terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A vida não pode acabar assim


Bill Hybels, conhecido conferencista cristão participava recentemente participou de um funeral que ele considerou um dos mais difíceis momentos de sua vida. O melhor amigo de seu filho, de apenas 20 anos de idade, sofreu um acidente de carro e veio a óbito. Embora os pais do garoto não fossem da sua comunidade, ele conhecia a família e decidiu ficar ao lado deles, solidário à dor que sofriam, e também triste por ver uma vida sendo interrompida de forma tão abrupta.

No funeral, a tônica foi a ausência de qualquer esperança. Até mesmo o oficiante do funeral terminou o ato de forma desoladora. “Pois foste formado do pó, e ao pó tornarás”. A vida parecia ser apenas um chiste, algo lacônico e bizarro. O pai daquele moço veio na sua direção, abraçou-o fortemente e disse em voz alta: “Pastor, a vida não pode acabar assim” e pediu para que orasse por eles. Então ele foi à frente e disse: “Hoje estamos nos despedindo do Clark, o caminho que ele fez, é o caminho que todos faremos. Estamos nos despedindo dele mais cedo do que queríamos ou esperávamos. Mas não será para sempre, todos nós um dia poderemos nos encontrar com o Clark. A vida dele não acaba num túmulo frio, mas nos braços de um Pai amoroso”.

Tenho pensado na frase deste pai: “A vida não pode acabar assim”.

Muitas vezes olhamos para a vida e nos resignamos, aceitamos o fracasso de forma passiva, nos rendemos ao desespero sem luta, nos entregamos sem esboçar reação, nem sequer oramos para que as coisas mudem e sejam diferentes. Vemos casamentos acabando e desistimos com facilidade; nossos filhos se perdendo e nos resignamos; a corrupção e a imoralidade se tornando banais, o desrespeito à vida parte do cotidiano. Nos tornamos apáticos, as agressões se sucedem e deixamos para lá de forma indiferente; não nos desafiamos para um engajamento e nem acreditamos que as coisas melhorem e mudem o rumo, achamos que pó e cinzas são de fato o destino final – somos tomados pelo pessimismo e falta de fé e caminhamos para o abismo sem nos incomodarmos. No entanto, as coisas não precisam acabar desta forma.

Existe uma antiga oração que diz: “Senhor, dá-me forças para mudar as coisas que precisam ser mudadas; paciência para suportar aquelas que não podem ser mudadas; e sabedoria para discernir entre elas”.

Obviamente que nos misteriosos e enigmáticos planos de Deus, há realidades que não podem ser mudadas, que não dependem de nosso esforço ou garra, da luta ou perseverança, mas existem outras, que requerem de nós um pouco de vergonha e brilho nos olhos, que demandam uma resposta de coragem e dependem de ousadia e tenacidade. Precisamos enfrentá-las, e não apenas receber o diagnóstico final e aquietarmos. Muitas questões exigem ação e reação, não podemos simplesmente aceitar e calar.

Mesmo diante de fatos que não podem ser mudados, precisamos ter esperança. A morte é uma delas. Morte não é ponto final para aqueles que crêem, mas passagem de uma vida para outra. A vida vai além da realidade transitória de nossa fugaz existência. O ladrão ao lado de Cristo na cruz, vendo o fim se aproximar, conseguiu fazer uma ousada oração de esperança: “Senhor, lembra-te de mim quando vieres no teu reino”, e Jesus lhe deu uma resposta encorajadora: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.

A vida não pode ser um eterno réquiem, nem pode se resumir à marcha fúnebre. Precisamos trazer à memória aquilo que pode nos dar esperança e prosseguir. A vida não pode acabar assim...

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Hábitos que estrangulam

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Na selva amazônica existe um cipó chamado pelos espanhóis  de “el matador”, o que realmente faz juz ao nome que recebe. Ele nasce na raiz das árvores e inicialmente não parece ser uma ameaça, mas à medida que vai crescendo, enrola-se no tronco indo até o topo e quando o alcança, dá uma linda flor, como que coroando sua conquista e a árvore é sufocada até sua eventual morte.
Muitos hábitos agem da mesma forma. Surgem com aparência inocente, mas vai assumindo o controle, sufocando a espontaneidade e alegria e aprisionando. É uma luxúria aqui, um desequilíbrio financeiro acolá, uma brincadeira maliciosa cá, uma rodada divertida de jogos e apostas com dinheiro, uma pequena indiscrição e quando percebemos estamos envolvidos em destrutivos vícios que pareciam tão inofensivos e que agora aprisionam.
Na verdade, nunca encontraremos uma pessoa na ruína que não tenha começado com pequenas concessões e nunca acharemos alguém que, propositalmente, desenvolveu hábitos para se destruir.
Uma pessoa não entra em aventuras amorosas fora do casamento pensando que isto vai destruir sua família e causar muitas dores; ninguém se envolve em apostas de azar sabendo que vai comprometer seus recursos financeiros; o drogado não começa sua longa e dolorida via crucis de antemão projetando dor e angústia; ninguém deseja se tornar viciado em pornografia ao começar seus pequenos clicks; a pessoa que abusa de sua ira e descontrole emocional, não imagina quanto sofrimento psicológico vai causar aos seus filhos e quanto prejuízo no seu trabalho, nem o alcoólatra se envereda por esta tortuosa via buscando uma existência de desgraça.
Hábitos e atitudes, assim como o “el matador”, crescem gradualmente. O estrangulamento não acontece de uma hora para outra, existe um processo até o desfecho. Os movimentos são lentos e quase nunca temos consciência da cilada em que estamos até que os efeitos deletérios de nossas decisões sejam manifestos.
A ajuda de Deus para quem se sente estrangulado e preso em tais armadilhas é crucial. Ore a Deus para ter a percepção destes riscos ao redor e saber se defender e esquivar deles, afinal, “Os pecados são mortais, não porque Deus matar, mas porque eu morro deles. Deus proibiu os sete pecados não por exigência de perfeição, mas apenas por piedade de nós” (Clarice Lispector).
George R. R. Martin, autor da conhecida série Guerra dos tronos afirmou: “Nem mesmo o cavaleiro mais leal, pode proteger um rei contra si mesmo... Se um homem pinta um alvo no peito, deve esperar que mais cedo ou mais tarde, alguém lhe envie uma seta”.


