segunda-feira, 21 de março de 2016

Que Páscoa???


Um dos feriados mais conhecidos do calendário é a Páscoa, contudo, existe enorme confusão sobre o seu significado. Para começar existem diferentes conceitos e imagens sobrepondo à ideia original da páscoa. Existe o ovo de chocolate, uma “obrigação” agregada às tarefas. Nossas crianças esperam que lhe demos um ovo, por menor que seja, e muitos se sentem desconfortáveis se não presenteiam pessoas amadas com esta guloseima.
Depois existe a confusão do coelho botando ovo, esta confusão se expressa de forma clara neste pequeno diálogo de um filho com o pai sobre a páscoa:
“-Papai, o que é Páscoa?
-Ora, Páscoa é ... bem ... é uma festa religiosa!
-Igual Natal?
-É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
-Ressurreição?
-É, ressurreição. Marta, vem cá!
-Sim?
-Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
-Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
-Mais ou menos ... Mamãe, Jesus era um coelho?
(...)
-Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
-Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
-Coelho bota ovo?
-Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
-Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
-Era, era melhor, ou então urubu”. 

Veja como é fácil fazer confusão. Hernandes Dias Lopes afirma: “O coelho é um intruso que nada tem a ver com a festa da páscoa. Esta festa é a festa do Cordeiro, do Cordeiro de Deus. Ele sim, deve ser o centro, o conteúdo, a atração e a razão de ser desta festividade”
Na Bíblia lemos: “Cristo, nosso cordeiro Pascal, foi imolado” (1 Co 5.17). Há uma frase equivalente usada em muitas igrejas: “Este é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
Entender o papel de Cristo e sua centralidade na Páscoa, faz todo sentido na compreensão da Páscoa. Afinal, no meio de tanta confusão, e na disputa entre o coelho e o Cordeiro, é fácil perdermos a compreensão central da mensagem da Páscoa.
O sangue de Cristo remove a culpa, o pecado e tira a condenação. O apóstolo João afirma que “O sangue de Jesus, seu filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.9). Nossa bondade, méritos, justiça pessoal, moral, realizações pessoais ou currículo, são incapazes de nos recomendar diante de Deus. Sem a obra redentora e eficaz do Cordeiro, somos incapazes de nos apresentar e manter de pé diante de Deus.


Feliz Páscoa para todos! 

A compulsão ao consumo



Uma característica desta geração é sua obsessão em consumir. Há uma certa voracidade doentia e neurótica, no sentido mais psicanalítico possível, que tem transformado a experiência de viver em algo complexo. Perdemos a simplicidade e a leveza. A compulsão ao consumo traz distúrbios e dores.

Celso foi aos EUA e comprou uma bíblia eletrônica Franklin, cujo valor de mercado era U$ 199,00. Dias depois me procurou falando do que havia feito: comprara no impulso, a bíblia não possuía texto em português e ele não sabia falar inglês. Era uma compra inútil. Achara bonito e comprara algo desnecessário para sua vida.

Nívea me procurou preocupada porque suas finanças não iam bem, no entanto ela não conseguia parar de comprar. Sempre que entrava na sua loja preferida, mesmo sabendo que não podia gastar e que não precisava comprar, saia com a sacola cheia. Encorajei-a a visitar tal loja, fazer um giro em todos os seus setores, e sair de lá sem comprar nada. Disse que isto lhe daria uma sensação de vitória e superação. Naquela semana ela fez o que recomendei. Encontrava-se eufórica quando me encontrou. Não havia comprado nada! Seu marido que estava ao lado comentou de forma irônica: “Não comprou nada, mas já está com uma lista de coisas para comprar quando voltar lá”.

A verdade é que “compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não gostamos”.

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, escreveu um best-seller sobre mentes consumistas, que já vendeu 1.5 milhão de exemplares. Ela afirma que não compramos porque queremos, mas porque somos manipulados pelas estratégias de marketing.

Ela afirma: “Consumir é preciso para viver. Mas viver para consumir pode ser uma das maneiras mais eficazes de transformar a vida em morte existencial (...) Na maioria das vezes o prazer está no ato de comprar, não de usar (...) Se sua vida está paralisada por causa de dívidas, você é um viciado exatamente como um drogado”.

Ana Beatriz adverte para o fato de que somos impelidos a consumir, afinal, aqueles que trabalham neste ramo sabem tudo sobre neurociência e nos levam a pensar que se não adquirirmos determinados produtos, nos sentiremos como se estivéssemos fora do contexto de beleza, poder e prazer.


