quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O que podemos esperar em 2016?

Não sei quanto aos seus sentimentos, mas confesso que está duro assistir aos noticiários do Brasil. A banalização do mal se tornou tão explícita, que tudo parece natural: crimes bárbaros, violência nas cidades, corrupção institucionalizada, desemprego, falência, somos tomados por uma sensação do estilo J.R.R. Tolkien, cuja frase na sua coletânea de livros que inspirou a série “Senhor dos anéis”, é a seguinte: “Não há mais esperança!”. A economia do Brasil parece ter derretido, e com ela, a esperança e o bom humor. Faltam expectativas positivas, bom humor.

Certamente não teremos um ano de vacas gordas em 2016, mas o pior disto tem a ver com o baixo astral. A realidade é ruim, mas o desespero e a falta de sonhos é pior. Afinal, como dizem os japoneses, “O medo de perder não deixa a gente ganhar”. Crise historicamente tem sido oportunidade de grandes criações e novas alternativas. Quando perguntaram a Eugene Peterson qual a coisa mais interessante da vida ele respondeu: “Bagunça!”

Ricardo Semler, conhecido empresário paulistano afirmou recentemente numa entrevista na Folha de São Paulo, que a corrupção no Brasil hoje é menor que 30 anos atrás. Assustou? Eu também! Ele afirma que sua empresa nunca conseguiu um contrato com órgãos públicos porque ele sempre se recusou a dar propina àqueles que tinham a função de negociar com as empresas. Segundo ele, o que está acontecendo é que hoje temos mais “consciência e melhores informações”. A imprensa livre tem sido responsável pela desarticulação de muitos destes imbróglios financeiros na antiga e viciada relação meretrícia entre Estado e Empresa.

Se considerarmos a história mundial, veremos que crises anteciparam momentos de grandes ganhos. Os EUA tiveram uma vertiginosa ascensão na época mais sinistra dos tempos modernos, isto é, na Segunda Guerra Mundial, logo após a Grande Depressão que arruinou as empresas e a economia daquele país. Este tsunami gerado pelo binômio Grande Depressão -II Guerra Mundial transformou-se em grandes possibilidades.

Tenho medo de que, o mau humor e a falta de esperança possam limitar nossa visão a médio prazo. O incidente dos Andes, em 1972, quando um avião uruguaio com 45 ocupantes caiu nas montanhas geladas, levando os jogadores de Rúgbi, na sua maioria jovens de classe média, a sobreviverem por 69 dias praticando canibalismo, sob uma temperatura de -20 C nos mostra como eventualmente podemos estar tão próximos da esperança e ainda assim viver debaixo do terror. Eles estava a apenas 5 km de um dos mais famosos balneários do Chile. Tão próximos mas tão distantes...

Outro aspecto da crise é o fato de que crise tem a capacidade de nos aproximar de Deus. O bem estar, a sensação de tranquilidade e segurança, o conforto e o luxo podem nos transformar em seres auto suficientes e arrogantes. Tendemos a ignorar a realidade de Deus na história. Quando as coisas se complicam, surge a necessidade de clamar a Deus e buscar sua direção.

2016 não promete demais, mas não quero esperar de menos...

2016 prenuncia um ano de crise, mas quero olhar estes obstáculos como possibilidades...


Que a despeito de todo prognóstico, algo de Deus possa brotar em nosso coração. 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Natal sem Cristo?

Impensável? Não sei! Recentemente li sobre uma nova onda mística que afirma ser possível ter espiritualidade sem Deus. Não sei como porque espiritualidade não pressupõe estas coisas do “espírito”? Não está relacionada à divindade? Se estão conseguindo esta façanha não acredito ser difícil termos Natal sem Cristo.
Ah! E não devemos esquecer também que já temos a Páscoa sem o Cordeiro. O coelho mágico que bota ovos com tons, cores, formatos e gostos diferentes é o protagonista, o Cordeiro tem papel secundário. Já faz muito tempo que a Páscoa não fala mais do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Então, não será nenhuma surpresa se o Natal excluir a criança nascida em Belém. O que se celebra no Natal? Pergunte a qualquer criança. A maioria vai relacionar esta data com presentes e com o papai noel, um velhinho simpático de barbas brancas que desce na chaminé em dias de neve trazendo os desejados presentes. Ainda que não tenhamos neve nem chaminé em casa...

Perder a centralidade de Cristo no natal é tão fácil quanto nos perdermos na agitação, correria e stress de final de ano. José e Maria perderam seu filho no templo quando tinha 12 anos, nós o perdemos no dia do seu aniversário. Que celebração estranha! Todos recebem presentes menos o menino que nasceu em Belém. Não é bizarro?