Por que esperar tanto?



Três dias antes do Dia das mães, um homem idoso telefonou para seu filho que morava numa cidade distante dizendo: “Eu odeio estragar o seu dia, mas eu preciso lhe dizer que sua mãe e eu estamos divorciando – após quarenta e cinco anos de miséria no nosso casamento, acho que foi mais que suficiente”.
-“Pai, do que o senhor está falando?” Seu filho lhe perguntou, alarmado com a notícia.
-“A verdade meu filho, é que não conseguimos mais sequer ver a cara do outro”, disse o pai. “Nós adoecemos. Sinto muito falar sobre isto, mas vou ligar também para sua irmã e comunicá-la”.
Tão logo o pai ligou para a filha, que vivia também em outra cidade, ela explodiu:
-“Eu não admito que isto esteja acontecendo, eu vou pessoalmente ai para conversar sobre este assunto. Não faça nada até eu chegar, vou ligar para meu irmão e iremos amanhã para estar com vocês. Não faça nada até a gente chegar”.
Após desligar o telefone, o velho pai voltou-se para sua esposa e disse: “-Eles estão vindo para passar o dia das mães conosco e estão pagando suas passagens. Agora preciso pensar o que preciso fazer para que eles venham também no Natal”.
Ao entrar em contacto com esta estória, fiquei me perguntando porque precisamos permitir que as coisas cheguem ao extremo para que possamos fazer alguma demonstração de afeto? Porque nossos casamentos precisam chegar ao limite para que saiamos desesperados para demonstrar que amamos? Porque nossos pais precisam adoecer para priorizarmos tempo para estar com eles? Porque nossos filhos precisam se envolver com drogas e com comportamentos estranhos e pecaminosos para que comecemos a dar atenção às suas necessidades?

Um líder de nossa igreja em Brasília tinha três filhas. Eles moravam a 23 Km da igreja, e no sábado, com atividades de crianças, pré-adolescentes e adolescentes em horários distintos,  chegava a vir três vezes para trazer e levar as filhas. Quando eu perguntei se não era cansativo demais, ele me respondeu que cansativo seria buscar filha drogada e na balada, às três horas da manhã, participando de festas e bailes que ninguém sabe o que acontece lá dentro, e que ele trazia prazerosamente suas filhas à igreja, para que não tivesse que buscá-las em ambientes pesados na sua mocidade.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O que dirige a sua vida?




Rick Warren, autor do best-seller “Vida com propósito”, com mais de 20 milhões de exemplares vendidos, afirma que existem centenas de circunstâncias, valores e emoções que podem dirigir o ser humano, e as mais comuns são:




Culpa 
Muitos passam a vida inteira fugindo de remorsos e ocultando a vergonha, manipulados por lembranças doloridas como um fugitivo errante, e sabotando seu próprio sucesso.

Rancor e raiva
Alguns se apegam a mágoas e jamais conseguem superá-las, se fecham e interiorizam ressentimentos ou explodem em iras violentas. No entanto, aqueles que o magoaram não podem mais fazê-lo, a menos que se agarrem à dor através do rancor.

Medo
São vidas norteadas por ameaças, sensações de fracasso,  fobias, vivendo inseguras todo tempo: Medo de amar, se doar, se entregar, de viver, porque as ameaças pairam constantemente sobre suas mentes. Contudo, medo é a auto-imposição de um cárcere.

Materialismo
O desejo de adquirir, ter e amontoar, se torna o único objetivo da vida, fazendo-os acreditar que ter mais o tornará feliz, importante e protegido.
Necessidade de aprovação – Não conseguem dizer não, tem uma enorme necessidade patológica de aprovação e reputação, possuem auto-estima baixa que lhes obriga a se tornarem escravos da opinião dos outros.

Podemos acrescentar ainda outros pontos como a ansiedade. O futuro parece extremamente ameaçador  e perigoso, o amanhã assusta e apavora, levando-as a viverem sempre pré-ocupadas, antecipando o pior, imaginando o que pode sair de errado. Trabalho: orientados pela performance, resultados, tarefas, vivendo com agendas lotadas e encontrando prazer em falar disto. São viciadas em trabalhar.

E quanto a você? O que dirige sua vida?

A Bíblia diz que “para todo propósito há tempo e modo”. O grande desafio é encontrar propósito. Se você o possui, vai conseguir encontrar o tempo e a forma de fazer aquilo que é necessário fazer. “O homem sem propósitos é como um barco sem leme – um vira-lata, um nada, um ninguém” (Thomas Carlyle).

Certo rapaz era constantemente convidado a visitar uma família numa cidade vizinha, e como tinha a agenda muito cheia, nunca encontrava tempo. Um dia, porém, conheceu uma garota daquela cidade, e, apesar da agenda cheia, passou a ir semanalmente àquela cidade. O que mudou? Agora ele tinha um propósito, e com isto apareceu tempo e a forma de viabilizar as viagens.
Tempo e dinheiro revelam o que dirige a nossa vida.

Jesus afirmou que “Onde estiver o tesouro do homem, ali estará o seu coração”.  O coração segue os valores estabelecidos. O problema é que o coração facilmente dá valor àquilo que não é realmente importante. E quando isto acontece, acaba colocando bens, sucesso, planos e sonhos nesta direção.

O que realmente tem sido importante para sua vida? Não se esqueça que os homens se parecem com seus deuses. O que norteia a sua vida passa a controlar tempo, recursos e a vida. Se o Deus único e verdadeiro é o que controla sua história e a dirige, certamente ele vai ocupar mais e mais sua agenda e prioridades.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Pessimismo




Um interessante texto cujo título é “Não deixe que lhe tirem até seu cachorro quente”, foi publicado em 24 de Fevereiro de 1958, em um anúncio da Quaker State Metais Co., e no Brasil foi divulgado pela agência ELLCE, em Novembro de 1990. Ele dizia o seguinte:

“Um homem vivia na beira da estrada e vendia cachorros-quentes. Não tinha rádio, e nem acesso a jornais, mas, em compensação, vendia bons sanduíches. Colocou cartazes anunciando a mercadoria, e as pessoas paravam e compravam seu produto. Com isso, aumentou os pedidos de pão e salsichas, começou a fazer melhorias, contratou pessoas, investiu em maquinários, e acabou construindo uma boa clientela. Seu negócio estava prosperando.

