quinta-feira, 24 de outubro de 2019

A Arte do Contentamento


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Contentamento é um estado de espírito, mais que o resultado de situações
favoráveis.




Nunca a sociedade humana teve tanto conforto, boas condições de
saúde, recursos pessoais e desenvolvimento humano como nesta geração, mas,
apesar disso, os índices de depressão, síndrome de pânico, ansiedade e suicídio
têm se tornado cada vez mais alarmantes. Nas décadas de 80 e 90 nos EUA, cerca
de 400 mil adolescentes suicidaram. Esse fato tornou o suicídio a segunda causa
mortis do País, depois dos acidentes de carro.

De acordo com informação publicada pela Revista Ultimato na edição de
janeiro/fevereiro deste ano, “o número de pessoas ‘doentes de tristeza cresce no
mundo e o Brasil está no topo desse ranking – somos campeões na incidências de
depressão e ansiedade.” Quando lemos algo do tipo ficamos alarmados e
rapidamente nos perguntamos: o que há de errado com a civilização?

Tenho um amigo amazonense, daqueles homens intelectuais de pé no chão,
profundamente ligado à cultura da terra e aos hábitos simples da população
ribeirinha. Certo dia ele fez a afirmação chocante de que nunca tinha visto doentes
mentais entre os moradores das palafitas. E segundo o meu amigo a explicação
seria simples: doenças mentais são um fenômeno urbano. 

Perdemos o contentamento! Perdemos o estado da alma que sente
satisfação, paz e serenidade. Não há terreno fértil para o contentamento diante da
competição social e do egoísmo humano e muito menos diante da nossa natureza
desgostosa, gananciosa. O ambiente que nos cerca propicia insatisfação, levando-
nos a desejar mais do que realmente precisamos.  “Compramos coisas que não
precisamos, com o dinheiro que não temos, para impressionar pessoas das quais
não gostamos”. A alma humana, insaciável, nunca diz basta. Os olhos nunca se
contentam. Apesar de ter muito, a alma continua vazia porque falta o essencial:
sentido e propósito profundo na existência.

 Contentamento não tem a ver com bens, nem com circunstâncias porque é
um estado da alma. Muitos se satisfazem com pouco, em um ambiente de singeleza
e alegria. Concomitantemente, outros se perdem no muito, com a alma inquieta e
desassossegada.

 Jesus percebeu a inquietação dos seus discípulos quando lhes perguntou:
“Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua
vida?”. Os evangelhos dizem que ele olhou para a multidão que o seguia, cansada,
como ovelhas sem pastor e os convidou: “Vinde a mim todos vós, que estais
cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomais sobre vós a minha canga, e
aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para
as vossas almas”. O verdadeiro contentamento é enraizado em Deus.