Achar Jesus no meio dos embrulhos e das festas, é essencial. Só assim será possível restituir o significado do menino-Deus, que deixou sua glória e veio habitar entre nós e é desta forma que se resgata a dimensão do Eterno entrando no tempo, compreende-se a realidade de um Deus participando da história e habitando entre os homens.

Natal anuncia o fim da inacessibilidade de um Deus que se humanizou, e levou às últimas consequências o significado de Emanuel: Deus conosco! A manjedoura fala de um Deus que amou tanto os homens que decidiu caminhar entre eles, participar de suas alegrias e dores, tocá-los. Naquele bebê Deus chegaria ao extremo de seu amor. No ventre daquela jovem judia que chega à Belém, estava aquele que é Deus acima de todos, e tem todas as coisas debaixo de seu domínio, que veio para solucionar o pecado, o mal central da humanidade com suas variantes: Ganância, luxúria, orgulho, depravação, ódio, vaidade, inveja e corrupção moral.  


A eternidade invadiu o tempo, a divindade penetrou a humanidade, o céu adentrou a terra na forma de um bebê. Os seus primeiros choros foram ouvidos por uma moça simples e um carpinteiro sonolento. Não dá para pensar um Natal sem Cristo!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Sucesso

Em Agosto de 2008 ouvi o discurso de J.K.Rowling, conhecida autora inglesa que se transformou num fenômeno editorial com a série de livros sobre Harry Potter, falando para uma eufórica plateia de estudantes que se formavam na Harvard University. Ela afirmou o seguinte: “Para muitos de vocês, o que consideram fracasso, para milhões de pessoas ao redor do mundo é chamado de sucesso”.

Como já estamos chegando ao final do ano, precisamos perguntar: O que é sucesso?

Primeiramente, sucesso só vem antes do trabalho, no dicionário. Não existe vitória sem batalha, nem conquista sem luta. Certa vez li a entrevista de um famoso pianista, considerado um virtuose, que ao ser indagado se ele se considerava um gênio, reagiu veemente: “Detesto a palavra gênio. Vocês acham que alguém que treina diariamente, oito horas de piano por dia, pode ser considerado um gênio?”

Em segundo lugar, sucesso não pode ser medido em termos de conquistas, bens ou status, porque sucesso não é o que você tem ou conquista, mas o que você é. Hoje em dia, com a ditadura da estética, cria-se modelos e paradigmas de beleza, mas a melhor definição de beleza que ouvi foi a seguinte: “Beleza é você sentir-se confortável dentro de sua pele”. Sucesso é um estado de espírito, é você estar pleno enquanto ser. Pessoas de estilo de vida simples, tendo coisas simples na vida, podem se sentir extremamente bem sucedidas.

Em terceiro lugar, sucesso tem a ver não como você começa, mas como você termina. Existem pessoas que são velozes, mas se cansam rápido; iniciam bem e terminam mal. Gente assim é o que se denomina de “sucesso do fracasso”. Podem até ter ascensão rápida, se tornarem badaladas e comentadas, mas com o coração e as relações absolutamente adoecidas.

Por último, diria que sucesso tem a ver com Deus. Não adianta receber aplausos dos homens e não aplausos de Deus.

Do ponto de vista de marketing, Jesus terminou sua vida como um fracassado: De 12 amigos que teve, um lhe traiu, outro lhe negou e 10 fugiram na hora do aperto. A multidão que na semana anterior o aplaudia dizendo: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor”, agora grita: “crucifica-o! crucifica-o!”. Foi rejeitado pela sociedade, perseguido pelo sistema religioso, acusado de sedição pelo Estado, e morreu cruelmente numa cruz.

No entanto, o que a Bíblia ensina sobre Jesus? Ele estava “reconciliando o mundo consigo mesmo”; Ele estava pagando o preço nosso pecado: “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados”, “Ele é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” ele estava vencendo os poderes espirituais: “despojando principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. O resultado? Aprovação do Pai celestial: “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai”.


Por isto Jesus afirmou: “Que aproveita ao homem, ganhar o mundo interior e perder sua alma?”. Augusto Cury sintetizou muito sabiamente: “O objetivo fundamental dos sonhos não é o sucesso, mas nos livrar do fantasma do conformismo”. 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Vamos a Belém?

