Muitas vezes imaginamos a paz como algo que só pode existir se estivermos de férias, tomando vinho numa cabana no alto de uma montanha, ou em casa na beira do mar azul. Mas precisamos aprender a encontrar paz no cotidiano, no barulho da rotina doméstica, na organização do guarda-roupa, ou no singelo café da manhã tomado ao lado dos familiares. Precisamos encontrar paz na liturgia do cotidiano.
O problema é que consideramos nossas tarefas pesadas demais e começamos a odiar o que fazemos, e ao invés de aprender agradecer a Deus o que temos, começamos a murmurar. Transformamos dádivas em peso, e não em celebração. É importante aprender a arrumar o armário como uma oração silenciosa. Mostra que tempo, quando cuidado, devolve gentileza e nos lembra que a vida também é aquilo que se encontra entre um compromisso e outro, entre um plano e o próximo.
O cotidiano precisa ser resgatado. Nicolas Herman (1614-1691), francês, da Ordem Carmelita, ficou conhecido por sua grande santidade e extrema humildade. Ele escreveu algumas cartas que posteriormente foram transformadas em um livro considerado um dos maiores clássicos da literatura mística cristã.: “Praticando a Presença de Deus”. Sua obra mostra uma forma de compreender e se relacionar com Deus e com o cotidiano totalmente diferente. Para ele, a prática de estar na presença de Deus era um exercício da vontade - pequenas decisões que se tomavam continuamente para tornar Deus presente em todos os momentos, desde uma oração propriamente dita, até mesmo uma simples caminhada, recolher um graveto no chão ou cozinhar (ele era cozinheiro do mosteiro).
Uma de suas citações notáveis é a seguinte: "Não devemos nos cansar de fazer pequenas coisas pelo amor de Deus, que não se importa com a grandeza do trabalho, mas com o amor com que é realizado."
Encontrar Deus no cotidiano, e alegria nas tarefas diárias, é um presente sobrenatural. O cotidiano também tem sua cota de paz, se a gente o vive com a presença de Deus. Talvez o segredo seja nutrir a vida com pequenos movimentos que tem sentido. Quando organizamos o coração, o que está de fora também é organizado. O coração do problema é o problema do coração.
No livro de provérbios lemos o seguinte: “Todos os dias do aflito são maus". (Pv 15.15). o coração aflito enxerga todos os dias como difíceis, assim como o coração alegre tem o poder de transformar a vida em uma "festa contínua". A tristeza pode tornar qualquer dia em algo ruim, pois o humor negativo domina a percepção da realidade. Por outro lado, a alegria muda a perspectiva, transformando a vida em uma celebração constante, independentemente das circunstâncias externas.
Transforme seu cotidiano em uma liturgia de celebração e não de rotina pesada. Aprenda a desfrutar cada trabalho e pequenas atividades, como um presente de Deus para sua vida. Afinal, ter saúde para realizar, caminhar, é um dos maiores presentes da vida.

Nenhum comentário:
Postar um comentário