quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Revelação e razão

Uma das questões filosóficas e teológicas clássicas na história da humanidade é o papel da revelação e razão no saber humano. Seria possível conhecer, apreender, através de um saber intuitivo e místico que vá além da razão? Isto é, seria possível que forças sobrenaturais nos revelassem verdades que a mente não seria capaz de abstrair?
Na linguagem de Brown, revelação significa o que Deus falou acerca de si mesmo; refere-se ao fato de que o metafísico apresenta verdades que de outro modo não seriam conhecidas. A razão, é o processo de alcançar uma compreensão a partir de fatos e declarações que passam pela epistemologia e podem ser objeto de discussão lógica, e que desta forma poderia ser transmitida a outras pessoas.
Pensando em revelação, três questões são essenciais. A fundamental é: "será que Deus se comunica ou tem interesse em falar conosco?" A segunda: "se Deus fala, é possível saber o que e quando?" A terceira: "se Deus fala, não seria interessante procurar ouvi-lo?"
Existe uma diferença sutil entre o pensamento do ateu e do agnóstico. O ateu afirma: "Não há Deus!", portanto, esta hipótese filosófica não existe. O mundo assim seria entregue à sorte e a azar, sendo um subproduto do acaso. Não há providência, nem teleologia, a história seguiria um movimento cíclico e espiral, sem nenhum propósito maior a não ser repetir-se indefinidamente.
O Agnóstico diz: "Deus existe, mas ele é um poder frio e silencioso". Um ser distante. Portanto, apesar de sua realidade ontológica, ele não interfere no curso da história, não ouve orações, não possui identificação com a humanidade sendo alheio às suas dores, aflições e angústias e, por isso, continuamos no vácuo de nossa fútil existência histórica.
O pensamento cristão afirma que Deus existe e que oração é um poder revolucionário, transformador, já que se dirige ao trono daquele que governa todas as coisas. Assim, "orar é perigoso", como disse o teólogo alemão Emil Brunner. Deus ouve, vê, julga os oprimidos, e apesar da aparente vitória dos ímpios, ele vai julgar a terra, indivíduos e nações. O cristianismo afirma também que Deus falou na história, muitas vezes, aos pais, pelos profetas, e que nos últimos dias nos falou por meio de seu filho Jesus (Hb 1.1-3).
Revelação é uma linguagem cristã. Deus não apenas existe, mas ele interage na história geral e particular. Ele se revela, habita num alto e sublime trono, mas participa de nossas lágrimas, ouve nossas orações e atende aqueles que clamam por sua ajuda, trazendo salvação, restaurando o cansado, renovando as forças do aflito.
A razão, sem a revelação, torna-se um saber incompleto, vê apenas um lado da vida, sendo limitado para lidar com questões que exigem respostas aos arquétipos e ao sentido da vida humana. Perder a dimensão da revelação é olhar para a vida sob uma única perspectiva. Conhecer a Deus e ser conhecido por ele faz uma enorme diferença na apreensão do saber.
Há muito saber não acessível à razão: saber intuitivo, místico, sobrenatural, emocional. Por isto o apóstolo Paulo falava: "cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente". Articular esta ponte entre a lógica humana e o saber revelado, poderia ser algo revolucionário em nosso ser interior.

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