Existem lugares que ocupam o imaginário de nossa alma. São cartões postais, lugares de belezas estonteantes que nos fazem sonhar que um dia poderemos desfrutar e caminhar por suas trilhas. No meu “Bucket List” (relação de coisas que gostaria de fazer “Antes de Partir”), a maioria dos meus objetos de desejos estão relacionados a viagens. Quem não gostaria de ir a Bora Bora? Ou de caminhar pelas trilhas da São Tiago de Compostela na Espanha? (Muitos por motivos religiosos, no meu caso apenas por turismo); ou visitar o Grand Canyon (este eu já fiz e é realmente deslumbrante). Mas hoje gostaria de te convidar a uma viagem diferente. Quero te convidar a fazer uma caminhada para Belém.  Lugar onde Jesus nasceu. Bem, é certo que estou levando um grupo para esta viagem em Março de 2016 (Quer ir conosco?) e já estive lá algumas vezes, mas hoje estou falando simbolicamente.

Esta foi a caminhada de um grupo de pessoas exóticas e esotéricas que popularmente são conhecidas de “três reis magos”, que na verdade não sabemos se foram três, porque a Bíblia não fala; e certamente não eram reis. A única coisa certa que sabemos deles é que eram magos (O Novo Testamento foi escrito em grego, e o termo que aparece lá é magois), portanto eram pessoas ligadas a alquimia, desejosos de intervir na natureza, descobrir fórmulas da eterna juventude ou transformar pedra em ouro.

Eles saem de muito longe. Eles vem do Oriente, provavelmente da Mesopotâmia, atualmente Irã e Iraque, e andam cerca de 1800 km, numa estrada poeirenta, desértica, cheia de perigos de assaltantes e num clamor inclemente. O que os leva a fazer uma viagem tão longa e perigosa? “Vimos a estrela do recém-nascido rei dos judeus no oriente e viemos para adorá-lo”. O que os atrai a Belém é a singularidade do evento, o nascimento de alguém importante. Um rei estava nascendo.

O texto se torna ainda mais curioso. Os escribas e estudiosos das profecias do Antigo Testamento souberam responder imediatamente quanto ao local preciso do nascimento do Messias, afinal, o profeta Miquéias já preconizara que seria em Belém, uma pequena vila a 12 Km de Jerusalém. Apesar de terem conhecimento das profecias, isto não mobiliza seus corações, eles não se sentem atraídos a Belém. As informações estão no coração, mas não descem para a alma. Por isto encontramos aqui um quadro estranho: Os magos, esotéricos e místicos, encontram-se mais perto de Deus que os sacerdotes e pastores de então. Este negócio assusta...

No Natal, precisamos ir a Belém...

É ali que encontraremos um menino, frágil, dependendo dos cuidados de uma jovem inexperiente e das parteiras da região que  vieram para ajudar o parto, num ambiente sem assepsia, cercado de animais, dentro de um curral. Nesta figura tão singela, encontra-se Emanuel, o Deus que decidiu viver e caminhar no meio dos homens, morrer por eles e redimi-los de seus pecados.

O encontro com Jesus de Nazaré mobiliza o coração dos magos à generosidade, e eles abrem seus tesouros e entregam as preciosas ofertas: Ouro, incenso e mirra. Mas o encontro com este menino gera algo ainda mais surpreendente. Gera adoração. “Prostrando-se, o adoraram”.


Os efeitos deste encontro, com o menino Jesus no seu nascimento, nesta viagem a Belém, torna-se importante também por outro motivo: “Alegraram-se com grande e intenso júbilo”. Encontrar-se com o menino-Deus, traz sentido e alegria para as almas inquietas, que buscam sinceramente respostas mágicas e místicas. Estas experiências se dão, para quem, de coração aberto, decide caminhar até Belém e se encontrar com o Deus que se fez gente, assumir a humanidade e andar no meio dos homens. Ver, abraçar e tocar este menino faz toda diferença em nossa história...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Surpreendido por Deus

Como parte de minha espiritualidade, na época de natal tenho o hábito de ler os textos do Evangelho que descrevem o nascimento de Cristo.  Se possível, ouvindo músicas natalinas tradicionais, que inspiram muito a minha fé. Esta liturgia pessoal da alma, ou se preferirem uma linguagem mais comercial, esta agenda, traz um enorme benefício ao meu coração.

A primeira narrativa do Natal, o primeiro evento, é a manifestação do arcanjo Gabriel a Zacarias, pai de João Batista. “Ora, aconteceu que, exercendo ele diante de Deus o sacerdócio na ordem de seu turno, coube-lhe por sorte, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar incenso” (Lc 1.18). Se você ler atentamente o texto, vai perceber que todas as palavras revelam uma espécie de rotina. “...segundo a ordem de seu turno”; “...coube-lhe por sorte”, “...costume”.

