domingo, 21 de junho de 2015

As raízes do pessimismo


O livro de Eclesiastes, que faz parte dos textos sagrados e poéticos é um livro pessimista. Seu autor, Salomão, estava vivendo dias de profunda desilusão e desencanto com a vida quando o escreveu. Ele era poderoso, tinha muitos bens, muito sexo e riqueza extravagante, mas nada disto o satisfazia, sua alma estava vazia. O tema central do livro é “vaidade, vazio” e fala da situação na qual a vida e tudo que ela produz, foram insuficientes para gerar paz e alegria, não trouxeram contentamento nem satisfizeram seu coração.
O Rei Salomão teve muita glória e riqueza, mas o fato é que ter mais do que ele tinha, não sustentava o que lhe faltava, afinal, mais da mesma coisa nos leva ao mesmo lugar. O famoso rei de Israel se perdera na sua história, e agora, fazendo uma retrospectiva de sua vida, percebeu quão vazio era o seu estilo de vida, e isto o deixou amargo, descontente e pessimista. O que o levou a este lugar de tamanha desencanto?

Pelo menos três fatores devem ser considerados:

Perda da referência do Sagrado. O livro dos Reis de Israel contam sua história. Salomão começou bem mas acabou mal a vida. Comecou com Deus, terminou distante de Deus. Ele se desviou do caminho do Senhor (1 Rs 11.1-9), seguiu outros deuses e entidades e a Bíblia afirma que por causa disto “O Senhor se indignou contra Salomão, pois desviara o seu coração do Senhor, Deus de Israel, que duas vezes lhe aparecera” (1 Rs 11.9). Salomão perdeu sua fé. Sua glória, obsessão por poder e fama o desviaram de Deus.

Perda da intimidade de Deus. Salomão se distanciou de Deus. A Bíblia diz que Deus se deixará achar por aqueles que o buscam, mas Salomão resolveu procurar outros caminhos do hedonismo e prazer, e Deus se tornou uma ideia, conceito, não alguém para se relacionar e adorar. Ele perdeu a referência do Eterno, e Deus passou a ser alguém distante.

Perda da referência dos valores – Por ter perdido a referência do Sagrado, perdeu também a referência de princípios e valores. Os homens se parecem com seus deuses. Cosmovisão antecede ética. Salomão, sistematicamente, desobedeceu e feriu as verdades eternas, a ponto de Deus se indignar contra ele (1 Rs 11.9). As consequências foram perceptíveis na ética que desenvolveu.
O pessimismo gerou dois resultados trágicos para Salomão: (a)- Cínismo: tornou-se um zombador; O cinismo e a desconfiança  amarguraram sua alma; (b) Ceticismo: tornou-se incrédulo em relação às suas próprias afirmações e convicções. Aquilo que lhe era claro torna-se confuso.


A história de Salomão ensina que devemos tomar cuidado em relação ao coração. Tome cuidado com a saúde emocional e espiritual. Deus tem uma proposta maior para a vida, e apenas nEle encontraremos o sentido e propósito da existência. 

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Sobre conceitos e preconceitos


Muitas pessoas tem perguntado sobre minha opinião acerca das imagens de uma transexual “crucificada” na parada gay. As reações foram distintas, os motivos levantados vão desde a concepção de que se tratava de um sacrilégio até o simples direito de liberdade da pessoa, ou do grito de alguém que realmente se sente marginalizada e ferida. Vi pessoas profundamente ofendidas, li sobre teorias conspiratórias afirmando que no outro dia quem fez este ato teatral teria morrido, etc ... vi senadores, políticos e pastores midiáticos reagindo energicamente, vi reações da liderança da Igreja Católica e evangélica manifestando seu repúdio e um sem número de pessoas indignadas com a cena.

Meu sentimento, porém, foi de compaixão e não de ódio ou mágoa. Concordo com o Rev Augustus Nicodemus que afirmou não se sentir ofendido, como cristão, apesar de discordar da estratégia de marketing dos organizadores, porque nossa fé não está colocada em símbolos cristãos, e nem em objetos sagrados como cruz, templos sagrados, imagens sagradas ou líderes sagrados. Por isto não explodimos bombas quando tripudiam da Bíblia ou fazem cenas obscenas diante das igrejas, ou quando se vestem de forma agressiva para ferir. As pessoas que participaram da parada sabiam do conteúdo explicito do que seria exposto, e concordaram com isto. É um direito de manifestação e liberdade de expressão. Revelaram o que são e pensam.

