domingo, 22 de dezembro de 2019

Mascarando a solidão


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Estatísticas apontam para um aumento substancial no número de suicídios na época de natal. Sentir-se triste no final de ano é mais comum do que se pensa, por isto surgem as ideações suicidas. O número de ligações recebidas em órgãos de apoio a pessoas deprimidas, aumenta em até 40% no mês de dezembro. Psicólogos e psiquiatras também observam aumento da procura de pessoas com depressão.

Isto acontece em grande parte por causa da solidão. Para muitos, este período simboliza alegria e as pessoas se reúnem para confraternizar e preparar para as festas, mas para outros, a vida é solitária e o pensamento suicida pode ocorrer.
Isto tem a ver com todo ritual de ter que presentear ou ir a festas para obter reconhecimento social. As festividades para quem está triste, aumenta a dor. A Bíblia afirma: “Como quem se despe num dia de frio, e como vinagre sobre feridas, assim é o que entoa canções junto ao coração aflito” (Pv 25.20).

Acima de tudo, a geração virtual tende a mascarar a solidão. Por esta razão, pessoas que encontram-se ao seu lado ou a quem você segue no instagram, podem estar vivendo períodos de grandes lutas e com fortes tendências suicidas. Você já viu alguém fazer algo errado e publicar no facebook? As imagens e avatares são sempre de pessoas maravilhosas e bem sucedidas, comendo em bons restaurantes e fazendo glamorosas viagens. Esta falsa imagem, na maioria das vezes camufla o coração e a dor, mas não o resolve.

Fernando Pessoa fez a seguinte declaração:
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

A solidão deve ser resolvida com ações intencionais e busca de ajuda. Scott Peck afirma que o individualismo americano, fortemente reproduzido na cultura brasileira gera fragmentação. Todos precisamos de comunidade, amizades, laços familiares. O suicídio hoje no Brasil mata mais que a Aids. O problema é que as “indústrias inventam doenças para fazer remédio e não remédio para combater doenças” (Zigmunt Baumann).

Se você está passando por dias pesados assim, não fique só. Por mais desencorajado que esteja para sair de casa. Acima de tudo, procure ajuda psicológica, todas as cidades possuem centros de proteção a apoio àqueles que se encontram nesta duvidosa curva e estão mascarando sua própria solidão. 

sábado, 14 de dezembro de 2019

A transcendental história do Natal

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Natal é um evento surpreendente em todos os seus aspectos, afinal, não poderia ser diferente. Leonardo Boff comentando o fato de Deus ter vestido uma roupagem humana e habitado entre nós, disse o seguinte: “Tão humano, só poderia ser Deus...”

O apóstolo João, quando estava bem idoso, depois de ter sido exilado em Patmos por tantos anos, escreveu uma carta às igrejas da Ásia, conhecida como a carta do amor, falando de Jesus e de toda alegria em andar com Cristo: “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao verbo da vida” (1 Jo 1.1). Todo este texto poderia ser traduzido da seguinte forma: “Eu não acredito que tive o privilégio de participar pessoalmente disto!”

O Natal tem três dimensões transcendentais:
1. O Natal transcende o tempo – É um evento muito além do kronos, da história e do calendário. Natal é um evento eterno. O verdadeiro Natal não é apenas um fato ocorrido em Belém dois mil atrás. O Natal já havia acontecido, nos desígnios eternos de Deus, antes da fundação do mundo. Os profetas falaram disto, Deus colocou na boca dos seus mensageiros estas verdades, muito antes delas acontecerem. Natal é um evento além da história e do tempo. Existem cerca de 600 profecias do Antigo Testamento relativas à vinda de Cristo que se cumprem no Novo Testamento.

