sábado, 26 de novembro de 2016

O Diálogo


Hoje, dia 26.11.2016, faleceram duas pessoas curiosas, com backgrounds e convicções completamente diferentes. Fidel Castro e Dr. Russel Shedd. Um aos 90 anos de idade, outro aos 87. Um aclamado e reconhecido no mundo inteiro, outro conhecido num segmento bem específico no Brasil. Ambos viveram e lutarem pelo que creram, embora tivessem cosmovisão e interpretassem a vida de forma completamente distinta. 

Fidel Castro era marxista-leninista, revolucionário, carregava no peito a utopia de transformar a história, para ele as opções estavam polarizadas entre “socialismo ou morte”, por isto apoiou movimentos de lutas e guerrilhas de esquerda ao redor do mundo, e exerceu enorme fascínio sobre os movimentos libertatórios da América Latina. 

Viveu de acordo com suas convicções, assumiu Cuba num movimento sangrento em 1959, tirando-a das mãos do corrupto Batista Fulgêncio, presidente eleito da ilha de Cuba entre 1940 e 1944, e ditador cubano entre 1952 e 1959, até ser derrubado pela Revolução cubana. No poder, sustentou e treinou guerrilheiros e militares, apoiando movimentos de esquerda no mundo inteiro. Muitos artistas e intelectuais do Brasil eram ardorosos defensores de seus princípios e métodos. A ex-presidente Dilma Roussef, recentemente construiu um porto em Cuba, num contrato de gaveta do BNDES no valor de 720 milhões de dólares, cujo conteúdo só pode ser aberto, por força de lei em 2026.

Para alguns ele era um demônio, para outros, um deus. Para uma boa quantidade de pessoas, um mito. 

Dr. Russel Shedd era boliviano, filho de missionários americanos. Viveu no Brasil por 40 anos e era pregador do Evangelho. Possuía doutorado em grego, língua original em que foi escrito a Bíblia (Novo Testamento), e se esforçava para traduzir o pensamento de Cristo e dos apóstolos aos seus ouvintes. Nunca esteve conectado aos poderes públicos, viveu de forma praticamente anônima pela mídia, e anunciava o grande projeto de Deus para a humanidade, ensinado por Jesus, que morreu para resgatar e redimir os pecados da raça humana, perdoando assim os pecados de todos os que nele cressem.

Era homem de uma espiritualidade profunda, sem os cacoetes de “homens espirituais”, tinha um profundo e singelo amor por Cristo e no final de sua vida, já fragilizado pelo câncer, afirmou que através da dor, estava “desmamando do mundo”, e que ansiava pelo gozo celestial e pela vida eterna que teria com Jesus. Assim como Fidel, viveu e morreu de forma coerente com aquilo que cria.

Peter Kreeft é um filósofo cristão, professor da Boston University, e escreveu o livro “O diálogo”. O pano de fundo de sua ficção era a possibilidade de três conhecidos personagens da história, que morreram no dia 22 de novembro de 1963, se encontrassem numa antessala do mundo porvir. Eram eles: Aldous Huxley, romancista ateu, sem qualquer convicção religiosa; John Kennedy, estadista e político; e C.S. Lewis, escritor cristão. Usando os escritos de cada um, e o pensamento que norteava cada um deles, imaginou qual seria a validade de suas afirmações depois da morte. É um livro interessante...

A ficção de Kreeft me faz indagar, quais seriam as argumentações de Fidel e Shedd, se tivessem agora a oportunidade de conversarem sobre seus pressupostos e conceitos. 

Estaria Shedd frustrado por ter ensinado um monte de enunciados que não valem nada após a morte? De falar de um Cristo que vive no imaginário coletivo de milhões de pessoas ao redor do mundo? Compreenderia, finalmente, que ensinou sua fé aos outros, mas que nada disto era coerente? Estaria Fidel dizendo agora: “Não falei? Este negócio de vida após morte é balela?”. Seriam os conceitos de Fidel sobre Deus válidos neste momento de transição, ou estaria Shedd com a razão?

Os leitores também poderão alternar entre a convicção de um ou de outro.

É tudo uma questão de perspectiva...

