segunda-feira, 28 de maio de 2018

Deus e sua saúde



Na sua sabedoria Deus deu princípios de vida ao povo de Israel. Durante muito tempo, os homens daquela época e ainda hoje, olharam para tais leis como obrigações e mandamentos, algo do tipo eu tenho que fazer porque Deus quer que eu faça, mas é  muito importante mudar tal perspectiva para uma compreensão mais ampla e profunda: eu preciso fazer isto, porque isto me renova emocional e fisicamente. Ou seja, a obediência às leis não mudam aquilo que Deus é, mas podem mudar radicalmente aquilo que eu sou. Os mandamentos são para uma vida mais abundante.

A guarda do sábado é um bom exemplo. Muitos homens olharam tais mandamentos como um fim em si mesmo. Os fariseus nos dias de Jesus o censuraram porque neste dia ele curou um homem com a mão mirrada, e noutro episódio seus discípulos colheram espigas para cozinhar no dia do sábado. Não estaria Jesus transgredindo o dia sagrado?

Ao ser interrogado, Jesus surpreende a todos dizendo: “O homem não foi feito por causa do sábado, mas o sábado por causa do homem”. Jesus coloca a lei na perspectiva certa. O propósito de Deus não era a preocupação com o sábado em si mesmo, mas com a forma do ser humano viver e orientar sua vida. Sábado é “Shabath”, dia de descanso. O homem,  e não o sábado, era a preocupação de Deus. Tempo dado por ele para nos ensinar a dar uma pausa, relaxar, redimensionar a vida, e pensar nas coisas espirituais.

Oração é outro aspecto formidável. Por que orar? Esta é uma disciplina espiritual presente e natural na vida dos profetas, apóstolos e Jesus. Eles oravam. Ao dirigir-se ao Criador, alinhavam suas perspectivas com o próprio Deus. Oração é a respiração da alma.

Oração não era apenas uma forma de cumprir uma formalidade religiosa, mas uma maneira de alinhar a vida e os propósitos em direção ao próprio Deus, que é o centro de tudo. Ao demonstrar tal dependência e orar, quebra-se a rotina e agitação diária. Oração, yoga e meditação tem sido recomendadas hoje como formas de relaxamento. Muitos estudos sugerem que tais práticas, diminuem o stress e melhoram a estabilidade emocional.

Portanto, princípios de Deus não são camisas de forças, dogmáticas e inflexíveis, mas funcionam como reguladoras para se viver de forma rica e plena. O sábado (descanso) é fundamental para o ciclo de vida restaurador e equilibrado. A oração, essencial para alinhar o coração com valores mais perenes e com o Pai celeste.

Os princípios de Deus não são para nos torturar, mas para trazerem alegria, plenitude e abundante vida.

sábado, 19 de maio de 2018

Linguagem



Numa recente viagem a Israel e Turquia, descobri que a barreira da língua faz pouca diferença quando se trata de amor e business. Quando há interesse em  comunicar, seja qual for a língua, se este interesse é mútuo, as pessoas se farão entendidas.

Dois exemplos ilustram meu ponto.

Em Israel, um grupo se dirigiu a uma loja na qual os vendedores não falavam português nem inglês, apenas hebraico. Havia determinados produtos interessantes mas não havia preço, e aparentemente ninguém poderia vender ou comprar. De repente, uma jovem saca seugoogle translator  do celular, e as pessoas começaram a ter as informações necessárias para a transação. Em todos os lugares que fomos, quando o desejo de negociar estava presente,  logo se descobria uma forma de se entender. Portanto, quando há interesse financeiro, a barreira da linguagem pode ser facilmente vencida.

Num segundo momento, encontramos Iuni, um padeiro trabalhando num dos hotéis em que ficamos hospedados em Ismir (Turquia), e ele ficou empolgado e simpático ao saber que se tratava de um grupo de brasileiros. Ele conheceu uma brasileira pelas redes sociais, começou a se comunicar com ela pela internet, namoraram, estão noivos e devem se casar em Outubro. Ele deve se mudar para o Brasil, onde pretende abrir um restaurante em Belém-PA. O detalhe curioso é que ele não fala nada em português, e ela não fala inglês nem o turco, a língua oficial da Turquia. Então, como é possível se comunicar, ainda mais pela internet?

