sábado, 23 de abril de 2022

A sociedade do desempenho



 

Acompanhei de perto a carreira de um jovem numa promissor numa carteira de marketing de uma multinacional americana. Sua capacidade de empreendedorismo o levou a uma promoção e ele foi enviado para o Panamá, para trabalhar com a base da América Latina, expatriado com um salário invejável, apartamento com vista para o mar e BMW. Sua carreira estava decolando.

 

Entretanto, ao assumir a nova função designada, numa outra área na qual ele não era tão competente, ele não conseguia entregar os resultados, seu desempenho caiu e depois de oito meses retornou ao Brasil frustrado, desiludido, cansado e desempregado. Apesar dos seis anos de grande performance sua empresa o dispensou. Ele me resumiu sua demissão da seguinte forma: “O resultado passado não vale para este ano.”

 

A verdade é que, no mercado competitivo, a eficiência é obrigatória. Quem não demonstra competência para a função é descartado facilmente. A regra capitalista número 1 é: “Tenha lucros!”. É preciso devorar o concorrente no almoço para que ele não nos engula à noite. Portanto se os números não demonstram desempenho a demissão é inevitável.

 

O problema é que a sociedade do desempenho tem o poder desastroso da exaustão, cansaço e esgotamento excessivos. Estamos sendo constantemente avaliados. “O excesso de elevação do desempenho leva um infarto da alma, e consome como fogo nossa capacidade de falar à alma. Estes processos são violência, porque destroem qualquer senso de comunidade e solidariedade, qualquer elemento comum, qualquer proximidade.” (Byung-Chul Han)

 

O conceito do Shabath (Sábado) na espiritualidade judaico-cristã foi criado por Deus, e aponta uma saudável alternativa. Somos mais que desempenho, mais que máquinas. Deus ordena ao homem, ser de produção, um tempo para descansar, parar. Deus chama este dia de Sagrado, um dia para nada fazer, tornando possível a inação, porque não fazer é também um fazer de equilíbrio e harmonia, tempo lúdico, inspirando e encorajando o não-fazer.

 

Precisamos desempenho, eficiência. produtividade e alta performance no mercado de trabalho, mas temos que nos lembrar que precisamos também de descanso, lazer, amigos, comunidade. Um lugar/espaço, no qual nossa humanidade/espiritualidade possa ser exercitada e desfrutada. A constante competividade pode roubar nossa alma.

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