Fidel estava convencido do materialismo dialético hegeliano...

Shedd preferiu seguir o pensamento de Paulo: “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda”. 

Descartes afirmou: “Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel”.

Certamente Jesus nunca deixou em dúvida o que ele enunciou. Pelo contrário afirmou: "Na minha casa há muitas moradas, se assim não fora, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar", noutro lugar afirmou: "Aquele que crê em mim, nunca será confundindo", num texto paralelo outro evangelista colocou. "Aquele que crê em mim nunca será envergonhado!". 

Não é maravilhoso seguir para o céu com convicções tão claras no coração?

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Emoções distorcem a realidade

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Certa pessoa, desempregada há vários meses, com todas as suas finanças em desequilíbrio, procura o terapeuta por causa de uma grave crise no seu casamento. Depois de um tempo de conversa e apoio, pode ver que aquela, definitivamente, não era boa hora para discutir relacionamento conjugal, afinal, poderia ele julgar corretamente os fatos debaixo da pressão da falta de recursos financeiros?

Uma jovem recém casada procura sua mãe, sentindo-se inadequada, triste e deprimida. Sua mãe, sabiamente a indaga se naqueles dias em que estava na sua tensão pré menstrual, ela estaria apta para julgar a realidade sem que fosse afetada pelas suas alterações hormonais.  A jovem compreendeu que realmente não estava em boas condições, já que sua TPM a fazia distorcer os fatos, fazendo com que os problemas parecessem maiores do que realmente eram.

Na Bíblia encontramos o relato e desabafo do salmista Asafe, um dos grandes músicos de Israel, e sua visão sobre Deus estava profundamente alterada. “De noite indago o meu íntimo, e meu espirito perscruta. Rejeita o Senhor para sempre? Acaso não torna a ser propício? Cessou perpetuamente sua graça? Esqueceu-se Deus de ser bondoso?” Ao lermos atentamente estes versículos concluímos que algo estava distorcido na sua compreensão sobre o Eterno, mas em seguida, ele faz a seguinte observação: “Então, disse eu: Isto é a minha aflição!

Em todos estes casos, podemos perceber que as leituras que faziam estavam sendo distorcidas por uma circunstância ou pela saúde, e isto é muito mais comum do que imaginamos. Portanto, considere o seguinte: Ao fazer julgamentos duros, implacáveis e severos demais sobre a vida, os outros, sobre você ou Deus, pergunte a si mesmo: Estou emocionalmente bem para avaliar corretamente os fatos ou estou deixando que a pressão do momento, o stress ou meus hormônios me dirijam?

Conflitos, enfermidades, lutos e tragédias podem nos desequilibrar, e quando tomamos decisões ou fazemos asseverações radicais nestes momentos, quase que inevitavelmente nos equivocaremos e traremos consequências danosas para nossa vida.

Então, se conseguir lembrar, veja se as emoções, a situação e a saúde são aliados ou inimigos. Se perceber que algum destes fatores o leva a julgamentos equivocados, reflita um pouco mais, antes de ser conclusivo. Outros momentos melhores virão quando, com ânimo sereno, você terá condições de julgar melhor os fatos.


Dráuzio Varella, no livro “o fio da navalha” afirma que “preconceitos distorcem a realidade mais do que alucinações”. O mesmo podemos dizer das emoções. Uma pessoa debaixo de pressão, pode encontrar dificuldade de ver as coisas como de fato elas são, e avaliar baseado naquilo que parecem ser. Cuidado com seu emocional: ele pode distorcer seus julgamentos e até mesmo a realidade.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Solidão antropológica


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Embora o homem moderno esteja se tornando cada vez mais solitário e distante, a ancestralidade orienta a raça humana à comunidade. Fomos feitos para viver em grupos, e não separadamente.

Você jamais verá um homem primitivo, alijado ou separado socialmente de um clã. O homem da caverna vivia em grupos familiares, e os selvagens dos lugares mais remotos viviam em aldeias, partilhando a comida, copulando, criando filhos e protegendo-se mutuamente. Em algumas culturas, até mesmo a criação de filhos era algo comunitário. Viver de forma solitária é uma impossibilidade antropológica, antes de ser sociológica ou religiosa. As pessoas viviam em agrupamentos, aglutinados pelos deuses, símbolos e linguagem.

