terça-feira, 14 de novembro de 2006

“Lembra-te do dia de sábado, para o santificar” - Quarto Mandamento

Um dos mandamentos que tem causado mais discussão é a questão do sábado, isto porque os homens historicamente fizeram uma significativa inversão de valores no seu sentido.
O povo de Israel foi escravizado por 430 anos, durante este tempo não teve direito a lazer, realizava trabalho forçado e sofreu violenta humilhação no desempenho de suas atividades. Não é sem razão que este mandamento possua uma forte recomendação social: “não farás obra alguma nesse dia, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o peregrino que viver das tuas portas para dentro, porque o senhor fez em seis dias o céu, a terra e o mar, e tudo o que neles há, e descansou ao sétimo dia; por isso o senhor abençoou o sétimo dia e o santificou” (Ex 20.10-11). Deus estava preocupado com o ser humano e com a própria natureza que se tornara vítima da ganância e da exploração do excesso de trabalho.
Jesus teve profundos conflitos com religiosos de seu tempo por causa da questão do sábado. Qual era o problema? Os homens transformaram o sábado num instrumento de opressão religiosa, ao invés de reconhecerem sua dimensão libertadora e humanitária. Jesus sintetiza isto numa discussão com os fariseus, que eram os xiitas de seu tempo afirmando: “O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2.27). Esta inversão na interpretação tem sido fatal na história do cristianismo.
Qual é o objetivo então do sábado? Este termo vem do hebraico “shabath” que significa “descanso”. Deus deseja que os homens entendam a importância de parar suas atividades, e para fazer isto, ele mesmo deu o exemplo. Será que Deus estava preocupado consigo mesmo? Estava com excesso de horas extras? Naturalmente não. Seu objetivo era dar exemplo para que entendêssemos que precisamos aprender a descansar, a tirar tempo para repor nossas forças físicas, para repensar nossas atividades. Quando não descansamos é porque intimamente sofremos um complexo de onipotência e achamos que somos mais imprescindíveis que Deus. No entanto, é bom lembrar que o cemitério está cheio de gente insubstituível. Guardar o dia de sábado é reconhecer que temos direito ao descanso e perceber-se como um ser livre para viver. O que trabalha sem descanso é escravo! Além do mais, deve manifestar esta preocupação com seus funcionários, empregados, parentes e até mesmo animais. Todos devem e tem o direito ao descanso.
Além de refazer nossas forças e encontrar descanso, este tempo também é um convite para olharmos para o céu, e este é um objetivo muito claro para o shabath: Tirar um dia de adoração, agradecer a Deus a libertação e lembrar que Deus também tem ouvido nosso clamor. Este é o dia que separamos para prestar culto a Deus, ler sua palavra, orar, refletir sobre seus valores, colocar nossa vida a seu serviço para libertar outros que ainda vivem na opressão e na escravidão.
“Ao nos dar um dia como tal, Deus destaca a nossa humanidade, nos lembra que devemos ser tratados como pessoas e que não fomos feitos para o trabalho, mas para Ele”.

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