quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

A TIRANIA DOS FILHOS

Uma antiga amiga minha afirmava que estava sempre vivendo na contramão da história: quando pequena, os melhores pedaços de frango no almoço de sua casa eram reservados aos adultos, e hoje, a melhor parte da refeição estava reservada às crianças.
Na verdade, sua afirmação jocosa reflete apenas algo bem mais sério que tem acontecido em nossos dias. Os pedagogos e orientadores têm chamado isto de "a tirania dos filhos". A dificuldade dos pais em estabelecer limites cria uma geração de crianças mimadas, dominadoras e desajustadas socialmente.
A pedagoga Tânia Zagury, da Universidade Federal do Rio de Janeiro escreveu nos idos de 90 uma tese, publicada com o titulo, "Sem padecer no paraíso – em defesa dos pais ou sobre a tirania dos filhos", baseada na entrevista com 160 pessoas da classe média carioca e concluiu que, temendo traumatizar os filhos e não querendo desagradá-los ao impor padrões mais rígidos de educação, os pais passaram a ser comandados pelos filhos. Seu trabalho mostra que os pais não conseguem definir regras triviais em casa e a maioria está confusa sobre seus papéis e confessa que não sabe como agir com eles.
Sua pesquisa demonstra o seguinte:
88% acabam fazendo concessões aos filhos com medo de errar na educação.
88% se sentem culpados em dizer não aos filhos.
76% crêem que a disciplina possa controlar alguns casos de rebeldia, mas teme aplicá-la.
73% são a favor do castigo, embora não estejam muito claro quando e como devem fazê-lo.
70% Acreditam que as mães que trabalham fora não conseguem atender adequadamente as necessidades de seus filhos.
68% fazem o que a criança pede tentando evitar sentimento de culpa.
67% se sentem inseguros quanto às regras da educação.

Como educar filhos no Século XXI?
Esta é uma grande questão para nossos dias. Nosso contexto pós moderno, com ênfase no pluralismo, no relativismo e na tolerância, gerou um vácuo educacional. Nossa sociedade questionou a educação tradicional mas não conseguiu colocar outro modelo em seu lugar. Ninguém aceita as condições de autoritarismo impostas no antigo modelo educacional, mas a situação torna-se ainda mais grave, quando os filhos se tornam mimados, abusados, descontrolados, com uma enorme capacidade de fazerem chantagem e até mesmo agredirem fisicamente, e os pais amedrontados e acuados com a possível reação dos filhos, caso suas necessidades não sejam plenamente atendidas. Surgem assim, verdadeiros "monstrinhos verdes" dentro de casa, vorazes, temperamentais, exigentes e cheios de direitos sem responsabilidade.

O papel da autoridade
Fundamentados num falso psicologismo, os pais se tornaram presas de chavões mal interpretados do tipo "disciplinar pode traumatizar os filhos", "se dissermos não eles podem crescer recalcados", "rebeldia é uma forma de afirmar sua personalidade" e "nunca diga não".
Ora, tanto a visão mais antiga sobre educação, como pesquisas mais modernas sobre o assunto mostram exatamente o contrário.
Salomão, o sábio milenar afirmava que "A criança entregue a si mesma, cairá no mal" (Pv 29.15). Permitir que a criança faça escolhas num momento em que não tem maturidade para isto, e seja voluntariosa em suas atitudes, torna-se na verdade, um enorme peso e desgraça para ela. Esta suposta liberdade pode trazer-lhe graves conseqüências.
Freud, controvertido médico e pai da psicanálise, analisou a estrutura psíquica do ser humano sobre três pilares: Id, Ego e Superego. O Id é intuitivo, impulsivo, busca prazer imediato e não tem regras. Quando ele quer, tem que ser aqui e agora, não importando as conseqüências que tal atitude trará no futuro. O Superego é comparado à consciência social e moral. Está sempre censurando e questionando se uma satisfação pessoal deve ou não ser assumida. E o Ego, faz um papel mediador entre estas duas forças, sendo um fiel da balança, que tenta avaliar as conseqüências, e estabelecer limites e regras que sejam flexíveis o suficiente para que a pessoa não seja frouxa e licenciosa demais para atender o Id, nem repressiva e autoritária demais para se submeter ao domínio do Superego. Quando O Id predomina, temos um descontrole psicológico, a pessoa está entregue aos seus impulsos e quer atendê-lo sempre. Torna-se uma pessoa desajustada socialmente, e em casos mais graves um psicopata. Quando o Superego predomina, a pessoa se torna cheia de recalques, tem dificuldade de tomar decisões, tem medo de tudo e se encolhe. Nem a licenciosidade nem a rigidez interessam à estrutura psicológica saudável.
Içami Tiba, psiquiatra renomado hoje no Brasil pelas suas teses sobre educação infantil afirma que os filhos têm uma enorme necessidade de delimitações. Ao estabelecer limites os filhos aprendem que a sociedade tem regra, e quando os pais, para poupar os filhos não fixam estas normas poderão trazer muitos pesares para eles na fase adulta, porque relacionamentos são normativos. Tiba advoga o princípio de uma disciplina que seja constante, consistente e que ensine as conseqüências aos filhos.
Quando as regras são claras, elas se tornam cercas de proteção psicológica aos filhos. Incoerência e rigidez são traumáticas assim como a falta de parâmetros.
Deus colocou os pais com a tarefa de mentoria sobre os filhos. Nossa sociedade tem muita dificuldade em obedecer autoridades, bem como em exercê-las. Muitos não querem estar em posição decisória, mas é necessário que existam regras, por isto nenhum sistema de governo é anárquico. Filhos criados debaixo de uma autoridade amorosa e sensível, onde existe comunicação e ternura, com limites claros e amenos sentem-se seguras. Eventualmente protestarão, principalmente na fase em que é necessária a afirmação da personalidade, mas saberão que são amados. Nunca vi filhos criados debaixo de uma disciplina amorosa crescerem neuróticos, mas já vi muitos filhos neuróticos por ausência de regras, assim como tantos outros deformados em seu caráter pelo excesso de regras.
A autoridade dos pais é altamente benéfica para a organização do mundo interior dos filhos. E esta autoridade foi dada por Deus. Pais não precisam mendigar autoridade, já que esta lhe foi outorgada, mas precisam exercê-la. Isto os livrará de futuros dissabores no relacionamento com seus filhos, e de transtornos sociais e morais que filhos tiranos podem trazer sobre si mesmos.

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