Zacarias estava fazendo algo cotidiano. Nada de especial havia ali. Esta era a sua função, e ele estava na escala, cumprindo o seu turno, como um executivo vai para sua empresa todos os dias, como um operário que pega o ônibus para sua fábrica, ou um estudante que acordou cedo para ir à escola. Eventos comuns, gestos rotineiros. Nada excepcional.

Neste contexto de “normalidade”, surge o extraordinário. Deus se evidencia e o mundo espiritual que sempre esteve presente de forma invisível, agora torna-se perceptível. Deus sempre esteve ali, mas agora ele toma conhecimento de sua realidade. Deus mergulha no universo rotineiro deste homem e altera substancialmente sua trajetória de vida. Ele jamais poderia imaginar que seria pai de João Batista, o precursor de Jesus – e que os homens do Século XXI como nós, numa cultura e país distante, estaríamos refletindo sobre sua experiência.

Quando eu leio esta história, me vem à mente a frase do historiador Arnold Toynbee: “Toda história, uma vez tirada a casca e exposta a sua essência, é na verdade, espiritual”. Então, fico com vontade de dizer a Deus: “surpreenda minha história!” Que dos movimentos rotineiros do trabalho, e atividades comuns, surja algo extraordinário, sopre um vento incomum que me surpreenda.

Talvez seja exatamente este o significado perdido do Natal.

Ele fala de utopias e sonhos, desejos e anseios. De um Deus, para muitos distante e inacessível, que decide morar com os homens e caminhar nas estradas poeirentas da Galileia, apontando para um sentido maior da vida. De alguém que pode visitar um casamento que já perdeu o sabor e fazer um vinho novo e melhor, que tem a capacidade de curar e tocar pessoas estigmatizadas, esquizofrenizadas, feridas e doentes e libertá-las do ciclo vicioso da auto destruição e desespero.


Natal nos aponta para um Deus que pode nos surpreender...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Espiritualidade e saúde


A ligação entre saúde mental e espiritualidade sempre foi objeto de investigação científica. No início de Novembro 2015, aconteceu o 33o. Congresso Brasileiro de Psiquiatria, no qual foi divulgado que “nas décadas  recentes, tem havido uma crescente conscientização pública e acadêmica sobre a relevância da espiritualidade e da religião para os problemas de saúde”.

Pesquisas demonstraram que a espiritualidade melhora a qualidade de vida, o ganho social do indivíduo e ajuda na prevenção do suicídio e na recuperação de drogas, e que a ausência deste lado espiritual, ou sua visão distorcida (fanatismo), pode trazer complicações e transtornos mentais.
Para Alexander Moreira-Almeida, “a religião é um sistema de crenças e práticas que busca a aproximação com o sagrado e com o transcendente. Uma religião seria a forma institucional e coletiva de espiritualidade.”

Apesar dos prognósticos de que a humanidade trocaria a religiosidade por uma vida materialista, a realidade é que ela mantém crenças e práticas religiosas e espirituais, no Brasil 90% dos brasileiros afirmam ter uma religião, 9% afirmam não ter um credo e apenas 0,5% da população se declaram ateu ou agnóstico e mais de um terço dos brasileiros frequenta um grupo religioso mais do que uma vez por semana.

Para a psiquiatria, a religiosidade é algo multidimensional e cada uma dessas dimensões tem relações diferentes com os desfechos na saúde, como depressão, mortalidade e qualidade de vida.

Num trabalho sobre a religiosidade de crianças em torno dos 10 anos de idade, filhas de pais com depressão em tratamento, verificou-se que aquelas que se consideravam religiosas tinham 10 vezes menos risco de desenvolver depressão se comparadas às demais do grupo. Idosos que frequentavam serviços religiosos tinham menos da metade dos níveis de depressão e de ansiedade do que os que não frequentavam. Dados surpreendentes apontaram para o fato de que, para os idosos, a religiosidade foi a principal fonte de suporte social, superior a família e amigos. O “coping” religioso positivo também ajudou a manter a tristeza a uma distância segura.

De modo geral, as questões religiosas enfatizam cuidar de si mesmo e valorizar o corpo como uma dádiva divina. A religiosidade parece influenciar também aspectos mais primitivos, digamos, da psique humana. Indivíduos sem envolvimento religioso demonstraram o dobro da frequência de uso de tabaco, de álcool e de outras drogas, e em indivíduos espiritualizados, a probabilidade de atentar contra a própria vida cai pela metade.