O ponto é: quando se ama, a linguagem é um problema menor. Saint Exupery, famoso por escrever O Pequeno Príncipe, afirma que “a linguagem é uma fonte de mal entendidos”. Podemos falar a mesma língua, mas a nossa comunicação ser pobre e até agressiva, não há garantia alguma que por termos a mesma linguagem seremos capazes de sermos entendidos pelo outro.

O relato de Babel, logo nos primórdios bíblicos, revela como isto é verdade. O texto se inicia assim: “Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar”. Portanto, infere-se que uma boa comunicação e compreensão seriam fáceis, mas não é o que acontece. Logo vemos que não conseguiram mais se entender, entraram em grave conflito e foram se espalhando e distanciando uns dos outros. Mesma linguagem, completo distanciamento.

A língua não é o evento mais importante quando o assunto é comunicação. O amor e o interesse mútuo podem ser mais eficientes que a mesma língua. Basta considerar que em nossos lares, falamos a mesma língua, mas muitas vezes não entendemos nada do que o outro está falando e criamos um muro na nossa comunicação. O amor pode ser mais eficiente que a linguagem.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Voracidade


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Um dos sete pecados capitais da teologia cristã clássica é a gula. O descontrole sobre o apetite que leva a pessoa a comer exageradamente. Nos mosteiros, onde se buscava uma vida simples e pura, recomendava-se a frugalidade e o jejum, formas de combater o ímpeto do exagero na alimentação. São Jerônimo, que fez a famosa tradução bíblica da Vulgata Latina, morreu com mais de 90 anos, trabalhando diariamente, e comendo pequenas porções praticamente à base de água e pão.

Gula, porém, tem outros graves derivativos, saindo da esfera simples da comida. Ela pode ter variáveis como desejo insaciável por compras, aquisições, vícios em shoppings, ter mais, comprar cada vez mais coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não gostam de nós. É a voracidade do consumo.

A gula pode também se tornar voraz quando se dirige aos prazeres sexuais, ânsia de conquistar, seduzir. Nesta área, também, a gula pode se tornar assustadora, gerando obsessões incontroláveis e taras. Como a gula é voraz, sua característica central é a insaciabilidade. E assim, como uma droga, ao nos tornarmos dependentes, buscamos doses cada vez mais forte na vã tentativa de satisfação e saciedade.

A voracidade pode se voltar para posses e bens. Neste caso, o que se busca não é apenas o consumo, mas o acúmulo de propriedades, e os tolos “brinquedos” vão se sofisticando e  ficando mais caros, mas o coração continua vazio. Isto gera distorções sociais graves como a exploração do ser humano e a desonestidade, mas a maior distorção ocorre, na verdade, dentro da alma que se coisifica e instrumentaliza outros para seus objetivos. A pessoa se torna obcecada por bens, contudo, como em todas as áreas da vida, “mais da mesma coisa nos leva para o mesmo lugar”: o vazio, isolamento e a falta de sentido são os subprodutos mais evidentes.

Para romper com a voracidade, precisamos ser contraintuitivos: “Não faça aquilo que você deseja fazer, mas faça o oposto”. Se o seu problema é a voracidade  por comida, obrigue-se à frugalidade, abstinência e jejum. Se sua obsessão é sexual, exercite-se na pureza e fidelidade, caso contrário você se torna um monstro de olhos verdes. Se seu problema é consumo, aprenda a doar ao invés de acumular. Doe generosamente para pessoas necessitadas, obras sociais e comunidades saudáveis. Se o seu lado voraz te instiga a ter mais posses, aprenda a desfrutar mais o que você tem e a ser mais generoso.
Voracidade é mortal, dominadora e quase incontrolável. Estar consciente de suas armadilhas e poder, nos liberta para um viver mais pleno.