A sociedade atual, porém, contrariando toda sua matriz, tem insistido na privacidade. Quer viver do seu jeito, lutando pelos seus interesses, sem considerar a profícua experiência de viver comunitariamente. Boa parte das doenças mentais e neuroses tem surgido, deste desatinado estilo de viver do homem moderno. Já imaginaram um homem das cavernas tendo crise existencial, de angústia, solidão, ou crise de sentido? Podemos até pressupor a existência do medo, como uma realidade visceral e protetiva, mas estas doenças afins são resultantes do isolamento humano.

O aclamado psiquiatra Scott Peck inicia seu livro “The different drum” (O tambor diferente), declarando que a vivência em sociedade é a raiz da esperança. Ele compartilha diversas experiências de pessoas que foram curadas de neuroses ou distúrbios psiquiátricos, apenas por encontrar um grupo de apoio e encorajamento. Ele mesmo admitiu que ao atravessar período de extrema angústia, foi restaurado por encontrar uma comunidade. Esta vivência pode ser encontrada em grupos terapêuticos, grupos de interesse, grupos de “anônimos” ou em igrejas.

A caminhada solitária e privativa tem forte apelo moderno, mas tal isolamento é considerado um dos fatores predisponentes das fobias e crises ansiolíticas. Esta nova proposta de vida não é, do ponto de vista antropológico, a resposta para os anseios humanos, que busca valor e significado. Deus não fez o homem para a solidão. Afinal, não foi ele mesmo quem afirmou “não é bom que o homem esteja só?”


Viver em grupo exige paciência, respeito e perdão. Eventualmente as regras impostas são despropositais e equivocadas, entretanto, na caminhada humana social, na comunicação, no olhar, no toque, na experiência familiar e comunitária, vamos sendo tratados e humanizados. Resgatamos nossa dimensão antropológica perdida. Relacionamentos são fonte de desgaste, mas também de cura; causam de dores, mas redimem. A caminhada solitária tem trazido muita doença emocional e predispõe inexoravelmente da raça humana à extinção. 

A sabedoria milenar confirma isto: “Melhor é serem dois do que um. Porque se caírem, um levanta o companheiro; ai, porem, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante”.  

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Feedback


Chamamos de feedback a reação que um determinado sujeito recebe ao emitir um comportamento. Uma definição rápida de feedback é “a informação que o emissor obtém da reação do receptor à sua mensagem, e que serve para avaliar os resultados da transmissão”.

Existem pelo menos dois tipos de feedback: positivo e negativo. E ambos, nem sempre são válidos. Explico.

Uma pessoa pode dar um feedback positivo à sua atitude, não necessariamente porque o que você fez foi relevante, com excelência, salutar e bom, mas porque ele deseja bajular você, com propósitos interesseiros Pior ainda, como o que você fez foi pobre ou sem muito valor, uma repetição de sua atitude pode denegri-lo ou mesmo levá-lo à ruína. A linguagem da bajulação é muito comum para aqueles que se encontram em posição de liderança, ou pode ser emitida com o propósito de nos dar um senso perigoso de comodismo.

O feedback positivo, na maioria das vezes, é uma fonte de encorajamento. Ele nos anima, nos desafia. Mark Twain afirmava que “poderia viver bem consigo mesmo por um mês, depois de uma apreciação positiva e sincera”. É bom receber elogios, mas não podemos viver em torno deles, e eventualmente, precisamos cuidar para discernir se os motivos são bons ou ruins.

O feedback negativo, pode ser um desastre, mas pode ser importante. A Bíblia afirma: “Leais são as feridas feitas por quem ama; mas os beijos do inimigo são enganosos” (Pv 27.6). Alguns chefes durões, colega casca-grossa, podem impulsionar muito mais nossa carreira do que a conversa mole de quem não nos ama sinceramente. Lemos também no livro de Provérbios que “como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro” (Pv 27.17). Esta experiência não é nada boa, porque tanto a faca que está sendo amolada, quanto a pedra de esmeril, sofrem desgaste no processo. Mas no final, o resultado pode ser bom. “Nenhum líder chegará muito longe se não desenvolver a capacidade de dar e receber feedback” (William Douglas), afinal, “o feedback é o café da manhã dos campeões” (Rick Tate).