Seu filho, que estava estudando na universidade, veio de férias visitá-lo, e o pai lhe contou como o negócio ia bem, como estava entrando no mercado, falou de seus projetos e investimentos para aumentar a capacidade de servir melhor, com mais qualidade e rapidez.

Seu filho retrucou: - “Pai, o senhor não tem ouvido rádio? Não tem lido jornais? Há uma crise muito séria no país e a situação internacional é perigosa! O senhor corre muito risco e pode perder todo seu investimento por causa do aumento do dólar e das variações das commodities, aumento do desemprego, inflação, o governo e mercado recessivo.

Ele nunca havia falar sobre estas coisas, mas ponderou: -“Meu filho estuda na universidade! Ouve radio e lê jornais, portanto deve saber o que está dizendo!” Assim, cancelou o pedido de maquinários, não contratou e não fez as ampliações e melhorias necessárias, reduziu os pedidos de pão e salsichas e as vendas começaram a cair do dia para a noite.

Quando alguém questionou sua estratégia, ele disse seguro: “Meu filho tinha razão, a crise é muito séria! Por pouco não entrei na contramão da história”. 
Isto nos leva a pensar como uma atitude desanimadora e o pessimismo podem nos destruir.

No livro de Neemias, há o relato de um administrador que se sente chamado a reconstruir os muros de Jerusalém. Quando ali chegou, só encontrou escombros, oposição e profetas do desespero, e apesar de todas as dificuldades, conseguiu levantar os muros e reparar as portas daquela cidade.
Existe muita gente desanimada, culpando as últimas eleições pelo fracasso futuro do Brasil. Certamente muita coisa precisa ser mudada, mas acredito que o maior desastre de nossa economia pode vir com a murmuração, o mau humor e o pessimismo. Estes agentes são capazes de retirar o entusiasmo, cuja palavra etimologicamente é a junção de dois termos, En + Theos, que significa Deus em nós”. 

Em momentos de desânimo, vale lembrar que os EUA, se transformaram na grande potência mundial depois da Grande Depressão e da II Guerra; O Japão adquiriu respeito no mundo inteiro, depois de ter sido destroçado por uma bomba atômica e a Coréia do Sul se tornou uma potência após uma guerra civil que a dividiu ao meio.


Como sabemos, crises representam risco, mas são capazes de abrir grandes oportunidades. Pessoas e empresas que passam por momentos difíceis, sempre se ajustam melhor ao surgirem as novas oportunidades. 

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Sobre o Amanhã


Num sábado à tarde, minha esposa e estávamos livres e resolvemos pegar o carro e sair sem destino certo. Este é um programa que gostamos de fazer. Colocamos uma boa música, andamos por estradas e caminhos que eventualmente não fazem parte dos nossos roteiros habituais, encontramos um bom local para um lanche, e naquele sábado queríamos pegar a estrada em direção à Nerópolis, sem muita agenda, despreocupadamente. 

No caminho nos deparamos com um congestionamento desproposital, e na medida em que nos aproximamos do local, ficamos horrorizados com a cena de uma pessoa vitimada pelo trânsito. Nossas emoções ficaram visivelmente perturbadas, afinal a concretude da dor e da tragédia estava diante de nós. A vida é o maior dom de Deus e agora estávamos frente a frente com a morte.
Nossas mentes começaram a especular sobre a família, história, sonhos, aspirações e planos daquela pessoa... O tranqüilo sábado fora interrompido para questões filosóficas e espirituais. O que parecia um momento de lazer e despreocupação é agora tomado pela dor e calamidade.

As palavras de provérbios vieram à mente: “Não te glories do dia de amanhã, porque não sabes o que trará à luz” (Pv 27.1). O apóstolo Tiago afirma: “Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tg 4.13,14).

Pense sobre estas palavras: Vós não sabeis o que sucederá amanhã. O homem tem feito conquistas impressionantes – Dividir o átomo, construir máquinas fantásticas, transplantar órgãos, criar programas de computador, explorar o universo, mas ele não consegue antecipar o amanhã. Ele não sabe o que o virá. O amanhã continua sendo um grande desafio e mistério.

O amanhã pode trazer grandes surpresas. Portas inesperadas se abrindo, grandes oportunidades chegando, um bebê nascendo, uma promoção aguardada, um bom negócio, o encontro com alguém que pode mudar sua vida, ou um diagnóstico inesperado, enfermidades e tragédias. Você se recorda da avalanche sobre Jó? Estamos preparados?

Naturalmente não! Todos estes elementos inesperados nos surpreendem. Ninguém está suficientemente preparado para estas coisas boas ou ruins. Não é sem razão que muitos vivem absolutamente absorvidos pelo amanhã, desenvolvendo fobias e ansiedade, dominados pela preocupação, que nada mais é que uma pré-ocupação, isto é, um sofrimento antes da hora.


Quando o medo sobre o futuro começa a tomar conta de meu coração, gosto de lembrar de um princípio: “Eu não sei o que me aguarda no futuro, mas sei quem me aguarda no futuro”. É bom saber que não estou nas mãos de um universo cego, nem de forças despropositais do acaso e das coincidências, mas de um Deus amoroso e sábio, que tem todas as coisas debaixo do seu controle. 

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Pornografia Reversa


Atualmente existem milhões de pessoas viciadas em pornografia. O faturamento desta indústria chega a bilhões de dólares. Um dos problemas da pornografia é que ela vicia, causa dependência, e como uma droga, vai exigindo doses cada vez mais fortes. Muitas pessoas se encontram hoje dependentes, com dificuldade para crescer em maturidade ou mesmo sair de casa, por causa desta viciante droga. Com o advento da internet, o problema se agravou: basta um click despretencioso ou intencional no computador do escritório ou em casa para acessar sites cada vez mais ousados, isto sem falar da deep web, que usa aplicativos mais sofisticados e que são ainda mais bizarros.

