domingo, 21 de junho de 2020

O Poço

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O filme espanhol de ficção científica e terror intitulado O Poço (2019), dirigido por Galder Gaztelu-Urrutia, é um filme denso, tenso e intenso. Literalmente! Não é para qualquer estômago, já que discute alimentos, miséria e fome.

Sem querer dar um spoiler, a narrativa se desenrola em uma prisão um tanto inusitada, na qual, diariamente, os presos recebem o alimento que é suficiente para todos. Como as pessoas das primeiras plataformas não são sensíveis, elas comem vorazmente e por isso não sobra comida para os que estão abaixo. Por conseguinte, os últimos na escala morrem de inanição. Alguns presos procuram dar sentido e organizar, demonstrando que se todos comessem moderadamente, pensando no próximo, a ração diária seria suficiente, mas tais esforços se tornam inúteis.

O filme é uma crítica à sociedade hierarquizada, que pensa apenas em si mesma e não se preocupa com os que estão abaixo e são menos favorecidos. Segundo estimativas da ONU, cerca de 800 milhões de pessoas passam fome no mundo diariamente. Muitos perguntam: “Por que Deus permite isso?”.

O curioso é que a produção anual de alimentos seria capaz de alimentar seis vezes mais a demanda mundial. Você sabia disso? Então, por que ainda há fome? Por que os pobres são pobres? Por que a miséria ainda é tão presente? A resposta não é simples, mas alguns fatores podem ser alinhados:

A.         Conflitos armados: em épocas de guerras as pessoas ficam sem capacidade de produzir e ter acesso aos alimentos;

B.         Tragédias e calamidades: pandemias, cataclismos, terremotos. Tudo isso afeta muito as classes mais pobres;

C.         Falta de interesse político: é necessário criar logística para situações de crise, mas a elite financeira e política tem pouco foco em superar estas demandas. Pequenos esforços poderiam fazer enormes diferenças;

D.         Logística: pessoas em regiões remotas tornam-se inacessíveis tanto para produção como para receber ajuda emergencial ou mesmo vender o que produzem;

E.         Desinteresse humano: a mentalidade capitalista focada no acúmulo de bens, quando não aliada à generosidade e à sensibilidade, torna-se catastrófica porque quem possui bens tem facilidade de ganhar cada vez mais enquanto os pobres têm cada vez menos acesso aos bens de consumo.

Precisamos ficar atentos porque a conta da pobreza e da miséria sempre chega! Os aristocratas franceses acreditavam que o fato de estarem protegidos no palácio de Versalhes poderia conter as insurreições pela França, mas, no dia cinco de outubro de 1789, chegou às portas do palácio uma multidão de mulheres famintas e enraivecidas que havia saído de Paris para protestar junto ao rei, clamando por comida! A multidão conseguiu vencer os muros e os portões e invadiu o palácio por várias frentes. O restante da narrativa? Ao episódio da invasão sucederam cenas sangrentas nos salões e corredores de Versalhes.

Populações esquecidas e famintas tornam-se violentas. Pense nisso! Privilégios políticos, bem como privilégios históricos de elites sempre se tornaram o estopim de graves conflitos sociais. Precisamos repensar a forma de distribuir bens e de cuidar dos menos favorecidos. Há muita riqueza, mas ela precisa ser bem equacionada.

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