sábado, 19 de outubro de 2019

Opacidade

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A opacidade é um dos mais recentes conceitos da chamada pós-modernidade. Sob o ponto de vista gramatical, trata-se do estado ou propriedade do que é opaco, sem transparência. Na medicina, fala-se da opacidade da córnea, distúrbio que atinge a estrutura transparente localizada na frente do globo ocular e que pode causar sérios problemas visuais. 
Assim como na medicina, nos âmbitos governamental e jurídico, opacidade é a falta de transparência, mas é um conceito que se torna ainda mais relevante no campo das relações. Corporações que detém certo saber tendem a rebuscar a linguagem para dar a impressão de que são melhores do que seus leitores comuns, de que sabem mais do que eles, o que lhes dá poder. Isso acontece com os médicos, com os juristas e com os economistas.
Doutor em Filosofia, Alexandre Marques Cabral diz que no atual mundo individualista as pessoas “se esbarram”, mas não “se encontram” de verdade. “Há uma falta de pertencimento nas relações humanas. Não são relações viscerais. As pessoas se esbarram nas ruas, mas não existe o encontro verdadeiro. A indiferença se tornou um ato normativo. Nosso desafio é como pensar a felicidade como integridade em um contexto de opacidade e desilusão.”
Trata-se da opacidade do sujeito, algo que se contrapõe, por inteiro, à concepção grega de felicidade, que só poderia ser encontrada na vida relacional. Para o mundo grego, não há felicidade sem o outro, sendo impossível pensar na concepção que enfatiza a felicidade individual.
 O conceito da opacidade relacional aplica-se diretamente ao conceito de “modernidade liquida” do sociólogo e filósofo polonês Zigmunt Bauman. Para ele, na era da informação, a invisibilidade equivale à morte e ele também diz que estamos todos solitários, mas inseridos em uma multidão ao mesmo tempo. Segundo Bauman, a internet e o facebook nos tranquilizam e nos dão a sensação de proteção e abrigo, afastando o medo inconsciente de sermos abandonados. “Na verdade, muitas vezes você está cercado de pessoas tão solitárias quanto você”, sentencia.
 Nesse contexto surge a sociedade do cansaço, que perdeu o eros, a perspectiva da existência, o prazer da vida. Suicídio se torna uma opção razoável e desejada. Falta um sentido maior. Vivemos como se estivéssemos em um teatro de sombras, pois vemos as coisas se movimentando, mas não sabemos exatamente o que é.  
A Bíblia fala da cura de um cego e quando Jesus lhe perguntou se ele via alguma coisa ele respondeu vagamente: “vejo homens, como árvores os vejo andando.” Então Jesus toca nele pela segunda vez para que ele tivesse a visão perfeitamente restaurada. 
Infelizmente, a sociedade moderna percebe as coisas, vê os movimentos, mas não identifica e nem sabe exatamente o que está acontecendo. Coisas são colocadas no plural. Não há verdade, mas verdades; não há ideia, mas ideias; não há diversidade, mas diversidades. Perdeu-se a noção do certo e do errado e tudo é relativizado. Tudo se torna opaco. Esbarramos na incapacidade de ver e julgar (palavra proibida e censurada), perdemos a perspectiva crítica e assim, todo conceito se torna preconceito. Tornamo-nos presos pela opacidade. Ai! Ai de nós!

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

As múltiplas faces da corrupção


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O tema corrupção ocupa diariamente as manchetes dos jornais. Muitos dizem que a corrupção é cultural, e que ela tem a ver com heranças históricas recebidas desde os tempos do colonização e estão ligadas diretamente à cosmovisão e aos poderes públicos desde o Império. Portanto, seria algo pandêmico, sistêmico e endêmico.

A própria independência do Brasil, ao invés de ser feita com sangue e luta, foi uma negociata. O Brasil assumiu a dívida que Portugal tinha com a Inglaterra e D. Pedro I, que era filha da Dinastia  dominante no Brasil, continuou sendo Imperador do Brasil. Você “tira” o império e mantém o imperador. Por esta razão, as nações vizinhas do Brasil não queriam reconhecer a nossa independência.

Corrupção é um tema que possui muitas faces. Algumas ocultas, escondidas nas máscaras culturais, outras bem abertas, mescladas nos discursos moralistas. O termo “cultura da corrupção” pode favorecer a superficialidade e ajuda a justificar o comportamento sistêmico dos poderosos. O discurso moralista é frágil, pois aponta o erro dos outros, sem prestar atenção àquilo que alimenta o mal no próprio coração.

Para muitos a mídia possui uma neutralidade empírica, mas a história revela que ela pode ser tão corrupta quanto qualquer órgão governamental, dependendo de seus interesses. A isenção jornalística assim como as neutras intenções não existem, pois ela pode sofrer influência de interesses políticos e financeiros, por esta razão, a mídia é tão instrumentalizada pelos poderosos. Isto é claramente perceptível em governos ditatoriais, mas se revela também nos estados democráticos. Diretores de jornais orientam as reportagens de acordo com sua linha editorial ou benefícios recebidos. Se você observar os telejornais do Brasil, eles claramente optam por determinadas notícias que servem aos seus propósitos ideológicos. A neutralidade é utópica. Isto também é uma forma de corrupção.

Corrupção é todo desvio de finalidade de um recurso ou direito. Logo há corrupções em todos os setores: Políticos, empresariais, religiosos, midiáticos, em todos eles vemos os recursos sendo aplicados de modo contrário aos princípios de seu uso, causando custos que trazem graves prejuízos sociais. Eduardo Nunes afirma que “as corrupções diretas são mais evidentes e as únicas passiveis de punição, Nas indiretas, mais sutis e impuníveis, o recurso é usado de forma displicente ou para beneficiar poucos”.

Creio que uma das formas mais sutis da corrupção é aquela ligada ao próprio coração. Jesus advertiu sobre isto: “Porque de dentro do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malicias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vem de dentro e contaminam o homem” (Mc 7.21-23).