2. Natal transcende as fronteiras – Outro aspecto maravilhoso do natal é que ele não ficou circunscrito a uma geografia. Milhares de romeiros se dirigem nesta época do ano para Belém, a fim de visitarem a gruta onde Jesus nasceu, indo a um local supostamente sagrado, mas na verdade o natal vai muito além de uma região, ele impacta o mundo. Simeão um piedoso judeu quando viu Jesus entrando no templo nos braços de José, o tomou no colo e disse: “Agora podes despedir teu servo, porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparastes diante de todos os povos, e luz para revelação a todo mundo”. No Evangelho de Mateus está escrito: “Em seu nome as nações porão sua esperança".(Mt 12.21), e o apóstolo Paulo afirma: Brotará a raiz de Jessé, aquele que se levantará para reinar sobre todos os povos; estes colocarão nele a sua esperança" (Rm 15.12).

3. Natal transcende nossas expectativas – Além de transcender o tempo e as fronteiras, Natal supera toda expectativa humana. Que mensagem pode ser maior que esta? Que Deus assume forma humana, para viver entre nós, nos ensinar a viver e morrer numa cruz para nos redimir da culpa, da vergonha, da condenação e da morte eterna? O Autor da carta aos Hebreus, afirma que Jesus veio para nos resgatar da garra do diabo e livrar todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida” (Hb 2.14,15).

Por isto natal é surpreendente em todos os aspectos: Natal é uma história transcendental. 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Entretenimento Moral


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No livro A Máfia dos Mendigos, o pastor Yago Martins aplica teorias e análises acadêmicas às observações e vivências decorrentes do período em que viveu disfarçado entre os moradores de rua da cidade de Fortaleza/CE. Durante um ano, ele se misturou aos sem-teto procurando participar de seus problemas, entender seus motivos e perceber as manipulações e ingerências que existiam.

Sua proposta ousada o levou a confirmar uma suspeita: os pobres têm sido usados como tema de congressos, de entrevistas e também ilustram sermões religiosos, mas não são realmente ajudados. Para ele, a caridade aumenta a miséria porque despotencializa o ser humano e rouba-lhe a dignidade.

Segundo a visão de Yago Martins, os moradores de rua não são pessoas que sempre experimentaram circunstâncias extremas e que, por isso, teriam se exilado. O que lhes falta, de acordo com o pastor, é encontrar quem verdadeiramente os note. “Eles não precisam de alguém que lhes dê comida e os fotografe para as redes sociais e nem mesmo de ações públicas e privadas realizadas de cima para baixo, sem que nunca lhes seja perguntado quais são as suas reais necessidades”, afirma.

Yago Martins apresenta argumentos pesados e ousados – e até mesmo polêmicos – para explicar algumas causas da alta incidência de mendicância no Brasil. Ele toma como base um ponto de vista do qual poucos partiram: o de alguém que passou pela experiência de viver nas ruas. Tal atitude ele chama de atitude de Entretenimento Moral.

Em entrevista à Jovem Pan ele afirmou: "Existem muitos motivos pelos quais as pessoas vão parar na rua. O nosso erro começa, talvez, em tentarmos achar um motivo único para alguém estar na miséria. São indivíduos, seres humanos, cada um está lá por um motivo particular, quer seja por desgraça pessoal, uma tragédia ou mesmo por exercício de vontade, exercendo sua vontade de viver na mendicância, basicamente.”

Ele conta que descobriu fatores nessa realidade que o deixaram impressionado sobre como a caridade sem engajamento pode ser prejudicial e até mesmo hipócrita. "As [muitas] pessoas que praticam a caridade não querem engajamento, não querem fazer uma diferença real. A impressão que dá é de que, muitas vezes, o mendigo é um instrumento de entretenimento moral. Ou seja, a ajuda concedida a ele é só um jeito de as pessoas se sentirem melhores. Algo do tipo: 'Vou fazer aqui uma coisinha boa e volto para casa feliz'”.

Para ele, a cultura paternalista ensina para o dependente da caridade que ele não é digno de conquistar nada. São afirmações com as quais você pode não concordar e muito menos aceitar as teses de Yago Martins, mas acho que vale a pena analisar com seriedade as conclusões a que ele chegou para repensarmos como podemos ser mais efetivos, como podemos ter os motivos corretos no exercício de nossas ações de misericórdia!