Atualmente nos EUA, existem grupos organizados por paróquias e igrejas para ajudar pessoas com este tipo de vício. Muitas pessoas estão desesperadas para sair deste emaranhado e não está conseguindo. Um dos programas é o de “viciados em pornografia anônimos” e muitos homens jovens e adultos, até mesmo líderes religiosos, buscam estes profissionais para encontrar ajuda nesta área.

No momento, outro fato que começa a ser estudado tem sido a chamada “pornografia reversa”, termo criado por Rick Thomas, que está estudando o fenômeno de mulheres que são obcecadas não por olhar, consumir e desejar imagens, mas que obcecadas por provocar ser olhada, consumida e desejada. São mulheres, casadas ou não, que tem encontrado prazer em estimular olhares lascivos e chamar a atenção sobre si de forma patológica. Elas desejam capturar o olhar dos homens e se vestirão, farão selfies, com o fim de serem desejadas e cobiçadas.

Mulheres assim, afirma Thomas “não estão ativamente consumindo pornografia, mas fazem isto de forma reversa. Podem até condenar pessoas que consomem pornografia, mas sua dependência é mais sutil. Vestem-se provocativamente para atrair e seduzir, ainda que não necessariamente queiram ser possuídas. Seu desejo é estimular reações nos outros”. Atitudes como estas tem raízes na insegurança quanto à imagem e valor pessoal, por isto estão sempre desejando ou competindo pela admiração masculina

Na pornografia reversa, a mulher torna-se obcecada por capturar o olhar do homem e provocar inveja nas outras mulheres. Esta droga enganosa é atraente para a mulher insegura. Ela sente uma sensação de poder quando percebe sendo desejada e observada. É certo que homens lascivos tendem a olhar para qualquer mulher e cobiçá-la, mas quando a mulher faz isto intencionalmente, seu desejo e motivações podem ser igualmente doentios. Trata-se de um desejo profundo de provocar. Esta é a pornografia reversa. Ela não olha, mas quer ser olhada; não cobiça, mas deseja ser cobiçada; não consome, mas deseja ser consumida.

Todo tipo de insegurança é escravizante. Para pessoas assim, ficar mais bonita, seduzir e ser desejada é como o crack para um viciado, elas encontram-se no cativeiro, cairam na armadilha da beleza, e procurarão, inutilmente, superar seu problema através do narcisismo lascivo. 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Sociedade de Ostentação


Dezesseis jovens de classe média em Brasília foram presos numa operação policial deflagrada no dia 29 de Setembro, e o que chamou a atenção foi o fato que eles roubavam com o propósito de ostentar, não queriam “ficar ricos”, mas gastar, demonstrar luxo e riqueza, ter diversões caras.

O estilo musical denominado “funk ostentação”, tornou-se um verdadeiro fenômeno nacional, idolatrado por adolescentes da periferia. Os heróis deste movimento são garotos que exaltam a riqueza e o luxo. Eles deixaram de querer uma bicicleta, bola e patins e aspiram carros importados, baladas e camarotes. Trata-se de uma geração obcecada pelo consumo, buscando aceitação social.

Estes jovens representam o lado mais trágico da cultura hedonista e capitalista, vangloriam-se das condições materiais que conquistam e extrapolam a utilização de símbolos do poder na sua nova posição. Eles massificam a ideologia do mercado e a lógica do capital, fazendo crer que realização pessoal e felicidade estão relacionadas às conquistas financeiras. A regra é: Consumo, logo existo!

Zigmunt Bauman, filosofo polonês chama esta tendência de “auto- definição do indivíduo líquido moderno”. Numa sociedade de consumo, a identidade a ser mantida é uma fonte inesgotável de capital, com jóias caras e roupas de grife. “É obsceno, mas é bom ter algo que poucos têm”. (Jung Sung, A espiritualidade da cultura de consumo).

Consumismo é algo controvertido. Necessidades e desejos podem ser facilmente confundidos. Muitas vezes adquire-se um produto por mero capricho, para obter certo status, ou até mesmo por uma compulsão irrefreável à compra. Certa mulher comprou um sapato em São Paulo, com sentimento de que algo estava estranho, e ao chegar em casa, descobriu que já tinha comprado aquele mesmo sapato anteriormente, mas não se lembrava porque tinha mais de 200 pares.

Consumismo tem uma relação de concorrência, e o valor não está naquilo que você precisa ou quer, mas naquilo que sabemos que os outros querem ter. Isto gera um sentimento de inveja no outro. Popularmente se diz: “Mulher não se veste para os homens, mas para provocar as outras mulheres”. O sentimento de rivalidade estimula a fazer qualquer coisa para ter o que o outro tem, ou para ter o que o outro não tem. O marketing tenta fazer exatamente isto: Criar um sentimento de que você não tem valor sem determinado produto.
Esta mensagem faz sentido nos corações vazios e no desejo de sermos reconhecidos pelos outros, dando falsa impressão de que assim recuperaremos a auto estima, e preencheremos o senso de vacuidade e falta de propósito em nossa vida. A sociedade de ostentação confunde porque faz crer que o importante não é termos necessidades vitais satisfeitas, mas é necessário satisfazer desejos, comprando coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não gostamos.


Dois princípios espirituais são importantes. Jesus afirmou: “A vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui”. Isto é tão óbvio e direto, mas lamentavelmente não colocamos em prática. Segundo, “Uma vida consagrada traz lucro, mas esse lucro é a rica simplicidade de ser você mesmo na presença de Deus” (1 Tm 6.6- A Mensagem). Sermos conduzidos pela ostentação é uma grande armadilha. Gastar compulsivamente tem o mesmo princípio destrutivo do usuário de drogas. Você vai precisar de doses cada vez mais fortes – ao mesmo tempo em que ficará cada vez menos satisfeito. 

