600 anos a.C. o profeta Isaias percebeu que algo muito estranho estava acontecendo: “Pelo que o direito se retirou, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas praças, e a retidão não pode entrar. Sim, a verdade sumiu, e quem se desvia do mal é tratado como presa”. (Is 59.14-15).
Nada poderia ser mais atualizado para nossos dias que esta declaração feita a quase 3.000 anos atrás. Vivemos numa época em que a verdade não é o que é, como definia Sócrates, mas a verdade é aquilo eu acho que é. Já que a verdade não é objetiva, mas está dentro do homem (subjetivismo), não existe verdade absoluta, mas relativa, dependendo do ponto de vista de cada um. Isaias estava certo: “A verdade anda tropeçando pelas praças.”
Para a fé cristã, a história é linear, com um início (criação) e um fim (escatologia). A encarnação de Cristo é um evento histórico único e central para a salvação. A verdade é revelada por Deus e encontrada nas Escrituras. Para Hegel, a história é dialética, marcada por questionamentos. O processo dialético é composto por três etapas: Tese, antítese e síntese. No pensamento cristão, se A é oposto de B e estes pontos de referência são opostos entre si, um é verdade e o outro mentira. Para Hegel, apesar de serem contraditórios, não necessariamente um é verdade e outro mentira, é possível fazer uma síntese dos opostos. Criar uma verdade através da síntese.
A expressão "pós-verdade" descreve um cenário em que fatos objetivos têm menos importante e as narrativas valem mais. Em outras palavras, em um contexto de pós-verdade, as pessoas tendem a acreditar mais em informações que confirmam suas próprias crenças e emoções, mesmo que essas informações sejam falsas ou enganosas.
A pós-verdade explora as emoções das pessoas, como medo, raiva e esperança, para influenciar suas opiniões, e desvaloriza os fatos que são considerados menos importantes do que as crenças pessoais. A pós-verdade se alimenta da disseminação de notícias falsas.
A grande consequência é a erosão da confiança. A desinformação dificulta a tomada de decisões, tanto no nível individual quanto no coletivo. Para combater a pós-verdade, é necessário verificar as informações e aprender a questionar as informações identificando o possível viés ideológico. Mas acima de tudo, há que se encontrar uma referência, tanto para aquilo que se crê, como para a ética, aquilo que se pratica. O cristianismo toma como referencial a existência de um Deus, base da ética e da moral, e a revelação deste Deus. Por isto, o que se crê e como se vive tem como referência, o fato de que Deus se tornou história em Cristo. A ética e a verdade derivam-se deste Deus Criador e mantenedor da história, que dialoga com o homem e decidiu se revelar. Apesar de se tentar desfazer a verdade, ela continua sendo verdade. Narrativas são capazes de ocultar a verdade por um tempo, mas ela é insistente. A pós verdade é sempre desmascarada pela verdade.
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