Em 1956, Guimarães Rosa lançou sua obra-prima, “Grande Sertão: Veredas” e num dos seus lúcidos diálogos afirmou: “Todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara loucura.” 

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Hora de agradecer

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A última quinta feira do mês de Novembro em muitos países é dedicada à celebração do Dia Nacional de Ações de graças, uma data importante para expressar gratidão a Deus.

Gratidão é importante. Ela é um bom substituto para o mau humor, antidoto contra a reclamação, e o caminho para se superar o negativismo, aliás, já viram uma pessoa lamurienta e pessimista se dar bem? Vitoriosos são pessoas agradecidas e que sabem reconhecer a benção, a graça e a beleza da vida, como afirmou Norman Vincent Peale: “Ser agradecido faz todas as coisas melhores”.

Um provérbio francês afirma que “gratidão é a memória do coração”, aliás, “Gratidão é o amor contemplando o passado” (Moacir Bastos). Para ser grato, é necessário desafiar a mente a focar em oportunidades, e é por isto que ela está sempre ao lado de pessoas de sucesso.

A Bíblia muitas vezes encoraja o povo de Israel a recordar os feitos de Deus na história. Lembranças de boas experiências induzem o coração à gratidão. Jesus censurou seus discípulos por não se lembrarem de fatos miraculosos que haviam presenciado. Certa vez ele exortou seus discípulos a se lembrar de um evento acontecido 5 horas antes. “Porventura, não vos lembrais? Estais endurecidos de coração, não compreendeis?”. Não é impressionante pensar que eles se esqueceram disto num prazo tão curto de tempo? Jesus os censura porque recordações nos ajudam a obter vitória no presente.

Quando Davi foi lutar contra o gigante Golias, ele se lembrou de que Deus lhe dera vitória em duas situações memoráveis: quando lutou com um leão com o urso. Agora, ele estava seguro de que o mesmo Deus que lhe capacitara no passado poderia livrá-lo no presente. A vitória de ontem era seu ponto de referência.

Hoje em dia é fácil observar uma grave distorção concernente à gratidão. Pessoas agradecem o que recebem, mas não sabem agradecer quem lhes deu. Dizem: “muito obrigado pelo presente...”, sem saber a quem agradecer. Agradecem a doação, mas não ao doador. Mas é fundamental lembrar que gratidão, intrinsecamente, pressupõe não apenas apreciação pelo que se recebe, mas acima de tudo, por aquele que foi responsável por conceder o presente. Não faz sentido agradecer a dádiva, sem lembrar de quem veio a generosidade.

Infelizmente esquecemos de dizer a quem estamos gratos, embora sejamos capazes de dizer porque estamos gratos. Quando agradecemos, precisamos saber não apenas o que, mas, a quem agradecer.

Por isto oramos assim: “Obrigado, Senhor!” Esta é a forma correta de expressar gratidão. Temos em mente não apenas o objeto recebido, mas o autor da benção. Se não considerarmos isto, a gratidão torna-se genérica e vaga. Deus deve ser sempre a razão da gratidão!

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sempre foi assim...


