terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A vida não pode acabar assim


Bill Hybels, conhecido conferencista cristão participava recentemente participou de um funeral que ele considerou um dos mais difíceis momentos de sua vida. O melhor amigo de seu filho, de apenas 20 anos de idade, sofreu um acidente de carro e veio a óbito. Embora os pais do garoto não fossem da sua comunidade, ele conhecia a família e decidiu ficar ao lado deles, solidário à dor que sofriam, e também triste por ver uma vida sendo interrompida de forma tão abrupta.

No funeral, a tônica foi a ausência de qualquer esperança. Até mesmo o oficiante do funeral terminou o ato de forma desoladora. “Pois foste formado do pó, e ao pó tornarás”. A vida parecia ser apenas um chiste, algo lacônico e bizarro. O pai daquele moço veio na sua direção, abraçou-o fortemente e disse em voz alta: “Pastor, a vida não pode acabar assim” e pediu para que orasse por eles. Então ele foi à frente e disse: “Hoje estamos nos despedindo do Clark, o caminho que ele fez, é o caminho que todos faremos. Estamos nos despedindo dele mais cedo do que queríamos ou esperávamos. Mas não será para sempre, todos nós um dia poderemos nos encontrar com o Clark. A vida dele não acaba num túmulo frio, mas nos braços de um Pai amoroso”.

Tenho pensado na frase deste pai: “A vida não pode acabar assim”.

Muitas vezes olhamos para a vida e nos resignamos, aceitamos o fracasso de forma passiva, nos rendemos ao desespero sem luta, nos entregamos sem esboçar reação, nem sequer oramos para que as coisas mudem e sejam diferentes. Vemos casamentos acabando e desistimos com facilidade; nossos filhos se perdendo e nos resignamos; a corrupção e a imoralidade se tornando banais, o desrespeito à vida parte do cotidiano. Nos tornamos apáticos, as agressões se sucedem e deixamos para lá de forma indiferente; não nos desafiamos para um engajamento e nem acreditamos que as coisas melhorem e mudem o rumo, achamos que pó e cinzas são de fato o destino final – somos tomados pelo pessimismo e falta de fé e caminhamos para o abismo sem nos incomodarmos. No entanto, as coisas não precisam acabar desta forma.

Existe uma antiga oração que diz: “Senhor, dá-me forças para mudar as coisas que precisam ser mudadas; paciência para suportar aquelas que não podem ser mudadas; e sabedoria para discernir entre elas”.

Obviamente que nos misteriosos e enigmáticos planos de Deus, há realidades que não podem ser mudadas, que não dependem de nosso esforço ou garra, da luta ou perseverança, mas existem outras, que requerem de nós um pouco de vergonha e brilho nos olhos, que demandam uma resposta de coragem e dependem de ousadia e tenacidade. Precisamos enfrentá-las, e não apenas receber o diagnóstico final e aquietarmos. Muitas questões exigem ação e reação, não podemos simplesmente aceitar e calar.

Mesmo diante de fatos que não podem ser mudados, precisamos ter esperança. A morte é uma delas. Morte não é ponto final para aqueles que crêem, mas passagem de uma vida para outra. A vida vai além da realidade transitória de nossa fugaz existência. O ladrão ao lado de Cristo na cruz, vendo o fim se aproximar, conseguiu fazer uma ousada oração de esperança: “Senhor, lembra-te de mim quando vieres no teu reino”, e Jesus lhe deu uma resposta encorajadora: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.

A vida não pode ser um eterno réquiem, nem pode se resumir à marcha fúnebre. Precisamos trazer à memória aquilo que pode nos dar esperança e prosseguir. A vida não pode acabar assim...

