sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Espiritualidade e saúde


A ligação entre saúde mental e espiritualidade sempre foi objeto de investigação científica. No início de Novembro 2015, aconteceu o 33o. Congresso Brasileiro de Psiquiatria, no qual foi divulgado que “nas décadas  recentes, tem havido uma crescente conscientização pública e acadêmica sobre a relevância da espiritualidade e da religião para os problemas de saúde”.

Pesquisas demonstraram que a espiritualidade melhora a qualidade de vida, o ganho social do indivíduo e ajuda na prevenção do suicídio e na recuperação de drogas, e que a ausência deste lado espiritual, ou sua visão distorcida (fanatismo), pode trazer complicações e transtornos mentais.
Para Alexander Moreira-Almeida, “a religião é um sistema de crenças e práticas que busca a aproximação com o sagrado e com o transcendente. Uma religião seria a forma institucional e coletiva de espiritualidade.”

Apesar dos prognósticos de que a humanidade trocaria a religiosidade por uma vida materialista, a realidade é que ela mantém crenças e práticas religiosas e espirituais, no Brasil 90% dos brasileiros afirmam ter uma religião, 9% afirmam não ter um credo e apenas 0,5% da população se declaram ateu ou agnóstico e mais de um terço dos brasileiros frequenta um grupo religioso mais do que uma vez por semana.

Para a psiquiatria, a religiosidade é algo multidimensional e cada uma dessas dimensões tem relações diferentes com os desfechos na saúde, como depressão, mortalidade e qualidade de vida.

Num trabalho sobre a religiosidade de crianças em torno dos 10 anos de idade, filhas de pais com depressão em tratamento, verificou-se que aquelas que se consideravam religiosas tinham 10 vezes menos risco de desenvolver depressão se comparadas às demais do grupo. Idosos que frequentavam serviços religiosos tinham menos da metade dos níveis de depressão e de ansiedade do que os que não frequentavam. Dados surpreendentes apontaram para o fato de que, para os idosos, a religiosidade foi a principal fonte de suporte social, superior a família e amigos. O “coping” religioso positivo também ajudou a manter a tristeza a uma distância segura.

De modo geral, as questões religiosas enfatizam cuidar de si mesmo e valorizar o corpo como uma dádiva divina. A religiosidade parece influenciar também aspectos mais primitivos, digamos, da psique humana. Indivíduos sem envolvimento religioso demonstraram o dobro da frequência de uso de tabaco, de álcool e de outras drogas, e em indivíduos espiritualizados, a probabilidade de atentar contra a própria vida cai pela metade.


Em 1956, Guimarães Rosa lançou sua obra-prima, “Grande Sertão: Veredas” e num dos seus lúcidos diálogos afirmou: “Todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara loucura.” 

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