quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Orgulho



Orgulho tem sido tradicionalmente visto como o primeiro, pior e mais mortal dos sete pecados capitais, mas a sociedade moderna procura transformar este vício em virtude. A atriz Dame Edith Sitwell afirmou: “Nunca considerei o orgulho, exceto em determinados casos, um grande pecado... na verdade, desprezo qualquer coisa que reduza o orgulho do homem”. O escritor inglês, Marc Lewis, autor do livro Sin to Win (Pecar para vencer), revela que o segredo do sucesso especialmente o financeiro, consiste em cometer os setes pecados capitais já que estão diretamente relacionados às pessoas bem sucedidas. Segundo ele, o pecado mais importante é o orgulho, diretamente associado ao amor-próprio.

O orgulho distorce facilmente as boas intenções. Os Guiness afirma que “é necessário que se seja terrivelmente religioso para ser artista”. Uma das distorções mais manipulativas, por exemplo, é a construção de impérios na religião. Quantas igrejas, associações beneficentes, obras de caridade, hospitais e universidades foram criadas sob a camada da generosidade, mas que na verdade eram expressões egolátricas de seus fundadores? Muitas destas instituições ocultam uma forma politicamente correta de camuflar o ego, abafar a discordância e desmascarar a oposição e sacralizar atitudes.

Precisamos ficar atentos com a vaidade travestida de virtude.

Certa vez, no cerimonial de enterro dos imperadores da casa de Habsburgo, colocados nos jazigos do mosteiro capuchinho em Viena, o grande cortejo do imperador Franz Josef encontrou as portas fechadas. O arauto bateu à porta e o abade perguntou: “Quem és tu que bates?”.

A resposta foi: “Sou Franz Josef, imperador da Áustria, rei da Hungria”. O abade respondeu com firme voz: “Não te conheço. Diz-me outra vez quem és”. O arauto respondeu incisivamente: “Sou Franz Josef, imperador da Áustria, rei da Hungria, Boêmia, Galícia, Lodomeria e Dalmácia, Grão Duque da Transilvânia, Margavo da Morávia, Duque de Stiria e Coríntia”.

O abade replicou: “Ainda não te conhecemos. Quem és?”


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Então, o arauto se ajoelhou e disse: “Sou Franz Josef, um pobre pecador implorando a misericórdia de Deus”. E o abade, escancarando os portões afirmou: “Então podes entrar”.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Afinal, quem é Deus?


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No Brasil, oito em cada dez (79%) habitantes se dizem pessoas religiosas. Os que não se consideram religiosos somam 16% da população brasileira e outros 2% afirmam ser ateus. A proporção de pessoas que se consideram religiosas coloca o Brasil acima da média global, que é de 63%. Em contrapartida, os que não se consideram religiosos somam 22% da população mundial e 11% afirmam ser ateus.
Apesar de 98% afirmarem crer em Deus, as concepções sobre a divindade variam tremendamente de uma pessoa para outra. Certa vez uma pessoa me falou com tanta ira de Deus e o descreveu de forma tão negativa que ao final afirmei que o deus dela era minha concepcão sobre o diabo.
Por outro lado, muitos veem Deus como uma extensão e projeção de si mesmos. Afirmam que Deus é aquilo que queremos. Bem... vamos devagar. O Deus judaico-cristão não é aquilo que julgo ser, mas é aquilo que Ele é. Quando Deus se encontrou com Moisés no deserto de Padã-Arã, este lhe perguntou: “Qual é o seu nome?”, e Deus lhe respondeu dialeticamente: “Eu Sou o que Sou!”, não permitindo que alguém o nomeasse ou o manipulasse. “Eu Sou!” é o nome mais sagrado de Deus na Bíblia, também traduzido pobremente em português por Javé, Jeová ou Iahweh.
Muitos concebem Deus como um velho ancião, que não entende ou não gosta muito deste mundo moderno, alguém antiquado e inadequado para os dias atuais. Para estes, os dias áureos de Deus já foram há muito tempo atrás, e ele, coitadinho, não se ajustou nem se atualizou à pós modernidade.
“Para a maioria, Deus é um velhinho bastante amoroso, cordial, afável, levemente entorpecido e necessário, que deseja, mas não faz exigências, e pode ser ignorado sem consequências se você não tem muito tempo para ele; é muito compreensivo do fato de que seres humanos cometem erros – muito mais compreensível do que nós somos” (Greg Gilbert).
Afinal, quem é Deus? Antes de mais nada, ele se apresenta como Criador. Não somos o resultado de mudanças aleatórias e mutações genéticas, de recombinação de genes e acidentes cromossômicos. Somos criados! Deus não é o resultado de minha criação. O Deus que o homem criou à sua imagem e semelhança, é chamado na Bíblia de ídolo. Eles nada valem. Por isto ninguém deve se curvar diante de representações divinas. Este é o segundo mandamento.
Sendo ele o criador, cada um de nós é o resultado de seu plano de ação e responsabilidade. Isto dá significado e é o oposto do niilismo, do nada. A vida passa a fazer sentido quando nos percebemos seres criados com propósito e intencionalidade, não um mero ajuntamento de prótons e nêutrons.
Os homens se parecem com seus deuses. Um deus passivo, neutro, condescendente com o mal, pusilânime que a sociedade insiste como conceito de divindade é pobre, e se distancia significativamente do Deus que nos é revelado nas Escrituras Sagradas.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Inveja



Um dos grandes clássicos do cinema é a obra de Peter Schaffer, com seu premiado Amadeus, narrando a crise de Antonio Salieri, compositor da corte e condutor da Ópera Italiana em Viena, cargo cobiçado e honroso de seus dias, que ocupou por 36 anos, mas que teve uma crise espiritual e existencial séria pelo fato de ter vivido ao lado do genial Amadeus Wolfgang Mozart.

