quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Essa questão me atormenta‏

Recebi nesta semana a seguinte questão de um amigo: “Rev. Samuel, numa discussão, fiquei sem resposta para a seguinte afirmação: Se Deus nos fez a sua imagem e semelhança, em que momento apareceu tantos defeitos? A tendência ao pecado é um defeito de fabricação? Preciso resolver isso”.
Aqui segue minha tentativa de resposta: A Bíblia diz que "Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias" (Ec 7.29). Isto mostra que Deus não fez o homem com defeito de fabricação. Ele o fez perfeito. O único "erro" de Deus foi fazê-lo com livre arbítrio, isto é, com capacidade de escolher entre o bem e o mal, entre o certo e o errado.
Ao colocar o homem no Éden, ele tinha a opção da obediência (vida), e rebelião (morte). Ele optou pela morte ao aceitar a sugestão da serpente que lhe disse que ele não morreria. Que o pecado não traria conseqüências morais, nem juízo. Que Deus não estava bem intencionado com ele, mas sustentava o seu governo com base na tirania moral e que temia que tivesse competidores, ou pessoas semelhantes a ele. O homem achou que a argumentação de satanás fazia sentido, e até hoje estas questões existenciais ainda se tornam a raiz da tentação para a humanidade.
Por que então Deus fez o homem livre? Não seria melhor se fizesse o homem “isento” e “blindado” do mal? Sem capacidade para escolhas erradas? Por que dar liberdade ao homem?
Deus fez isto para que ele pudesse se relacionar com o ser humano num nível espiritual. Animais não têm capacidade de quebrar o ciclo e fazer escolhas diferenciadas. Agem por instintos, não por escolhas morais. Não erram, mas também não possuem relações afetivas com o seu criador. O fato de Deus ter criado o homem à sua imagem e semelhança significa que somos capazes de responder com nossa mente, vontade e emoções ao criador, àquele que nos fez, de forma positiva ou negativa. Se Ele nos fizesse autômatos ou robôs, isto implicaria na impossibilidade existencial de termos um relacionamento baseado na escolha e no amor. Deus sabia do risco, nada disto o pegou de surpresa, mas o fez para que isto nos autenticasse enquanto ser. Por isto o homem é o único que sofre angústias e ansiedades, mas é o único ser capaz de ter relação. Ao fazer isto ele estava querendo que nosso relacionamento com ele fosse um critério de nosso coração, não mero automatismo. Espero ter ajudado...
Abraços
Samuel Vieira

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Não há Deus!

Julio A. Ferreira, renomado conferencista presbiteriano afirmou que a Bíblia é a mãe das heresias. Sua afirmação causou espanto e ele a justificou da seguinte forma: “Pessoas mal intencionadas com uma atitude tendenciosa podem isolar textos bíblicos e fazer as mais esdrúxulas declarações”. Por exemplo, se lermos apenas a primeira afirmação do Sl 14.1 isolando-a do seu contexto, veremos a seguinte afirmação: “Não há Deus”. Embora a frase completa seja: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus. Corrompem-se e praticam abominação”.
Quem diz que não há Deus? O insensato. Este termo na verdade é um eufemismo para a tradução mais crua do termo Nabal (no hebraico), que significa uma pessoa com alterações no seu juízo epistemológico e racional. Só o louco pode dizer em seu coração que não há Deus.Não há Deus! Por que os homens querem tanto provar que Deus não existe? A Bíblia não tenta justificar a existência de Deus, antes começa sua narrativa com o fato da existência de Deus. “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Não há preocupação ou tentativa de se propor a existência de Deus, de dar argumentos ontológicos, filosóficos ou teológicos sobre a existência de Deus. Deus não precisa ser provado, sua ausência é que desafia muitas pessoas a tentarem provar que Ele não existe.