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A Angústia da Liberdade


Os judeus ortodoxos possuem um estilo de vida muito simples e ao mesmo tempo complexo demais para o sistema e pensamento ocidental. Apesar de serem muito divididos em disputas e divergências internas, desde cedo os meninos e meninas são separados nas escolas, recebendo educação diferenciada.
Na comunidade de Jerusalém, 75% dos homens não trabalham, e o sustento é providenciado pelo financiamento do governo e pelas esposas (eu gostei muito disto, mas minha esposa não aprovou...) Na sua maioria dedicam-se a estudar as leis hebraicas, principalmente a Torah (as leis de Moisés), e o Talmude (que são as explicações que os famosos rabinos já deram na história.
Uma família ortodoxa tem, em média, sete filhos, ainda hoje. Não há divórcio entre eles, crimes são raros, não servem ao exército israelense nem prestam serviços militares. Vestem-se de forma estranha, com longas roupas e esquisitos cortes de cabelo, vivem de forma espartana, não freqüentam cinemas ou restaurantes, não viajam, não tem TV em casa, computador ou internet.
Ao observarmos o seu comportamento, a reação imediata é a de que tais pessoas não têm vida, pois não possuem lazer e vivem de forma restritiva, mas ao discutir com pessoas eruditas, estudiosos e terapeutas, chegamos à seguinte questão: Como seria viver sem ter que lidar com as preocupações e tensões diárias, sem a ansiedade que nos cerca tão vorazmente hoje em dia? A luta pela sobrevivência, a competitividade do mercado? Como seria viver sem ter que fazer escolhas e sem a angústia da liberdade,?
Uma das grandes angústias modernas é a da decisão, isto implica em viver de forma livre e assumindo as conseqüências das escolhas. Esta é a realidade de viver numa sociedade pluralista, com um emaranhado de opções. Viver sem opções pode não ser o melhor dos mundos, mas a grande fonte de ansiedade atual reside no fato de que somos seres livres. Nossos filhos são constantemente expostos a tais angústias: Que faculdade cursarão? Onde trabalharão? Com quem se casarão? Podem ter sexo ou não antes do casamento? podem divorciar? Que valores espirituais? Tudo isto é reflexo da liberdade, mas é também a raiz de grandes angústias.
Ao mesmo tempo, poder escolher é o caminho da liberdade e da maturidade. Não fazer escolhas e viver numa sociedade uniforme pode não gerar angústia, mas não gera crescimento emocional. Tomar decisões exige julgamento, reflexão, avaliação dos resultados, e tudo isto traz tensão e ansiedade.

O que não conseguimos saber é o que é mais saudável para a saúde e a vida. O que você acha mais salutar: ter uma vida previsível, com todas as variáveis já decididas, ou enfrentar a crise de ser uma metamorfose ambulante? Até que ponto o excesso de liberdade melhora a nossa qualidade de vida, e até que ponto ela nos é prejudicial? Ter algumas regras fixas não nos ajudaria a encontrar mais equilíbrio? Você decide!

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Casamento pode dar certo!



Na semana passada escrevi que “casamento não foi feito para dar certo” e para justificar, enumerei cinco razões: 1. As diferenças latentes entre a alma masculina e feminina; 2. A diferença de gênio e temperamento; 3. O background familiar e histórico; 4. As histórias pessoais de condicionamentos e dores; 5. O egoísmo e narcisismo. Casamento é uma união complexa e possui todos ingredientes para não dar certo.

Neste artigo quero fazer outra afirmação: Casamento pode dar certo! Se você entrar num casamento achando que se ele não der certo vai se separar, é questão de anos, talvez meses, para que você descubra que não deu realmente certo.

Quero me atrever a dar duas sugestões, uma de natureza psicológica, outra espiritual.

Natureza psicológica. 
Entre no casamento, querendo lutar pela sua preservação. Se você se atreve a compartilhar a vida com alguém, seja radical: Invista prá valer! Se entrar pensando que não vai dar não vai durar. Para isto é necessário investir não apenas 50% de seu sonho, mas 100%.
A palavra chave é compromisso. Você vai estranhar o que vou dizer agora, mas o que mantém um casamento não é amor (no sentido de emoção e paixão), mas compromisso. Quando você o assume, isto implica entrar prá valer, decidir lutar, na saúde e na enfermidade, na alegria e na tristeza. Decidir amar e investir, sem suspeita e reservas, não fazer as coisas pela metade. Não é uma barganha ou troca, não se trata de negociação ou vantagem. Você sempre achará que dá mais que o outro, isto é uma conseqüência natural do narcisismo, mas ainda assim continue na entrega. Entre querendo fazer o outro feliz. Casamento não dá certo automaticamente, é necessário querer que ele dê certo!

O segundo aspecto é de natureza espiritual. 
Isto é mais complexo, porque adentramos a dimensão sacral, o universo místico, uma área densa, misteriosa e igualmente importante. O grande segredo é levar Deus para morar em sua casa.

Assim foi o primeiro milagre de Jesus que se deu numa festa de casamento. Sabiam disto? Ele fez tantos milagres impressionantes: Curou cegos, paralíticos, surdos, ressuscitou mortos, mas o primeiro milagre foi numa vila da Galiléia, com cerca de 300 habitantes. Ele foi feito no fundo de casa, escondido de todo mundo, inclusive do mestre de cerimônia. Sabemos que todos os milagres de Jesus possuíam  intencionalidade, havia um motivo presente. O registro bíblico afirma: “Houve um casamento e Jesus também foi convidado” (Jo 2.1-2). Convidados são pessoas apreciadas e consideradas. O casal queria que Jesus estivesse ali, ele não foi à festa como penetra. Era alguém que os donos da festa queriam que estivesse presente.

Casamento não foi feito para dar certo... Nós precisamos fazê-lo dar certo. Mas nem sempre somos capazes de agir de forma correta, precisamos do poder e da graça de Deus. Muitos lares precisam de milagre, de uma intervenção sobrenatural, porque o vinho já acabou, não há mais alegria ou celebração, e o vinho traz textura, paladar, sabor e alegria. Jesus é capaz de trazer um vinho novo. Detalhe importante: O vinho novo é melhor!



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Casamento não foi feito para dar certo!



