quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Absolutizar o relativo


Na década de 70, Raul Seixas declarou: “Eu prefiro ser, esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Indo para uma posição ainda radical, a sociedade moderna (ou a Geração Z- conhecida como nativos digitais), chegou ao ponto de não ter opinião formada sobre nada. Nem mesmo sobre aquilo que parece óbvio demais.

Esta geração, saiu da dúvida metodológica para dúvida absoluta. Se antes se relativizava o absoluto, agora se absolutiza o relativo.

É uma situação de risco. Outrora corria-se o risco do preconceito, agora, da ausência de conceitos. Em nome do respeito às diferenças, perdeu-se a capacidade de desenvolver opiniões pessoais e de ter convicções claras a respeito da ética e da vida e nega-se convicções, princípios e valores. Surge a incapacidade de definir o certo e o errado, moral e imoral, falso e verdadeiro, construtivo e destrutivo. Não existe algo que se considere moral ou imoral, tudo penetra o nebuloso universo do amoral (ausência de moral), evadiu-se do campo do legalismo para o antinomismo (ausência da lei).

Ao considerarmos atentamente a história do pensamento humano, observamos que tal leitura hermenêutica também estava presente bem antes de Cristo. O Profeta Isaias (600 anos a.C.) afirma: “Ai dos que chamam ao mal bem, e ao bem, mal; que fazem da escuridade, luz; e da luz, escuridade; põem o amargo por doce, e o doce por amargo” (Is 5.20).

O que ele percebia naqueles dias? Um determinado grupo de pessoas, intencionalmente ou não, distorcia valores, absolutizava relativos, confundia mentira com verdade, e era desorientada quanto aos valores e ideias, já não era capaz de discernir entre trevas e luz ou fazer distinção entre amargo e doce. Perdia-se a percepção, o paladar, a visão. Faltavam critérios, e isto trazia confusão, distorção e desordem.

Numa discussão acadêmica, o debate se tornou acalorado por causa de um tema polêmico. Um aluno se dirige ao outro: “Você tem preconceito sobre isto?” E o outro respondeu: “Não, eu tenho conceitos formados sobre o assunto”. Numa sociedade relativa, pluralista e subjetivista, corre-se o risco da perda da auto consciência e de critérios. Faltam conceitos claros em nome de uma tolerância preguiçosa intelectual e espiritualmente.

A cidade de Nínive, no Antigo Testamento, tornou-se notória pela sua crueldade e violência. Deus enviou um profeta teimoso para anunciar a necessidade de mudanças. Jonas não entendia os motivos de Deus tratar com tanta misericórdia e graça pessoas que eram inescrupulosas, mas Deus afirma: “Como não teria eu compaixão de 120 mil almas que não sabem discernir entre a mão direita e a esquerda?” Aquele povo tornou-se desumano e desorientou-se porque faltava uma ética clara. A falta de valores gerou uma nação bárbara. Este é o resultado de uma cultura que perde a noção de valores e princípios, e que absolutiza relativos.

Existem relativos, mas existem absolutos. Corremos o risco tanto de relativizar absolutos quanto de absolutizar relativos.


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Desejo ou necessidade?


Técnicas de venda e marketing ensinam que antes de apresentar um determinado produto ao cliente, é necessário despertar nele o desejo de possuí-lo, já que pessoas consomem baseadas em três princípios: inveja, desejo ou necessidade.

Quando alguém compra algo não necessário, supérfluo ou secundário, o faz porque uma necessidade foi criada, e em muitos casos, por desejo de afirmação, resolução de conflitos ou porque tal objeto, de forma fictícia, o faz se sentir amado e apreciado. Ou seja, trata-se de algo artificial, mas que o leva a acreditar que precisa de tal produto ou marca. A propaganda trabalha fundamentalmente com o princípio de despertar desejos, dar a impressão de que o cliente será menos valorizado que outro, se não tiver determinado produto.

