terça-feira, 9 de agosto de 2005

A Mentira como linguagem universal

Todos estamos espantados com a quantidade de lixo que tem vindo à tona nestes últimos dias com o depoimento dos suspeitos nas CPIs. Apesar de todas as reincidências de corruptos e corruptores no Brasil, isto sempre entristece, porque a corrupção enfraquece a nação, zomba do caráter do homem honesto, ridiculariza as instituições e faz-nos crer que a esperteza e a malandragem compensam. Lamentavelmente a corrupção no Brasil tem uma tonalidade endêmica, sistêmica, pandêmica, estrutural e oficializada, e este sonho de termos uma nação liderada com seriedade deve ser acalentada em nossa alma, não apenas de expectadores de um mundo mais justo, mas de agentes para que esta justiça deixe de ser utópica e se torne uma realidade.

A corrupção, contudo, não vem sozinha, já que a miséria detesta solidão, ou como dizem os ingleses: "misery loves company". Mas o que nos assusta é que, aliada à mentira. Zuenir Ventura no seu excelente artigo O festival de mentiras, afirma o seguinte: "Uma das maiores descobertas da CPI dos Correios é a de que não só a corrupção é endêmica; a mentira também. Ela e a omissão têm sido usadas com tanta freqüência, a hipocrisia está tão vulgarizada e o cinismo tão banalizado que, se alguém resolver falar a verdade, vai fazer o maior sucesso".

A habilidade das pessoas mentirem sem o menor decoro, sem que o rosto se core, sem que se revele a falsidade e o engodo é algo admirável, e isto me assusta mais do que o crime em si. O crime pode ser cometido por alguma fraqueza de caráter, ou por achar que o crime compensa, ou porque se crê na impunidade ou na ineficiência do judiciário brasileiro, mas mentir de forma natural revela um aspecto incrustado no caráter que nos faz tremer estruturalmente. Esta deformação de caráter com tanta eficácia, é algo assustador...

Pessoas aprenderam a mentir. Mentir já não pode ser pego pelo detector de mentiras. Aprendeu-se a fraudar descaradamente, a mentir para sobreviver. Aliás, sempre me assustou um lado do José Dirceu, que pode viver por 10 anos com sua mulher, ter um filho com ela sem nunca revelar sua identidade e seu lado oculto de guerrilheiro. Entendo que existe um lado todo de proteção, medo e ameaça, mas um ocultamento tão eficiente com a pessoa que se ama, com quem se dorme, e com quem se gera um filho por tanto tempo me faz tremer.

"Pessoas Karina, Marcos Valério, Delúbio, Silvio, Simone foram capazes de passar dez horas dizendo “não sei”, “não me lembro” com a mais tranqüila cara-de-pau, mesmo quando as negativas tinham contra si todas as evidências". Fica-se com a impressão de que a mentira triunfa, desde que as respostas sejam bem ensaiadas com os advogados, e a contradição evitada pela habilidade jurídica.

O problema é que a mentira vai se revelada, desmascarada. A verdade clama por si só. Mais cedo ou mais tarde a mentira, como uma mancha de óleo de um submarino atingido vai revelar que alguma coisa encontra-se por ali. Nosso Mestre já nos advertiu dizendo: "não há nada oculto que não venha a ser revelado". O problema é esta sensação de impunidade, que nos leva a crer, ainda que por breve tempo que a mentira triunfa, e que quando bem articulada ela poderá funcionar.

Zuenir Ventura afirma: "Tido como leninista, Dirceu perdeu a chance de aplicar a lição de Lenin de que a verdade é que é revolucionária, não a mentira". Se virmos no ângulo cristão, a severidade é ainda maior: "o diabo jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8.44).

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