quinta-feira, 22 de maio de 2014

Genética e bom humor



Seria possível imaginar que algumas pessoas nascem predispostas geneticamente para a felicidade, enquanto outros possuem cromossomas que orientam ao mau humor e à rabugice? Dá para imaginar que existe algo que poderíamos chamar de DNA da alegria? Que no nosso “software biológico” estariam enzimas determinantes da felicidade e que uma dose adequada delas seria suficiente para nos tornar realizados e plenos?
Parece estranho pensar isto, mas o Dr. David Lykken, geneticista comportamental, acredita que metade de nossa sensação de bem estar é determinada pelo que está acontecendo ao redor e a forma como interpretamos tais eventos e a outra metade traria o “ponto fixo” da felicidade a partir dos genes. Para ele, muito de nossa alegria depende do bom senso e treinamento, mas outra quantidade está relacionada à nossa herança, não social, cultural ou ambiental, mas genética, que responderia por 44 a 55%% da diferença em níveis de felicidade.
Realmente é complicado relacionar bom humor, ou senso de bem estar a um agrupamento de moléculas, embora seja notório o fato de que, determinados hormônios como a serotonina (um neuro transmissor que atua no cérebro regulando o humor, sono, apetite, sensibilidade a dor...), e oxitocina (um hormônio intimamente ligado à sensação de prazer e bem estar físico e emocional, também conhecido como “hormônio do amor”), por esta razão, drogas ou remédios controlados podem trazer equilíbrio emocional e paz. No entanto, felicidade tem a ver mais com atitudes e disposição do coração que variações hormonais, na maioria das vezes. Não se resolve a vida com um comprimido de prozac ou rivotril, embora tais drogas possam ajudar bastante.
Salomão afirma: “Eis o que tão somente achei. Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 7.28). Muita dor, infelicidade e tristeza têm relação com decisões e direções equivocadas que tomamos pessoalmente ou que tomaram por nós, e que trazem muito sofrimento. Um negócio escuso de hoje, uma parceria equivocada, um pacto assumido, podem se tornar nossa constante fonte de dor de cabeça por décadas. Pais ou mães imprudentes eventualmente deixam um legado de dor, vergonha e miséria para os filhos e que podem atingir netos e bisnetos. Decisões pessoais geram conseqüências que podem ser positivas ou negativas.
A verdade é que, a vida é essencialmente simples, mas a complicamos com atitudes tolas, ou por decisões que tomamos por pressão de grupo, emoção, medo ou culpa. Somos livres para fazermos o que quisermos, mas não somos livres para interferir sobre os efeitos de nossas decisões. Quem planta amor, colhe amor; quem semeia ódio, colhe desavença.

Felicidade então, me parece algo bem maior que uma questão meramente hormonal ou genética. A felicidade não vem em comprimidos, mas tem a ver com a forma como interpretamos a vida, com as decisões que tomamos, escolhas que fazemos, opções assumidas e atitudes praticadas.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Ser Ateu é muito chato





