sábado, 20 de abril de 2013

Prá nāo morrer na "tuia"



Zé Monteiro é um conhecido personagem da cidade de Arcoverde, PE, que se transformou num admirável artesāo, pelas suas surpreendentes peças trabalhadas em madeira, feitas com enorme criatividade, dramaticidade e plasticidade, e que agora saem do seu pequeno e simplório atelier, para serem expostas na Galeria Brasiliana, em Sāo Paulo, e de lá para colecionadores dos Estados Unidos e Europa.

Ele se tornou artesāo, por acaso, já que a profissāo do coraçāo era caminhoneiro. "Se pudesse trabalhar, gostaria mesmo era de dirigir caminhāo, mas a gente tem que gostar do que pode fazer".

Ele está com 87 anos de idade, e afirma que já escapou da morte cinco vezes, na última vez aos 77 anos quando sofreu um infarto, e se submeteu a uma cirurgia para colocar 3 pontes de safena e se livrar de uma infecçāo hospitalar, quando o médico recomendou que fosse para casa para morrer com dignidade. Entāo, desenganado e deprimido, depois de 30 anos como caminhoneiro, comprou algumas tintas e arranjou pedaços de madeira com as quais começou a trabalhar, "para nāo morrer na tuia", como se referiu ao tédio.

Ao ler uma reportagem sobre sua vida, fiquei pensando nesta frase. Imaginei quantas pessoas se enfurnaram na tulha e morreram ali, sem projetos,sonhos, desenganadas pelos outos e porsi mesmo, consumidos pela mesmice, hipocondria e melancolia.

Tulha é o espaço anexo às casas de fazendas, destinado à guarda das colheitas e grāos, mas nāo para se morar. Além dos grāos, a tulha é um lugar onde facilmente se ajuntam mofos, fungos, ratos, morcegos e escorpiões.
Morrer ali é desistir da vida, deixar que o trágico nos sucumba, que a malignidade dos outros ou os percalços da vida nos abatam de tal forma que a gente se esqueça de viver, e que nos leve a esquecer que lá fora,o sol ainda brilha, as flores ainda crescem, a chuva cai e a natureza se renova no seu ciclo sazonal.

"Sair da tuia" é a revigorante experiência de descobrir que o inverno, verāo, outono e primavera, fazem parte da existência e dependendo da estaçāo teremos tempestades ou secas; plantios ou colheitas, neste ir e vir infinito da natureza criada por Deus. Mas só conseguem ver e admirar estes eventos, aqueles que se recusam a viver na tulha, mesmo quando a vida parece decretar que assim deve ser...

Nenhum comentário:

Postar um comentário