Boa parte da falência financeira ou inadimplência, que leva consumidores vorazes ao completo desequilíbrio financeiro, está relacionada não a necessidades, mas desejos. Se a pessoa possui cartão de crédito e é facilmente sugestionável, isto pode se tornar uma arma. Muitos viveriam financeiramente tranquilos se não estivessem presos na armadilha dos desejos criados.

Por isto, discernir entre desejo e necessidade é essencial, embora nem sempre fácil. Existem coisas que queremos mas não precisamos, e coisas que precisamos, mas não queremos. Você sabe discernir entre uma e outra?

Conheci uma pessoa fascinada por sapatos. Uma dia, ao passar diante da vitrine de sua loja preferida, foi atraída por um modelo. Apesar de ter quase 200 pares em sua casa, entrou na loja e o comprou, com um estranho sentimento... Ao chegar em casa, percebeu que já havia comprado o mesmo par de sapatos, mas não se lembrava, e ele estava no closet aguardando a hora de ser usado.

Outra pessoa, desempregada, relatou quanta falta sentiu durante este tempo, de consumir “brinquedos”, ter entretenimentos e adquirir coisas que gostava. No período de vacas magras, não comprou sequer uma camisa nova, e nem precisava, porque tinha centenas, cortou viagens, idas a bons restaurantes e programas caros. Embora nada lhe faltasse, o que o afligia era o desejo de comprar. Apesar do seu desejo, nada daquilo era essencial. Sua dor estava relacionada a desejos, não a necessidades.

A Bíblia faz uma afirmação interessante: “Deus, segundo a sua riqueza em gloria, há de suprir em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades”. Este texto traz problemas porque Deus não afirma que suprirá desejos, mas necessidades. E como confundimos facilmente estas coisas, não raramente murmuramos e reclamamos, por não adquirir nenhum item da lista do abecedário dos desejos, mas que insistimos em colocar em necessidades.

Deus não promete satisfazer desejos, caprichos, nem supérfluos, mas certamente há de surpreender suprindo necessidades. Jesus afirma: “Por que andais ansiosos quanto ao que haveis de comer, e vestir, pois vosso Pai Celestial sabe que vocês necessitais de todas estas coisas. Observai os lírios dos campos e as aves dos céus, porventura não valeis vós muito mais que as aves? Contudo, vosso Pai Celestial as sustenta”.

Certamente viveríamos de forma mais plena, com simplicidade e singeleza, sem sobressaltos e dores, se não estivéssemos tão ansiosos e confusos sobre o que é essencial e supérfluo, se diferenciássemos desejos e necessidades. 


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Caminhe celebrando a vida


Utopia é algo que move o coração do ser humano. É o anseio e desejo inconsciente pelo Shangrilá, o lugar dos sonhos, idílicos: Uma praia da Tailândia, uma ilha do Caribe, Disney World, lugar onde não teremos problemas, e ninguém para nos incomodar, livre de dor, tensão, cobranças e stress. 

Por causa da utopia, vivemos ansiando este dia e lugar que um dia virá, e esquecemos que a vida está acontecendo hoje, agora. Vivemos de forma provisória aguardando o definitivo, que pode ser que nunca virá. Somos infelizes aguardando aquele momento: “Quando nos mudarmos daqui, quando aposentarmos, quando fizermos aquela viagem...” Achamos interessante apenas o destino, mas esquecemos da beleza das flores na caminhada de hoje. Não celebramos a caminhada.

Existe na filosofia um aforismo clássico: “Felicidade é igual a realidade, menos expectativas!”. Quanto maior e mais sofisticados forem os desejos, maior será a possibilidade da expectativa se frustrar e nos afastarmos da felicidade. Por isto, pessoas sonhadoras e românticas sofrem mais, porque seus desejos não se concretizam. A Bíblia diz: “A esperança que se adia, faz adoecer o coração”.  

