quinta-feira, 10 de junho de 2021

O Poder do Caos


 

 

Há muitos anos alguém levantou a hipótese de que não há caos. Segundo a teoria, se conseguirmos jogar várias frutas em um liquidificador reproduzindo a mesma forma e ordem com que cada pedaço havia sido anteriormente colocado, com a mesma quantidade de água e, se o ligássemos na mesma velocidade, teríamos sempre os mesmos resultados. A tese é de que o caos inexiste.

 

Etimologicamente, a palavra caos deriva do latim chaos, no grego kháos - abismo. Seria uma confusão geral da matéria, um estado de completa desordem, desorganização espacial. A física afirma que o caos é conhecido pela ausência de estabilidade, que altera-se no tempo a cada pequena modificação das condições iniciais.

 

O universo possui harmonia, previsibilidade, coerência. Esta previsibilidade permite, por exemplo, que nos preparemos para semear o grão na época certa porque levamos em conta que o sol e a chuva virão na quantidade necessária. Sem isso, seria impossível planejar a lavoura e não haveria sequenciamento que garantisse semeadura e colheita.

 

Eventualmente, porém, temos que lidar com a quebra desta ordem. A pandemia, por exemplo, tornou-se um fator gerador de caos. Mas, o que esse caos pode fazer? O que acontece quando surge a desordem?

 

A verdade é que, sem o caos, não há inovação, pesquisa nem avanço. Para muitos, o caos e a desordem possuem beleza própria, como poeticamente afirmou Friedrich Nietzsche: “É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela.” O caos provoca mudanças por gerar desestrutura e instabilidade. Ao retirar a sequência, provoca necessidade de buscar novas alternativas e possibilidades.

 

Considere, por exemplo, um divórcio. Ele traz rupturas, dor, desequilíbrio, instabilidade – caos. Entretanto, perdas podem, dolorosamente, nos empoderar e nos obrigar a ver possibilidades que até então desconhecíamos. No meio da confusão, avançamos e encontramos solução para o turbulento furacão.

 

Assim tem sido com a pandemia. O mundo mudou e novas soluções duradouras e permanentes chegaram no campo dos negócios, da política, educação e até mesmo na forma de lidar com a espiritualidade. A vida continua. Novas situações exigiram respostas diferentes.

 

Não é fácil lidar com luto, perdas e instabilidade. A pandemia abriu um leque de percepções e reflexões em todas a direções e uma delas foi a compreensão de que a vida é muito frágil. Esse entendimento nos direciona para valores até então esquecidos. Assim, o caos e a desordem podem prenunciar ordem.

 

A Bíblia começa com a descrição do caos. “A terra era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo”. A palavra abismo em hebraico é “teom” (latim caos). E foi nesse confuso contexto que Deus disse: “Haja luz, e houve luz”. O caos deu lugar à luz. Não é interessante refletir sobre isso?

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