“Toda geração culpa a anterior e todas as suas
frustrações vem bater na sua porta.” (Mike & The Mechanics)
Esta conhecida música, que é mais tocada nos finais de ano, levanta uma questão importante e desafiadora: A suspeita e a resistência entre diferentes gerações são um fenômeno comum, embora nem sempre motivadas por má-fé. Elas nascem de uma base fundamental de desentendimento: cada geração é moldada por uma realidade histórica e social única, que funciona como uma lente pela qual ela enxerga o mundo. As suspeitas surgem quando uma geração avalia a outra usando a sua própria lente, sem levar em conta o contexto.
A geração pré-digital (Baby Boomers) desenvolveu valores e hábitos que foram essenciais para a sua sobrevivência e sucesso, trabalhando arduamente e enfrentando escassez e contratempos. As gerações que cresceram em um mundo globalizado, com rápida mudança tecnológica e incerteza econômica (Millennials e a Geração Z) desenvolveram um conjunto de valores e prioridades completamente diferente. Por causa das percepções distintas de realidade podem parecer estranhas ou sem sentido para a outra.
Uma geração pode valorizar lealdade a uma empresa, enquanto a outra prioriza a flexibilidade e o propósito no trabalho. Uma valoriza a estabilidade, e a outra, inovação. Quando esses valores colidem, os conflitos se manifestam. Além destes aspectos, sempre há competição por recursos e poder. Historicamente, as gerações mais velhas costumam deter a maior parte da riqueza e das posições de liderança. Isso pode gerar ressentimento na geração mais nova, que percebe essa resistência como uma forma de "guardar o poder" ou de impedir a ascensão, além do aspecto da comunicação, já que cada geração tem sua própria linguagem seus canais de comunicação preferidos. Na maioria das vezes a diferença é metodológica, mas pode ser interpretada como uma falta de respeito ou de interesse. A geração antiga teme perder o que foi duramente conquistado, enquanto a geração mais nova pode sentir que as "regras antigas" os impedem de inovar e crescer.
Para superar estes conflitos é preciso colocar a lente do outro, não se trata apenas de dialogar, mas é necessário um esforço genuíno de empatia, de reconhecer que a experiência de cada um é válida, e que as diferenças não precisam ser uma fonte de divisão, mas uma oportunidade para o aprendizado mútuo.
Diferentes gerações podem se ajudar mutuamente criando uma fonte de complementaridade e sinergia. Em vez de ver as lacunas como barreiras, é preciso encarar estas realidades como oportunidades para ver o que cada um tem de melhor.
A chave está na habilidade de unir sabedoria com inovação; experiência com novas perspectivas. Vivendo em um mundo mais estável e com menos imediatismo, as gerações mais antigas podem ensinar a paciência, a resiliência e a perseverança em meio aos desafios. Elas podem mostrar que nem tudo acontece na hora, e que o esforço contínuo e a lealdade são recompensados a longo prazo. As gerações mais jovens trazem uma nova energia, inovação e um olhar fresco sobre o mundo, ajudando os mais velhos a se adaptarem às novas normas sociais e a entenderem questões de diversidade, propósito no trabalho e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Eles podem apresentar novas formas de pensar sobre o mundo e a vida, quebrando a rigidez, conectando-se com a cultura e a vida do presente.
A ajuda mútua é uma via de mão dupla que exige humildade e respeito de ambos os lados. Ao trocarem abertamente suas forças, será possível construir uma comunidade mais rica, completa e interconectada, onde a experiência do passado e a inovação do presente coexistem para um futuro melhor.
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