segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Esperança e Vida

O filme "enemy at the Gates", retrata a dura tensão vivida pelo povo russo diante da invasão alemã. Um jovem e talentoso atirador, qualidade esta herdada de seu avô é posto praticamente sem arma, diante de um inimigo impiedoso. Por suas habilidades com o rifle, tornou-se herói diante de seu povo, saindo assim do anonimato. As armas que ele usou durante este tempo encontram-se num museu em Leningrado.

Quando seu superior visita os soldados, encontra uma tropa desanimada diante das perdas. Ao perguntar o que estava faltando para que os mesmos fossem encorajados, um deles responde, de forma conclusiva e direta: Falta esperança!

Mais do que qualquer coisa que eu tema diante de tantos escândalos resultantes deste mar de lamas em que se meteu nossos políticos, estou temeroso do "ripley effect" que isto possa trazer à outra geração que se seguirá à nossa. Temo que deixemos um legado de cinismo, falta de crítica, ausência de sonhos e perda da esperança. Este seria o maior mal que poderíamos deixar em nossa herança histórica. Trabalhar com um povo sem esperança e sem sonhos é algo muito nocivo. Esperança é uma palavra chave na essência de todo ser humano. Viver sem sonhar, sem crer, sem esperar é passar pela vida e não viver.

Converse com os jovens dos colégios da periferia ou mesmo das escolas mais caras das cidades: Como estão seus sonhos? Qual são suas expectativas e em que confiam? O que eles esperam do futuro? Analisem por exemplo, uma estatística citada recentemente de uma universidade do Rio de Janeiro na qual 44% dos estudantes responderam que acham que a melhor forma de governo para o Brasil é a ditadura. Perderam a fé na democracia, na capacidade embutida no peito de cada um de nós de sermos agentes de transformação histórica. Roubaram a esperança desta geração e isto é uma crueldade sem precedente de nossas lideranças políticas e empresariais. Nada pode ser pior para um povo que retirar-lhe a capacidade de sonhar. Mesmo porque um povo impotente tende a se tornar violento, criando uma espécie de "violência reativa", segundo a definição dos sociólogos.

"O homem não pode, contudo, sobreviver sem esperança, é a esperança que nos dá autoconsistência" (Rubem Alves, O enigma da religião, pg. 124). Uma das coisas mais impressionantes na mensagem de Cristo era sua capacidade de gerar esperança a pessoas que haviam perdido sua referência antropológica e existencial. Olha para uma mulher enlutada e diz: "não chores". Encontra-se com um pai desesperançado que lhe pergunta se existe alguma coisa que possa ser feito e ele afirma: "tudo é possível ao que crê". Conversa com Marta e Maria e gera esperança na alma ao afirmar que se elas cressem "veriam a glória de Deus!". Na verdade, A atmosfera de grande expectativa é o forte solo para grandes milagres.

O que falta a esta geração? Esperança! Porque só ela pode mobilizar nossos significados, dar sentido à alma, fazer gente prostrada erguer novamente a cabeça, gerar sonhos e expectativas. Precisamos de esperança histórica, existencial, filosófica, mas acima de tudo, precisamos também de esperança em Deus, sentido final de nossa existência.

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