sábado, 17 de agosto de 2024

Perdi o voo



O Brasil se emocionou, entristeceu e sofreu com a tragédia do voo 2283 da Voepass. Nestas horas ficamos pensando nas famílias que esperavam seus queridos que não chegaram, vidas que foram ceifadas ainda tão cedo, a empresa que perdeu 13 funcionários de uma vez, o número de jovens médicos que estava naquele avião, a família dos pilotos e comissários, as duas crianças de 3 anos. Todos os cenários particulares são de partir o coração de qualquer pessoa e com tristeza ouvimos estes relatos.

São marcantes também as histórias dos passageiros que não embarcaram. Do aeroporto de Cascavel, Adriano Assis ligou para sua filha e com a voz embargada lhe disse: “eu perdi o voo. Deus é muito bom filha, o pai te ama.” Estranho também o pedido inexplicável do pai da médica Juliana Chiumento para que sua filha mudasse a passagem para outro dia. E o que dizer da confusão no portão de embarque que fez com que passageiros com lugar marcado no voo que caiu deixassem de embarcar, confundiram o guichê, atrasaram, e a balconista não permitiu que eles entrassem no voo. José Felipe insistiu muito para pegar o avião que nunca pousaria em Guarulhos. A mistura de alívio e profunda tristeza de alguns passageiros que por muito pouco não embarcaram, deixando de dividir o mesmo destino.

É difícil explicar a tragédia de tantos e para o livramento de alguns. Por que erraram o guichê? Por que atender ao estranho pedido do pai? Há tanto mistério. Schopenhauer ensinou que o destino embaralha as cartas e nós jogamos. Einstein disse a Max Born que Deus não joga dados.

 “A mosca a debater-se grita: Não! Deus não existe!  A aranha, vendo a mosca presa diz: “Glória a ti, Divina providência, que à minha humilde teia, essa mosca atraíste!” (Mário Quintana) É impossível não pensar na fragilidade da vida. Nunca entenderemos por que Deus não salvou os outros 62 que entraram? Impossível não pensar na vulnerabilidade da vida.

O apóstolo Tiago afirma: “Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo.”

Jesus advertiu seus discípulos: “Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um minuto ao curso de sua vida?” Quem tem poder sobre a morte, sobre as intempéries da vida? Resta a nós humildade, solidariedade e compaixão. Que Deus console aqueles que sofrem tanto nesta hora. Ninguém está isento de calamidades e tragédias. Que isto nos leve a uma vida de maior cuidado e sobriedade.  

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