sábado, 13 de novembro de 2021

A morte é um chiste!




Ao se deparar com a morte de um colega de trabalho, Pedro Bial escreveu o seguinte artigo:

“Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório, colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente? Não sei de onde tiraram esta ideia: morrer. A troco? Você passou mais de dez anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente. De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway, numa artéria entupida, num disparo feito por um delinquente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste. (...)”

A palavra “chiste”,  vem do espanhol e pode ser traduzida por “piada”, ou “brincadeira”. Talvez este seja o sentimento que o povo brasileiro teve diante da morte da goiana Marilia Mendonça, de forma tão abrupta, no auge do sucesso, aos 26 anos. Muitas pessoas morrem com esta idade, e não somos informados ou não ficamos tão chocados, mas quando se trata de uma personalidade pública isto abre um grande espaço de reflexão, porque nos identificamos com a dor dos amigos, dos familiares, com a dimensão da perda. 

Chiste é uma palavra que vem da língua espanhola e é muito usada em psicanálise. Trata-se do máximo de sentido na menor declaração, gerando grandes efeitos. Quando uma pessoa é capaz de fazer brincadeira diante da angústia, ou piada inteligente com a tragédia, ou rir da sua própria dor, isto pode ser chamado de chiste. A brevidade é uma das principais marcas linguísticas do humor. O chiste é breve, e é nele que reside, por assim dizer, a graça. E pode ajudar a descarregar uma agressividade que tem de ser reprimida. 

A Bíblia afirma que “a morte é a último inimigo a ser destruído” (1 Co 15.26). Enquanto isto, temos que lidar com sobressaltos, a dor, o luto, o sentimento de impotência. Nossa humanidade está destinada à transitoriedade, à temporariedade, A vida é como um conto ligeiro, como um breve pensamento, como a erva do campo que nasce de madrugada e à tarde, murcha e seca. 

Para o nihilismo a morte é o ponto final, desespero e vácuo; para aqueles que creem, transição e expectativa. Jesus sempre encharcou seus discípulos com esperança. “Não se turbe o vosso coração, credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu pai ha muitas moradas. Se isto não fosse verdade, eu jamais diria isto. Pois vou preparar-vos lugar”.

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