Epicuro, o pai do hedonismo, e da filosofia que defendia o prazer como alvo último da existência humana afirmou que “nada é suficiente para quem considera o suficiente, pouco”. Por isto, a simplicidade seria um dos caminhos mais eficazes para se encontrar o prazer, e por isto, a felicidade. Quanto mais sofisticados os sonhos, menor a possibilidade deles se concretizarem, e menor a chance da felicidade. Nem sempre as expectativas cabem na realidade. 

Uma das soluções mais simples é encontrar prazer nos processos, na caminhada. O que conta não é apenas o produto final. Não devemos ter prazer apenas no prato feito e pronto, mas no processo de selecionar a comida, lavar os vegetais, cozinhar, preparar a mesa e servir. A celebração não é apenas a mesa posta, mas a preparação da mesa.

Isto vale para vários níveis: A. Numa viagem de férias, celebrar a preparação da mala, a escolha da roupa adequada, o roteiro a ser percorrido, e não apenas o destino final; B. No casamento, não apenas o orgasmo, mas o namoro, o flerte, a conquista, o beijo, o preparo para o encontro, a expectativa. C. No cotidiano, não viver apenas na expectativa do amanhã, imaginando que o definitivo é que importa, esquecendo que o provisório, transitório, pode ser também interessante. Vamos descobrir que existem flores hoje, que a primavera já chegou, que no jardim, as plantas estão florescendo, as árvores estão dando seu fruto, que as estações mudam. 

A expectativa apenas pelo amanhã, pode tirar o prazer do hoje. Viver sonhando, pode tirar a alegria da realidade de hoje. Você não pode tirar férias da vida, embora seja necessário tirar férias na vida. Curta o hoje, celebre os caminhos de hoje, ria dos equívocos de hoje. Afinal, o salmista Davi afirmou: “Este é o dia que o Senhor nos fez, alegremo-nos e regozijemos nele”. 

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Questão de matemática


Questão de matemática

Não sou economista e sei que existem variáveis complexas quando se trata de orçamento num organograma tão complexo quanto o de um governo federal, mas sei de uma coisa básica, que aprendi ao lidar com orçamento doméstico, e isto se aplica tanto a um  presidente de corporação, quanto a um simples funcionário: As despesas não podem ser maiores que as receitas, caso contrário, a economia entra em colapso e a vida se torna inviável. Não interessa apenas quanto você ganha, mas também quanto você gasta. Quando as despesas se tornam maiores que a receita, surge um descompasso e a contabilidade não fecha. Nesta hora são necessários ajustes urgentes.

Muitas vezes a empresa ou organização não consegue encontrar as fontes necessárias para sua manutenção, e diante do impasse só existem duas saídas: Aumenta-se o lucro ou diminuem-se as despesas. É necessário aumentar o ganho ou fazer cortes de investimentos, novas bases de negociação com credores e fornecedores, corte de mordomias, e, na última hipótese, corte na carne, quando os acionistas deixam de ter lucros e fazer retiradas ou, uma medida ainda mais dolorida: demitem-se os   funcionários. Encontram-se assim, de forma dura, a equação correta e o equilíbrio na balança.

O que o atual governo tenta fazer? A única possibilidade encontrada até agora é onerar os cidadãos, e a história é repleta de graves desdobramentos quando se vai nesta direção. 

A Bíblia registra que uma guerra civil aconteceu em Israel, quando Roboão, filho de Salomão, resolveu aumentar a carga tributária sobre seus súditos. Ele não teve sensibilidade para perceber o limite suportável, e isto dividiu o povo de Israel em duas nações: O Reino do Norte, cuja capital foi Samaria, liderada por Jeroboão, o dissidente; e o Reino do Sul, tendo Jerusalém como capital, e que continuou aliada ao antigo rei.

A Coroa Portuguesa, também sofreu violenta oposição, quando instituiu a cobrança de 1/5, que foi o ponto de partida e o embrião da Independência do Brasil. De tudo que se produzia no Brasil, 20% deveria ser enviado para a corte. Hoje estamos já com 2/5, com a carga tributária batendo 41% e o governo quer resolver seu desequilíbrio aumentando os impostos. É um grande risco!
Economia é uma arte e uma ciência, mas é preciso entender a questão elementar: Bom senso e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Mesmo quando não se sabe muito de planejamento, cálculos, álgebra e juros.

