sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Prisioneiros da própria história

 



 

A história sempre será um grande dilema filosófico. Não há como fugir da própria história: Ela pode ser negada, sublimada, mas assim como a verdade, sempre procurará uma forma de se manifestar, como uma boia que mesmo mantida debaixo da água, continua empurrando para a superfície. A verdade quer revelar os fatos da história, torná-los transparentes e lúcidos. Por esta razão, na descrição do livro de Apocalipse, há diante do trono de Deus, um mar de vidro, semelhante ao cristal onde tudo é transparente, visível, nada obscuro ou escondido.

 

Muitos tentam construir narrativas, dar a impressão de que a mentira é verdade e perverter os fatos. Os poderosos sempre quiseram ter o poder sobre as versões que constroem, como se fossem capazes de suprimir a verdade, pensando que são espertos o suficiente para detê-la manipulando os enredos e criando versões, mas a história é sempre soberana para denunciar e desmascarar os tolos artifícios de manipulação. É possível usar toda a mídia, acionar o sistema para tentar enganar, mas é impossível fugir da própria história. Somos prisioneiros dela. Não há como fugir!

 

Alguns afirmam que “a história se repete como tragédia e depois como farsa”. Este axioma se torna mais visível na política, mas também é uma realidade na esfera da religião e da filosofia da história.

 

Friedrich Hegel, filósofo alemão, conhecido pela sua obra “A Fenomenologia do Espírito”, é sarcástico ao afirmar que “se a história nos ensina alguma coisa, nos ensina que não ensina nada.” Para ele, a filosofia da história está marcada pela "astúcia da razão" e do "escárnio da história", que denuncia aqueles que creem se conduzir de per si, e tentam construir suas narrativas toscas. A história tem o poder de castigar suas pretensões, e ao fazer troça deles, ridicularizar as manipulações de seus autores. Para ele, a história se reordena e retrocede sobre si mesma com sarcasmo para ridicularizar a mentira construída.

 

A verdade é que “à frente de nosso futuro, tem o nosso passado”, como pontuou Millôr Fernandes. Por esta razão, o passado pode se transformar numa assombração, um fantasma, trazendo sombras e pesadelos. A história será contada para os amigos, para o namorado, para os filhos e netos. A história nunca deixa de existir, já que é fato consumado e vai ecoando para sempre. Não tem como fazer de conta que o passado não existiu. Os poderosos podem criar as narrativas que quiserem, podem manipular sistemas, criar novas leis, interpretar a lei em chicanas jurídicas, mas a história e os fatos serão revisitados e a verdade virá. Não há nada oculto que não venha a ser revelado.

 

A história do Brasil de hoje será revisitada, recontada, analisada, escrutinada, julgada. Assim será nossa história pessoal e o que hoje estamos construindo. Nossos filhos falarão de nós, darão a versão, e não serão românticos nem hipócritas, o futuro não terá piedade em nos julgar. Podemos construir o que quisermos, mas não podemos fugir do crivo do bom senso e da razoabilidade. A vitória do mal não resiste ao crivo da verdade.

 

 

 

 


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