segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Conceitos e preconceitos


Estamos no meio de uma crise conceitual. Chegamos ao ponto de não podermos ter mais conceitos. Ao ser indagado se tinha preconceito sobre determinado assunto, uma pessoa respondeu: "Não, eu não tenho preconceito sobre isto, eu tenho conceito".
Será que teremos que viver no estilo "maluco beleza" de Raul Seixas que afirmava, "eu prefiro ser, esta metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo", ou numa encruzilhada filosófica onde não poderemos ter opinião formada sobre nada?
Precisamos discernir conceito de preconceito. O pré-conceito, e aqui intencionalmente coloco um hífen entre estas duas palavras, aponta quase sempre para algo negativo. É, por sua natureza intrínseca, obtuso, reacionário e agressivo e se fecha para novas alternativas e novos caminhos, sacraliza os métodos e processos, sataniza o diferente, não consegue fazer releituras e não admite a possibilidade de um olhar alternativo. Acima de tudo, o pré- conceito se torna moralista, legalista e punitivo. 
Foucaut toca essencialmente nesta tensa questão em "Vigiar e punir": "Existem momentos na vida que a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir".
Por outro lado, não estabelecer uma linha de conceitos, princípios e valores, que orientam a vida e as relações humanas, nos transforma em pessoas anárquicas, que não conseguem encontrar um mínimo de consenso para se formular uma lei. Um princípio legal pressupõe um ou vários conceitos. Já pensaram numa sociedade na qual não existem leis, porque as pessoas nāo conseguem encontrar princípios e valores que possam norteá-la?
Conceitos são necessários para nossa sobrevivência enquanto indivíduo, o aspecto mais radical de alguém sem qualquer senso de valor é o sociopata. Ele recusa toda forma de convenção e adota o seu estilo pessoal, no qual não reconhece valor nem princípio, não sente dor nem remorso. Ele faz porque quer, independente dos padrões e culturas da sociedade em que vive.
Conceitos são necessários para dar estabilidade, a ausência deles implica no anarquismo; conceitos são indispensáveis para se organizar a ordem e a lei, o extremo disto é o caos social.
Preconceitos são dispensáveis porque seu resultado é o desprezo à opinião do outro, a pseudo superioridade moral e religiosa, o julgamento pelo esteriótipo e pela aparência, a incapacidade de diálogo e abertura para o novo e pela riqueza das diferentes hermenêuticas da vida.
 É interessante que a bíblia, um livro julgado por muitos como retrógado e antiquado ( fruto do preconceito) ensina-nos: "Acolhei ao que é débil na fé, não, porém,  para discutir opiniões. Um crê que de tudo pode comer, mas o  débil come legumes; quem come, não despreze o que não come, porque Deus o acolheu...um faz diferença entre dia e dia; outro julga igual todos os dias" (Rm 14.1-5). Discriminar, julgar e ordenar o outro, é ranço do preconceito. Mas
observe o que o mesmo texto nos ensina em seguida: "Cada um tenha opiniāo bem definida em sua própria mente". 
O mesmo texto que ensina a não tratar o outro de forma condenatória e respeitar o ponto de vista divergente, a não nos perdermos nesta multiplicidade de conceitos e a termos opinião clara sobre ideias e valores. Não preciso e nem posso julgar o outro, mas posso e devo saber exatamente no que creio e penso e viver debaixo de tal conceito, por uma questão de integridade e coerência para comigo mesmo, com minha consciência e meu Deus.



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