quarta-feira, 23 de março de 2005

Retraduzindo a Páscoa

Uma das boas heranças que a igreja Católica nos legou foi a da obra expiatória de Cristo. Repetidas vezes durante a liturgia era necessário afirmar: "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, tende piedade de nós". Esta frase traduz a essência da Páscoa!

A Páscoa, contudo, como todas as mensagens cristãs, tem perdido seu significado. O comércio voraz, faminto de dinheiro, trocou o cordeiro pelo coelho. Aliás, um coelho muito versátil, quase milagroso, que põe ovos de chocolate de todos os tamanhos e para todos os gostos. Para o consumismo insaciável, a essência da páscoa não tem a menor importância. O que importa é vender, vender muito, ainda que na mente das pessoas a verdade seja sacrificada, e o cordeiro fique esquecido. Para uma sociedade materialista, secularizada e consumista cujo deus é o ventre, o importante é empanturrar o estômago de chocolate, ainda que se sacrifique no altar do comércio esfaimado, a essência da verdade.

Páscoa significa originalmente “passagem”, vem do hebraico pesah, e é associada com o verbo pasah, que significa “saltar” ou “passar por cima”. Foi usada originalmente para expressar o fatídico dia em que o povo de Deus estava saindo do Egito e o anjo da morte "passou" sobre o povo judeu, sem que nenhum mal pudesse atingir aqueles lares que foram marcados pelo sangue do cordeiro que estava pintado nos umbrais das portas. Esta é uma história central do Antigo Testamento. Naquela noite o povo de Deus foi salvo da tragédia da morte dos primogênitos, porque um cordeiro tinha sido sacrificado e o seu sangue havia sido aplicado sobre as vergas das portas. Esta é a história épica da libertação do povo de Deus do cativeiro, com mão forte e poderosa. (Livro de Êxodo, cap 12).

No Novo Testamento, aprendemos que Jesus é o cordeiro pascal, O cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Foi ele quem foi imolado na cruz por nós. Ele sofreu o castigo que nos traz a paz. Deus lançou sobre Ele a iniqüidade de todos nós. Ele, como ovelha muda, foi para o matadouro, carregando os nossos pecados. Ele se fez maldição por nós. Ele morreu derramando seu sangue, adquirindo para nós eterna redenção. Esta é a história da nossa libertação. Não podemos deixar que ela seja distorcida e diluída em chocolate. Não podemos permitir que o maior de todos os sacrifícios, vivido na hora mais amarga do Filho de Deus, bebendo sozinho o cálice da ira divina, seja reduzido a um festival de gastronomia.

Coelho ou cordeiro?
O coelho é um intruso que nada tem a ver com a festa da páscoa. Esta festa é a festa do cordeiro, do Cordeiro de Deus. Ele sim, deve ser o centro, o conteúdo, a atração e a razão de ser desta festividade. Que a nossa família possa estar reunida não em torno do ovo de chocolate, mas em torno de Jesus, o Cordeiro que foi morto, mas vive pelos séculos dos séculos, tendo a certeza que estamos debaixo do abrigo de seu sangue.
Não é crime compartilhar fraternalmente um ovo de Páscoa. Mas é grave esquecer que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

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