segunda-feira, 18 de março de 2013

Intolerância




Toda forma de intolerância, caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões, ou pontos-de-vista diferentes, é agressiva na sua raiz.
A intolerância normalmente brota no preconceito, podendo levar à discriminação e à violência, quando isto acontece, a pessoa hostiliza e reage de forma agressiva à visão do outro. Dentre as formas mais comuns temos o racismo, a homofobia,  questões religiosas e políticas. Em ambientes de intolerância, o simples fato de pensarmos diferente é motivo suficiente para sermos rejeitados, perseguidos, ou até mesmo julgados apenas por termos convicções diferentes.
Ultimamente, tenho visto outra forma de intolerância que chamo de intolerância dos “intolerados”. Pessoas que sofreram discriminação e preconceito por causa de sua ideologia ou comportamento social, e que agora se acham no direito de se tornarem intolerantes com grupos ou pessoas de quem sofreram infâmias. Cria-se assim o reverso da moeda. É necessário cuidar da intolerância de quem sofreu achaque e que agora se julga no direito de ferir e matar por causa de sua dor e rejeição experimentadas no passado.
Ter liberdade de emitir opiniões divergentes sobre um tema controverso é um direito constitucional. O princípio republicano e democrático se fundamenta no fato de que “posso não concordar com a forma de você pensar, mas defendo até o último instante, o direito de você pensar”. Por isto, quando o governo decide aplicar a força para impedir aquilo que ele considera como incitamento ao ódio, pode na verdade, estar impedindo o direito de se expressar.
Na Constituição dos Estados Unidos, a Primeira Emenda permite tais manifestações sem risco de ação criminal. É controvertido quando o governo considera crime, opiniões diferentes sobre religião, sexualidade e política. Historicamente, caudilhos e ditaduras adotam esta postura. O Congresso Nacional já andou perto de aprovar leis semelhantes.
Podemos e devemos discordar, mas não precisamos agredir nem discriminar quem pensa e age de forma diferente. Católicos,  protestantes e outros credos divergem em vários pontos, mas precisam aprender amar e respeitar o direito do outro de crer e pensar. Podemos divergir em questões como aborto, bioética, homossexualismo e ecologia, mas não podemos execrar os que pensam de forma diferente, e nem agredi-los pelas divergências. O mesmo se dá no campo da política. Quantas pessoas já morreram por causa de sua ideologia?
A atitude de Jesus diante da mulher adúltera torna-se um bom paradigma para nossa ética. Trouxeram-lhe uma mulher em flagrante adultério (por que não trouxeram também o homem?). Jesus pediu para que aquele que não tivesse pecado, jogasse a primeira pedra. Ninguém o fez. Jesus a acolheu e a protegeu da intolerância dos religiosos, e quando a mulher se viu livre, Jesus afirmou: “Nem eu te condeno, vá e não peques mais!”.
Ele deixou claro que não concordava com seu comportamento. No entanto, não odiou, discriminou ou a tratou com preconceito. O fato de estabelecer padrões de certo e errado, não deve nos condenar, mas ao mesmo tempo, não devemos hostilizar quem agiu fora dos princípios que consideramos eticamente correto.
Toda forma de intolerância, seja em nome do que for, inclusive de Deus, deve ser rejeitada. A intolerância de quem não admite e quer silenciar quem pensa o contrário, porque ignora e não lida com a sua própria intolerância é um contrasenso; a intolerância ideológica é perversa e cruel; a intolerância ética é desamorosa e a intolerância religiosa é a pior de todas, porque pretende transformar o Deus Santo em aliado da perversidade de seu próprio coração. 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Rumores




Você sabia que o caixão de Abraham Lincoln precisou ser aberto duas vezes pelas autoridades americanas? A primeira vez foi em 1887, 22 anos depois do seu assassinato. Por que? Podemos pensar que as autoridades o fizeram para determinar se a arma usada era realmente de John Wilkes Booth, mas na verdade, a razão foi absolutamente hilária. Um rumor de que o corpo de Lincoln não estava dentro do caixão, e tal fofoca alastrou-se por toda a nação. Então, um grupo seleto de testemunhas foi nomeado para atestar que o que se falava era inteiramente falso.
Na segunda vez, 14 anos depois, seu alaúde foi novamente aberto, e sabem porquê? Pela mesma ridícula razão que mais uma vez ganhou o imaginário publico, trazendo novas dúvidas. Então, um novo e maior grupo foi chamado para também testemunhar o mesmo fato: O corpo de Lincoln, de fato, estava lá. Desta forma, finalmente, seu corpo pode descansar em paz e foi colocado num túmulo na cidade de Springfield.
Como o rumor pode ser gerar sementes da desconfiança. Pessoas que se alimentam de maledicência e fofoca se tornam presas de conversas fiadas, causando muita dor de cabeça e injustiça.