Como lidar com as expressões agressivas contra o que cremos? As palavras do Rev. Nicodemus falam por si: “As coisas que considero santas estão muito além do alcance dos homens, para que estes possam profaná-las. O meu Salvador está nos céus, o meu Deus é rei do universo, minha morada é celestial, a Palavra de Deus está escrita nos céus e é eterna, o pão e o vinho nada mais são que representações materiais daquele que se assenta no trono do universo. Realmente, não há nada no meu cristianismo que esteja ao alcance de quem deseja me ofender através da profanação”.

Tenho aprendido que posso não concordar com o que o outro pensa, mas respeito até o último instante o direito dele pensar, contudo, não precisamos concordar que o que pensam e fazem. É justo e direito ter  opinião distinta sobre orientações sexuais e crenças diferentes, mas quero ter o direito de ter opiniões claras na minha mente, ter conceitos claros sobre família, Deus, valores e sexualidade. O que é inadmissível é que quem se sinta agredido, decida agredir, ou que aqueles que pensam diferente queiram que concordemos com seus pressupostos. Não tenho preconceitos, mas existe alguma coisa errada em ter conceitos?


Devemos respeitar toda crença e convicções. Jesus, contudo, disse algo muito interessante sobre convicções: “A sabedoria é justificada por seus filhos”. Os resultados, as consequências, as expressões, o jeito de agir e ser, revelam o que pensamos e somos. Os frutos advindos das opiniões que temos revelam quem somos. As manifestações públicas e midiáticas, revelam os resultados do coração. As imagens e atos revelaram o coração e não há como ser diferente. Assim como a boca fala do que o coração sente, atos refletem convicções.  

quarta-feira, 10 de junho de 2015

A Cultura da Violência

No More Excuses Green Road Sign
Criou-se o mito de que o povo brasileiro é pacífico, mas quando analisamos as estatísticas nos surpreendemos com dados estarrecedores. O Brasil mata mais que regiões em guerra, tem onze das 30 cidades mais violentas do mundo, em 2012 foram assassinadas 64.357 pessoas no país; em 2013 morreram 40.451 pessoas em acidentes e 170.805 foram feridas. Uma em cada 14 mulheres, ao menos uma vez na vida, foi vítima de abuso sexual; entre 2009 e 2011 houve quase 17 mil mortes de mulheres por conflito de gênero, ou seja, 5.664 por ano.

No Brasil, o instinto de violência infiltrou-se no fluxo do sangue da nação. A ONG americana Social Progress mantém um ranking da qualidade de vida em 132 países e no índice de segurança pessoal, aparece como o 11º país mais inseguro do mundo, e para esta avaliação cinco critérios foram utilizados: Número de homicídios, crimes violentos, percepção da criminalidade, terrorismo e mortes em trânsito. Ou seja, sobreviver no Brasil é uma arte.

A pergunta mais relevante é: Por que o Brasil é um país tão violento?

Vários fatores sociológicos devem ser considerados como pobreza da periferia, falta de oportunidade de educação e emprego, tráfico de drogas, violência pública, mas Alexandre Andrada, professor de economia da UNB levanta uma hipótese antropológica: “É provável que haja algo em nossa cultura, hábitos e costumes que incite à violência”.

Violência é também uma questão de coração. Pessoas feridas ferem; violência gera violência; impotência é um fator de violência e existe ainda a violência reativa, isto é, a violência dos violentados. Historicamente, quando a justiça é ausente ou frouxa, as pessoas se sentem impotentes e decidem fazer justiça com suas próprias mãos. A ausência da aplicação de leis favorece a mentalidade do justiceiro ou do vingador. Estados totalitários e governos corruptos encorajam a violência.

A violência, acima de tudo, é resultado de um coração angustiado e mal resolvido. Caim matou Abel por inveja. Seu coração estava com graves problemas. Curiosamente assassinou logo após um ato religioso, depois de terem trazidos suas ofertas a Deus. Isto demonstra que a formalidade e superficialidade religiosa não nos livra da agressividade. Não é sem razão que a história da humanidade está repleta de “guerras santas”, cruzadas e inquisições com ou sem fogueiras.


