quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Dor crônica ou aguda?

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Quando jovem (e não faz muito tempo assim...), tolamente dizia “preferir uma dor aguda a uma dor crônica”. Deixe-me explicar.

Por dor aguda refiro-me ao sofrimento intenso, porém curto, como um apendicite ou cólica renal, típicos de dores agudas e intensas, que quase enlouquecem, mas que se diagnosticados corretamente, realiza-se o procedimento adequado e logo vem a recuperação. A dor passa e chega-se à normalidade.

Por dor crônica, refiro-me àquela sensação prolongada, que vai se arrastando dia, meses e anos, sem solução. Eventualmente não é uma dor intensa, mas se parece com uma leve artrite, uma dor muscular, que dura longos períodos, e sempre aparece para lembrar que ainda está presente. Eu tenho uma dor na perna esquerda que já dura quase 3 anos. O médico não conseguiu dar um diagnóstico, o raio X nada revelou, e confesso que não fiz nenhum esforço maior para aprofundar os exames médicos e descobrir o que está acontecendo, e como a dor é pequena, embora incômoda, acho que inconscientemente desisti de buscar a solução e preferi me adaptar. Complicado, não?

Com a idade, entretanto, cheguei à conclusão de que não gosto de dor de jeito nenhum. Toda enfermidade gera enorme senso de impotência e ficar doente revela toda arrogância e independência humana. Depender dos outros, perceber que o corpo não se dispõe a agir, prostrar-se numa cama ou num leito de hospital é sempre uma experiência desencorajadora. A dor, seja ela crônica ou aguda, desestrutura, ainda que nem sempre, a dor seja ruim. A ausência da dor em alguns casos, pode ser devastadora. Uma das doenças mais horríveis da história humana, a hanseníase, leva o ser humano à perda da sensibilidade de seus axônios deixando-o vulnerável e colocando-o em risco, exatamente por não sentir dor.

A verdade é que a dor sempre traz desequilíbrio, entretanto, dores prolongadas causam enorme impacto na vida, sejam tais dores físicas ou emocionais. Tenho acompanhado relacionamentos doentios, sustentados por provocações mútuas, as feridas vão se perpetuando e gerando novas mazelas. Um emprego que rouba a criatividade, um casamento no qual os cônjuges decidem se tornar inimigos e complicar a vida do outro, um negócio mal resolvido que dura uma eternidade. Meu amigo Neander Coelho diz que “é melhor um fim pavoroso do que um pavor sem fim”.

Ninguém pode se manter saudável em longos processos patológicos. Algumas pessoas se tornam um lixo nestes processos mal resolvidos. É comum vermos pessoas tentando sustentar um casamento que já acabou dez anos atrás, e durante este tempo as feridas só vão aumentando porque nenhuma das partes faz concessões, ou resolve quebrar o ciclo do mal, e neste processo de raiva e mágoa, incapazes de perdoar, tentam manter a aparência sem um adequado desfecho da situação.  


Certamente a dor nunca é desejável, mas é necessário virar a página do ódio, acusação e culpa para se buscar uma alternativa à vida e à celebração. 

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

A Terapia Necessária


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Todo ser humano precisa de terapia, em certo nível.

Estou usando o termo “terapia” não necessariamente como uma ajuda profissional, feita por pessoas com alto nível de treinamento acadêmico e psicológico, que certamente é válido e tem um lugar todo especial na saúde emocional, mas refiro-me à capacidade de encontrar espaço e pessoas onde a dor possa ser manifesta, sem que haja condenação e julgamento. Todos precisamos de alguém para poder falar da dor sentida. Se não há ambiente para auto revelação, confissão, admissão de culpa, medo, vergonha ou raiva, é fácil introjetar a dor e adoecer severamente.

Algumas culturas, étnicas, religiosas, familiares e comunitárias,  são mais propensas a criar este “espaço terapêutico”, enquanto outras, co-dependentes, legalistas e moralistas, tendem a impedir que a dor seja revelada. O resultado será sempre a amargura, a raiva não elaborada e o adoecimento físico.

