sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Uma sociedade sem alma


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No dia 8 de abril de 1994, um eletricista acidentalmente descobriu um cadáver  em Seattle, Washington. Ao chamar a polícia, descobriu que se tratava de Kurt Cobain, a lenda do rock que cometera suicídio. Um tiro explodiu sua cabeça tornando difícil a identificação. Suas tentativas anteriores com overdose não foram bem sucedidas.

Ele era um talentoso guitarrista da banda Nirvana, cujo álbum Nevermind vendeu 10 milhões de cópias. Mangalwadi afirma que nenhuma banda capturou tão bem a perda de rumo, de centro e de alma de sua geração quanto esta. O termo nevermind significa, “não se preocupe!” e Nirvana é a palavra budista para salvação. Significa a extinção permanente da existência de um indivíduo, a libertação da nossa alma da miséria e vazio.

É interessante perceber que antes da década de 1960, praticamente não havia suicídio entre os adolescentes, mas em 1980, cerca de 400 mil adolescentes tentavam o suicídio a cada ano, apenas nos EUA, tornando-se a segunda causa de morte entre os adolescentes, perdendo apenas para o trânsito, e em 1990, tornou-se a terceira causa, porque os adolescentes estavam matando uns aos outros assim como se matavam.

A taxa de suicídio, homicídio, abuso de drogas, alcoolismo, evasão escolar tem sido marcante entre os jovens também no Brasil. Em 2017, cerca de 60 mil pessoas foram assassinadas no Brasil, e 80% destas mortes se deram entre 15 e 27 anos.

O divórcio de seus pais quando Cobain tinha apenas 9 anos de idade, teria sido o gatilho para sua desestrutura psíquica. A instabilidade de sua família produziu uma ferida tão grande na alma que não seria curada pela música, pela fama, dinheiro, sexo, drogas e álcool, nem por terapias ou programas de desintoxicação. Ele adotou o vazio filosófico e moral que a banda AC/DC, chamaria de “estrada para o inferno”.

Os discos de Cobain foram populares até 2008 e venderam mais que os de Elvis Presley. Em 2002, alguns anos após sua morte, sua viúva vendeu os rascunhos de seus diários por  4 milhões de dólares. Neles estava escrito: “Gosto de Punk rock. Gosto de drogas (mas meu corpo e minha mente não permitem usá-las). Gosto de jogar cartas de modo errado. Gosto de sinceridade. Não tenho sinceridade...Gosto de reclamar e de não fazer nada para que as coisas melhorem”.

Ao se matar, Cobain viveu conforme o que creu. Ele compreendeu que o nada, como realidade última, faz do nada algo positivo.

O problema da humanidade nunca foi ético, mas filosófico (prefiro o termo teológico, porque se conecta à experiência de Deus e do Infinito). A ausência de uma referência de sentido, esvazia a alma humana, jogando-a no caos. O livro de Eclesiastes afirma, “Deus pôs a eternidade no coração do homem”. Este anseio infinito pelo sentido e valor da alma que se distanciou do seu Criador, não será preenchido por nada, senão o próprio Deus. Afinal, “o homem tem um vazio em forma de Deus” (Pascal).

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