Aconteceu mais uma vez.
A intolerância religiosa novamente toma proporções absurdas. Assustado, incrédulo, indignado, foi assim que acompanhei as noticias vindas da França, depois dos atentados que ceifaram mais de uma centena de vidas, deixando outras dezenas de pessoas feridas, algumas com danos irreversíveis, com sequelas emocionais das quais jamais serão libertas, traumas, dramas, tramas, dores. Luto... vidas de jovens sendo ceifadas em nome de uma estúpida ala radical religiosa.
O primeiro pensamento meu foi o de resignar-me. Afinal, sempre foi assim... em nome de deuses, Alah, Yahweh, cruzadas, inquisições com ou sem fogueiras, mata-se, mutila-se, nega-se aquilo que se prega, desarticula-se o Sagrado, impregnando de ódio o que é amor, transformando em transgressão o que é Santo, fere-se, macula-se.  Transforma-se a divindade em aliado das trevas.
Sempre foi assim, mas eu não quero resignar-me. Eu quero protestar com toda veemência. Recuso-me a veicular ódio tão vil e covarde à Deus. Mesmo porque esta definição não cabe em Deus. Deuses assim são meus demônios, e não dá para confundir Deus com o inominável pé-de-cabra. Demônios não se transformam em divindades porque os nomeamos assim. Árvores são conhecidas pelos frutos.
Sempre foi assim, mas não quero me conformar, porque nunca deveria ser assim. Não se pode confundir Moloque com Yahweh; nem Exu com Cristo. Deus não é aliado do ódio, pois neste caso deixaria de ser Deus e passaria a ser uma mesquinha imagem de Baal ou Astarote. A aceitação calada e silente faz mal. “Deus vai julgar não apenas o ódio dos maus, mas o silêncio dos bons” (Martin Luther King Jr.
Quero aliar o conceito de Deus a shalom, não à privação; a fartura, não à carência; a fraternidade, não a conflitos; a unidade, não às desavenças; ao respeito, não à intolerância; ao amor, não ao ódio. Por isto, apesar de sempre ter sido assim, não é assim que sempre deveria ser.
Motivos mesquinhos se opõem à própria natureza do ser de Deus, definido como justo, santo, misericordioso, bondoso, amoroso, perdoador, tardio em irar-se. Não cabe a Deus, e sim aos homens que dele se afastam, o suposto direito de matar, roubar e destruir, de machucar e ferir. Tais atos, procedem sim, de corações que se desviaram tanto de Deus, e já perderam tanto a sensibilidade, que ainda são capazes de atribuir algum motivo positivo ao ódio indiscriminado e covarde.
Sei que histórias como estas lamentavelmente ainda continuarão a existir. Sempre foi assim, sempre será assim. Mas eu não quero resignar-me. Deixo aqui o meu protesto. 

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Fidelidade é o melhor antídoto contra o DST



A Folha de São Paulo publicou no dia 31.10.2015, artigo do Dr. Jairo Bouer afirmando que casais monogâmicos e indivíduos com múltiplos parceiros tem a mesma probabilidade de contrair Doenças Sexualmente Transmitíveis (DST). A afirmação parece estranha, já que há um pressuposto intrínseco de que o primeiro grupo possua uma natural defesa contra tais enfermidades, pois DST são resultantes de promiscuidade, mas o artigo foi publicado com base numa pesquisa feita pelo Journal of Sexual Health.

Como é possível? A resposta é direta!

A pesquisa revelou que isto se dá porque muitos indivíduos em relacionamentos monogâmicos admitem trair o parceiro ou a parceira, e por serem tais encontros mais furtivos e esporádicos, muitos não possuem o mesmo cuidado que os que são propensos a relacionamentos abertos, e por isto se protegem mais e realizam mais testes preventivos.

Isto demonstra que a causa de tais doenças continua sendo a mesma: Infidelidade e promiscuidade.

Para enfrentar este problema, que é uma questão de saúde pública, entidades sociais, ativistas e governo preferem tratar de tais questões perifericamente. Quando acontecem grandes eventos nos quais há uma tendência de aumento significativo de promiscuidade, ao invés de orientar e encorajar as pessoas à fidelidade e castidade (dois termos antipopulares) distribui-se camisinhas, pílulas do dia seguinte e coquetéis anti AIDS. Isto é o mesmo que tratar com aspirina o câncer terminal ou distribuir placebos para infartos. São paliativos para graves doenças, que tem a ver com a estabilidade da família e a ética, com consciência e conflitos psicológicos.

Num artigo de Reinaldo Azevedo, articulista da Veja, de 16.07.2013, ele fala da Truvada, um remédio que ajuda a prevenir a contaminação do vírus da AIDS, com fortes efeitos colaterais como vômitos, diarreias, intoxicação do fígado, perda óssea e alteração da função renal. Apesar da efetividade da droga, organizações que tratam da doença, declaram que as pessoas precisam lembrar que AIDS não é gripe, ela ainda mata, contudo o remédio induz as pessoas a uma falsa sensação de segurança.  Azevedo afirma, que por isto, a taxa de contaminação em alguns grupos, como homossexuais masculinos, subiu. A droga passou a ser usada como garantia e proteção. “Uganda é o país africano mais bem-sucedido no combate a AIDS, a ênfase no uso da camisinha é apenas a terceira prioridade: as duas primeiras são a defesa da fidelidade no casamento, e, vejam que coisa! O incentivo à virgindade! (...)  até que não se tenha uma vacina contra a doença, o sexo seguro (...) ainda é o melhor remédio. E, meus caros, a ‘camisinha’ da escolha certa é a única 100% segura”.


O melhor antídoto contra DST, não são preservativos, nem caras drogas para tratar das doenças contraídas. A fidelidade é ainda o melhor antídoto!