Não, esta frase não foi dita por um pastor, mas por um ateu. Mais especificamente, um “ex-ateu”. A Revista Veja de 13/7 de 2013, publicou interessante entrevista com o filósofo Luiz Felipe Pondé, responsável por uma coluna semanal na Folha de São Paulo, e autor de vários livros. Controvertido por natureza, é estudioso de teologia e apesar de não ter nenhuma religião em particular, disse que tomou esta decisão ao perceber que a espiritualidade da esquerda é rasa, pois aloca toda a responsabilidade do mal para fora de si: na classe social, no capital, no estado, na elite, e isto, na sua opinião, infantiliza o ser humano.
A partir de então: “Comecei a achar o ateísmo aborrecido, do ponto de vista filosófico”. Para ele “o cristianismo, que é uma religião hegemônica no Ocidente, fala do pecado, de sua busca e de seu conflito interior. É uma espiritualidade riquíssima, pouco conhecida por causa do estrago feito pelo secularismo extremado... o homem é fraco, frágil. As redenções políticas não tem isso...” Segundo Pondé, na visão política os homens não tem responsabilidade moral.
Outro aspecto que ele mencionou ao ser perguntado se acredita em Deus, foi: “Sim. Mas já fui ateu por muito tempo. Quando digo que acredito em Deus, é porque acho essa uma das hipóteses mais elegantes em relação, por exemplo, à origem do universo... considero isto, em termos filosóficos, muito sofisticado. Lembro-me sempre de algo que o escritor inglês Chesterton dizia: Não há problema em não acreditar em Deus; o problema é que quem deixa de acreditar em Deus, começar a acreditar em qualquer outra bobagem, seja na história, na ciência ou em si mesmo, que é a coisa mais brega de todas. Só alguém muito alienado pode acreditar em si mesmo”.
Ele afirma que deixou de ser ateu, porque começou a achar o ateísmo chato. “A hipótese de Deus bíblico, na qual estamos ligados a um enredo e um drama morais muito maiores do que o átomo me atraiu. Sou basicamente pessimista, cético, descrente, quase na fronteira da melancolia. Mas tenho sorte sem merecê-la. Percebo uma certa beleza, uma certa misericórdia no mundo, que não consigo deduzir a partir dos seres humanos, tampouco de mim mesmo. Tenho a clara sensação de que às vezes acontecem milagres. Só encontro isso na tradição teológica”.
Talvez Rubem Alves, no seu livro enigma da religião, tenha conseguido expressar sua angústia e esperança ao mesmo tempo. “O que nos é dado, em nossa situação histórica, não nos permite nenhum tipo de otimismo. Sei, entretanto, que o homem não pode sobreviver sem esperança. É a esperança que nos... autoconsistência. A psicoterapia descobriu que objetivamente não há esperança, para os pacientes que subjetivamente não tem esperança”. 

Norman Geisler escreveu sugestivo livro com o título “Não tenho fé suficiente para ser ateu!”. Este livro aborda a questão da própria verdade, provando a existência de absolutos e desmontando afirmações do relativismo moral e da pós-modernidade. Vale a pena conferir!

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Amizade e Felicidade


Poucas coisas são tão eficientes para gerar alegria em nossa vida que a amizade genuína. Certos amigos têm o poder de restaurar nosso coração mesmo nos dias mais sombrios, e trazem muita alegria nos dias comuns. Vinícius de Moraes chegou a afirmar: “Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências... A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar!”
Para envelhecer com arte e alegria, precisamos de cinco ingredientes que se complementam, e nenhum deles é dispensável: comunidade, família, amizade, finanças e espiritualidade. Sem amigos sinceros nossa velhice se torna pobre, porque são poucos amigos que ficam na medida em que envelhecemos. “A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas” (Francis Bacon).
Amigos alegram a vida e trazem enorme senso de prazer. O cientista Bob Holmes, com sua equipe de pesquisadores, vem investigando o que leva as pessoas a serem felizes ou infelizes ao redor do mundo. Ele descobriu, por exemplo, que pessoas da classe C e D costumam ter mais de 70% de amigos que pessoas da classe A e B, e este seria o ingrediente básico que leva as pessoas de classes mais baixas a serem mais plenas.
Em Calcutá, um membro de sua equipe entrevistou 83 pessoas de 3 grupos: moradores de rua, favela e prostitutas, medindo sua satisfação de vida. Usando uma escala em que a pontuação 2 é considerada neutra. No total, a média foi de 1.93 – não é certamente uma posição ótima, mas considerando o estilo de vida que levam, revelou-se surpreendente. Num grupo de controle de estudantes da classe média da cidade, a pontuação foi apenas um pouco mais alta: 2.43. sua conclusão foi a seguinte:
“Acreditamos que as relações sociais são, em parte, responsáveis por esse quadro. Os moradores da favela alcançaram media 2,23, como índice de satisfação altos em áreas específicas como família (2.5) e amigos (2.4)”.
Amigos amenizam o impacto de perdas, impedem o efeito solidão, enriquecem momentos de alegria e chegam quando todos os demais saem. Por estas e outras razões, é um antídoto contra o tédio, a depressão e a falta de significado.

Quem encontra um amigo encontra uma grande benção. Felicidade e amizade não fazem apenas rima, mas realmente se complementam. Pessoas solitárias são mais infelizes porque a vida não compartilhada é saqueada e empobrecida. Afinal, “A amizade desenvolve a felicidade e reduz o sofrimento, duplicando a nossa alegria e dividindo a nossa dor” (Joseph Addison).