segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Lost

Muitas pessoas acompanharam o seriado de TV, Lost, que se tornou um dos mais apreciados de todos os tempos. Só recentemente consegui assistir o último capitulo, sofri um certo desânimo no meio do seriado por perceber que os produtores, no afã de tirar proveito do enorme sucesso e ibope que tiveram, tornaram o mesmo repetitivo e muitas vezes sem proposta. O seriado acabou se tornando uma novela. Seus produtores é que acabaram perdidos.
Algumas coisas se tornaram claramente perceptíveis: O mal é muito presente, mas a idéia de Deus inexiste! Deus é absolutamente ausente, enquanto o mal se apresenta de muitas formas, em todos os lugares. Aqueles que aparentam ser pessoas do bem, de repente, por uma magia ou por um encontro, tornam-se do mal, tornando-se prisioneiros de sua biografia, história e culpa.
Aliás, culpa é um dos elementos chaves que movem toda trama. As pessoas tomam decisões pressionadas pelos equívocos e atitudes do passado. Quando Locke afirma que ele precisa fugir daquela ilha “abandonada por Deus”, ele faz uma descrição clara do inferno, na concepção cristã. Inferno, nada mais é que a ausência absoluta de Deus, o lugar onde a misericórdia e a bondade inexistem. Isto é inferno, tanto de forma metafórica, quanto na descrição que as Escrituras fazem. Inferno é ausência de Deus! Talvez se a gente pudesse imaginar o inferno em categorias diferentes da visão popular, tivéssemos condições de entender melhor o episódio.
No inferno não existe lealdade, e a suspeita é a marca dos relacionamentos. Quem agora está do seu lado, no próximo episódio pode ser o seu algoz. Se um dos atributos de Deus é a fidelidade, o inferno é o oposto disto. A vida, portanto, se torna um constante pesadelo. Medo, tensão, ansiedade e ameaças estão sempre presentes.
Outro aspecto que o episódio demonstra é a perda da noção do tempo. O passado e o futuro se tocam. Ninguém sabe ao certo em que tempo se encontra. Perde-se a referência da temporalidade, categorias estas estritamente aristotélicas.
A série mistura elementos simbólicos de várias religiões e mitos arcaicos, entre eles o arquétipo da luta entre irmãos, mas na verdade desemboca na idéia do purgatório. Visão da igreja Católica Romana, inexistente na Bíblia, mas transformada em dogma na Idade Média. Lugar que seria uma ante-sala do inferno para que as pessoas, através do seu sofrimento, pudessem se purificar.
A série termina assim: Depois de purgarem seu passado de dor e vergonha, agora podem ir em direção à luz. Aqui, a visão Católica e a Protestante se une. Depois da morte, vem o juízo. Um dos personagens centrais, o Benjamim (Ben), não pode caminhar em direção à luz... Os demais seguem adiante para o encontro com a radiosa expectativa da humanidade: A Eternidade!

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