Estive de viagem em Palmas, capital do Tocantins, visitando minha mãe que completou 89 anos. Uma das coisas que me chamou a atenção fazendo minhas caminhadas pelas praças da cidade, foi a surpreendente realidade das árvores que mantem seu verdor, fazem brotar suas flores e frutos nesta época do ano, ignorando o período da seca. O fenômeno das árvores que florescem e frutificam na seca do Centro-Oeste é um belo exemplo de resiliência e adaptação.
São várias arvores que desafiam a seca e causam um verdadeiro milagre. Elas possuem estratégias incríveis para florescer e frutificar na estação seca (geralmente de maio a setembro), garantindo alimento para diversos animais e a continuidade de seu ciclo de vida. Entre elas o caju e o pequi, cuja floração e desenvolvimento inicial do fruto ocorrem durante a seca, sendo alimentos essenciais para a fauna e para a cultura local. Podemos citar ainda o baru muito valorizado por sua castanha nutritiva, cujos frutos amadurecem tipicamente no meio para o final da estação seca (julho a setembro), caindo e sendo coletados nesse período, a mangaba uma fruta suculenta e saborosa. E outros como cagaita, pequenos frutos amarelos e adocicados, o puçá, araticum ("fruta-do-conde do Cerrado".) que também amadurecem no período seco.
Essas árvores desenvolveram diversas adaptações, como raízes profundas que alcançam o lençol freático, armazenamento de água e nutrientes em seus caules ou raízes, e estratégias específicas para controlar a perda de água, permitindo-lhes continuar seus ciclos reprodutivos mesmo sob condições de estresse hídrico. Elas são verdadeiros símbolos da resiliência do Cerrado.
É realmente uma dança da resiliência, uma espécie de "milagre" que nos induz a admirar este surreal fenômeno, uma imagem dinâmica e artística da adaptação das plantas. São contracorrentes, pois a vida brota quando não se espera, adicionando à natureza um toque de surpresa e cujo "segredo" instiga a curiosidade, um verde inesperado, conspirando contra a aridez e a secura.
Vendo todo verdor florescendo na seca, podemos afirmar que se trata de uma metáfora do "oásis" para o inesperado, da vida que, contra todas as evidências, se recusa a aceitar a aridez e brotam para surpresa de todos, uma imagem intrigante que sugere um ciclo de vida não convencional.
Já conheci muitas pessoas que recusaram a se render quando atravessaram dias quentes e ambientes tórridos. Uma forma de conspiração, uma recusa à morte, uma maneira de trazer espanto para olhares admirados. Não é assim o ipê? Quando tudo se torna árido, ele brota com orgulho e magnificência. É uma recusa à tristeza e à dor, uma forma de esbanjar beleza no caos. Que nossa vida seja assim também. Que ao passarmos pelos vales áridos sejamos capazes de transformá-los em mananciais impregnados pelo verde, gerando flores e frutificando.
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