Somente um coração em paz é capaz de reproduzir paz. Jesus convidou seus discípulos a refletir sobre isto: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, não vo-la dou como o mundo a dá”. Sem a serenidade e a paz de Deus, nosso coração continuará atribulado e inquieto, ferindo e sendo ferido. A violência de nossa cultura reflete o grau de conflitividade de uma sociedade que, acima de tudo, perdeu sua relação com aquele que pode trazer paz. 

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Antídoto para o cansaço


Tem sido uma dura batalha erradicar o trabalho infantil do nosso país. A luta contra esta realidade tem sua razão de ser: crianças tem sido privadas da educação e lazer para ajudarem financeiramente seus pais, reforçando os parcos recursos de casa, e perdem a sua infância.

No entanto, temos outra dura etapa para frente. Como lidar com a exigente rotina dos filhos que, a partir da idade escolar, são submetidos a uma jornada de atividades que chegam facilmente a 12 horas por dia? Nossos filhos acordam as 6 hs e saem de casa às 7 hs, ficando na escola até as 13 hs. Depois do almoço precisam de reforço escolar, natação, balé, música, inglês, e ainda possuem outras atividades como tarefas de casa, estudo para provas, exames e simulados.

Assim também é o mercado de trabalho. A competitividade dos nossos dias começa cedo.  Aos 22 anos muitos já passaram por estágios, estão fazendo pós graduação, trabalhando, e quando chega ao 25 já estão à beira da estafa, tomando remédios pesados para insônia. Recentemente um jovem de 30 anos me afirmou jocosamente que está contando os dias para se aposentar...

O excesso de atividades, o barulho, as exigências acadêmicas e profissionais, a correria diária, os prazos finais, facilmente exaurem nossa energia. Estamos cansados e vazios. Os jovens já começam ganhando quase o mesmo de seus pais, e desejam possuir com 35 anos aquilo que seus pais levaram a vida inteira para conquistar, mas estão estafados.

Surge assim a “geração cogumelo”. Grandes cabeças e pequenos corações, resolvidos profissionalmente mas vazios de alma. Aumenta o uso de anti-ansiolíticos e precisamos cada vez mais de terapeutas. Certamente os pais tem grande responsabilidade nestas questões.

Se perguntamos aos nossos filhos o que eles acham que esperamos deles: Que sejam pessoas humanas e boas, bem sucedidas ou ricos, o que você acha que responderiam? (para não se frustrar, espero que não lhes pergunte). Muito provavelmente dirão que esperamos que sejam bem sucedidos.

Não há nada errado em se sentir cansado. O problema está na intensidade, na frequência e na idade que ele tem surgido. Muitas coisas podem forçar os limites, e antes que percebamos, a fadiga puxa nossos pés e caímos prostrados. O perigo deste cansaço é que ele nos agarra e estrangula a esperança, a motivação, o encorajamento e enfraquece nosso sistema imunológico e a saúde.

Algumas coisas são essenciais para o descanso interior.

Ao criar todas as coisas, Deus estabeleceu o sábado, que antes de ser uma questão religiosa, é uma questão humana. Jesus afirmou que o sábado foi criado por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. A vida passa por ciclos, e o corpo precisa de refrigério e descanso. Quando Deus descansou das suas obras, não o fez por causa de si mesmo, mas para nos ensinar que nossa energia não é ilimitada. Precisamos recarregar as baterias, reorganizar a mente, o físico e as emoções, a alma.

Precisamos de qualidade de tempo com pessoas que amamos. Boas risadas, comida preparada para repartir com amigos, pão de queijo, vida compartilhada, gera saúde e energia. Precisamos também de cuidar das emoções, viver constantemente sobre pressão e ansiedade, debaixo de competição e com grandes ambições pode drenar nossa energia.


Precisamos ainda cuidar da alma. Não somos seres mecânicos, imateriais e coisificados. O sábado na Bíblia vem da língua hebraica shabath, (descanso), mas tinha uma finalidade espiritual: adorar a Deus, agradecer o seu cuidado. Os judeus procuravam as sinagogas ou iam ao templo nestes dias para aprofundar sua vida com Deus e procurar sua intimidade. Para dias de tanto cansaço, o refrigério divino é renovador.