sexta-feira, 5 de março de 2021

Estatística como Arma

 



Por definição, a Matemática é uma ciência exata. Nada mais justo! Os números não erram. Eles escrutinam, equacionam, somam, multiplicam, subtraem. Discutimos ideias, conceitos, lógica, mas não discutimos se dois mais dois são quatro. Isso seria anacrônico. E nas ciências exatas há também a Estatística, que lança mão de instrumentais objetivos para revelar uma real situação e analisar friamente as informações recebidas. 

Apesar de tais afirmações serem corretas, infelizmente, exatidão, assim como precisão, rigor ou objetividade, não são neutros. Do mesmo modo, a ciência muitas vezes não o é por razões econômicas ou políticas. Basta ler o clássico de Hilton Japiassu intitulado O Mito da Neutralidade Científica. A objetividade nem sempre está presente porque os cientistas são humanos e tendem a projetar afetos e interesses em suas observações, comprometendo seriamente as conclusões. Assim, a subjetividade assume o lugar da exatidão e vende-se a grandes grupos financeiros que instrumentalizam a Estatística para dizer o que lhes interessa. A subjetividade impede que as coisas sejam ditas como de fato são. 

Neste contexto a Estatística se transforma em arma poderosa para justificar uma ideologia ou trazer lucros a quem detém o poder, tornando-se instrumento de manipulação e controle. Não sem razão, alguém afirmou que “Estatística é a arte de torturar os números até que eles digam o que você quer.” 

Diante da manipulação dos números, muitas vezes esse ramo da Matemática se torna “uma maneira honesta de mentir”. Os números podem ser usados para justificar comportamentos, influenciar decisões, exercer controle, simplesmente, manipulando os dados. Basta dar-lhes a ênfase que se deseja e tudo faz sentido. 

Por exemplo: pode-se afirmar que o Brasil é o segundo País do mundo com o maior número de mortes por covid-19. Esta informação é correta? Claro que sim! Temos um quadro trágico, triste e real, mas, se interpretarmos esses dados sob outra perspectiva, os números perdem a força significativamente. Proporcionalmente, o Brasil era o 10° País em número de mortes (1.12.2020) e estava em uma situação muito melhor que muitos países europeus com seus sistemas sofisticados de saúde e populações menores. Na data em que esses dad9s foram publicados, a Bélgica ocupava a primeira colocação. 

Seria maravilhoso ver a Estatística servir às pesquisas não para manipular, mas como instrumento objetivo da Ciência e da verdade. Isso traria uma direção clara e certeira às mais variadas situações, mas, infelizmente, a Estatística não pode controlar os critérios mais profundos da humanidade: os interesses, a ganância, a cobiça, o desejo pelo poder, o controle social e, sobretudo, a vaidade

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