Este tema tomou o noticiário desta semana na grande mídia, apesar de não ser um problema recente e nem desconhecido na nossa sociedade. A discussão se tornou maior depois que o influenciador Felca, até então mais um entre muitos influenciadores espalhados pelo Brasil, produziu um vídeo que se tornou viral com cerca de 40 milhões de acessos, no qual ele denuncia este tipo de comportamento social que tem sido, lamentavelmente, uma questão tolerada por famílias, escolas, imprensa e governo.
Em 2001 eu estava morando nos Estados Unidos, e fazia dois anos que não vinha visitar minha família e decidimos tirar nossas férias no Brasil. Fomos ao Shopping Center em Goiânia e estava pouco familiarizado com as modas e músicas, vimos um aglomerado de pessoas num local central, muita movimentação e nos aproximamos para ver o que estava acontecendo. As crianças estavam participando de um concurso de dança, e a música era “a dança da garrafinha”, uma dança erótica, na qual dançavam e simulavam sensualmente, sob o aplauso dos pais. Ficamos assustados com aquilo e rapidamente saímos daquele lugar com nossos filhos. O que vimos nos parecia repugnante.
Aliado a erotização infantil, outro fenômeno estranho anda em paralelo: A "adultização". Um fenômeno preocupante que tem ganhado cada vez mais visibilidade, especialmente com o advento das redes sociais e a intensa exposição midiática. Basicamente, refere-se à exposição precoce e inadequada de crianças a comportamentos, responsabilidades e expectativas que são típicos do universo adulto, tirando delas a oportunidade de viver plenamente a infância.
A adultização não é apenas uma criança agindo como adulta em uma brincadeira. É um processo que acelera o desenvolvimento infantil de forma artificial e prejudicial, impondo-lhes papéis, preocupações e até estéticas que não condizem com sua idade e fase de desenvolvimento.
Isso pode se manifestar no uso de roupas, maquiagens e acessórios que sexualizam ou envelhecem sua imagem, com reprodução de poses e gestos adultos, pressão por performance, agendas lotadas com múltiplas atividades extracurriculares que não deixam tempo livre para brincar, exposição inadequada a conteúdos, com acesso sem supervisão a redes sociais e conteúdos digitais que expõem as crianças a temas como sexualidade, violência, consumismo e padrões de vida irrealistas.
Diversos fatores contribuem para a adultização infantil, a mídia e as redes sociais ocupam um papel central incentivando a exposição e a imitação de comportamentos adultos, e muitas vezes a pressão social e familiar. Muitos pais, mesmo com boas intenções, não compreendem os estágios de desenvolvimento infantil ou o risco de exposição precoce e podem impor expectativas de maturidade, responsabilidade ou sucesso aos seus filhos numa cultura marcada pelo consumo como a indústria da moda, da beleza e do entretenimento.
Os impactos da adultização podem ser profundos e duradouros, entre elas a perda da infância. A criança perde a oportunidade de viver a fase da descoberta e da leveza, trazendo pressão e exposição a temas complexos que podem gerar altos níveis de ansiedade, estresse, depressão, baixa autoestima irritabilidade, dificuldade de socialização, aceleração da maturidade afetiva e sexual gerando confusão e vulnerabilidade.
Proteger a infância da adultização é uma responsabilidade coletiva, mas que começa em casa: entre as ações necessárias é preciso respeitar o tempo da criança, monitorar o acesso a conteúdo digital, o uso de celulares, tablets e redes sociais, incentivar o tempo livre e brincadeiras espontâneas ao ar livre que estimulam a criatividade e a interação social estabelecendo limites e rotinas saudáveis, evitando agendas sobrecarregadas e garantindo tempo para descanso e lazer.
A infância é uma fase única e insubstituível, essencial para a formação de um adulto saudável e equilibrado. Toda atenção é fundamental, afinal, como diz a sabedoria judaico-cristã: “Ensina a criança o caminho em que deve andar, e ainda quando for velho, não se desviará dele.”

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