                                               
Que me perdoem os românticos, mas casamento não foi feito para dar certo...
Stephen Kanitz no seu artigo “o segredo do casamento”, faz uma paródia sobre o casamento dizendo que não dá para viver a vida inteira com a mesma pessoa, ouvindo as mesmas piadas, freqüentando os mesmos lugares, usando as mesmas roupas e perfumes e com os mesmos hábitos. O segredo é “divorciar” desta mulher, mas casar novamente com ela...
A verdade é que casamento não foi feito para dar certo... Nós precisamos fazê-lo dar certo. Deixe-me enumerar alguns pontos que levam o casamento a não dar certo.
Primeiro, questão de Gênero. Homens e mulheres são diferentes. Larry Crabb afirma que devemos celebrar as diferenças, mas as diferenças, na maioria das vezes, são fonte de irritação. Homem é mais racional, dedutivo, lógico e genérico, a mulher, mais intuitiva, visceral, especifica. Mulher nunca vai entender cabeça de homem, nem homem vai entender cabeça de mulher.
Segundo, temperamento.  As pessoas são muito diferentes, na forma como lidam com a vida, como agem e reagem. Dizem que os opostos se atraem, mas no casamento, opostos tendem a se tornar fonte de irritabilidade. Já ouviram falar de incompatibilidade de gênios? É exatamente do que estou falando. Somos incompatíveis! Se quiser usar esta desculpa para o divórcio, ela se aplica a qualquer relacionamento. Ninguém é compatível de gênio. Pense na sua mulher (ou marido). Existe compatibilidade de gênio entre vocês? “incompatibilidade de gênios é uma frase de grande efeito criada por pequenos juristas, para justificar o divórcio” (Paul Tournier).
Terceiro, formação e educação. As pessoas trazem backgrounds culturais e familiares distintos. Uma vem de herança européia, outra latina; uma do catolicismo, outra do protestantismo; uma é grega, outra é troiana; uma é bahiana, outra goiana; aquela tem formação rígida, inflexível, a outra vem de um lar liberal, frouxo. Numa sociedade plural, nossa procedência é geralmente distinta, cultural, religiosa, educacional. Aí resolvemos nos casar. Estão percebendo como é difícil?
Quarto, experiências e histórias – Ao chegarmos no casamento, já temos uma história de vida marcada por traições, enganos, amores, doenças emocionais. Não somos uma “tábua rasa”. Temos o “infinito particular”, já levamos pancadas, batemos, apanhamos. Aprendemos a criar mecanismos de defesa: reação, introjeção, projeção, deslocamentos. Sabemos acusar e defender, atacar e proteger.
Por último, o narcisismo e egocentrismo.  Achamos que o outro tem de nos fazer feliz, e que deve estar ao nosso dispor. Não entendemos que existe uma solidão na alma, que nenhuma outra pessoa pode resolver e culpamos o outro pelo nosso fracasso. A depressão e mau humor que historicamente nos acompanham a vida inteira afloram no casamento com muita força. Nos frustramos nos relacionamentos porque somos auto enamorados. A síndrome de narciso está presente, olhamos no espelho e acreditamos que “não existe ninguém mais belo do que eu”, e ninguém merece maior consideração...
Por isto precisamos considerar que casamento não foi feito para dar certo... ele tem todos os ingredientes necessários para dar errado. Precisamos fazê-lo dar certo.

Isto envolve vontade pessoal e graça de Deus. Disponha a fazer o seu casamento dar certo. Peça graça de Deus para que você seja capaz de lutar para que ele dê certo!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A utopia da Primavera



Vem chegando novamente a primavera, estação das chuvas e das flores. Poucas coisas são tão desejadas por nós que vivemos estes dias secos todos os anos, que vão de Maio a Agosto. As árvores, a grama e toda natureza, também anseiam por esta bendita chuva.

Nesta expectativa da primavera, passando pelas ruas de Anápolis, fico criando sonhos, elaborando utopias, imaginando possibilidades. Nossa cidade é realmente privilegiada pelo clima e povo que possui, mas é historicamente mal cuidada, não apenas pelos poderes públicos, mas pelos seus próprios cidadãos. E no meio destes desajustes, fico criando utopias. Eis algumas delas:

Já imaginaram o Rio das Antas, totalmente urbanizado, com pistas de caminhada nas suas margens, onde as crianças pudessem brincar e as pessoas andassem, sem ter que se deparar com lixos que se amontoam nas suas margens? Fico pensando ainda na margem do riacho que sai do Lago JK, cortando a cidade, se todo ele tivesse gramas e quiosques, tocados pela iniciativa privada, que gerariam impostos para a cidade, lucro para seus comerciantes e lazer para seus cidadãos, ao invés de restos de construção? 

Fico imaginando uma cidade na qual os proprietários dos lotes e casas, teriam a obrigação de construir uma calçada padronizada pela cidade, permitindo que os transeuntes caminhassem em segurança nas suas ruas, sem medo de atropelamento, e que os lotes baldios teriam muros de 80 cm de altura e calçadas, como já existem em várias cidades do interior de Minas Gerais, e que os donos seriam responsáveis pela sua limpeza por força de lei?

O que aconteceria se, nesta utopia, os arquitetos projetassem suas obras, não com grandes muros em frente às casas, mas com grades e modernos vidros que demonstrassem a beleza dos jardins escondidos por detrás de nossas casas?

Chico Buarque, na música “Pedro Pedreiro” descreve a luta diária de um operário carregado de esperança que as coisas possam melhorar, e na sua esperança, aguarda em vão, uma sorte, um norte, um bilhete premiado da loteria, algo maior que o mar, mas sua utopia nunca se concretiza, afinal, “prá que sonhar se dá o desespero de esperar demais?”

Prefiro, então, refletir filosoficamente na utopia como a descreveu Rubem Alves. Utopia é um não-topos, isto é, algo que não possui uma geografia definida, que ainda não é encontrado, e não necessariamente o que não pode acontecer. Profetas, filósofos, artistas, músicos e poetas não negam a realidade bruta da vida, mas desejam imaginar uma nova realidade, ainda não presente, mas que pode ser estabelecida.

Pregadores também falam de novos céus e nova terra, falam de uma vida nova em Cristo, anunciam esperança aos perdidos, consolo aos cansados, restauração aos quebrados, possibilidades no caos. Eles precisam “crer contra a esperança”. A utopia dos céus e das promessas de Deus, me fazem sonhar com esta cidade possível, onde lotes baldios se transformem em jardins, logradouros em lugar de descanso, beiras dos rios em lugar de lazer.
A primavera me desafia à utopia.


Sacralização do profano



No artigo anterior analisamos os riscos da dessacralização do Sagrado, agora queremos considerar o inverso: o risco de sacralizar o profano.