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A terapia da Palavra


O Salmo 119 é o maior capítulo da Bíblia, com 176 versículos. Em apenas dois deles não faz menção à palavra de Deus, e em todos os demais coloca a lei de Deus no centro, referindo-se a ela como “mandamento”, “palavra”, ”juízos”, “testemunhos”, “promessas”,  “prescrições” e “decretos”.
Um dos elementos presentes no coração do salmista é a alegria e contentamento que ele encontra ao entrar em contato com a Lei de Deus. “Admiráveis são os teus testemunhos” (Sl 119.129); “Eu amo os teus testemunhos ardentemente” (Sl 119,167)”, “Amo a tua lei”  (Sl 119.113).  Ele se refere maravilhado à Lei de Deus (Sl 119.18) e afirma que nela encontra prazer (Sl 119.24).
Outro aspecto marcante neste capitulo é sua ênfase e oração para que Deus o vivifique.
O termo vivificar, tem na sua raiz, a ideia de vida. Vida é o oposto, não da morte, como afirma Molttmann, mas da apatia. A vida possui sinais característicos, e quando ocorre um acidente, os paramédicos ao socorrer as pessoas, buscam imediatamente os sinais de vida: pulsação, respiração, batimentos cardíacos, e ainda, o brilho nos olhos. Os olhos de uma pessoa morta  tornam-se opacos.  A ausência de sinais vitais revela que a vida se esvaiu. Não é a morte que emite sinais, é a vida. Sabemos que alguém morreu quando os sinais vitais não mais existem.
Por isto é curioso e interessante a insistência do salmista pedindo a Deus que o vivifique. Esta oração é feita pelo menos 11 vezes (Sl 119.25, 37, 40, 50, 88, 93, 107, 149, 154, 156, 159). Ele anseia por vitalidade, deseja que a vida volte a pulsar. Sente como se estivesse andando, porém sem vida. Já se sentiu assim? Cadáver ambulante? Walking dead? Pois era exatamente este o sentimento do salmista. Por isto clama insistentemente para que Deus o vivifique.
O curioso, porem, é que toda a esperança de sua restauração está relacionada à Palavra de Deus. Ele vê na lei de Deus, o meio de restauração do seu espirito abatido, do seu devorador desânimo e busca as verdades e testemunhos de Deus para encontrar vida.
O salmista ora para que Deus o vivifique. Assim como ele, também precisamos de vida, sonhos, sorrisos, amor, desejo, celebração.  Por isto afirma reiteradamente:
            ...”vivifica-me, segundo os teus juízos”...
...”vivifica-me, segundo a tua bondade”...
...”vivifica-me, segundo a tua promessa”...
...”vivifica-me, segundo a tua palavra”...
...”Os teus preceitos me tem dado vida”

Esta é uma proposta muito interessante. Reencontrar a vida, a alegria e o entusiasmo, na Lei de Deus. Uma proposta pouco considerada.

Opções contemporâneas de terapia
Hoje em dia, quando nos sentimos desnorteados e aflitos, e perdemos a referência da história, quais são as alternativas que mais comumente buscamos?

Uma delas é o entretenimento. Tentamos encher a vida de atividades prazerosas, nos refugiamos nos vídeo games, viagens,  diversões, pescarias. Buscamos um shangrilá, uma Disneyworld para reparar o sentimento de vacuidade, nulidade e nonsense que tantas vezes nos consome. Não é isto que as pessoas dizem: “Vai descansar, vai viajar, vai pescar? Não que qualquer destas atividades sejam, em si mesmas, destrutivas ou perniciosas, pelo contrário, são até mesmo interessantes. Mas na maioria das vezes, pessoas fazem viagens cada vez mais exóticas, consomem doses cada vez maiores de adrenalina, que redundam em completo fracasso. Percorrem o mundo para descobrir que ainda continuam vazias e angustiadas.
Outra opção são os remédios largamente encontrados nas prateleiras dos supermercados e farmácias, oferecendo alivio rápido para problemas profundos. Procuramos médicos renomados, alívio psiquiátrico, consumimos doses fenomenais de frontal, Prozac, energéticos, multivitamínicos, Rivrotil (de tarja preta, é o segundo remédio mais consumido no Brasil). Imaginamos que a solução para a ausência de vida, alegria e entusiasmo encontra-se em fórmulas mágicas como sugere o provocante filme “Sem limites”.
Ainda buscamos alternativas e alivio para a vida de alegria e ausência de sinais de vitalidade em psicoterapia ou terapias alternativas. Precisamos e pagamos pessoas que nos entendam, e eventualmente se transformem numa espécie de amuleto (ou muleta). Ou buscamos fórmulas mágicas e místicas para socorro imediato. Pagamos alguém para nos energizar. A onda mais recente é o “coaching”, alguém que nos entenda, traga estabilidade, vitalidade e energia para o nosso interior caótico.
Certamente, nenhuma destas alternativas acima é ruim em si mesma, nem são pecaminosas e inadequadas, pelo contrário, podem trazer cura momentânea e eventualmente transformações efetivas e duradouras, mas o salmista propõe uma alternativa surpreendente.

