segunda-feira, 10 de outubro de 2005

REFERENDO SOBRE ARMAMENTO

A questão que orienta este referendo é: "Podemos ou não podemos comercializar armas?". Vote sim ou vote não!

Na minha concepção a discussão deveria ser menos superficial, e a questão mais aprofundada. Eis uma pergunta que ninguém quer fazer: Quais são os fatores que tem gerado tanta violência em nosso país? Sabemos que cerca de 39 mil de pessoas foram assassinadas com armas de fogo no último ano, mas ninguém pergunta a razão da violência estar tão acentuada.

Um dos princípios fundamentais do Bill of rights dos Estados Unidos, que se constitui na segunda emenda da constituição daquele país é que o cidadão tem o direito de portar armas. A violência dos Estados Unidos, com todo este direito individual do uso das armas é muito inferior a do Brasil. Obviamente existem outras razões naquela cultura que tem gerado estranhas formas de violência e que não tem nada a ver com o direito de ter ou não ter armas, adquiri-las ou não.

Para que você compre uma arma naquele país, você é cadastrado e não pode adquiri-la no mesmo dia em que se propõe a fazê-lo. Seu cadastro é avaliado por peritos, você se expõe, mas ainda assim, este é um direito individual adquirido. A violência da indiferença, de um povo rico e sem sentido, de culturas marginalizadas tem sido muito mais preocupantes do que ter ou não ter armas.

A violência de um povo de índole reconhecidamente pacifica como o Brasil é resultante do descaso da liderança política, da incompetência do governo brasileiro, do crime de colarinho branco, do mau uso dos recursos públicos, da falta de investimento em educação, do desamparo com a saúde pública, da falta de preocupação com os pobres, da injustiça com o trabalhador. Não é a arma o agente do crime, antes uma estrutura sistêmica, endêmica e pandêmica que promove a exploração e tira lucros da miséria de um povo abandonado e esquecido. A Violência não vai diminuir porque não se comercializa armas. Ladrões e criminosos saberão onde encontrá-las. A violência tem a ver com o coração. A grande violência de hoje não é feita com armas de fogo, mas com canetas em escritórios de gente inescrupulosa, eleita para defender o direito do povo, mas que não consegue legislar a favor do órfão e da viúva.
Guerras não são apenas acontecimentos circunstanciais, possuem etiologias e raízes bem mais profundas do que parecem à primeira vista (Tiago 4.1). Este texto aponta a origem da conflitividade humana como alguma coisa mais interior. Paz não é mera supressão de armas, tem a ver com a natureza mais intrínseca da natureza. Violência é subproduto da alma em conflito, do desejo de sucesso a qualquer preço, da tentativa desesperada de resolução de uma luta maior que se abriga na alma. “A violência é a expressão da onipotência". (Hanna Arendt, 1906-1975, escritora alemã).

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