segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A utopia da Primavera



Vem chegando novamente a primavera, estação das chuvas e das flores. Poucas coisas são tão desejadas por nós que vivemos estes dias secos todos os anos, que vão de Maio a Agosto. As árvores, a grama e toda natureza, também anseiam por esta bendita chuva.

Nesta expectativa da primavera, passando pelas ruas de Anápolis, fico criando sonhos, elaborando utopias, imaginando possibilidades. Nossa cidade é realmente privilegiada pelo clima e povo que possui, mas é historicamente mal cuidada, não apenas pelos poderes públicos, mas pelos seus próprios cidadãos. E no meio destes desajustes, fico criando utopias. Eis algumas delas:

Já imaginaram o Rio das Antas, totalmente urbanizado, com pistas de caminhada nas suas margens, onde as crianças pudessem brincar e as pessoas andassem, sem ter que se deparar com lixos que se amontoam nas suas margens? Fico pensando ainda na margem do riacho que sai do Lago JK, cortando a cidade, se todo ele tivesse gramas e quiosques, tocados pela iniciativa privada, que gerariam impostos para a cidade, lucro para seus comerciantes e lazer para seus cidadãos, ao invés de restos de construção? 

Fico imaginando uma cidade na qual os proprietários dos lotes e casas, teriam a obrigação de construir uma calçada padronizada pela cidade, permitindo que os transeuntes caminhassem em segurança nas suas ruas, sem medo de atropelamento, e que os lotes baldios teriam muros de 80 cm de altura e calçadas, como já existem em várias cidades do interior de Minas Gerais, e que os donos seriam responsáveis pela sua limpeza por força de lei?

O que aconteceria se, nesta utopia, os arquitetos projetassem suas obras, não com grandes muros em frente às casas, mas com grades e modernos vidros que demonstrassem a beleza dos jardins escondidos por detrás de nossas casas?

Chico Buarque, na música “Pedro Pedreiro” descreve a luta diária de um operário carregado de esperança que as coisas possam melhorar, e na sua esperança, aguarda em vão, uma sorte, um norte, um bilhete premiado da loteria, algo maior que o mar, mas sua utopia nunca se concretiza, afinal, “prá que sonhar se dá o desespero de esperar demais?”

Prefiro, então, refletir filosoficamente na utopia como a descreveu Rubem Alves. Utopia é um não-topos, isto é, algo que não possui uma geografia definida, que ainda não é encontrado, e não necessariamente o que não pode acontecer. Profetas, filósofos, artistas, músicos e poetas não negam a realidade bruta da vida, mas desejam imaginar uma nova realidade, ainda não presente, mas que pode ser estabelecida.

Pregadores também falam de novos céus e nova terra, falam de uma vida nova em Cristo, anunciam esperança aos perdidos, consolo aos cansados, restauração aos quebrados, possibilidades no caos. Eles precisam “crer contra a esperança”. A utopia dos céus e das promessas de Deus, me fazem sonhar com esta cidade possível, onde lotes baldios se transformem em jardins, logradouros em lugar de descanso, beiras dos rios em lugar de lazer.
A primavera me desafia à utopia.


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