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Hábitos que estrangulam

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Na selva amazônica existe um cipó chamado pelos espanhóis  de “el matador”, o que realmente faz juz ao nome que recebe. Ele nasce na raiz das árvores e inicialmente não parece ser uma ameaça, mas à medida que vai crescendo, enrola-se no tronco indo até o topo e quando o alcança, dá uma linda flor, como que coroando sua conquista e a árvore é sufocada até sua eventual morte.
Muitos hábitos agem da mesma forma. Surgem com aparência inocente, mas vai assumindo o controle, sufocando a espontaneidade e alegria e aprisionando. É uma luxúria aqui, um desequilíbrio financeiro acolá, uma brincadeira maliciosa cá, uma rodada divertida de jogos e apostas com dinheiro, uma pequena indiscrição e quando percebemos estamos envolvidos em destrutivos vícios que pareciam tão inofensivos e que agora aprisionam.
Na verdade, nunca encontraremos uma pessoa na ruína que não tenha começado com pequenas concessões e nunca acharemos alguém que, propositalmente, desenvolveu hábitos para se destruir.
Uma pessoa não entra em aventuras amorosas fora do casamento pensando que isto vai destruir sua família e causar muitas dores; ninguém se envolve em apostas de azar sabendo que vai comprometer seus recursos financeiros; o drogado não começa sua longa e dolorida via crucis de antemão projetando dor e angústia; ninguém deseja se tornar viciado em pornografia ao começar seus pequenos clicks; a pessoa que abusa de sua ira e descontrole emocional, não imagina quanto sofrimento psicológico vai causar aos seus filhos e quanto prejuízo no seu trabalho, nem o alcoólatra se envereda por esta tortuosa via buscando uma existência de desgraça.
Hábitos e atitudes, assim como o “el matador”, crescem gradualmente. O estrangulamento não acontece de uma hora para outra, existe um processo até o desfecho. Os movimentos são lentos e quase nunca temos consciência da cilada em que estamos até que os efeitos deletérios de nossas decisões sejam manifestos.
A ajuda de Deus para quem se sente estrangulado e preso em tais armadilhas é crucial. Ore a Deus para ter a percepção destes riscos ao redor e saber se defender e esquivar deles, afinal, “Os pecados são mortais, não porque Deus matar, mas porque eu morro deles. Deus proibiu os sete pecados não por exigência de perfeição, mas apenas por piedade de nós” (Clarice Lispector).
George R. R. Martin, autor da conhecida série Guerra dos tronos afirmou: “Nem mesmo o cavaleiro mais leal, pode proteger um rei contra si mesmo... Se um homem pinta um alvo no peito, deve esperar que mais cedo ou mais tarde, alguém lhe envie uma seta”.


Por que esperar tanto?



Três dias antes do Dia das mães, um homem idoso telefonou para seu filho que morava numa cidade distante dizendo: “Eu odeio estragar o seu dia, mas eu preciso lhe dizer que sua mãe e eu estamos divorciando – após quarenta e cinco anos de miséria no nosso casamento, acho que foi mais que suficiente”.
-“Pai, do que o senhor está falando?” Seu filho lhe perguntou, alarmado com a notícia.
-“A verdade meu filho, é que não conseguimos mais sequer ver a cara do outro”, disse o pai. “Nós adoecemos. Sinto muito falar sobre isto, mas vou ligar também para sua irmã e comunicá-la”.
Tão logo o pai ligou para a filha, que vivia também em outra cidade, ela explodiu:
-“Eu não admito que isto esteja acontecendo, eu vou pessoalmente ai para conversar sobre este assunto. Não faça nada até eu chegar, vou ligar para meu irmão e iremos amanhã para estar com vocês. Não faça nada até a gente chegar”.
Após desligar o telefone, o velho pai voltou-se para sua esposa e disse: “-Eles estão vindo para passar o dia das mães conosco e estão pagando suas passagens. Agora preciso pensar o que preciso fazer para que eles venham também no Natal”.
Ao entrar em contacto com esta estória, fiquei me perguntando porque precisamos permitir que as coisas cheguem ao extremo para que possamos fazer alguma demonstração de afeto? Porque nossos casamentos precisam chegar ao limite para que saiamos desesperados para demonstrar que amamos? Porque nossos pais precisam adoecer para priorizarmos tempo para estar com eles? Porque nossos filhos precisam se envolver com drogas e com comportamentos estranhos e pecaminosos para que comecemos a dar atenção às suas necessidades?

Um líder de nossa igreja em Brasília tinha três filhas. Eles moravam a 23 Km da igreja, e no sábado, com atividades de crianças, pré-adolescentes e adolescentes em horários distintos,  chegava a vir três vezes para trazer e levar as filhas. Quando eu perguntei se não era cansativo demais, ele me respondeu que cansativo seria buscar filha drogada e na balada, às três horas da manhã, participando de festas e bailes que ninguém sabe o que acontece lá dentro, e que ele trazia prazerosamente suas filhas à igreja, para que não tivesse que buscá-las em ambientes pesados na sua mocidade.