Salieri não podia entender como Deus pode dar tantos dons a um homem depravado moralmente como Mozart. Depois de ter acesso à sua obra prima, a 29a. nona sinfonia em Lá Maior, como músico, relatou que ficou perplexo por ver que Mozart não tivera qualquer trabalho em compor aquela obra que não mostrava necessidade de correção alguma. Era simplesmente perfeita!

Ele não suportou a agonia de tanta beleza, que ele chamou de – a Beleza Absoluta - e então cai ao chão, desmaiado, e quando se levanta, por ser profundamente religioso, revoltou-se contra Deus por não fazê-lo tão brilhante como Mozart: “...minha única recompensa – meu sublime privilégio – é ser o único homem vivo que reconhece tua encarnação em Mozart. Deste momento em diante, somos inimigos, tu e eu! Não aceito isto de ti – ouviste bem?”. A inveja já havia corroído sua alma. Apesar de sua respeitada posição social, sentia-se um lixo e fracassado, ao ver tanta genialidade em seu “adversário”.

A inveja, na famosa definição de Tomás de Aquino, é a “tristeza pelo bem de outrem”. A inveja se dá quando, vendo a felicidade do outro, sentimo-nos questionados e diminuídos. A inveja introduz elementos da competitividade, porque na sua própria origem, é comparativa, como afirmou C. S. Lewis: “O orgulho é essencialmente competitivo... não tem prazer em ter algo, mas em ter mais do que o próximo”.

Os Guiness afirma que a “inveja é essencialmente profana”, porque quando o objeto do desejo não é alcançado, o invejoso responde com ira, queixumes e em algumas situações, expressando sua decepção com Deus. “A inveja é sempre mais atormentadora porque brota de um amor-próprio desordenado”.

Por isto, “quando Jesus chama, ele nos chama um a um. As comparações são tolices; especulações a respeito dos outros são uma perda de tempo, e a inveja é loucura tanto quanto é a maldade. Cada um de nós é chamado individualmente responsável somente a Deus, para agradar a ele somente, e no final, ser aprovado apenas por ele”(Os Guiness). 

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Deixe Deus ser Deus

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Um dos maiores temores dos homens é perder o controle de sua própria história. George  Steiner, controvertido novelista judeu, escreve seu romance ficcional partindo da ideia de que Hitler não teria morrido nas chamejantes ruinas de Berlim em Maio de 1945, mas teria fugido para a América Latina onde se escondeu na selva durante décadas, até ser finalmente capturado em San Cristóbal.

Os argumentos de Hitler, na ficção de Steiner, são extremamente provocativos. “O meu racismo era uma paródia do de vocês” defende-se Hitler. “Eu o aprendi com Jacob Grill, um rabino polonês em 1910... Julguem a mim e terão de julgar a vocês mesmos, os escolhidos! Houve intenção mais calculada para ferir a existência humana do que a de um Deus onipotente, que tudo vê, mas é invisível, impalpável, inconcebível?”. Neste romance, Hitler insinua que os judeus criaram o conceito da “chantagem da transcendência”, criando um Deus soberano e poderoso.

Admitir a possibilidade de um Deus supremo e absoluto, transcendente e Todo-Poderoso, gera calafrios em muitos, afinal, como afirma Os Guinness, “O Deus do Sinai não proibiu somente ídolos rivais, mas também imagens que o representassem. Ele não permitiu a imaginação”. O Novo Testamento descreve a figura de Jesus de forma direta e sem concessões. “Segue-me!” A resposta do discípulo de Cristo igualmente precisa ser pronta. Um ato de obediência, e não apenas confissão de fé em Jesus.

Como lidar com o Deus que exige obediência e submissão? Certa pessoa chegou mesmo a afirmar: “eu não gosto da ideia de um Deus que quer ser Deus”. Neste diálogo, tive que responder que o único ser que pode fazer reivindicações divinas é Deus, porque só ele possui prerrogativas da divindade. Por isto o primeiro mandamento é “Não terás outros deuses diante de mim”. O Deus judaico-cristão exige exclusividade na adoração. “Não terás diante de mim imagem de escultura, não a adorarás nem te curvarás diante delas”, este é o segundo mandamento. O Shemah hebraico, repetido pelos judeus diariamente era: “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor!”.

Na nossa teomania (mania de ser deus), nos assustamos transferir nossos direitos a um Deus que vai além de nós mesmos, afinal, não somos nós os únicos responsáveis pela nossa história? Assim pensamos e assim agimos. Nossa cultura não sente necessidade de Deus. Podemos admitir que existe um Deus, mas na prática somos ateus. Deixar Deus assumir o controle da história, e o simples fato de ter que admitir que não somos senhores do destino, gera profundo desconforto interno. Não queremos deixar que Deus seja Deus.