Sacralizar o profano é considerar divino o que não é. É chamar bem de mal, mal de bem; amargo de doce e doce de amargo; fazer da escuridão, luz e da luz, escuridão como advertiu o profeta Isaias. Nada pode ser tão pós-moderno que esta dialética perversa. O relativismo moral e espiritual insiste em ser o que não é, e não ser o que é, desembocando inexoravelmente na perversa síntese hegeliana e malthusiana.

Deus disse a Pedro. “Não consideres impuro aquilo que eu já purifiquei”. Hoje o alerta precisa ser inverso: Não sacralize aquilo que é errado, não encontre nomes bonitos para coisas feias, não transforme o não-natural naquilo que é natural, não confunda Deus com o diabo, nem tente tratar o diabo como Deus.
O marketing tem facilidade para distorcer percepções e valorizar o que é inútil. Transformar conceitos verdadeiros em mentiras é uma prerrogativa luciférica. É assim desde o Éden. “É certo que não morrereis. Deus não está bem intencionado, Ele mente. Ele sabe que, no dia em que comerem do fruto, sereis como ele, conhecedores do bem e do mal. Podem pecar que não há conseqüência”. Satanás engana. Faz parecer bom o que é mal, inverte valores e desvirtua a pureza. Não sacralize atos perversos e nem tente dar uma roupagem divina ao diabo. Não transforme a ética depravada em comportamento amoroso e legítimo.

Não só pessoas seculares fazem isto. Religiosos tem mania e obsessão por esta inversão. Dão caráter santo ao que não é santo. Tentam vender o poder de Deus envasado em invólucros de águas bentas, águas sagradas do Rio Jordão ou lencinhos ungidos de auto denominados apóstolos. Transformam madeiras envelhecidas em relíquias terapêuticas, associam eventos comuns a realidades sobrenaturais, sacralizam locais e estruturas dando um caráter santo àquilo que é essencialmente neutro. Fazem romarias para transformar lugares comuns em templos sagrados e lugares da presença e manifestação de Deus, iludindo e confundindo sinceros, desesperados e ingênuos fiéis com maquiagens e roupagens eclesiásticas.

Atribuir caráter místico e esotérico àquilo que é comum é tão vazio e sem efeito como tentar transformar uma pessoa em monge porque vestiu o hábito. Não adianta atribuir sacralidade na esperança de que Deus aprove o gesto. Arão, irmão de Moisés, pediu ouro das pessoas que vieram do Egito para fazer um bezerro de ouro, e declarou que aquele objeto sagrado agora era divino. Não funcionou. O bezerro de ouro era um ídolo, e Moisés o destruiu ao descer da montanha onde recebeu as tábuas da Lei.

Não se sacraliza o profano. Uma ética profana, uma conduta inadequada, um gesto espiritualizado, ainda que venha numa justificativa filosófica e sofismática não muda a realidade daquilo que é essencialmente mal. Pessoas incautas e ingênuas podem até se render a esta roupagem supostamente divina e reverenciá-la, mas atribuir beleza e sacralidade ao mal, nunca foi sensato.




Dessacralização do Sagrado



É fácil dessacralizar o Sagrado.

Vários personagens na Bíblia fizeram isto. O mais conhecido de todos foi Nadabe e Abiú, sacerdotes que trouxeram fogo estranho diante de Deus e por isto morreram. Eles brincaram ou menosprezaram a seriedade do ato que realizavam, estavam diante do Deus Todo-Poderoso, mas não levaram a sério seu oficio. Profanaram elementos sagrados.

Caim é outro personagem cuja história podemos relembrar. Ele e seu irmão Abel saíram para oferecer um sacrifício a Yahweh, era desta forma que prestavam cultos no Antigo Testamento, mas o coração dele estava cheio de ira, e enciumado do irmão, participou do ato religioso, mas ao sair dali, convidou Abel para ir ao campo onde o matou. Estava na igreja, mas seu coração estava com ódio e raiva. Seu culto não valeu nada e ele não teve qualquer escrúpulo em arquitetar um plano de matar o irmão, estando ainda no solene momento de adoração.

Um antigo professor nos advertia como estudantes de teologia: “Tome cuidado para não dessacralizar o Sagrado”. Hoje entendo melhor o que ele nos falou naqueles dias. Podemos participar de um culto ou missa com motivações ímpias e perversas; podemos ler a Bíblia não para aprender dela, mas para questioná-la; podemos transformar nossa espiritualidade em instrumento de dominação e abuso, e nos tornarmos religiosos cruéis justificando atitudes em nome de Deus, usando a religião e a fé como instrumento de manipulação, e assim, o Sagrado perde o seu efeito em nós.

Podemos zombar da fé, das coisas de Deus, dos elementos sagrados, mas podemos ainda, ter aparência de sacralidade, como lobos em pele de ovelhas. A espiritualidade se torna uma camuflagem da malícia. Transformamos Deus em álibi da pouca vergonha, da imoralidade e da preguiça intelectual e/ou moral, justificamos atos em nome de Deus, e a divindade se transforma em subterfúgio de atitudes insanas e perversas.

Quem assistiu seriados como “Os Bórgias” ou “Os pilares da terra”, deve ter se escandalizado e revoltado com as manipulações de homens religiosos. Não é sem razão que muitos se rebelam contra Deus. Muito do nosso ateísmo está ligado, não a Deus, propriamente, mas às representações de divindades que encontramos. São pessoas que deveriam ser sensatas no ofício mas que apenas fazem mimetismos de sacralidade. Deus se torna um simulacro, uma representação. O Sagrado perde o efeito. Dessacraliza-se o Sagrado!

Jesus criticou muitos fariseus com tais atitudes. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para o justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo! Ai de vós escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!” (Mt 23.14,15). Este é um discurso duro.

Não esvazie as coisas sagradas do coração. Nunca perca a capacidade de ter “assombro” e estar maravilhado diante das coisas sobrenaturais. Não considere profano aquilo que é Sagrado. O falso não anula o verdadeiro.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Os intocáveis



Khaled Hosseini, romancista e médico afegão, em seu livro “Caçador de pipas”, fala dos horrores vividos pelo seu país, Afeganistão, regido pelos Talibãs, um grupo de fanáticos religiosos de extrema direita, que impunha lei marcial, e se considerava além de qualquer julgamento moral ou legal, pois se auto-intitulavam “os guardiões da lei e da moralidade”. Com medo de perder a própria vida, mesmo diante dos flagrantes abusos morais, pedofilia, corrupção e julgamentos de exceção, ninguém podia falar nada.

