Numa época de tanta polarização é muito comum encontrar pessoas que, por causa das diferenças de opiniões, principalmente divergências políticas, não conseguem mais caminhar juntas, simplesmente são incapazes de entender o outro lado e dialogar.
A frase, “posso não concordar com sua ideia, mas defendo até o último instante o direito de você pensar”, é atribuída a Evelyn Beatrice Hall, e resume a essência da tolerância e do respeito democrático. Sintetiza, em sua essência a separação da ideia e da pessoa: “Eu consigo separar o seu argumento da sua integridade. Minha discordância é intelectual, não é pessoal. Eu critico a sua ideia, mas não desrespeito você”, e demonstra compromisso com o Direito: “Eu reconheço que o direito de você pensar e se expressar livremente é mais importante do que eu estar certo ou de eu concordar, porque, afinal, o princípio da liberdade é superior à minha opinião.” Tal atitude revela maturidade, e demonstra que é possível aceitar que o mundo é melhor quando há pluralidade de ideias, mesmo que algumas dessas ideias sejam contrárias. Em um mundo onde as pessoas estão cada vez mais propensas a silenciar quem pensa diferente, essa frase é um poderoso chamado à empatia e ao diálogo. Ela estabelece a regra de ouro para a convivência pacífica em qualquer sociedade livre.
Quando “concordamos em discordar" revelamos respeito, reconhecemos o limite, admitimos que a persuasão falhou e que não vamos mudar a opinião um do outro neste momento, mas valorizamos a relação, priorizando a manutenção do relacionamento (amizade, parceria, convívio). Afirmamos que a diferença de opinião não é uma ameaça, mas uma parte natural da vida, é o ponto de equilíbrio que permite que pessoas com visões de mundo opostas coexistam em paz. É a essência da tolerância e do diálogo produtivo.
Quando não conseguimos "concordar em discordar," o que acontece é uma escalada da tensão e um colapso da comunicação civilizada. A recusa em aceitar a discordância como parte legítima do diálogo transforma a diferença de opinião em uma ameaça existencial ou moral, e a primeira vítima é a comunicação. Quando a outra pessoa se recusa a aceitar que você pode ter uma visão diferente e válida, o objetivo da conversa muda. A recusa em reconhecer a legitimidade da outra opinião leva ao questionamento da integridade, inteligência ou moralidade do outro. Isso é o início da desumanização, aumentando a polarização e intolerância, criando as "Câmaras de Eco" no qual as pessoas se isolam em grupos onde todos pensam igual, reforçando suas próprias convicções e aumentando a suspeita em relação a qualquer um que esteja fora do círculo.
A diversidade de pensamento se torna insuportável, e leva a perda da capacidade de convivência: Em vez de focar nos valores e objetivos comuns, a energia é gasta no combate às diferenças. A relação se torna condicional: "Eu só convivo com você se você pensar como eu", criando um ciclo de ressentimento, que corrói a confiança e o relacionamento, levando a um colapso posterior ainda mais doloroso, o desentendimento vira julgamento. O problema deixa de ser a ideia e passa a ser a pessoa, a honestidade morre e a relação se torna superficial e tensa.
Para concluir é importante pensar numa das máximas mais profundas e importantes da tradição cristã. Ela estabelece uma hierarquia de valores que é fundamental para a coexistência pacífica e saudável dentro de qualquer comunidade de fé. A frase original, em latim, é: "In necessariis unitas, in dubiis libertas, in omnibus caritas" (Nas coisas essenciais, unidade; nas duvidosas, liberdade; em todas as coisas, caridade/amor). Esta formulação, na sua essência, traduz perfeitamente a sabedoria desse princípio.
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