sexta-feira, 22 de abril de 2005

Dia do Índio

No nosso calendário brasileiro, O dia 19 de Abril é dedicado à causa dos índios que coincide com o dia do descobrimento do Brasil que é o dia 22 de Abril. Estas datas na verdade se tocam profundamente já que não se pode falar daquele dia sem entender realmente o que aconteceu quando os navegantes aqui chegaram.

Uma redefinição talvez se faça necessário destas referidas datas: O dia 22 foi o dia em que os portugueses colocaram os pés em terras brasileiras, e naquele dia, descobriu-se o Brasil. O problema é que antes deles descobrirem o Brasil, milhares de pessoas já moravam aqui. A nação conquistadora, Portugal, tinha 1.5 milhão de habitantes, e os povos indígenas que aqui habitavam somavam cerca de 6 milhões de pessoas. Quem descobriu quem?

Na verdade não se pode falar mais em descobrimento do Brasil. Semântica e politicamente esta análise é incorreta. Tem-se a impressão de que os nativos brasileiros estavam perdidos e agora foram achados pelos descobridores. Esta descoberta nada mais foi que um encontro de civilizações. Lamentavelmente o poderoso sempre escreve a história, e o que aprendemos nos livros escolares traz uma visão colonialista da triste realidade que até hoje nos assedia que é a mentalidade de província, de dependência dos centros de poder. Mudou-se a geografia do poder, mas não se mudou a mentalidade. Mudou-se a forma de poder, de colonialismo para neo colonialismo, mas a opressão e dominação continuam.

Naqueles dias, porém, todo dia era dia de Índio...

A Palavra "índio" aponta para algo nativo, que brota da terra, e que se identifica com a natureza, que, ao contrário que alguns pensam, não é mãe, mas filha, uma vez que ela é não é progenitora, mas criatura. Quando se fala de mãe natureza, tende-se a criar uma espécie de panteísmo filosófico. Índio é algo relacionado a adamã (palavra hebraica para terra, daí a raiz da palavra para Adam, o primeiro homem, protótipo da natureza humana).

Deve-se comemorar o dia do Índio, como uma espécie de celebração da vida e da humanidade. Sua existência nos inspira em três dimensões:
1. A rever equivocados conceitos históricos eventualmente veiculados nos livros escolares, nos convidando a uma análise mais crítica de nosso papel como nação que se relaciona com outras nações e à reflexão sobre o nosso papel como povo neste encontro com a aldeia global que é a terra.

2. Sua existência também nos desafia a considerarmos a ética da natureza, o papel da terra, das árvores, dos rios, do ecossistema. Convida-nos a refletir sobre a necessidade de nos relacionarmos com a terra não numa estrutura de dominação e conquista, mas num relacionamento de graça e interação. A questionarmos a ambição desmedida pela riqueza natural que gera um problema ambiental com graves e prolongadas seqüelas sobre as futuras gerações.

3. Acima de tudo, somos convidados também a celebrar o Planeta terra, e, ainda mais importante, somos convidados a Celebrar Deus no Planeta terra, uma vez que se torna difícil desvincular o conceito da criatura de sua relação com Deus o Criador. O Dia do Índio nos aponta para o Deus que o criou à sua imagem e semelhança, como imago Dei, e por isto, o Índio possui uma dignidade inerente nele mesmo, como gente, como pessoa, criatura na relação com aquele que o criou. O índio não é menos, nem é mais, acima de tudo é. E como ser humano deve ser considerado na sua mais fina e particular peculiaridade, como criação exuberante do Deus que o criou para ser objeto de seu amor.

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