Considere por exemplo a cultura negra e a branca nos EUA. Estudos revelam que a psicoterapia profissional teve uma penetração muito mais forte no meio dos brancos que dos negros. Por que? A cultura branca tende a ser mais individualista, valoriza demais a privacidade e a reputação, enquanto a cultura negra é mais comunitária e participativa. Entre as famílias negras, é fácil encontrar a figura de um “conselheiro”, que pode ser o avô, uma tia, ou até mesmo alguém que passa a ser considerado por todos como capaz de orientar, apoiar, censurar e questionar. Este personagem familiar torna-se a referência terapêutica da família, e ajuda muito nos processos de escolha, decisões e crises pessoais ou relacionais.

A Igreja Católica desenvolveu a ideia da confissão, na qual o paroquiano admite seus erros ao sacerdote. Neste ambiente de sigilo e preservação de segredos e privacidade, muitos são curados pelo simples fato de dizer: “Pequei”. A admissão da falha, e a penitência que consiste de alguns atos religiosos, traz cura e catarse, ainda que tais métodos, historicamente, tenham sofrido certas distorções e equívocos.

Precisamos de espaços para admitir a dor, confessar a culpa, expressar a raiva e ressentimento. Precisamos de terapia. Encontrar alguém que nos ouça e eventualmente nos questione e censure, gestos, comportamentos e atos, pode ser libertador. Quando não somos capazes de entrar em contato com a dor, eventualmente explodimos. Por esta razão é que não raramente ouvimos falar de pessoas que tiveram uma crise desproporcional de raiva ou se divorciaram, embora os sinais desta erupção vulcânica emocional nunca tenham sido percebidos pelos amigos e parentes.

Quando isto acontece é porque falta espaço para dizer: “tá doendo!” ou “não sei como fazer”, ou “errei, pequei” e ainda “preciso de ajuda”.  


A Bíblia fala da confissão como um meio de cura. Este processo terapêutico, porém, precisa de canais, ambientes, espaços e ambientes. Afinal, todos precisamos de terapia.

Sabedoria Judaica

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Existem coisas que só culturas milenares conseguem elaborar. Pesquisas científicas, gráficos e análises modernas feitos por sistemas parecem não discernir tais verdades, ou ficam no campo da superficialidade. Por esta razão, culturas ancestrais que foram desprezadas começam a ser ouvidas novamente, existe um certo senso de busca da sabedoria dos povos antigos, ouvir tradições, ler textos antigos.

Recentemente, uma publicação de autores brasileiros, William Douglas e Rubens Teixeira, “As 25 Leis Bíblicas do Sucesso”, fizeram muito sucesso. Eles se propuseram a “usar a sabedoria da Bíblia para transformar carreira e negócios”. Não parece meio sem sentido? No entanto, já haviam sido vendidos mais de 120 mil exemplares em 2012, certamente o número já é muito superior a isto.

Luiz Felipe Pondé declarou que, apesar de ser ateu, está cada vez mais fascinado com a sabedoria judaico-cristã. Resgatar alguns destes princípios e viver de acordo com eles, podem revolucionar a trajetória de vida. Precisamos lembrar que a verdade não está no novo nem no velho, mas no eterno. Bons princípios e legados transcendem gerações, culturas e línguas. Um princípio sólido permanece para sempre, o que é palha se dispersa. Por isto é que boas músicas, receitas e temperos nunca perdem o prazo de validade.

A sabedoria judaica é repleta de pérolas valiosíssimas, vindo das tradições talmúdicas e dos escritos sagrados: Torah, Hokma e Nabiim (Lei, Sabedoria e profetas), hoje gostaria de pincelar uma antiga tradição sobre um assunto que geralmente interessa muito ao homem capitalista do Século XXI, e que contraria algumas das teses tolas de acúmulo que o capitalismo selvagem ensina. Você não precisa concordar com elas, mas vale a pena, pelo menos, refletir:

Primeiro, Faça dinheiro – Dinheiro não surge espontaneamente nem nasce em árvore, é necessário inteligência e habilidade, descubra como o dinheiro pode surgir (sem que você tenha que falsificar notas...) Trabalho, diligência e criatividade sempre foram elementos positivos para que o dinheiro se torne uma realidade. A Bíblia fala que “pela muita preguiça desaba o teto do displicente”.

Segundo, Guarde – Não gaste tudo. É necessário se planejar para os dias difíceis, épocas de secas e geadas. Nem sempre é possível ganhar, existem épocas de perdas. Algumas colheitas são prósperas, mas muita semente deixou de produzir por condições instáveis da natureza. A Bíblia recomenda para que observemos o comportamento das formigas, que na época da sega, colhem, sabendo que virá a época de chuva e neve.

