presença e a força de Deus também podem auxiliar o coração triste e cansado. Jesus nos convida: “Vinde a mim todos os cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.”