Para encerrar, vamos à história do Joãozinho.  Ele era um péssimo estudante e com dificuldade passava em matemática no antigo ginasial, mas apesar disto, tornou-se um milionário. Seus colegas de escola, bem mais espertos que ele, não entendiam o que ele tinha feito, e um dia lhe perguntaram como conseguia ganhar tanto dinheiro. Ele deu uma resposta simples: “Em tudo que eu negocio, ganho 1%. Se compro a laranja por um real, vendo sempre por dois”. Entenderam? Moral da história. Ele continuava não sabendo cálculos, mas aprendeu a negociar. Sabia comprar e vender. Tinha bom senso.

E tenho dito!


O Poder da Gratidão

Merlin R. Cartothers era capelão das Forças Armadas dos EUA quando lançou seu livro “O Poder do Louvor”, que se tornou um best-seller, vendendo cerca de 20 milhões de exemplares em todo mundo. Ele falava de um simples princípio das Escrituras: Louvar a Deus em cada circunstância, mesmo quando a situação era demasiadamente difícil é a chave para a libertação interior. Sua tese se baseava num verso da Bíblia: “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus”.

Muitas pessoas se assustavam inicialmente com a ideia: Como dar graças, se a situação está difícil, se o desespero e a dor batem à porta? O princípio, contudo, não era de uma atitude masoquista do tipo “Aleluia, estou com câncer!”, mas de submissão à Deus, quando seria possível dizer: “Senhor, apesar de toda a situação dolorida que atravesso, eu sei que o Senhor me ama. Embora não entenda tudo o que está acontecendo, eu sei que o Senhor não me abandonou, por isto quero te agradecer”.

Para ele, tudo o que ocorre na vida – seja bom ou ruim – pode ser uma oportunidade para crescimento emocional e maturidade espiritual. Agradecer a Deus no meio das situações adversas é altamente positivo. “O louvor, é como dinamite espiritual, tem qualidade explosiva. Liberado na vida, revoluciona tudo que entra em contato com ele”.

Carothers afirma que quando um problema nos sobrevém, nossa atitude em geral é a de sermos absorvidos completamente pelo sofrimento, e deixamos de nos submeter a Deus que tem o controle de todas as coisas. Só quando tiramos os olhos do caos e colocamos no infinito e no Eterno, é que nossa visão se alarga.

Quando Jesus veio ao encontro dos discípulos no meio do Mar da Galileia, andando sobre as águas, os ventos eram muito fortes e grandes ondas se formavam, no entanto, Pedro conseguiu, confiado no convite de Jesus, até mesmo andar sobre as águas, mas quando ele tirou os olhos de Deus e colocou nas ondas, teve medo e começou a afundar. A situação era a mesma, mas os olhos foram colocados agora, não no poder e na grandeza de Cristo, mas na fúria do mar. Isto nos ensina que a maior tempestade da vida não é aquela que se encontra do lado de fora, mas aquela que nos destrói interiormente. O que mudou para Pedro foi sua perspectiva!

A verdade é que a constante queixa e murmuração é a máscara de descrença e rebeldia contra Deus. “Se você não gosta de onde está”, diz Carothers, “ainda não está pronto para partir”. Deus tem permitido que você esteja neste lugar, passando por esta situação desafiadora por uma razão específica. A verdadeira fonte de alegria deve ser Deus, não podemos ser escravos das circunstâncias ou mesmo depender delas para a felicidade.

Então, ao enfrentarmos dias difíceis, crises econômicas, escassez, desemprego, perdas e enfermidades, somos desafiados a olhar para Deus. Se houver gratidão no coração, e não mágoa e ressentimento contra Deus, entraremos em contato com a riqueza interior que vem de Deus, e o resultado é serenidade na alma e paz, que excede todo entendimento.