Diante de comentários maldosos, Charles Swindol sugere quatro princípios:

  1. Identifique as fontes pelo nome – É o que comumente chamamos de “dar nome aos bois”. Se alguém faz uma grave e dura crítica ao comportamento de outro, peça para que deixe claro quem fez a afirmação. Esta é uma das melhores formas de apagar o incêndio que a fofoca é capaz de gerar;
  2. Fundamente as evidencias com fatos – Não aceite comentários aleatórios. Recuse-se a aceitar o que está sendo dito até que realmente as informações possam ser comprovadas. A verdade nunca é velada ou incerta. Falsos dizeres são desmascarados quando expostos à luz.
  3. Pergunte ao informante: “posso citar você?” Se a pessoa assume o que está dizendo, é porque ela realmente deseja que tal fato seja elucidado, e não se trata de uma atitude destrutiva. “Quem sussurra segredos é porque não pode falar alto, e as palavras cochichadas nas trevas são sempre rebuços de idéias que não se ousam se manifestar ao sol”. 
  4. Admita abertamente que não aprecia tais comentários – Em geral a fofoca se retroalimenta de pessoas que gostam de falar e de ouvir. Tenho aprendido que quem traz informações gosta  de levá-las. Para que uma maledicência floresça, é necessário que haja ouvidos receptivos. Se a gente não alimenta o informante, a maledicência tende a desaparecer.
A grande verdade é que: "Grandes pessoas conversam sobre idéias, pessoas médias conversam sobre coisas, pessoas medíocres conversam sobre pessoas!" (Eleanor Roosevelt).

segunda-feira, 4 de março de 2013

Bang!




A idéia é simples. O significado é tenso, denso, intenso. O novo aplicativo de sucesso do facebook vai direto ao ponto. Uma pessoa marca na lista de amigos aqueles com quem toparia transar. Se a pessoa assinalada também marcá-la, automaticamente um e-mail é enviado com os seguintes dizeres: “É hora de transar!”, recomendando que os mesmos combinem os detalhes.
Lançado há três semanas, o programa já conquistou 500 mil usuários em todo mundo. Em 14 dias já serviu para marcar encontros com mais de 130 mil pessoas.
O que podemos extrair disto?
O sucesso do bang traduz a mudança na forma como as pessoas encaram valores, espiritualidade e relacionamentos. É o que Baugmant chama de “amor líquido”. Podemos estar vivendo um tempo em que as relações descartáveis serão cada vez mais estimuladas. Aqueles que topam o encontro sugerido pelo aplicativo, precisam ser lembrados de que depois da transa, eles não podem ter qualquer vínculo relacional. É sexo por sexo, ou sexo casual. O que se busca é o prazer e não um envolvimento.
O psicanalista francês Charles Melman foi um dos colaboradores mais próximos de Jacques Lacan (1901-1981) e o principal herdeiro de Sigmund Freud na França. Numa entrevista a revista veja afirmou que Muitos jovens encontram dificuldade para desenvolver plenamente uma vida sexual e isto lhe parece paradoxal, porque hoje o sexo é muito acessível. Mas para Melman, “a facilidade leva à busca de uma vida sexual sem compromisso, que proporcione um prazer ocasional“. Para ele esta ideia de aproveitar sem se engajar impõe uma questão: eles aproveitam plenamente? Para ele trata-se de “uma nova economia psíquica”, fundada sobre o princípio da busca imediata de prazer máximo, sem freios nem restrições. “Esses momentos de prazer, que proporcionam uma satisfação profunda, são vividos mas não organizam a existência, nem o futuro. Ou seja, a existência é feita de uma sucessão de momentos sem nenhuma projeção no futuro, de momentos que podem desaparecer porque não terão continuidade”
Afirma ainda que “as pessoas querem se distanciar da realidade não porque ela seja assustadora ou sem-graça, mas porque ela implica sempre um limite. Além disso, a realidade requer uma identidade, um objetivo mais ou menos claro na vida, ao passo que esses exercícios virtuais não pressupõem nenhuma identidade, nenhuma perspectiva e ainda derrubam todos os limites, incluindo os do pudor e da polidez”... Apesar de toda sua formação liberal, Melman se assusta com as perspectivas de tal comportamento: “Pela primeira vez a instituição familiar está desaparecendo, e as conseqüências são imprevisíveis. Fico surpreso que os sociólogos e antropólogos não se interessem muito por esse fenômeno”.
Acho que o ponto de vista de Melmann traduz de forma muito direta esta realidade. Nossa grande ameaça não é big-bang; nem bang-bang, mas simplesmente, “bang!”