segunda-feira, 26 de julho de 2010

Eu só tenho uma vida para viver...

Quando Jô Soares completou 50 anos, contou que depois das festividades e de um agradável encontro com amigos, voltou para casa com um senso de não sei que... Era uma espécie de vácuo existencial. Um amigo próximo já tinha percebido ainda na festa que Jô não estava muito lá à vontade, e em tom de brincadeira disse: “Não se preocupe, isto é crise da meia idade”. Ao chegar em casa, refletindo sobre este comentário afirmou: “Quantos homens de 100 anos eu conheço?”.
Além de geriatria e de herbiatria (Fique tranqüilo, o médico herbiatra não cuida de plantas, mas de adolescentes), fala-se hoje de “adultescência”, uma espécie de crise de adolescência na meia idade. São sentimentos que brotam no coração dos homens na idade do lobo, que depois de muitos sucessos ou fracassos, entram agora num período em que surge uma imensa necessidade de redefinir a vida, buscar sentido e propósito.
Independentemente da performance que cada um apresenta - Já que alguns ganham muito dinheiro, respeitabilidade, aclamação pública, enquanto outros enfrentam perdas, lutos, desempregos - Todos apresentam uma espécie de angústia, um sentimento difuso, de que estão perdendo a vida na tresloucada tentativa de encontrá-la. Este “turning point” é extremamente salutar, porque vai redefinir prioridades, alvos, objetivos e levá-los à busca de sua alma que facilmente se perde num mercado competitivo e na luta pela sobrevivência, aceitação e reconhecimento. Esta é a hora da verdade, do encontro consigo mesmo, tão grandemente negado, suprimido ou rejeitado. A pessoa descobre que só tem uma vida, e precisa redimensioná-la para que ela encontre sentido.
Quando perdemos amigos, enfrentamos crises, falências, ou lidamos com o luto e perda de pais ou o seu envelhecimento, fica no ar a necessidade de encontrar o eixo da vida. Descobrimos o valor da aguda afirmação de Jesus: “A vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui”, e agora iniciamos de forma oculta inicialmente, o importante processo de encontrar o “significante”, ou, como afirmou Sartre, “Nenhum ponto finito tem sentido se não se relacionar com um ponto infinito”, passamos a suspeitar que o significado maior não está em nós, mas em Deus, no Eterno ou no Sobrenatural, ou em ambos, que afinal estamos falando da mesma coisa.
Temos aquele mesmo sentimento de Riobaldo, personagem central de Guimarães Rosa: “Eu quase que nada sei. Mas desconfio de muita coisa”, e este “desconfiar” do estilo que se vive, e da qualidade de vida que se tem, gera uma crise que nos torna mais humano, e ao mesmo tempo, mais divino. Descobrimos que só temos uma vida para viver, e que não podemos brincar com uma coisa tão séria quanto esta...

Um comentário:

  1. maravilhoso!!!!
    o senhor continua sendo meu pastor,
    mesmo tão longe
    mais uma vez, Deus falou comigo através do senhor
    obrigada!!!
    saudades!!!

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