terça-feira, 18 de abril de 2006

Liberdade autêntica

O evento Tiradentes é um dos marcos mais significativos na história brasileira sobre sua liberdade enquanto nação, muito mais importante, por exemplo, que a Declaração da Independência feita às margens do Ipiranga por D. Pedro I, que nada mais foi que uma saída honrosa, um arranjo político, para satisfação de pressões internacionais da Inglaterra, trazendo favorecimento financeiro aos poderes externos. O Dia da Independência, da forma romântica como nos é ensinada nas escolas é uma grande farsa. Quem declarou a independência foi o opressor, que continuou dominando sobre uma suposta nação livre. A situação foi tão flagrante que vários países da América do Sul, por anos, recusou a reconhecer esta farsa da independência realizada na Terra Brasilis.
O evento Tiradentes é diferente. Homens desejosos da liberdade deram, de fato, suas vidas, sacrificando-as em torno de um ideal, que era uma nação livre das ingerências da Coroa Portuguesa. Morreram em praça pública, como criminosos e rebeldes, tornando-se semente para a autonomia brasileira.
Isto nos direciona para a questão da liberdade. O que é, de fato, liberdade? O que leva homens a darem sua vida e a morrerem por ideal? Os dicionários muitas vezes definem liberdade em termos negativos: “Ausência de repressão, prisão” ou mesmo “o fato de não estar acorrentado, restringido no seu direito de ir e ver, de pensar e afirmar o que pensa”. Todas definições possuem certo aspecto negativo. O verdadeiro clamor por liberdade, contudo, é mais que um apelo para se ver livre da tirania, sendo também, um convite para uma vida plena de significado.
Michael Ramsey fez uma série de palestras para a Cambridge University (Londres, 1970) indagando: “Todos nós queremos o homem livre de alguma coisa, mas precisamos também perguntar, para que queremos liberdade”.
O que Ramsey advoga é que Liberdade absoluta e ilimitada, não quer dizer liberdade autêntica. Ele usa o exemplo do peixe. Deus o criou para viver na água. Sua estrutura é preparada para absorver oxigênio da água, por isto, o peixe só vai encontrar seu significado, sua identidade, sua plenitude, vivendo na água. Ele está limitado ao seu habitat, mas nele encontra verdadeira liberdade. Se ele resolve sair do aquário em que vive, buscando viver no carpete ou no concreto, sua atitude o leva para a morte, não para a liberdade.
Autêntica liberdade, portanto, é exatamente o oposto daquilo que muitos pensam. Não existe liberdade quando perco a interação e responsabilidade para com Deus e para com os outros. Isto é escravidão ao meu egoísmo, aos meus instintos e aos meus apelos interiores. Neste sentido, minha liberdade torna-se minha algema.
Verdadeira liberdade, portanto, alterna dois pólos: O negativo (liberdade de que?) com o positivo (liberdade para que?)
Desde que o homem faça o que está dentro dele, cometerá sempre pecado mortal… livre, ele é apenas para o mal”(Lutero). Agostinho finaliza dizendo: “O Livre arbítrio sem a graça apenas outorga poder ao pecaminoso”. Neste caso, não há autêntica liberdade, que deveria nos ensinar a amar, mas uma forma de escravidão que nos leva a viver egoisticamente. Alexander Soljenitsin, conhecido dissidente russo afirmou: “Quando você despoja um homem de tudo o que ele possui, ele já não está mais sob o seu poder. É livre de novo”. Este é o paradoxo da liberdade.

terça-feira, 4 de abril de 2006

O Problema do sofrimento e do mal

Numa palestra proferida na Harvard University em 2001, o Dr Billy Graham, falou sobre os grandes mistérios que ainda perduram na humanidade apesar de sua conquista tecnológica. Problemas espirituais que só podem ser resolvidos com respostas morais e espirituais: (a) O problema do Mal - Nosso século povoado de tragédias: Mortes, guerras, catástrofes. Como explicar o mal, em seu poder de mudar nossa história e sonhos? (b) O problema do sofrimento - Divórcio, orfandade, guerras, violência, destruição da família. Por que sofremos? (c) O problema da morte – Como explicar este fenômeno que é ao mesmo tempo tão natural e antinatural?
A Bíblia nos ensina que o universo foi criado de forma perfeita e harmoniosa, e que Deus considerou que tudo que havia feito era muito bom, mas o pecado entrou no mundo por causa do orgulho, rebeldia e das escolhas morais feitas pelo homem. A dor e o mal vieram como conseqüência, não faziam parte do plano original de Deus. “Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 7.29).
O mal, a dor e a morte não faziam parte do propósito original de Deus, mas são resultantes de conflitos morais e decisões erradas. Se formos honestos, veremos que muitos dos males que sofremos resultam de nossa atitude tola nas escolhas que fazemos e nas prioridades erradas que damos à nossa vida.
Jesus, contudo, não considerou o sofrimento de uma forma normal. Muitas vezes se sentiu indignado e entristecido diante do desprezo humano em relação à vida. Por duas vezes tentou tirar dos discípulos uma cosmovisão equivocada e cultural que tinham de associar a dor a um pecado especifico (Lc 13.1-5; Jo 9.1-4). Ao ministrar sobre este assunto, deixou claro que, o mal, nem sempre, é resultado de escolhas morais. Ele considerou o mal como algo anormal, e por isto não aceitou resignadamente a brutalidade e violência da vida. Chorou diante da morte, reagiu diante de atitudes de lideranças que impunham sofrimento aos seus liderados, curou leprosos, cegos e coxos, conspirando contra a angústia presente na vida humana.
A dor, o mal e a morte ainda continuam sendo filosoficamente desafiadores, às vezes ficamos perplexos diante de notícias estarrecedoras. Apesar de não entendermos a complexidade destes fatos, somos exortados a lutar contra toda forma de expressão, violência e anti-vida com a qual nos defrontamos. “Precisamos resgatar a capacidade de indignação e dor diante da miséria que assola a América Latina” (Oscar Bulhole). Devemos lutar contra toda expressão satânica ou humana do mal, da injustiça e da opressão, lembrando que “A religião pura e sem mácula para com nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tg 1.27).
O mal não pode ser explicado em todas as suas dimensões, mas isto não pode levar-nos a uma atitude cômoda em não combatê-lo com a prática do bem. O mal e a dor podem não ser teologicamente explicados, mas devem ser confrontados com o exercício do bem e da promoção do Reino de Deus. Quando somos a vítima do mal, somos também desafiados a enfrentá-lo com coragem, fé e esperança. “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12.31).