Terceiro, doe! – Isto parece um contrassenso, mas já observaram que culturas prósperas sempre foram generosas? A cultura do acúmulo, dificulta que os outros também ganhem. A natureza é rica e pródiga, capaz de abençoar a todos. Usura, ganância excessiva, abuso dos ricos e a exploração sempre se transformam em bumerangues com o passar dos anos, e os efeitos costumam ser terríveis. Uma nação de pobres não tem paz, uma cultura oligárquica e avarenta massacra as pessoas e gera desatinos sociais. Deixe os outros ganharem. Esta é uma boa regra!

Faça o dinheiro trabalhar por você, aplique! – Não apenas trabalhe, mas coloque seus recursos a seu favor. Existem pessoas com grandes capitais sem usufruir do potencial econômico que possuem, não sabem colocar os bens para frutificarem. Jesus conta a história de um homem que recebeu seu talento (uma medida monetária judaica), e o enterrou na terra. Deus o censura dizendo: “Por que você não colocou, ao menos, o dinheiro na mão dos banqueiros, para que quando eu viesse eu recebesse com juros?”

Esta é parte da sabedoria judaica. Não é difícil imaginar porque se tornaram uma nação tão próspera... 

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

A Era do Ressentimento

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Luiz Felipe Pondé é um filósofo ateu da USP, que mantém uma explícita e intencional ambiguidade em relação ao Sagrado. No seu recente livro, A Era do Ressentimento, afirma: “Apesar de não ter fé, considero Deus muito inteligente”, e assim, numa empolgante dialética entre o não-crer, que ele adota, e o crer, que ele contraditoriamente abriga, faz alguns ensaios surpreendente sobre a vida, cosmovisão, ética e religião.

Para ele, esta geração é ressentida, mimada e auto centrada. Acreditando que tudo e todas as coisas devem girar em torno de suas necessidades e desejos, sem conseguir suportar frustrações nem enfrentar crises porque se julgam merecedoras de uma atenção especial, e que não podem ser contrariadas por qualquer motivo porque são facilmente ofendidas.  Ele declara que “nossa época, com suas luzes e seus direitos, será lembrada como um período de trevas por conta de nossa irrelevância, causada por preocupações excessivamente pessoais. Gente medíocre a nossa volta que imagina um mundo de gente feliz”, a quem ele chama de “idiotas do bem”.

Pondé descreve um pouco deste cenário: “O filósofo alemão Horkheimer dizia que somos uma raça de abandonados, são vários os sintomas desta raça, entre eles, o ressentimento. Exigimos uma importância maior que temos no universo (...) Os ressentidos culpam os outros ao invés de assumirem a própria vida (...) Daqui a 1000 anos nossa geração será lembrada como mimados, ressentidos e covardes”.

Ele continua: “A elevação dos direitos e benefícios tangíveis leva as pessoas, inevitavelmente, a uma mentalidade vil que oscila entre ingratidão, na melhor das hipóteses – pois porque razão elas deveriam ser gratas por receberem algo que é um direito – e na pior das hipóteses, ressentimento”.

Você já parou para considerar quão perigosa é a armadilha da amargura, ressentimento e vitimismo? Quando adentramos a estrada da auto piedade e auto comiseração penetramos uma rota da ingratidão e perda da celebração. Como dizia Norman Vincent Peale: “Ser agradecido faz todas as coisas melhores!” Já viram pessoas lamurientas com capacidade de celebração?  Mesmo quando as coisas estão bem, e as circunstâncias favoráveis, elas logo encontrarão motivos para reclamaram e falarem mal. Não é a situação que está ruim, mas o coração.

Pondé ainda afirma: “Quero apontar o fato evidente de que as manias de luxo dos mimados ocidentais os fazem crer ser possível fazer alguma diferença com suas causas no facebook (...) Nos afogamos em mimos de gente rica e chique que falam de um mundo melhor enquanto tomam vinho chileno com segurança”.


Portanto, tome cuidado com o ressentimento, afinal “O ressentimento é a única emoção humana que pode durar a vida inteira, pois provê infinitas justificativas para suas más ações”.