sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Bioética



Com o avanço da pesquisa científica e a adoção de métodos cada vez menos ortodoxos, surgiram questões ética imensas na discussão dos limites da ciência, ética e teologia. Para algumas pessoas, o simples uso de animais em pesquisas científicas já seria suficientemente inquietante, quanto mais quando se trata de mexer na essência da natureza humana.

Em 2003, a Revista Seleções trouxe uma reportagem sobre as pesquisas do Dr. Robert White, neurocirurgião formado por Harvard, na época com 76 anos anos de idade que havia desenvolvido o método de congelar o cérebro humano a fim de conservá-lo, para efetuar cirurgias de grande porte, e que estava tentando realizar algo ainda mais radical: o transplante de corpo inteiro. Simplesmente tirar a cabeça de uma pessoa e colocá-la noutro corpo.

As pesquisas remontam o ano de 1970. No dia 14 de março daquele ano uma equipe de neurocirurgiões sob sua liderança, realizou o transplante de cabeça de um macaco em outro. Apesar de toda complexidade e da longa duração da cirurgia, separaram a cabeça do tronco e a prenderam num corpo acéfalo que estava ao lado e o animal retomou a consciência até mesmo tentando morder o médico e sobrevivendo por 12 horas. Nas duas décadas seguintes foram realizados mais 14 transplantes de corpo inteiro, chegando a manter vivos os animais por até oito dias.

O projeto do Dr. White é realizar tais cirurgias em seres humanos. Apesar de ser um católico praticante tendo sido até recebido em entrevista por dois diferentes papas, nenhum deles contestou suas pesquisas, embora não tenham exatamente abençoado a transferência de cabeças humanas. Do seu ponto de vista o corpo não passa de um ajuntamento de órgãos: O corpo apenas daria suporte à vida.

Naturalmente suas pesquisas geraram uma série de reações adversas. Ele recebeu ameaças e teve que buscar a proteção policial para sua família.  O Dr. Arthur Capan, diretor do Centro de Bioética da Universidade da Pensilvânia afirmou: “A cirurgia é assustadora. A vida pós operatória seria insuportável. A identidade da pessoa estaria mudada”.

Teoricamente seria possível realizar tais cirurgias. A pergunta fundamental, porém, é a seguinte: Seria eticamente correta? Seria possível transportar a consciência de um corpo para outro? Como seria acordar depois de uma longa cirurgia e se ver no corpo de outra pessoa? Até que ponto a ciência deve ir?

Suas cirurgias ainda levantam questões mais complexas: O que significa ser humano? Como lidar com a sacralidade do corpo? Qual o risco que a raça humana corre quando decide brincar de ser Deus? Tais perguntas certamente não são fáceis de serem respondidas. Nem sempre a ciência e a ética são facilmente reconciliáveis.

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