A grande verdade é que existe elegância na simplicidade, afinal, “beleza é você se sentir confortável dentro de sua pele”. O consumo compulsivo é uma grande armadilha e um grande jogo de ilusão. Cheque os motivos e as necessidades. Viver de forma leve traz grande liberdade e alegria. 

segunda-feira, 14 de março de 2016

Entre o desejo e a necessidade


Maria Tereza Maldonado é autora de 25 livros, especialista em terapia família, membro da American Family Therapy Academy e autora de 25 livros. Ao comemorar 35 anos de atividade, ela lança “Cá entre nós – na intimidade das famílias” (Integrare Editora). Sua contribuição é importante porque ensina a criar filhos empreendedores, preparados para o mundo. 

Ela afirma que a queixa mais comum dos pais modernos está no fato de que os filhos são insaciáveis e tiranos na relação com os pais, e isto acontece porque criaram filhos na base da lei do desejo, e não da lei da realidade. Ele cresce achando-se no direito de sempre ocupar o primeiro lugar e pensando que os outros são seus súditos, que existem para satisfazer seus desejos. O filho se torna o reizinho, e as festas de aniversário mostram isto. Tornou-se comum fazer a coroação dos filhos diante da família e amigos. A educação moderna não desenvolve a capacidade de perceber as necessidades dos outros e respeitá-las; as crianças do Século XXI tem sido criadas sem suportar frustração e não conseguem esperar. O reizinho é um tirano. Faz cenas horríveis quando é contrariado.

A crescente exigência do reizinho torna os familiares frustrados e enraivecidos; passam a brigar e a reclamar da criança solicitadora, insistente, insuportável. O clima do convívio fica difícil e a criança acaba se sentindo rejeitada e infeliz.

Para Maldonado, a melhor maneira de prevenir essa situação é “dar à criança, desde pequena, a noção de que ela é importante, mas não é a única pessoa no mundo que tem o direito de ser atendida. Essa é a base da relação de troca, do dar-e-receber que permite o desenvolvimento da bondade, da gentileza e da tolerância (...) Desenvolver a consideração pelos outros e por si mesmo conduz ao equilíbrio e a maiores possibilidades de satisfação. A capacidade de esperar é a base do bom planejamento; a capacidade de tolerar frustrações é a base da aprendizagem, pois é preciso persistir e suportar os erros até adquirir o conhecimento ou a habilidade de fazer o que nos propomos”.


A verdade é que este princípio se aplica a todas as áreas da vida, mesmo quando adultos. O amor envolve não somente a atenção e o atendimento às necessidades, mas também o preparo para viver no mundo com os outros. É preciso haver equilíbrio de deveres e prazeres. Este aprendizado transforma conflitos em soluções, tornando-se ferramenta indispensável para lidar no mundo, e a família é o melhor celeiro para aprender a lidar com isso.

Precisamos equilibrar desejo e realidade. Não dá para ter tudo, e a criança que não aprende isto em família, vai aprender tais verdades de forma dolorida no trabalho e no casamento. Ninguém estará à disposição das “rainhas e reizinhos”, o mercado de trabalho exige resiliência, negociação, criatividade, e para Maldonado, o controle da impulsividade é essencial para aprender a aprender e a conviver: é um ingrediente básico da “tecelagem das inteligências”.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Apreciação


Dois anos atrás estava em Belo Horizonte e tive tempo de me assentar com o Pr. Marcelo Gualberto, que me fez uma declaração interessante: “Decidi apreciar generosamente as pessoas que conheço. Tenho aprendido que somos muitos ágeis em falar mal, mas temos grande dificuldade em elogiar. Não quero bajular, mas todas as vezes que observar uma atitude nobre, quero ser diligente em dizer que apreciei tal atitude”.

Desde então, tenho procurado me lembrar destas palavras e colocá-las em prática. Somos generosos em críticas e avarentos em palavras de afirmação e apreciação.

Apesar de termos crescido em lares que ensinam os filhos a pedirem benção dos pais, nunca paramos para considerar o significado da palavra benção. Ela vem do latim benedicere, ou benedicte, que seria melhor traduzida por afirmar o outro. Quando abençoamos estamos dizendo aos filhos que reconhecemos o seu valor, que apreciamos quem ele é, e que sua vida nos deixa orgulhosos e nos traz alegria.

