quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Amores tóxicos



Há uma famosa doença diagnosticada na psiquiatria como síndrome de Estocolmo, um estado psicológico desenvolvido por algumas pessoas que são vítimas de seqüestro, no qual a vítima se identifica com seu raptor, procurando conquistar sua simpatia e até mesmo protegê-lo. A síndrome recebe seu nome em referência ao famoso assalto de Norrmalmstorg, Estocolmo, no qual vítimas continuavam a defender os sequestradores e mostraram um comportamento reticente nos processos judiciais. Inicialmente as vítimas se identificam emocionalmente com os sequestradores, como mecanismo de defesa, por medo de retaliação e/ou violência, depois pode até se enamorar e apaixonar pelo agressor. Obviamente a vítima não tem consciência disso, mas a mente fabrica uma estratégia ilusória.
A verdade é que as obsessões se alimentam por si mesmas, e quando a pessoa adoece, na sua obsessividade passa a girar em torno de uma idéia ou pessoa. Quanto mais tempo se tem uma ilusão, mas difícil se torna a sua superação.
Muitos relacionamentos são patológicos desde o princípio. Amores tóxicos e doentios se constroem nesta relação doentia, onde um precisa ser o agressor e o outro se torna a vítima e o agredido. Casamentos são um bom exemplo disto. Cada um topa assumir um determinado papel, as crises surgem quando um decide mudar as regras e o outro rejeita. Na relação doentia podem se intoxicar e adoecer.
Erich Fromm, ao tratar da “síndrome do declínio”, cunhou um dos três componentes de “simbiose incestuosa, ou tipo de caráter maligno. A melhor ilustração é a de um parasita que decide se alimentar da seiva de uma árvore, mas que na medida que cresce vai exigindo cada vez mais da seiva que ela tem, e a sufoca até a morte. Mas quando a árvore morre, ela não sobrevive, porque construiu sua vida em torno dela.
Sempre temos a tentação de falar da malignidade do agressor, mas é dolorido ver, por outro lado, como o ofendido se submete a esta escravidão, sem poder de ruptura. Isto se torna uma “escravidão voluntária”, na linguagem de Scott Peck, no qual a vítima aceita viver nesta condição.
“Uma pessoa passiva significa uma pessoa inativa – um aceitador ao invés de um doador, um seguidor ao invés de um líder. Isto o transforma em dependente, infantil e preguiçoso, como a de um bebê precisando da mãe, e que se recusa crescer... não nos tornamos parceiros do mal por acidente. Como adultos, não somos forcados pela sina a nos tornarmos presas de um poder maligno; armamos nós mesmos a armadilha... quando adultos que não estão ameaçados de morte se tornam vitimas do mal, é porque – de uma forma ou de outra, fizeram a barganha da indolência” (Peck)


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