segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Divórcio é traumático também para filhos adultos



Ela é uma típica mulher de classe média brasileira: 34 anos, três filhos para criar, tentando dar a educação mais apropriada, cumprindo uma jornada de 40 horas semanais como administradora de uma empresa de rápido crescimento e passando por todos os mecanismos de fuga, culpa, desafios, na árdua tarefa de equilibrar as exigências domésticas com a proeminente carreira. O que ela não poderia imaginar é que seus pais, depois de 38 anos de casado, resolveriam se divorciar.
A separação deles naturalmente não se deu num vácuo, mas foi resultado do desgaste e dos embates diários que ultimamente vinham travando em casa: luta pelo poder, acusações, indiferença... O distanciamento era visível e as irritações mútuas, constantes. Os eventos mais corriqueiros se transformavam em grandes disputas. As críticas eram cada vez mais corriqueiras, raramente sorriam juntos, andavam de mãos dadas ou se beijavam. Devagar, foram construindo um universo paralelo, vivendo sob o mesmo teto, mas separados emocionalmente. Ainda assim, ninguém acreditava que um dia viessem a se separar, e todos tinham esperança de que acertariam as diferenças e retomariam a caminhada num nível um pouco mais civilizado, infelizmente o divórcio se concretizou de forma dolorida.
Foi muito estranho verificar o quanto o divórcio se tornou traumático para a família. Apesar de ser uma mulher madura, estar casada e ter três filhos para cuidar, no dia imediato à separação, ela percebeu que as coisas seriam bem mais complicadas do que ela imaginava. Os pais ficaram desorientados, apesar de terem tomado juntos a decisão, e para ela, que tinha o hábito de levar diariamente os filhos à casa dos avós, agora percebera que este lugar não mais existia. De repente, viu que seus filhos estavam com um terrível humor, e ela, profundamente entristecida, sem que associasse diretamente a separação dos pais à sua tristeza. Sentiu-se só, teve raiva dos pais, amargurou-se e finalmente entendeu que o divórcio não era traumático apenas para filhos pequenos, mas afeta profundamente a emoção de pessoas adultas, já que altera toda a estrutura familiar.
Ela descobriu que as duas pessoas em quem buscava conforto e segurança, agora não eram mais bons ouvintes pelas dificuldades que eles mesmos enfrentavam para a readaptação ao novo estilo de vida. Os diálogos caminhavam quase sempre para a questão da separação dos dois, e ela que sonhara em ver os filhos crescendo ao lado dos avós, não sabia mais que atitude tomar. Amigos antigos, agora ao convidarem para uma festa de aniversario, tinham que optar a quem chamariam. A perda da família original não fazia sentido e ela se sentiu terrivelmente só.

Atualmente as coisas estão mais assentadas em sua mente, e as emoções mais organizadas, afinal de contas, a vida deve continuar, de um jeito ou de outro, mas para esta mulher ficou a nítida impressão que, de fato, não existe divórcio amigável e sem conflitos, principalmente quando filhos e netos estão envolvidos.

2 comentários:

  1. Concordo plenamente sobre a matéria publicada...
    A dor da separação e o inicio de uma nova vida é muito difícil, os envolvidos se perdem tentando até inconscientemente provar um pro outro que pode ser feliz sem o conjuge e um turbilhão de sentimentos negativos te fazem esmorecer e trilhar caminhos que em nada agradam a Deus... gerando depressão, stres, evasão da vida social, confinamento... principalmente no caso de separação e divorcio por motivo de adultério...

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  2. Pelo que entendi essa sensação de perda se agravou mais porque ela mesma já havia experimentado isso no próprio casamento.Ás vezes acontece com a gente, mas nunca queremos que aconteça com os mais chegados, no caso dela, os pais que até então eram um referencial de solidez.

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