Em Brasília, são famosas as “carteiradas”, de líderes políticos ou magistrados, do tipo “você sabe com quem está falando?”, cujo objetivo claro é o de constranger policias que procuram manter a ordem do trânsito ou postura em lugares públicos. Mesmo pessoas ligadas a embaixadas, portanto vindos de outros países dominados por sistemas autoritários, chegavam ao extremo de se julgar além do bem e do mal, e acreditar, de fato, que não precisavam se sujeitar à lei. São os intocáveis!

Em Anápolis, manifestações de grupos minoritários parecem estar procedendo da mesma forma. Ao falar deste tema, precisamos lembrar que não devemos julgar o todo pelas partes, Na última passeata gay, um rapaz ligado ao movimento, resolveu que tinha o direito de andar nu, sem qualquer constrangimento, pelas ruas da cidade. No último sábado, dois rapazes se julgaram no direito de trocar caricias, um sobre o outro, no Parque Ipiranga, beijando-se, talvez para demonstrar que tem direito de se expressar, sem considerar que estavam num local público. Apesar do constrangimento generalizado, todos temiam dizer qualquer coisa, com medo de serem acusados de homofobia. São pessoas que se julgam intocáveis.

Religiosos, políticos, ricos e pobres, indígenas ou qualquer outro grupo não pode estar acima da lei. A justiça não isenta nem mesmo aqueles que aplicam a lei: policiais, fiscais, inspetores, promotores, juízes, padres e pastores, adolescentes. Todos estão debaixo do mesmo código de postura e bom senso. Afinal, prudência e caldo de galinha, discrição e bom senso, nunca fizeram mal a ninguém.


“A lei abre os olhos, a lei tem pudor, e inspeta seu próprio inspetor” (Chico Buarque). Não é o rei que é a lei, é a lei que é o rei (Knox). A justiça é auto-aplicável e precisa ser assim exercida. Qualquer grupo que decida radicalizar suas posturas e ultrapassar a fronteira do bem comum e da civilidade, deve ser enquadrado. Isto se aplica a heterossexuais ou homossexuais. Se um rapaz e uma moça querem ter carícias intimas, precisam encontrar lugar apropriado para a intimidade. Que isto fique bem claro!

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Medo da liberdade





Na semana passada o trágico caso Suzane Von Richthofen teve mais um dramático lance. Após ser beneficiada pela progressão ao semi-aberto, por ter cumprido 1/3 de sua pena, e por ter bom comportamento, ela disse que não queria deixar a Penitenciária Feminina 1 de Tremembé (SP), onde cumpre pena de 39 anos e 6 meses, em regime fechado, pelo assassinato dos pais, no ano de 2002.
Em carta enviada à direção do presídio, Suzane disse que pretende esperar a instalação de uma ala de semi-aberto no local, o que só deve ocorrer em seis meses, e que é sua intenção continuar trabalhando na Funap, pois necessita da remissão de pena (de um dia de pena para cada dois trabalhados) e do salário das atividades.
Diante disto tudo, fica a pergunta: O que, realmente, a levou a rejeitar o beneficio que lhe daria certa liberdade?
Várias razões podem estar envolvidas, desde uma estratégia legal planejada pelo advogado, até motivos emocionais.
Suzane pode ter recusado a sair com medo de revanche ou vingança, temendo represálias familiares ou sociais. Pode ter se recusado ainda, porque depois de 12 anos na cadeia, sente-se insegura e sem o treinamento adequado para lutar pelo seu salário fora da cela, ter que trabalhar e garantir sua própria sobrevivência, ainda mais tendo que superar o enorme estigma de ter sido cúmplice no assassinato de seus próprios pais.
Existe ainda outra possibilidade. Suzane pode estar com medo da liberdade em si. No filme, “O sonho da liberdade”, estrelado por Morgan Freeman, um dos presos se recusa a sair da prisão depois de cumprir a pena. Ele declara que não conseguiria mais viver do lado de fora pois estava bem adaptado à prisão, e por já ter se tornado “vítima da instituição, não queria a liberdade que lhe era oferecida. Ser livre era mais angustiante que viver como preso o resto de sua vida.
Nem sempre as pessoas querem ou sabem lidar com a liberdade, alguns de fato a temem, encontram dificuldade em serem pessoas livres. A liberdade torna-se ameaçadora. Por isto preferem a prisão e se submetem aos seus algozes. É muito comum encontrar prisioneiros das drogas, de sistemas religiosos escravizantes, de governos totalitários e de entidades espirituais que se sentem ameaçados quando pensam em se libertar. Acham que não podem viver sem esta estrutura de poder e tirania.
Por isto é bom considerar que existe um tipo de prisão muito mais sério que uma cadeia. Ela encarcera psicologicamente as pessoas, deixando-a submissas e indulgentes aos abusadores, não são capazes de esboçar qualquer reação. Um caso extremo é a Síndrome de Estocolmo, no qual pessoas seqüestradas se apaixonam por seus algozes.
Na sociedade moderna é possível encontrar mulheres abusadas por maridos inescrupulosos, filhas e filhos tiranizados que sofrem abusos e que não conseguem romper os grilhões Alguns dependentes das drogas, pornografia e do álcool, não conseguem imaginar como seria viver livre, porque a possibilidade da liberdade, em si, já é uma tortura.
Outros optam pelo auto-encarceramento, por causa da culpa. É um mecanismo de auto punição. Sentem-se culpadas e incapazes de viverem em liberdade. São almas cativas de seus exatores e tiranos, aprisionadas pela culpa.

Esta certamente é uma das vertentes possíveis da afirmação que Jesus fez aos judeus escravizados pela sua própria religiosidade: “Examinais as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna, e fazeis bem, porque elas testificam de mim, contudo, não quereis vir a mim para terdes vida”. Eles recusavam a vida que Cristo lhes prometia. Ter acesso à liberdade, nem sempre é suficiente para nos tirar da prisão.