Se os mesmos pais que afirmam sua benção, fossem capazes de dizer aos seus filhos tais palavras de afirmação, certamente teríamos uma geração muito mais saudável, emocionalmente falando. O problema é que somos rápidos em denegrir, depreciar, diminuir, desencorajar, desanimar as pessoas que caminham ao nosso redor. Muitos filhos e filhas dariam tudo para receber uma palavra de apreciação de seus pais, mas tais palavras nunca chegam. No entanto, diante do primeiro fracasso, ou frustração, as palavras duras e descaridosas saem quase que espontaneamente de nossos lábios que inutilmente tentam dizer depois: “Não é isto que penso... Não é isto que quis dizer...”

Precisamos de pessoas encorajadoras. O dom do incentivo, elogio e da apreciação parece ter desaparecido. Lares vivem debaixo de acusações constantes. São maridos destruindo a imagem de sua esposa; mulheres impiedosamente acusando e acuando os maridos; patrões que mantém seus funcionários com constantes ameaças e reclamações. Falta apreciação.

Um telefonema, uma manifestação de carinho, uma pequena lembrança, uma palavra branda. Aliás, a Bíblia afirma que “a palavra branda desvia o furor”. Não é esta uma declaração maravilhosa?

Veja esta outra declaração da sabedoria judaica que se encontra no livro de provérbios: “Como maças de ouro em salvas de prata, assim é a boa palavra dita a seu tempo”. Encorajar e apreciar, ajuda na auto estima, melhora o ambiente de trabalho, facilita a vida no lar. Constantes queixas, murmurações, reclamações, fazem da vida um peso imenso.


quinta-feira, 3 de março de 2016

Encontre o bem no mal

A diferença entre a pessoa negativa e a positiva pode ser ilustrada da seguinte maneira: O otimista vê o copo pela metade e diz: “Que bom, não beberam tudo!”. O negativista diz: “desgraçados, beberam metade!” Dependendo da perspectiva, tudo pode se tornar bem ou mal. 

O homem ordinário pode achar o bem no bom, esta deveria ser uma atitude espontânea e natural, mas o homem extraordinário consegue ir além e encontrar o bem no mal. Nem tudo é o que parece ser, já que a vida é dinâmica. Isto nos leva a pensar que ainda que o processo seja doloroso, a soma final pode ser pode trazer um resultado extraordinário. Mesmo quando o mal é praticado de forma desumana, atitudes do bem podem quebrar ou dirimir tais efeitos. Não é assim que acontece quando o perdão quebra o pavoroso ciclo do mal? O mal foi praticado mas seu efeito neutralizado pela ação do bem.

José (do Egito), conhecido personagem bíblico é um vívido exemplo de como as coisas podem se processar. Ele foi traído pelos seus irmãos e vendido como escravo. Uma caravana o leva ao Egito, e ele passa a conviver com um povo de língua e cultura estranhas, e não tinha direito algum, tornando-se uma mercadoria de Potifar. Um incidente na casa do seu senhor, injustamente o joga numa masmorra onde mais uma vez enfrenta o desprezo e a desumanidade. No submundo ainda consegue ser canal de benção, mas isto não o livra do esquecimento e abandono.

Finalmente, sua realidade se transforma. O desprezado e anônimo presidiário torna-se agora o governador e Ministro de finanças do Egito, a maior potência política daqueles dias mas seu sucesso exterior era permeado com as sombras do passado. Ele ainda precisava lidar com cicatrizes e memórias. Ele precisava transformar o mal em bem.

Num dia aparentemente comum, seus irmãos que lhe infringiram tanto sofrimento são trazidos diante dele: esta era a hora propícia da vingança. Sua afirmação diante dos irmãos, entretanto, mostra-se profundamente libertadora: “Vós intentastes o mal, mas Deus transformou o mal em bem, como hoje vedes”. Na língua original, a ideia ainda é mais enfática: “Vós intentastes o mal, mas Deus intentou o bem”. A mesma força da crueldade usada pelos irmãos, encontrava uma reação igual e contrária na bondade de Deus.

Não é difícil encontrar o bem no bom, embora muitos murmurem até mesmo diante das coisas boas, porque lamentavelmente só sabem reclamar. Contudo, encontrar bem no mal é ainda mais difícil, requer uma dose extra de maturidade e sabedoria. Nem todo ganho é perda, e nem toda perda, ganho.


Somente o tempo dirá se o mal hoje praticado desembocará em perdas ou lucros. Os irmãos de José agiram de forma cruel, mas Deus usou tudo aquilo para colocá-lo numa posição de honra. É possível ver além quando somos capazes de entender que o mal nem sempre tem a palavra final, e assim, situações de dores se transformam em oportunidade de crescimento e vitória. Isto tudo se torna, muito mais fácil, quando distinguimos Deus nos bastidores da história.