Ao receber feedback positivo, é importante avaliar a validade deles. Tome cuidado com a soberba e a vaidade pueris, não se deixe levar pelos elogios. Ao receber feedback negativo, verifique até que ponto é procedente. Pode ser que o que você ouviu foi muito dolorido e até mesmo cruel, mas se for verdadeiro, vale a pena considerar porque é tolo aquele que é advertido e não ouve a exortação, apenas por causa da arrogância e orgulho.

Não sei se aprendi muito sobre este assunto. Sei como meu coração tendente à vaidade tem facilidade em receber apreciação e elogios, mas se recusa a ouvir críticas e análises duras, mas uma coisa é certa. Tenho um grande amigo pessoal, Wilson de Souza, que mora no Rio de Janeiro, e que durante muito tempo foi Diretor Administrativo da Eletrobrás, que certa vez me ensinou, (se eu aprendi é outra coisa), “Feedback é feedback. Ou você o recebe e considera, ou o recebe e joga no lixo”. 

sábado, 5 de novembro de 2016

A Teoria das Janelas Partidas


Em 1969, o Prof. Phillip Zimbardo, da Universidade de Stanford (EUA), realizou uma experiência de psicologia social, deixando dois automóveis idênticos abandonados na via pública, da mesma marca, modelo e cor. Um no Bronx, zona pobre de Nova York, e o outro em Palo Alto, zona rica e tranqüila da Califórnia, e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada lugar. 
O automóvel abandonado no Bronx começou a ser vandalizado em poucas horas. Perdeu as janelas, os pneus, o motor, os espelhos, o rádio, etc. enquanto que em Palo Alto manteve-se intacto. Então, os investigadores resolveram quebrar um vidro do automóvel em Palo Alto e aí um processo degradante e rápido se deu com este veículo. Por quê? A explicação é que um vidro quebrado dá a idéia de deterioração e de desinteresse. 
A "Teoria das Janelas Partidas", desenvolvida por Wilson e George Kelling concluiu que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são mais visíveis. Isto é comum em cidades nas quais o poder público e os cidadãos não estão preocupados com a ordem e limpeza. Se um lote está cheio de entulhos, outros terão mais liberdade de jogar mais lixo; se está limpo, as pessoas se sentirão inibidas em sujá-lo. Se os moradores de uma determinada rua resolvem limpar a frente de suas casas, fazer pinturas e reformas, os outros tenderão a fazer o mesmo. Se não se pune "pequenas faltas", como estacionar em lugar proibido, faltas maiores e delitos mais graves surgirão. Se não se pune pequenas atitudes de corrupção, como a de um fiscal de obras, a tendência será de outras pessoas começarem a fazer o mesmo. O sistema público brasileiro está caótico com a corrupção porque pequenas questões éticas foram abandonadas. 
Este princípio foi aplicado em Nova York, uma cidade tradicionalmente perigosa, no combate às pequenas transgressões, como dos grafiteiros, roubo de carteiras e bolsas, alcoolismo, drogas e sujeiras nas estações, e isto posteriormente impulsionou a política de "Tolerância Zero". Alguém explicou assim: “Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana”.
A Câmara de Vereadores de algumas cidades do interior de Minas Gerais estão exigindo que os moradores de lotes vagos, murem seus lotes até a altura de 80 cms, e os mantenham limpos. O efeito desta decisão sobre a cidade tem sido transformador. As cidades estão mais bonitas. Se a pessoa não faz a limpeza conforme determina a lei, a prefeitura limpa o lote de 3 em 3 meses, e manda o custo acrescido no IPTU, e é bem mais barato para o proprietário fazer a limpeza por conta própria.
Esta teoria tem enorme impacto no nosso quarto desorganizado, nas finanças desequilibradas e nos relacionamentos interpessoais. Portanto, é bom começar cuidando para que as janelas da alma não tenham seus vidros quebrados...