A terapia da Palavra
O Salmista vê, na Palavra de Deus, o conforto, consolo e a solução para vitalizar sua alma. Por isto esta sempre afirmando: “vivifica-me, segundo... a tua Palavra”.
            è “A minha alma está apegada ao pó, vivifica-me segundo a tua palavra” (Sl 119.25);
            è”Desvia os meus olhos, para que não vejam a vaidade, e vivifica-me no teu caminho” (Sl 119.37);
            è”Eis que tenho suspirado pelos teus preceitos; vivifica-me por tua justiça” (Sl 119.40).
è “O que me consola na angustia é isto: que a tua palavra me vivifica” (Sl 119.50);
è “Vivifica-me, segundo a tua misericórdia e guardarei os testemunhos oriundos da tua boca” (Sl 119.88);
è “Nunca me esquecerei dos teus preceitos, visto que por eles, me tens dado vida” (Sl 119.93)
èEstou aflitíssimo. Vivifica-me Senhor, segundo a tua palavra” (Sl 119.107);
è “Vivifica-me, segundo os teus juízos” (Sl 119.140)
            èDefende a minha causa e liberta-me; vivifica-me segundo a tua promessa” (Sl 119.154);
            è “Muitas são as tuas misericórdias, vivifica-me segundos teus juízos” (Sl 119.156).
            èVivifica-me, ó Senhor, segundo a tua bondade” (Sl 119.159)

A característica comum nestes textos é que o autor encontra, na Palavra de Deus, o recurso para restaurar sua capacidade de viver. A Palavra se torna sua fonte terapêutica. Isto tem implicações relevantes e práticas.
Onde buscamos alternativas para o desânimo, frustração, cansaço, desencorajamento, falta de propósito, tristeza de alma que retiram de nós a vitalidade? Sejamos honestos: A palavra de Deus quase nunca tem sido considerada, mesmo para os cristãos, como fonte de vida e alegria.
Talvez seja exatamente isto que precisamos discernir, e certamente muita cura interior aconteceria, se, pelo menos, buscássemos na Palavra de Deus, o antidoto para nossa solidão e caos, através das palavras de esperança e promessas ali contidas.
Por esta razão o salmista ora: “vivifica-me, Senhor”, sempre associando sua restauração ao poder redentor da palavra.
Ele não pede cura por meio das alternativas de entretenimento, poderosos e eficientes remédios da indústria farmacêutica, ou terapias alternativas, mas nas verdades eternas contidas nas Sagradas Escrituras.  “Porque a palavra de Deus que é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espirito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta em sua presença, pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hb 4.12,13).
Certa vez, tive oportunidade de ouvir uma palestra do Dr Carlos Bosma, missionário holandês que se radicou no Brasil, trabalhando em Santa Catarina. Grande biblista e Dr. em Antigo Testamento e hebraico, posteriormente tornou-se professor no Calvin Theological Seminary em Michigan. Sua palestra foi sobre o livro dos Salmos.
Depois de discorrer profundamente sobre este livro poético, ele contou que seu pai sofreu severas perseguições e opressão na época do nazismo, por defender os judeus. Sua dor e silêncio eram brutais, e viveu assim por alguns anos. Durante este período de dor, ele abria quieta e silenciosamente o livro de Salmos e ficava horas lendo e meditando. O livro de Salmos possui 64 cânticos de lamento. Muita dor, questionamento e desabafo surgem nestes salmos, quando os escritores discorrem sobre suas dores, perplexidades e questões teológicas. O Dr. Bosma concluiu este testemunho, visivelmente emocionado, dizendo que o livro de Salmos havia libertado o seu pai, da dor e tristeza que o consumia.

Por isso, quando enfrentar momentos de angústia e tédio, busque o alívio primeiramente na Palavra de Deus, pois ela sempre será uma inesgotável fonte de sabedoria, graça e vida:

Nunca me esquecerei dos teus preceitos,

visto que por eles me tens dado vida”