quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Tetracloroetileno



Das minhas memórias de infância, uma das mais desagradáveis é do dia em que tínhamos que tomar um vermífugo, que fazia parte de um ritual anual da família Vieira. Todos os cinco irmãos ficavam em jejum, e a mamãe nos dava um remédio à base de Percloroetileno, mais conhecido como Tetracloroetileno. Meu irmão do meio conseguiu se lembrar com precisão o seu nome numa reunião de família neste final de ano, talvez pelo trauma sofrido por todos nós.
Todos participavam da “tortura”. Era uma pequena cápsula, parecida com uma bolinha de gude, e que tão logo era ingerida explodia dentro do estômago, e ai começava todo o espectro de reações adversas e ruins. Numa destas ocasiões, minha irmã mais velha quase entrou em coma, por causa dos componentes químicos do remédio.
Rindo de todas estas histórias em família, nossos filhos imediatamente fizeram uma pesquisa pela internet. Descobriram que este remédio é feito à base de hidrocarboneto clorado utilizado como solvente industrial e esfriamento de líquido em transformadores elétricos. É um carcinógeno potente e foi tirado do mercado por ordem do Ministério da Saúde, cujo princípio ativo é usado em lavanderias para alvejar roupas sendo fortemente tóxico. Um deles fez o seguinte comentário: “Vocês continuam amando a mãe de vocês depois de tudo isto?”
Um antigo ditado declara que “de boas intenções o inferno está cheio”. Todos sabemos que a mamãe era extremamente cuidadosa e queria o bem estar dos filhos, e sem o saber estava nos medicando com uma dose equivocada de remédio.
Fiquei pensando nos tratamentos que hoje temos para tantas doenças bizarras e modernas que tem surgido. Como temos tratado as angústias primais, medos, bipolaridades, síndromes de pânico, fobias e transtornos obsessivo-compulsivos? Tratamentos neo-ortodoxos têm sido oferecidos a uma geração ávida por resolver seu problema imediatamente, e que não tem paciência em considerar processos.
Algumas mulheres, na busca pela silhueta ideal, estão removendo uma das costelas para ter uma cintura mais elegante; na Alemanha, estão tirando o dedo mindinho por causa das joanetes provocadas pelo uso constante de sapatos de salto altos. Ainda temos sérias discussões no campo da medicina sobre o uso da auto-hemoterapia, sem falar na auto-medicação das drogas de alegria, sendo o rivotril o segundo remédio mais vendido no Brasil. As estranhezas são de ordem quase infinitas em nome da estética e do pragmático. Desta forma surgem os Tetracloroetilenos para trazer respostas fáceis.
Jesus nos advertiu quanto à busca de soluções mágicas: “No mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. Uma vida simples, sem invenciones, e um caminhar ao lado de Jesus são os componentes básicos da existência. As aflições vão surgir, mas o bom ânimo que vem de Deus, nos dá esperança e acalenta nossos sonhos e a vontade de continuar lutando e caminhando.



3 comentários:

  1. Naquele tempo o Tetracloroetileno do laboratório Lafi era um remédio para vermes, mas seu uso principal era por via nasal ou bucal. A bolinha era furada, o líquido espremido na gola da camisa servia para aliviar as tensões do dia a dia. Fez muito sucesso na época.

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    1. De fato, em Cabo Frio, na década de 70, estourávamos as bolinhas de tetracloroetileno e o cheirávamos embebido num lenço. A venda era livre.

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  2. Não tem como esquecer ,o gosto de gasolina.Outro remédio detestável era azeite de Mamona batido com açúcar.

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